sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

Para os apaixonados pelos EUA!

DEMOCRACIA TERRORISTA: O papel dos EUA no sec. XX

Por Lucas Kerr de Oliveira

Panorama geral sobre o modelo de democracia defendido pelos Estados Unidos e, ao mesmo tempo, da violência anti-democrática com que este país tem tratado os demais países do mundo ao longo de sua história, principalmente no século XX.
Os Estados Unidos da América, desde sua fundação, têm defendido a liberdade e a democracia, defendido esse sistema político no seu país e no mundo, principalmente quando se coloca como o maior exemplo de democracia do mundo. Seu sistema democrático divide a eleição em duas partes, uma direta e outra indireta, possuindo entraves burocráticos que permitem o controle do resultado final das eleições pelo processo de voto indireto, por meio do chamado Colégio Eleitoral. Este órgão foi criado logo após a independência para evitar que a escolha do presidente ficasse à mercê do voto popular direto, garantindo o controle do poder pela elite política do país. Como as eleições diretas têm de acontecer para manter esta democracia, elas ocorrem, mas o Colégio Eleitoral é quem dá a última palavra. O caso mais recente de problemas que essa forma de democracia provocou foi a crise gerada pela eleição de George W. Bush, vitorioso sobre Al Gore, respectivamente dos partidos Republicano e Democrata. A estrutura partidária também é bastante burocrática, permitindo que por mais de dois séculos esses dois partidos se alternam no poder sem dar oportunidade a nenhum outro grupo político. Logicamente esses dois partidos foram o resultado da divisão do poder entre as duas tendências do grupo de líderes políticos que declarou a independência norte-americana, fez a constituição dos EUA e criou a estrutura eleitoral, incluindo o Colégio Eleitoral e a parte das eleições que são indiretas. Tudo isso para que nunca mais saísse do poder e evitasse que outros partidos pudessem ascender na vida política da nação. Os EUA sempre foram o maior defensor da democracia e da liberdade de expressão, pregando a luta pela autodeterminação dos povos, mas na prática têm um currículo invejável de atrocidades, guerras, conquistas, intervenções e ocupações militares, ou ainda, na manutenção de governos ditatoriais fantoches no mundo todo, financiando ou armando grupos políticos que representassem seus interesses no país em questão. A própria formação do território norte-americano está manchada do sangue de 1 milhão de indígenas de diferentes tribos que foram simplesmente exterminados, ou de guerras contra o México (1845 e 1847-48), onde tomaram metade do território mexicano, localizado onde hoje estão os estados como do Texas, Califórnia, Arizona, Novo México, Nevada, Colorado e Utah. Em 1898 os EUA anexaram o Havaí, ocuparam militarmente Porto Rico e Guam e invadiram as Filipinas (onde morreram 100 mil filipinos) após uma grande guerra imperialista contra a Espanha na qual os estadunidenses saíram vitoriosos. Em 1899 ocuparam o arquipélago de Samoa. Entre 1899 e 1901 os EUA ocupam a ilha cubana e à partir de 1901 impõem um protetorado sobre Cuba, que incluía a ocupação militar da ilha e a construção de uma base naval ao sul de Guantánamo. Na ilha cubana os EUA mantiveram seu domínio com governos fantoches entre 1901 e 1906, de 1909 a 1917, entre 1924 e 1933 e foi governada pelo ditador Fungencio batista de 1934 até 1944 e de 1952 até 1959, alternado por outros governos fantoches. Entre os períodos de governos representantes dos interesses norte-americanos a ilha foi invadida e ocupada por tropas norte-americanas (1906-1909, 1912, 1917). O domínio estadunidense na ilha só acabou com a Revolução de 1959, mas mesmo assim os EUA deram apoio a diversos grupos de oposição ao governo cubano, chegando a organizar o desembarque na Baia de Porcos, onde enviou rebeldes cubanos e agentes da CIA para tentarem depor Fidel Castro. Em 1903, após fomentarem, na província do Panamá, o separatismo da Colômbia, ocupam o recém-criado território panamenho para construir ali o Canal do Panamá, tomando parte do território deste país (a zona do canal) que seria reocupado em 1918 e as tropas estadunidenses só sairiam em 1999, tendo intervindo militarmente no país em outras situações como 1918, 1923, 1964 e 1989. Mais recentemente o Panamá foi governado por ditaduras militares pró-EUA entre 1968 e 1981 e de 1983 a 1989. A República Dominicana é ocupada em 1905 e novamente entre 1916 e 1924, sendo que entre 1905 até 1941 foi, na prática, uma colônia estadunidense, num período em que os EUA recolheram os impostos para si. Foi governada por uma ditadura de 1930 a 1960, seguida de outras ditaduras de 1960-61 e 1963-1965. Foi invadida em 1965 por tropas da OEA (Organização dos Estados Americanos) lideradas por 22 mil soldados dos EUA e uma nova ditadura pró-EUA foi implantada entre 1965 e 1978. O Haiti foi ocupado por tropas norte-americanas em 1914 e esse domínio continuou até 1934, passando posteriormente por governos fantoches que incluíram ditaduras entre 1946 e 1950 e novamente de 1956 até 1986. O Haiti voltou a ser invadido pelos EUA em 1994. Em 1916 os EUA anexaram as Ilhas Virgens. Em 1983 os Estados Unidos invadiram a ilha de Granada para depor um governo de esquerda que contrariava os interesses norte-americanos, implantando um governo pró-EUA. Na Guatemala os EUA apoiaram governos fantoches de 1906 até 1944. Derrubaram governos democráticos e implantaram ditaduras militares em 1954-1965 e em 1970-1985. Durante essas ditaduras fortemente repressoras o país passou por grandes conflitos internos entre o governo ditatorial pró-EUA e terroristas de direita de um lado e guerrilheiros de esquerda do outro, numa verdadeira guerra civil. Teve como trágico resultado cerca de 120 mil mortos, a maior parte civis ou membros da oposição. Tropas norte-americanas invadiram a Nicarágua em 1909 e novamente em 1912. Entre 1912 e 1933 a Nicarágua foi uma colônia norte-americana. Entre 1936 e 1979 a família Somoza governou o país com uma forte ditadura fantoche, representando os interesses norte-americanos no país, sempre apoiada diretamente pelos Estados Unidos. Em 1979 o novo governo sandinista tentou implantar um regime de tendências socialistas com participação de economia privada, mas os EUA financiaram guerrilheiros anti-sandinistas, que juntamente com o embargo norte-americano, arrasaram a economia do país e permitiram a subida ao poder de um governo pró-EUA em 1989, após a morte de mais de 30 mil nicaragüenses. A Nicarágua chegou a procurar o Tribunal Penal Internacional, onde venceu, mas os EUA não aceitou acabar com o crime contra esse país, nem pagar as indenizações que o tribunal lhe impusera. Posteriormente a Nicarágua pediu à ONU que votasse uma determinação para que todos os países respeitassem o direito internacional, mas os EUA vetaram. El Salvador passou por ditaduras de direita apoiadas pelos EUA entre 1931 e 1944, de 1960 a 1967 e, uma nova ditadura de 1969 até 1982. Durante essas ditaduras o país passou por intensos conflitos sociais e uma verdadeira guerra civil entre guerrilheiros de esquerda e de direita, estes últimos apoiados pelo governo e pelos EUA que chegaram a invadir o país em 1979. Estes longos conflitos resultaram em mais de 60 mil mortos. No México os EUA interviram em 1914, dando suporte para a ascensão de governos autoritários, que formariam nos anos 20 o Partido Revolucionário Institucional, que governaria o México com um governo de partido único mas de fachada democrática, até o ano 2000, sempre apoiado pelos EUA, que passaram a comandar praticamente toda a economia mexicana. Durante a Guerra Fria os EUA financiaram diversas ditaduras no mundo, mas principalmente na América Latina, além das já citadas na América Central, temos na América do Sul governos fantoches ‘democráticos’ que reprimiram violentamente toda forma de oposição, mas principalmente movimentos de esquerda na Colômbia e na Venezuela. Temos também ditaduras militares implantadas com apoio dos EUA no Equador, (1963-1968 e 1972-1979), no Peru (1968-1980), na Bolívia (1952-1964, 1965-1966 e 1969-1982), no Paraguai (1940-1947 e 1954-1988) e no Uruguai (1972-1984). No Chile, após um curto governo de tendências socialistas apoiado pelos social-democratas, o presidente Allende foi morto nos ataques norte-americanos num sangrento golpe em 1973, organizado pela própria CIA e com participação de marines norte-americanos, marcando o início de uma violenta ditadura liderada por Pinochet que durou até 1990. Na Argentina (1966-1973 e 1976-1983) os militares que dirigiram o país foram responsáveis por milhares de desaparecimentos políticos, casos de torturas, estupros, assassinatos e espancamentos, contabilizando um total de mais de 30 mil mortos. No Brasil, após um curto governo nacionalista que tentou fazer uma reforma agrária foi organizado um golpe militar em 1964, também com participação da CIA e de apoio militar estratégico dos EUA (operação Brother Sam) que chegaram a enviar um porta-aviões (o Forrestal), um porta-helicópteros, 6 destróieres, esquadrilhas de caças, petroleiros e 100 toneladas de armas leves para apoiar o golpe. A ditadura militar no Brasil durou até 1984. Somente em 1989 voltaram a ocorrer eleições diretas. A repressão e perseguição política, o fim da liberdade de expressão, a censura, além de prisões arbitrárias, desaparecimento de opositores, espancamentos, assassinatos foram comuns em todas as ditaduras militares implantadas com apoio dos EUA na América Latina, lembrando ainda que as técnicas de tortura empregadas foram das mais violentas e cruéis, muitas delas desenvolvidas inicialmente por militares estadunidenses e aprimoradas pelos militares latino-americanos que receberam treinamento na Escola Superior de Guerra dos EUA, incluindo afogamentos, choques elétricos e mutilação de órgãos genitais, mutilação provocada por mordidas de animais, estupros dos mais violentos e queimaduras com fogo e ácidos. Os EUA sempre atuaram em várias partes do mundo, sempre que uma ‘ameaça externa’ podia ser usada como justificativa para apoiar grupos pró-EUA interessados pelo poder e sem escrúpulos, criando governos corruptos, ditatoriais e sanguinários, ou ainda, essa ‘ameaça à segurança nacional’ era usada para justificar guerras e invasões. Corporações norte-americanas apoiaram a ascenção do nazi-fascismo na Europa, como o regime nazista na Alemanha e Áustria, pelo medo da ‘ameaça comunista’. Quando os interesses mudaram, se uniram à URSS para destruir a ‘ameaça nazista’ e o ‘imperialismo fascista’ japonês, cometendo atrocidades como a morte de 300 mil civis (1945) em grandes cidades no sul da Alemanha, como Colônia, bombardeadas incessantemente com Napalm (bombas incendiárias). Ou ainda a morte de quase 300 mil japoneses com os ataques nucleares em Hiroshima e Nagasaki, apenas para terminar a guerra antes que o Japão se rendesse, antes que os soviéticos ocupassem os territórios japoneses da Manchúria e da Coréia, além de mostrar a força da nova potência hegemônica para o mundo e para a URSS. O Japão e a Alemanha foram desmilitarizados e ocupados. Até hoje as tropas norte-americanas ocupam bases no Japão e Coréia do Sul, além de manter exércitos em toda a Europa Ocidental, através da OTAN. O socialismo volta a ser uma grande ‘ameaça’ após a II Guerra Mundial e os EUA iriam se envolver em novas disputas na Europa (guerra civil na Grécia, divisão da Alemanha) e em novos conflitos, como a Guerra da Coréia (1950-1953), quando foram mortas mais 3 milhões de pessoas, sendo a maior parte civis. Nesta guerra os EUA jogaram cerca de 3 bombas para cada habitante da Coréia, fazendo uso de armas químicas e biológicas em grande quantidade (incluindo a agora famosa bactéria Antraz) resultando em cidades inteiramente devastadas como Pyongyang. Nos anos 50 os EUA apoiaram a reocupação francesa da antiga colônia da Indochina, e a luta contra os rebeldes socialistas. Em 1962 os EUA começam a apoiar militarmente os capitalistas do Vietnã do Sul na luta contra os socialistas do Vietnã do Norte. Em 1964 invadem o Vietnã, só se retirando em 1972, deixando um saldo de dois milhões de mortos (sendo 1,95 milhões de vietnamitas). A guerra provocou até mudanças na geografia física do Vietnã ao eliminar florestas inteiras com armas químicas como o Agente Laranja, ou incendiadas por Napalm II (versão melhorada do Napalm, que não apaga com água e queima até os ossos), ou pelas toneladas e toneladas de bombas que os EUA despejavam diariamente no país e em vizinhos como Camboja e Laos (os EUA jogaram mais bombas contra o Vietnã do que todas as usadas por todos os lados em luta na II Guerra Mundial). A violência dos soldados estadunidenses é até hoje camuflada pelo governo dos EUA, existindo relatos dos próprios soldados de que era comum a tortura, o assassinato de prisioneiros, estupros, a mutilação e decapitação dos inimigos além do massacre de vilas inteiras, incluindo mulheres, crianças e velhos por supostamente terem dado apoio aos vietcongs (guerrilheiros socialistas do Vietnã do Norte). Nesta segunda metade do Séc. XX os EUA mantiveram regimes fantoches em diversos países como o Irã do xá Reza Pahlevi, de 1941 até 1979, quando este foi deposto pelo aiatolá Khomeini que era contra os EUA. Deram apoio a regimes ditatoriais extremamente violentos como o Apartheid na África do Sul (1948-1994), e ainda, ajudaram a implantar o governo do ditador Suharto na Indonésia (1966-1998), com um golpe militar sangrento que levou ao poder um governo que matou mais de meio milhão de pessoas. Os EUA apoiaram a subida de Saddam Hussein ao poder em 1979 e jogaram o Iraque contra o Irã numa guerra de oito anos (1980-88) que resultou em 500 mil mortos e 1 milhão de feridos. Quando em 1990 o aliado Saddan Hussein invade o Kuwait, um dos maiores fornecedores de petróleo dos EUA, se torna um inimigo ‘perigoso’ e é rapidamente demonizado pela mídia estadunidense. O Iraque é atacado por uma coalizão de aliados dos EUA (1991), onde morreram 200 mil iraquianos. Após 1991 os EUA criaram zonas de exclusão aérea no território Iraquiano e continuam a bombardeá-lo até hoje, quase que semanalmente, por desrespeitar suas imposições como as zonas de exclusão aérea, onde só aviões dos EUA podem voar. O embargo econômico ao Iraque já provocou cerca de 1 milhão de mortes por fome e doenças, sendo metade crianças. Na Guerra do Afeganistão (1979-1989) onde os soviéticos tentaram manter o frágil governo socialista ocupando o país, os EUA financiaram, armaram e treinaram grupos guerrilheiros islâmicos anti-soviéticos (como o Taleban) ou grupos terroristas (como a Al’Kaida), mergulhando o Afeganistão numa guerra civil que devastou o país. Através de um poderosa estrutura organizada pela CIA, grupos terroristas como a rede Al’Kaida recrutaram em mais de 30 países, cresceram e enriqueceram pelo apoio norte-americano dado até 1990, quando este grupo se voltou contra seu criador, por ser contra a ocupação militar da Arábia Saudita pelos estadunidenses que ocorreu a partir daquele ano. Os EUA apoiaram a intervenção israelense na Guerra Civil do Líbano e supervisionaram a entrega de campos de refugiados palestinos às mãos de guerrilheiros maronitas que massacraram mais de 3 mil prisioneiros. Bombardearam a Líbia em 1986 pois esta estaria financiando o terrorismo, invadiram a Somália em 1994, bombardearam os sérvios na guerra civil da ex-Iugoslávia entre 1994 e 1995, voltando a bombardear a Sérvia em 1999, alegando lutar pela paz na província de Kosovo e matando 10 mil pessoas. Em 1998 e 1999 bombardearam o Sudão e o Afeganistão alegando combater grupos terroristas. Em 2001 os EUA bombardeiam o Afeganistão (cerca de 4 mil civis mortos) e derrubam o governo Taleban alegando que o grupo defendia terroristas, dando suporte para a ascensão de um novo governo que correspondesse aos seus interesses de construir gasodutos e oleodutos na região. Esta guerra contra o terrorismo talvez seja uma das quais os interesses econômicos escusos estejam mais evidentes nos últimos tempos, já que os grupos econômicos que mais lucraram com ela são a indústria bélica e a indústria do petrolífera, os dois grupos que financiaram a campanha eleitoral de Bush. Entretanto os Estados Unidos apoiaram, treinaram e armaram movimentos guerrilheiros de direita ou grupos terroristas anti-soviéticos (muitos treinados pela própria CIA) em diversos países da América Latina, como os já citados, ou no continente africano como em Angola, Moçambique, Marrocos, Argélia, Guiné-Bissau, Serra Leoa, Namíbia, Zaire, Congo, Etiópia, Somália, Ruanda, ou ainda, no continente asiático, como no Iemen, Afeganistão, Paquistão, Iraque, Irã, Camboja e Laos. Nos anos 90 começam a dar auxílio financeiro a movimentos guerrilheiros e terroristas na ex-URSS, como os separatistas islâmicos na Chechênia, ou a grupos guerrilheiros na ex-Iugoslávia, Bósnia, Croácia e Kosovo. Na Turquia desde os anos 80 os EUA financiam a campanha genocida do governo turco contra a minoria separatista dos curdos, que já resultou em mais de 300 cidades destruídas e 2 milhões de refugiados. Nos anos 90 os norte-americanos têm financiado o violento governo Colombiano e grupos paramilitares de direita na luta contra as guerrilhas de esquerda na Colômbia, com a justificativa de combater o narcotráfico, apesar dos paramilitares de direita já terem assumido sua ligação com o tráfico de drogas e serem responsáveis por 70% dos massacres ocorridos no país nos últimos anos. Vale lembrar ainda que o maior importador de drogas do mundo é os EUA, mostrando quão frágil é este argumento. Em decorrência desses inúmeros conflitos, guerras e intervenções, os Estados Unidos são o país que mais investe no setor bélico do mundo. O setor mundial de armas movimenta algo em torno de 800 bilhões de dólares por ano, sendo os EUA o maior vendedor de armas do mundo, responsável por metade das exportações mundiais. Só para uma comparação, poderosos setores industriais modernos como os de chips de computadores ou o setor farmacoquímico de remédios movimentam cerca de 150 e 200 bilhões de dólares, respectivamente, por ano no mundo todo. Os EUA têm dificultado os tratados mundiais para banir armas químicas e boicotaram abertamente todas as tentativas da ONU e de organizações pela paz mundial de proibir a produção mundial de minas anti-pessoal, que matam ou mutilam mais de 26 mil pessoas por ano no mundo, sendo mais da metade crianças. E apesar de tudo isso, os EUA são tidos como o maior exemplo de democracia do mundo. Esta “imagem” de “democracia” é forte principalmente dentro do próprio país. Dois terços dos formadores de opinião (cientistas, jornalistas, professores) norte-americanos acreditam que os outros países do mundo os admiram pela liberdade e democracia. Após os atentados de 11 de Setembro, até a liberdade individual que existia dentro dos EUA passou a ser restringida, sendo que atualmente está sendo institucionalizado o desrespeito aos direitos dos estrangeiros, permitindo a prisão sem processo, sem direito a recorrer e por tempo indeterminado de qualquer suspeito estrangeiro de ser terrorista, permitindo inclusive o julgamento e até a pena de morte realizados secretamente no mais absoluto sigilo. A luta contra o terror está terminando de corroer os direitos e instituições democráticas que existiam dentro do país. No plano social ainda temos o fato de que a estrutura político-econômica mundial e a atual ordem de poder mundial, que os EUA lutam com todas as forças para manter, inclusive com o uso da força contra os mais fracos, é um sistema que só aumenta as desigualdades e a distância entre ricos e pobres, permitindo que mais de 1 bilhão de pessoas passem fome, e tenhamos a morte de 36 mil pessoas de fome por dia no mundo. Ou seja, os Estados Unidos mantém e luta para manter um sistema político-econômico que mata mais 12 vezes mais que os 3.000 mortos nos atentados do World Trade Center, só que de fome. Pela lógica os EUA deveriam investir 12 vezes mais na luta contra a fome e a miséria do que na luta contra o terrorismo que eles próprios criaram. Ao invés disso aumentam ainda mais seus gastos com armas. Mas a democracia norte-americana ainda é bastante semelhante à democracia brasileira. Um modelo de democracia que, por enquanto, é muito forte na teoria e nos discursos dos políticos, mas está muito longe de trazer igualdade e liberdade na prática. Na prática esta democracia é extremamente desigual e favorece a poucos, a uma minoria, que está no poder e luta de todas as formas para manter seu poder. Um exemplo disso é a democrática sociedade brasileira: temos 32 milhões de brasileiros abaixo da linha de miséria e 28 milhões desses passam fome, mais de 2,8 milhões de crianças trabalham em regime de semi-escravidão. Enquanto 10% da população controla 52% da renda, os 60% mais pobres da população controlam apenas 13% da renda, sendo que 1.7 milhão de brasileiros mais ricos tem mais renda que os 110 milhões de brasileiros mais pobres. As 10 maiores propriedades rurais do país ocupam uma área maior que a ocupada pelos 3 milhões de minifúndios com menos de 10 ha. E, se não bastasse, enquanto o governo afirma não ter verba para aumentar o salário mínimo de 180 reais, os parlamentares aumentam seus próprios salários, alegando que 13 mil, mais auxílio moradia e transporte é muito pouco e pode fazer com que um deputado ou senador se sinta tentado a roubar.... Se a democracia permite a manutenção dessas desigualdades, dessa miséria, dessa falta de liberdade, do uso da força pelos grupos dominantes, além de milhares de mortes constantes, realmente devemos reconsiderar se realmente vivemos numa democracia, se esse sistema é realmente democrático e, se desejamos a manutenção desse sistema cruel e assassino. Porque se sabemos de tudo isso e não fazemos nada, somos coniventes e, igualmente, culpados.

Lucas Kerr de Oliveira – Professor de Geografia e Geopolítica no Ensino Médio e em Cursos Pré-Vestibulares das cidades de São Carlos, Araraquara e Matão (SP), atualmente está cursando Psicologia na Universidade Federal de São Carlos (SP).
Email:: lucaskerr@mailbr.com.br

terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

Deus e o Estado VI - Bakunin

Decorre daí que rejeito toda autoridade? Longe de mim este pensamento. Quando se trata de botas, apelo para a autoridade dos sapateiros; se se trata de uma casa, de um canal ou de uma ferrovia, consulto a do arquiteto ou a do engenheiro. Por tal ciência especial, dirijo-me a este ou àquele cientista. Mas não deixo que me imponham nem o sapateiro, nem o arquiteto, nem o cientista. Eu os aceito livremente e com todo o respeito que me merecem sua inteligência, seu caráter, seu saber, reservando todavia meu direito incontestável de crítica e de controle. Não me contento em consultar uma única autoridade especialista, consulto várias; comparo suas opiniões, e escolho aquela que me parece a mais justa. Mas não reconheço nenhuma autoridade infalível, mesmo nas questões especiais; consequentemente, qualquer que seja o respeito que eu possa ter pela humanidade e pela sinceridade desse ou daquele indivíduo, não tenho fé absoluta em ninguém. Tal fé seria fatal à minha razão, à minha liberdade e ao próprio sucesso de minhas ações; ela me transformaria imediatamente num escravo estúpido, num instrumento da vontade e dos interesses de outrem.
Se me inclino diante da autoridade dos especialistas, e se me declaro pronto a segui-la, numa certa medida e durante todo o tempo que isso me pareça necessário, suas indicações e mesmo sua direção, é porque esta autoridade não me é imposta por ninguém, nem pelos homens, nem por Deus. De outra forma as rejeitaria com horror, e mandaria ao diabo seus conselhos, sua direção e seus serviços, certo de que eles me fariam pagar, pela perda de minha liberdade e de minha dignidade, as migalhas de verdade, envoltas em muitas mentiras que poderiam me dar.
Inclino-me diante da autoridade dos homens especiais porque ela me é imposta por minha própria razão. Tenho consciência de só poder abraçar, em todos os seus detalhes e seus desenvolvimentos positivos, uma parte muito pequena da ciência humana. A maior inteligência não bastaria para abraçar tudo. Daí resulta, tanto para a ciência quanto para a indústria, a necessidade da divisão e da associação do trabalho. Recebo e dou, tal é a vida humana. Cada um é dirigente e cada um é dirigido por sua vez. Assim, não há nenhuma autoridade fixa e constante, mas uma troca contínua de autoridade e de subordinação mútuas, passageiras e sobretudo voluntárias.
Esta mesma razão me proíbe, pois, de reconhecer uma autoridade fixa, constante e universal, porque não há homem universal, homem que seja capaz de aplicar sua inteligência, nesta riqueza de detalhes sem a qual a aplicação da ciência a vida não é absolutamente possível, a todas as ciências, a todos os ramos da atividade social. E, se uma tal universalidade pudesse ser realizada em um único homem, e se ele quisesse se aproveitar disso para nos impor sua autoridade, seria preciso expulsar esse homem da sociedade, visto que sua autoridade reduziria inevitavelmente todos os outros à escravidão e à imbecilidade. Não penso que a sociedade deva maltratar os gênios como ela o fez até o presente momento; mas também não acho que os deva adular demais, nem lhes conceder quaisquer privilégios ou direitos exclusivos; e isto por três razões; inicialmente porque aconteceria com freqüência de ela tomar um charlatão por um gênio; em seguida porque, graças a este sistema de privilégios, ela poderia transformar um verdadeiro gênio num charlatão, desmoralizá-lo, animalizá-lo; e, enfim, porque ela daria a si um senhor.
Resumindo. Reconhecemos, pois, a autoridade absoluta da ciência porque ela tem como objeto único a reprodução mental, refletida e tão sistemática quanto possível, das leis naturais inerentes à vida material, intelectual e moral, tanto do mundo físico quanto do mundo social, sendo estes dois mundos, na realidade, um único e mesmo mundo natural. Fora desta autoridade exclusivamente legítima, pois que ela é racional e conforme à liberdade humana, declaramos todas as outras autoridades mentirosas, arbitrárias e funestas.
Reconhecemos a autoridade absoluta da ciência, mas rejeitamos a infalibilidade e a universalidade do cientista. Em nossa igreja - que me seja permitido servir-me por um momento desta expressão que por sinal detesto: a igreja e o Estado são minhas duas ovelhas negras; em nossa Igreja, como na Igreja protestante, temos um chefe, um Cristo invisível, a ciência; e como os protestantes, até mais conseqüentes do que os protestantes, não queremos tolerar nem o papa, nem o concilio, nem conclaves de cardeais infalíveis, nem bispos, nem mesmo padres. Nosso Cristo se distingue do Cristo protestante no fato de este último ser um Cristo pessoal, enquanto o nosso é impessoal; o Cristo cristão, já realizado num passado eterno, apresenta-se como um ser perfeito, enquanto a realização e a perfeição de nosso Cristo, a ciência, estão sempre no futuro: o que equivale a dizer que elas jamais se realizarão. Ao não reconhecer outra autoridade absoluta que não seja a da ciência absoluta, não comprometemos de forma alguma nossa liberdade.
Entendo por ciência absoluta a ciência realmente universal, que reproduziria idealmente, em toda a sua extensão e em todos os seus detalhes infinitos, o universo, o sistema ou a coordenação de todas as leis naturais, manifestas pelo desenvolvimento incessante dos mundos. É evidente que esta ciência, objeto sublime de todos os esforços do espírito humano, jamais se realizará em sua plenitude absoluta. Nosso Cristo permanecerá pois eternamente inacabado, o que deve enfraquecer muito o orgulho de seus representantes titulados entre nós. Contra este Deus, filho, em nome do qual eles pretendiam nos impor sua autoridade insolente e pedantesca, recorremos a Deus pai, que é o mundo real, a vida real, do qual ele é apenas a expressão muito imperfeita, e do qual somos os representantes imediatos, nós, seres reais, vivendo, trabalhando, combatendo, amando, aspirando, gozando e sofrendo.
Numa palavra, rejeitamos toda legislação, toda autoridade e toda influência privilegiada, titulada, oficial e legal, mesmo emanada do sufrágio universal, convencido de que ela só poderia existir em proveito de uma minoria dominante e exploradora, contra os interesses da imensa maioria subjugada.
Eis o sentido no qual somos realmente anarquistas.

A arte de unir!

A eleição de 5 de outubro, que elegerá prefeito e vereadores, será uma grande oportunidade de a cidade retomar seu processo de qualificação, para que possa enfrentar os desafios do futuro. A base aliada do governo, que tem dois candidatos com chances reais de vitória, só precisa agir com inteligência para chegar a uma candidatura vitoriosa. A união entre o secretário da Indústria e Comércio, Ridoval Chiareloto e o deputado estadual frei Valdair, só depende de mais conversa e o desarme dos espíritos, visto que ninguém é favorito a nada.
O afastamento entre eles só favorece ao PT e ao PMDB, que estão jogando fogo na lenha e torcendo para ver a cinza. Ridoval reúne todos os requisitos essenciais para que se torne um dos melhores administradores da cidade. O frei Valdair, além da sua popularidade, está empolgado com a possibilidade de poder colocar em prática as suas idéias à frente da prefeitura de Anápolis. Mesmo que os dois sejam candidatos no primeiro turno, precisam manter canais abertos para composição num possível segundo turno.
Bom senso é um dos principais ingredientes para uma vitória. O povo de Anápolis espera que os postulantes ao cargo executivo da cidade saibam que uma boa união é melhor do que uma derrota.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

Deus e o Estado V - Bakunin

A severa lógica que me dita estas palavras é muito evidente para que eu necessite desenvolver esta argumentação. E me parece impossível que os homens ilustres, dos quais citei os nomes tão célebres e tão justamente respeitados não tenham sido tocados e não tenham percebido a contradição na qual eles caem ao falar de Deus e da liberdade humana simultaneamente. Para que tenham passado ao longo do problema, foi preciso que tivessem pensado que esta inconseqüência ou esta injustiça fosse, na prática, necessária para o próprio bem da humanidade.
Talvez, também, ao falar da liberdade como de uma coisa que é para eles respeitável e cara, eles a compreendam completamente diferente da que concebemos, nós, materialistas e socialistas revolucionários. Com efeito, eles não faiam jamais dela sem acrescentar imediatamente uma outra palavra, a da autoridade, uma palavra e uma coisa que detestamos com toda a força de nosso coração.
O que é a autoridade? E a força inevitável das leis naturais que se manifestam no encadeamento e na sucessão fatal dos fenômenos do mundo físico e do mundo social? Efetivamente, contra estas leis, a revolta é não somente proibida, é também impossível. Podemos conhecê-las mal, ou ainda não conhecê-las, mas não podemos desobedecê-las porque elas constituem a base e as próprias condições de nossa existência: elas nos envolvem, nos penetram, regulam todos os nossos movimentos, pensamentos e atos; mesmo quando pensamos desobedecê-las, não fazemos outra coisa que manifestar sua onipotência.
Sim, somos absolutamente escravos destas leis. Mas nada há de humilhante nesta escravidão. A escravidão supõe um senhor exterior, um legislador que se situe fora daquele ao qual comanda; enquanto as leis não estão fora de nós, elas nos são inerentes, constituem nosso ser, todo nosso ser, corporal, intelectual e moralmente: só vivemos, só respiramos, só agimos, só pensamos, só queremos através delas. Fora delas não somos nada, não somos. i)e onde nos viria então o poder e o querer de nos revoltarmos contra elas?
Em relação às leis naturais, só há, para o homem, uma única liberdade possível: reconhecê-las e aplicá-las cada vez mais, conforme o objetivo de emancipação ou de humanização coletiva e individual que ele persegue. Estas leis, uma vez reconhecidas, exercem uma autoridade que jamais é discutida pela massa dos homens. E preciso, por exemplo, ser, no fundo, um teólogo ou um economista burguês para se revoltar contra esta lei, segundo a qual dois mais dois são quatro. E preciso ter fé para pensar que não nos queimaríamos no fogo e que não nos afogaríamos na água, a menos que tenhamos recorrido a algum subterfúgio, fundado sobre qualquer outra lei natural. Mas estas revoltas, ou melhor, estas tentativas ou estas loucas fantasias de uma revolta impossível não formam mais do que uma exceção bastante rara, pois, em geral, se pode dizer que a massa dos homens, na vida quotidiana, se deixa governar pelo bom senso, o que significa dizer, pela soma das leis naturais geralmente reconhecidas, de maneira mais ou menos absoluta.
A infelicidade é que grande quantidade de leis naturais já constatadas como tais pela ciência, permanecem desconhecidas das massas populares, graças aos cuidados desses governos tutelares que só existem, como se sabe, para o bem dos povos.
Há, além disso, um grande inconveniente: é que a maior parte das leis naturais, que estão ligadas ao desenvolvimento da sociedade humana e são tão necessárias, invariáveis, quanto as leis que governam o mundo físico, não foram devidamente constatadas e reconhecidas pela própria ciência [5]. Uma vez tivessem elas sido reconhecidas pela ciência, e que da ciência, através de um amplo sistema de educação e de instrução popular, elas passassem à consciência de todos, a questão da liberdade estaria perfeitamente resolvida. As autoridades mais recalcitrantes devem admitir que aí então não haverá necessidade de organização, nem de direção nem de legislação políticas, três coisas que emanam da vontade do soberano ou da votação de um parlamento eleito pelo sufrágio universal, jamais podendo estar conformes às leis naturais, e são sempre igualmente funestas e contrárias à liberdade das massas, visto que elas lhes impõem um sistema de leis exteriores, e consequentemente despóticas.
A liberdade do homem consiste unicamente nisto: ele obedece às leis naturais porque ele próprio as reconheceu como tais, não porque elas lhe foram impostas exteriormente, por uma vontade estranha, divina ou humana, coletiva ou individual, qualquer.
Suponde uma academia de sábios, composta pelos representantes mais ilustres da ciência; imaginai que esta academia seja encarregada da legislação, da organização da sociedade, e que, inspirando-se apenas no amor da mais pura verdade, ela só dite leis absolutamente conforme às mais recentes descobertas da ciência. Pois bem, afirmo que esta legislação e esta organização serão uma monstruosidade, por duas razões: a primeira, é que a ciência humana é sempre necessariamente imperfeita, e que, comparando o que ela descobriu com o que ainda lhe resta a descobrir, pode-se dizer que está ainda em seu berço. De modo que, se quiséssemos forçar a vida prática dos homens, tanto coletivo quanto individual, a se conformar estritamente, exclusivamente, com os últimos dados da ciência, condenar-se-ia tanto a sociedade quanto os indivíduos a sofrer martírio sobre um leito de Procusto, que acabaria em breve por desarticulá-los e sufocá-los, ficando a vida sempre infinitamente maior do que a ciência.
A segunda razão é a seguinte: uma sociedade que obedecesse à legislação emanada de uma academia científica, não porque ela tivesse compreendido seu caráter racional - em cujo caso a existência da academia se tornaria inútil - mas porque esta legislação, emanando da academia, se imporia em nome de uma ciência que ela veneraria sem compreendê-la, tal sociedade não seria uma sociedade de homens, mais de brutos. Seria uma segunda edição dessas missões do Paraguai, que se deixaram governar durante tanto tempo pela Companhia de Jesus. Ela não deixaria de descer, em breve, ao mais baixo grau de idiotia.
Mas há ainda uma terceira razão que tornaria tal governo impossível. É que uma academia científica, revestida desta soberania por assim dizer absoluta, ainda que fosse composta pelos homens mais ilustres; acabaria infalivelmente, e em pouco tempo, por se corromper moral e intelectualmente. E atualmente, com o pouco de privilégios que lhes deixam, a história de todas as academias. O maior gênio científico, no momento em que se torna acadêmico, um sábio oficial, reconhecido, decai inevitavelmente e adormece. Perde sua espontaneidade, sua ousadia revolucionária, e a energia incômoda e selvagem que caracteriza a natureza dos maiores gênios, sempre chamada a destruir os mundos envelhecidos e a lançar os fundamentos dos novos mundos. Ganha sem dúvida em polidez, em sabedoria utilitária e prática, o que perde em força de pensamento. Numa palavra, ele se corrompe.
É próprio do privilégio e de toda posição privilegiada matar o espírito e o coração dos homens. O homem privilegiado, seja política, seja economicamente, é um homem depravado de espírito e de coração. Eis uma lei social que não admite nenhuma exceção e que se aplica tanto a nações inteiras quanto às classes, companhias e indivíduos. E a lei da igualdade, condição suprema da liberdade e da humanidade. O objetivo principal deste estudo é precisamente demonstrar esta verdade em todas as manifestações da vida humana.
Um corpo científico, ao qual se tivesse confiado o governo da sociedade, acabaria logo por deixar de lado a ciência, ocupando-se de outro assunto; e este assunto, o de todos os poderes estabelecidos, seria sua eternização, tornando a sociedade confiada a seus cuidados cada vez mais estúpida e, por conseqüência, mais necessitada de seu governo e de sua direção.
Mas o que é verdade para as academias científicas, o é igualmente para todas as assembléias constituintes e legislativas, mesmo quando emanadas do sufrágio universal. Este último pode renovar sua composição, é verdade, o que não impede que se forme, em alguns anos, um corpo de políticos, privilegiados de fato, não de direito, que, dedicando-se exclusivamente à direção dos assuntos públicos de um pais, acabem por formar um tipo de aristocracia ou de oligarquia política. Vejam os Estados Unidos e a Suíça.
Assim,. nada de legislação exterior e nada de autoridade, uma, por sinal, sendo inseparável da outra, e todas as duas tendendo à escravização da sociedade e ao embrutecimento dos próprios legisladores.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

Pensar não dói!!

Está sendo apresentado um documentário na rede, chamado LOOSE CHANGE 911. Mesmo que você seja um crédulo incorrível no papel de guardião da democracia que os EUA se arrogam, dê uma olhada. Não custa nada e não dói.
A não ser que você pense um pouco e começe a se tocar de que tem ídolos de papel !!http://www.leechvideo.com/video/view2216290.html

Entrevista com o senador Marconi Perillo - Não perca

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sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

Deus e o Estado IV - Bakunin

Tudo isso, nossos ilustres idealistas contemporâneos sabem melhor do que ninguém. São homens sábios, que conhecem sua história de memória; e como eles são ao mesmo tempo homens vivos, grandes almas penetradas de um amor sincero e profundo pelo bem da humanidade, eles amaldiçoaram e estigmatizaram todas estas malfeitorias, todos estes crimes da religião com uma eloqüência sem igual. Eles rejeitam com indignação toda solidariedade com o Deus das religiões positivas e com seus representantes passados e presentes sobre a terra.
O Deus que eles adoram, ou que eles pensam adorar, distingue-se precisamente dos deuses reais da história por não ser um Deus positivo, determinado da maneira que se quiser, teologicamente, ou até mesmo metafisicamente. Nem o Ser supremo de Robespierre e de J.-J. Rousseau, nem o deus panteísta de Spinoza, nem mesmo o deus, ao mesmo tempo inocente, transcedente e muito equívoco de Hegel. Eles tomam cuidado de lhe dar uma determinação positiva qualquer, sentindo muito bem que toda determinação o submeteria à ação dissolvente da crítica. Eles não dirão se ele é um deus pessoal ou impessoal, se ele criou ou não criou o mundo; sequer falarão de sua divina providência. Tudo isso poderia comprometê-lo. Eles se contentarão em dizê-lo: Deus, e nada mais do que isso. Mas então o que é seu deus? Não é sequer uma idéia, é uma aspiração.
É o nome genérico de tudo o que parece grande, bom, belo, nobre, humano. Mas por que não dizem então: o homem? Ah! E que o rei Guilherme da Prússia e Napoleão III, e todos os idênticos a eles são igualmente homens: eis o que os embaraça muito. A humanidade real nos apresenta um conjunto de tudo o que há de mais vil e de mais monstruoso no mundo. Como sair disso? Eles chamam um de divino e o outro de bestial, representando a divindade e a animalidade como dois pólos entre os quais eles situam a humanidade. Eles não querem ou não podem compreender que estes três termos formam um único, e que se os separarmos, nós os destruímos.
Eles não são bons em lógica, e dir-se-ia que a desprezam. E isso que os distingue dos metafísicos panteístas e deístas, e o que imprime às suas idéias o caráter de um idealismo prático, buscando suas inspirações menos no desenvolvimento severo de um pensamento do que nas experiências, direi, quase nas emoções, tanto históricas e coletivas quanto individuais, da vida. Isto dá à sua propaganda uma aparência de riqueza e de potência vital, mas aparência somente, pois a vida se torna estéril quando é paralisada por uma contradição lógica.
Esta contradição é a seguinte: eles querem Deus e querem a humanidade. Obstinam-se em colocar juntos dois termos que, uma vez separados, só podem se reencontrar para se entredestruir. Eles dizem de uma só vez: Deus e a liberdade do homem, Deus e a dignidade, a justiça, a igualdade, a fraternidade, a prosperidade dos homens, sem se preocupar com a lógica fatal, em virtude da qual, se Deus existe, ele é necessariamente o senhor eterno, supremo, absoluto, e se este senhor existe, o homem é escravo; se ele é escravo, não há justiça, nem igualdade, nem fraternidade, nem prosperidade possível. De nada adiantará, contrariamente ao bom senso e a todas as experiências da história, eles representarem seu Deus animado do mais doce amor pela liberdade humana: um senhor, por mais que ele faça e por mais liberal que queira se mostrar, jamais deixa de ser, por isso, um senhor. Sua existência implica necessariamente a escravidão de tudo o que se encontra debaixo dele. Assim, se Deus existisse, só haveria para ele um único meio de servir à liberdade humana; seria o de cessar de existir.
Amoroso e ciumento da liberdade humana e considerando-a como a condição absoluta de tudo o que adoramos e respeitamos na humanidade, inverto a frase de Voltaire e digo que, se Deus existisse, seria preciso aboli-lo.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

Ateísmo é crer na humanidade - Deus e o Estado III - Bakunin

É preciso lembrar quanto e como as religiões embrutecem e corrompem os povos? Elas matam neles a razão, o principal instrumento da emancipação humana e os reduzem à imbecilidade, condição essencial da escravidão. Elas desonram o trabalho humano e fazem dele sinal e fonte de servidão. Elas matam a noção e o sentimento da justiça humana, fazendo sempre pender a balança para o lado dos patifes triunfantes, objetos privilegiados da graça divina. Elas matam o orgulho e a dignidade humana, protegendo apenas a submissos e os humildes. Elas sufocam no coração dos povos todo sentimento de fraternidade humana, preenchendo-o de crueldade.
Todas as religiões são cruéis, todas são fundadas sobre o sangue, visto que todas repousam principalmente sobre a idéia do sacrifício, isto é, sobre a imolação perpétua da humanidade à insaciável vingança da divindade. Neste sangrento mistério, o homem é sempre a vítima, e o padre, homem também, mas homem privilegiado pela graça, é o divino carrasco. Isto nos explica por que os padres de todas as religiões, os melhores, os mais humanos, os mais doces, têm quase sempre no fundo de seu coração - senão no coração, pelo menos em sua imaginação, em seu espírito - alguma coisa de cruel e de sanguinário.

Uma conquista histórica!

Anápolis acaba de ser contemplada pelo Ministério da Educação com o primeiro curso de medicina do interior goiano. É uma pena que a UEG não tenha a estrutura suficiente para abrigar o curso, visto que ainda engatinha rumo à sua consolidação. A UniEvangélica atendeu aos requisitos estabelecidos e vai ter a honra de ministrar o curso, que é o sonho de muitas famílias. As mensalidades é que são o problema. Pagar três mil reais por mês é para quem pode e pode muito. Infelizmente, essa é a realidade do ensino superior no Brasil. As universidades públicas não conseguem acompanhar a demanda e as particulares não foram criadas para fazer filantropia.
O senador Marconi Perillo teve participação efetiva nesta conquista e mais uma vez reafirmou o seu carinho para com o nosso povo.
O deputado Sandro Mabel acha que a conquista é dele. Fazer o quê? Ele inclusive credita ao prefeito alguma ação nesse sentido. Ninguém viu se houve alguma.

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008