Jornal Opção
Editorial
A lição de Lula ao antimarconismo
O PMDB de Iris Rezende e a terceira via liderada por Alcides Rodrigues não perderam o timing, mas, se não lançarem candidatos mais cedo, podem assistir uma rebelião pró-Marconi Perillo no interior
Ao anunciar que não tem mais a pretensão de ser candidato a presidente da República em 2010, o governador de Minas Gerais, o tancrediano Aécio Neves (PSDB), deu a interpretação apropriada aos fatos: “O que me propunha era tentar oferecer algo novo ao nosso projeto, no entanto, estava irremediavelmente ligado ao tempo da política, que, como sabemos, tem dinâmica própria. E se não podemos controlá-lo, não podemos, tampouco, ser reféns dele. Sempre tive consciência de que uma construção com essa dimensão e complexidade não poderia ser realizada às vésperas das eleições”, disse Aécio. O que Aécio chama de “tempo da política”, outros chamam de timing. O político mineiro entendeu que, impulsionado pelas pesquisas e por São Paulo — que, mais do que um Estado, é um país dentro de outro país, o Brasil —, não há como retirar o tucano José Serra do páreo.
Candidato natural, por já ter disputado a Presidência da República, por fazer um governo moderno em São Paulo e, sobretudo, por manter o controle da máquina partidária, Serra está definido como o nome do PSDB. Tanto que pode se dar o luxo de não fazer uma pré-campanha antecipada. Porque não é necessário. As pesquisas, que o apontam em primeiro lugar, com uma frente razoável — os dados apontam para uma vitória no primeiro turno, embora a campanha possa mudar o quadro —, deram-lhe tranquilidade e, por fim, acabaram por expurgar Aécio. A pré-campanha de Serra é “feita” pelas pesquisas. Porque, repetimos, está em primeiro lugar, com uma frente, por enquanto, segura.
O presidente Lula e seus marqueteiros perceberam, desde o início, que Serra é, politicamente, uma figura sólida — muito mais do que Aécio, que, embora simpático e talvez até mais político, lembra a inconsistência de Fernando Collor. Para confrontá-lo, o petismo e o lulismo, que não são a mesma coisa (são uma espécie de Caim e Abel que, apesar de pensarem ligeiramente diferentes, não precisam se matar. Observe-se que Dilma Rousseff é lulista, não petista), fizeram a coisa certa: lançaram, com extrema antecipação, uma candidata a presidente.
O petismo e o lulismo tiveram a percepção apropriada de que, para tentar derrotar um candidato como Serra, também de esquerda, teriam de lançar um candidato (uma candidata) antecipadamente. Dilma foi promovida a “primeira-ministra” do governo Lula para se tornar conhecida e, aos poucos, aprovada pela sociedade. Não só isso. Os ideólogos do petismo — Lula, por incrível que possa parecer, é um deles, ao lado de José Dirceu —, com o apoio de pesquisadores e marqueteiros que sondam os humores do eleitorado semanalmente, lançaram uma candidata que, a rigor, tem o mesmo perfil de Serra. É séria, carrancuda, economista e, apesar de cometer gafes, competente.
Dilma pode não ganhar de Serra, porque o eleitor pode entender que o tucano ampliaria as qualidades do governo Lula mais do que a petista, mas seu nome, ao ser colocado bem cedo, possibilitou que, além de se tornar conhecida, crescesse nas pesquisas e se tornasse a segunda referência do debate político. Aliás, Dilma está mais presente nos debates e nos comentários do que o líder nas pesquisas. Os motivos? São vários. Citemos dois. Primeiro, Serra é um gestor competente, mas é pouco palatável e parece alheio à discussão sucessória. Na verdade, Serra quer se preservar e continuar governando, mas está fazendo política — tanto que retirou Aécio do páreo e está “puxando” o PMDB paulista, o de Orestes Quércia, para seu lado. Segundo, Dilma conta com um “general” eleitoral de peso, Lula, que, ao contrário do que muitos pensam, está transferindo votos para sua pupila. Sozinha, ou só com o PT, Dilma não teria 17% das intenções de voto.
Portanto, a definição antecipada de Dilma é um dos acertos de Lula e do petismo. A ministra se tornou, em pouco tempo, “a” (e não uma) adversária de Serra. A polarização resulta disto. Se lançada em março de 2010, a sete meses das eleições, Dilma teria de lutar pelo segundo lugar com Ciro Gomes e estaria ainda mais atrás de Serra.
Em Goiás, pelo contrário, o antimarconismo não teve a mesma percepção de Lula. Os tucanos têm um candidato forte, governador por duas vezes seguidas e com um recall sólido. Marconi Perillo tem uma energia extraordinária e amplo apoio político e na sociedade em geral. É um adversário poderoso. Para enfrentá-lo, seus opositores já deveriam ter lançado um candidato, mas ficam protelando.
Ao dizer que o PMDB deveria indicar seu candidato em dezembro, o prefeito de Goiânia, Iris Rezende, estava e está certo. Porque a definição de um candidato polarizaria o quadro e permitiria ao eleitor que avaliasse os nomes, positiva ou negativamente. Entretanto, por conta do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles — que só planeja deixar, se deixar, a instituição em março, a pedido do presidente Lula —, e também da indecisão da frente articulada pelo governador Alcides Rodrigues, Iris teria sido convencido a aguardar o desenrolar do processo. Mas “aguardar” no caso é deixar de interferir no processo, é permitir que apenas uma candidatura continue posta e, ao mesmo tempo, passa-se a impressão de que ninguém quer enfrentar o tucano. Daí o clima de indecisão.
As ruas (populares) e os gabinetes (as elites) querem um embate entre Iris e Marconi. Porque sabem que são dois políticos e gestores experientes e têm compromisso com a sociedade local. Não descartam Meirelles, porque o respeitam como gestor moderno e capaz, mas certamente temem o racionalismo exacerbado do presidente do Banco Central. Política pressupõe risco (além de certa paixão) e só quem corre muitos riscos pode se eleger (ou não) para o cargo de governador.
A chamada terceira via, que se apresenta como primeira via, aposta em bons nomes, como Jorcelino Braga (PP), Ernesto Roller (PP), Sandro Mabel (PR), Ronaldo Caiado (DEM) e, por fora, Rubens Otoni (PT). Mas também não define seu candidato. Faz reuniões, discute nomes, mas não lança um candidato, para que a sociedade comece a avaliá-lo. A definição de um nome permitiria a formatação definitiva da aliança — quem fica e quem sai — e, sobretudo, o estabelecimento de um ideário para o candidato.
Definir um candidato em março, a sete meses das eleições, pode ser tarde? Não necessariamente, porque há registros de reversões em pouco tempo, mas é preciso considerar que o PSDB tem um nome forte, lançado há muito mais tempo. Não há candidato imbatível, mas é difícil, muito difícil, derrotar candidatos consolidados, avaliados mais detidamente pelos eleitores. Principalmente quando a avaliação, no geral, não é negativa. No interior, entre os partidos que apoiam a terceira via, há quase uma rebelião pró-Marconi. Na verdade, os grupos são mais governistas do que marconistas, mas querem ter uma opção às claras, com expectativa de poder real, porque as alianças se formam antecipadamente. Os prefeitos e outros políticos já estão pensando na eleição de 2012, na articulação de alianças que possam torná-los fortes na sucessão, e precisam se fortalecer desde agora, com a definição dos candidatos a governador. Quais candidatos a deputado vão apoiar? Para definir a posição, os prefeitos e líderes municipais precisam da definição do candidato a governador.
O PMDB de Iris e a frente liderada por Alcides ainda não perderam o timing. Mas, se não agirem mais rápido, podem perdê-lo, como Aécio Neves perdeu. A maioria dos liderados é obrigada a esperar, mas o eleitorado pode agir diferente.
Jornal Opção
BARBOSA NETO
“A primeira via em Goiás é do governo”
Presidente da Goiás Turismo afirma que realizações e responsabilidade de Alcides Rodrigues tornarão o governador um bom cabo eleitoral em 2010
Edilson Pelikano/Jornal Opção
O presidente do PSB goiano, Barbosa Neto, afirma que a perspectiva da candidatura avalizada pelo governador Alcides Rodrigues, mesmo sem ter um nome definido, é mais viável que as candidaturas de Iris Rezende (PMDB) e Marconi Perillo (PSDB). “Se colocar os partidos políticos que vão apoiá-los e a perspectiva da candidatura com o apoio dessa outra estrutura comandada pelo governador, qual é o número de partidos maior que vai se apresentar à população? É a da candidatura do governo, que terá também o maior tempo na TV, maior número de prefeitos e vereadores”, avalia.
Para o presidente da Goiás Turismo, mais importante que um nome nesse momento, é elaborar um projeto viável: “Um projeto de responsabilidade fiscal, investimentos claros, obras macroestruturantes, quebra do paradigma da polarização da política goiana. São conceitos que a população está percebendo que são importantes”, afirma.
Barbosa Neto afirma que Alcides investiu e investe muito em obras de infraestrutura, em ciência e tecnologia, e em educação, entre outras áreas. Ele constesta a ideia de que as realizações do governo não cheguem à população. “Cada pesquisa que é feita mostra a popularidade de Alcides maior que a pesquisa anterior. Isso confirma a aprovação de sua administração responsável.”
O presidente fala também das ações de sua pasta. E?comemora a viabilização de recursos na ordem de R$ 233 milhões do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), para estruturação dos cinco principais pólos de desenvolvimento turístico de Goiás. O contrato com a institui-ção internacional será assinado no primeiro semestre do ano que vem. A entrevista foi concedida na quinta-feira, 17.
Cezar Santos — O governo Alcides não corre o risco de ficar marcado como uma administração de uma nota só, o ajuste fiscal, visto que enfatiza demais isso?
A ação mais importante do governo foi evidentemente o ajuste fiscal. Quando Alcides assumiu o Estado, os números apontavam R$ 100 milhões em déficit e possibilidade zero de viabilizar recursos. Por que o investimento de R$ 233 milhões do Prodetur (Programa de Desenvolvimento do Turismo) foi possível? Ajuste fiscal. O governo hoje tem condições de receber R$ 1,78 bilhão devido ao ajuste nas áreas de infraestrutura. Tem 200 escolas para serem inauguradas. O governo está investindo agora R$ 6 milhões em bolsas de mestrado e doutorado, o que nunca houve em Goiás. Foram R$ 12 milhões investidos em pesquisa, nada mais moderno, estruturante e visionário que isso. Cingapura e China avançaram pela transformação na educação. Olha o que está fazendo Pernambuco, Ceará e Minas Gerais. Reformas profundas.
O governo de Goiás também está fazendo as mudanças. A diferença é que não houve uma ruptura política, houve uma ruptura administrativa, com todo respeito aos governos anteriores. A marca do Governo Alcides é a responsabilidade e isso é muito importante. Goiás foi o Estado que mais gerou emprego proporcionalmente no Brasil e isso está ligado à responsabilidade fiscal, a um modelo de gestão em que o governo faz sua parte e o empresário faz a dele. Tivemos 1.500% de crescimento em investimento privado com o FCO (Fundo Constitucional de Financiamento), com taxa de inadimplência de 1,9%.
Cezar Santos — As boas ações do governo estão chegando ao cidadão? Ouve-se que isso não ocorre, ou ocorre de forma incipiente.
Quem me conhece sabe da minha paixão por pesquisas. Nunca vi uma pesquisa que tenha sido uma avaliação pior que a anterior. Em todos os momentos o governador dá um passo a mais na sua popularidade, na sua credibilidade. É um crescimento que a gente nota no próprio discurso, na ousadia política. E isso é responsabilidade.
Cezar Santos — O governo comunica bem?
O eleitor, o cidadão, está a cada dia avaliando mais positivamente o governo, e isso é uma forma de se comunicar. O conjunto das ideias de governo vem fazendo com que o governo venha crescendo sistematicamente. E aprendi com o professor Nion Albernaz que política tem começo, meio e fim, e o governo vai chegar ao fim no melhor momento de sua popularidade.
Sarah Mohn — Foi uma estratégia boa do governo, sanar as dívidas, isso chegou até a população?
Está chegando.
Sarah Mohn — Mas o governo investiu em obras de infraestrutura adequadamente?
Qual governo investiu mais que este em obras de infraestrutura? Este governo investiu um R$ 1 bilhão este ano e vai investir R$ 1 bilhão e meio ano que vem. Moradia são 50 mil só estes dois anos e 23 mil já prontas em parceria com o governo federal e iniciativa privada, processo instrumentalizado pela política estadual de habitação. Cria-se a imagem de que um governo responsável é um governo que não investe porque não há divulgação maciça. Não é verdade essa informação.
Euler de França Belém — Então o governo Alcides investiu mais que o governo do Marconi?
Não quero me transformar em instrumento de comparação, mas este governo investiu muito em infraestrutura, na atividade turística, cultural, na ciência e tecnologia e na educação.
Euler de França Belém — O governador Alcides Rodrigues se mostra disposto a bancar uma candidatura própria. Que argumento este governo deve usar para convencer os eleitores a mantê-lo no poder?
Esse governo é a certeza de que Goiás será administrado como se fosse sua própria casa, onde quando se pode investir investe. Com isso a credibilidade aumenta, assim como a capacidade de investimento. A administração de um governo nada mais é que a administração de uma casa, de uma empresa de forma ampla e com um cunho social embutido. Não tenho a intenção de politizar esse debate, mas não temos costume de enaltecer a cultura da responsabilidade. O eleitor não sabe qual o orçamento do Estado. Aliás, 99% dos servidores públicos não acompanham o orçamento, que é um instrumento técnico.
Danin Júnior — Todo esse investimento que o sr. citou é suficiente para bancar um projeto eleitoral separado do governo que o antecedeu? Alcides Rodrigues será um bom cabo eleitoral?
O governador Alcides será um bom cabo eleitoral. As pesquisas mostram evolução de sua popularidade, aprovação ao seu governo.
Danin Júnior — Como havia uma parceria muito clara com o eleitor em 2006 entre o senador Marconi Perillo e o governador Alcides, não seria natural que essa conversa de aliança começasse pelos dois?
A minha impressão é que a polarização política em Goiás precisa ter um quadro diferenciado. Fui candidato a governador nessa perspectiva.
Danin Júnior — Mas o sr. sentiu dificuldades de romper essa polarização?
Sim. Mas a polarização não é entre dois grupos, é entre governo e oposição. Se o governo tiver um candidato ele é uma via, as outras não sei quais são. Historicamente a primeira via em Goiás é do governo, e não é de um partido só, é de um partido do governo que terá o maior tempo de televisão, o maior número de prefeitos e vereadores. Se pegar o processo de transformação, isso está em curso. O resultado político de 2006 não é o mesmo de 2008. Se somar os agrupamentos políticos, vamos dividi-los por três, e pegar o número de prefeitos, ele não é o mesmo de deputados estaduais. Há uma migração para esta estrutura partidária embutida na frente.
Danin Júnior — A polarização não acaba seguindo os vetores de perspectiva de poder, que hoje são mais claros com Iris Rezende e Marconi Perillo?
Se pegar as candidaturas de Iris Rezende e Marconi Perillo e colocar os partidos políticos que vão apoiá-los e a perspectiva da candidatura com o apoio dessa outra estrutura, qual é o número de partidos maior que vai se apresentar à população? É a da candidatura do governo, que terá também o maior tempo na TV, maior número de prefeitos e vereadores.
Danin Júnior — Temos o exemplo do final do governo de Henrique Santillo, em que o governo tentou auma terceira via, mas não foi possível porque a perspectiva de poder estava entre outros dois grupos.
Mas a terceira via não era a candidatura de governo. A situação é distinta da que temos hoje. Tenho uma opinião formada sobre o que significa a figura de Santillo para Goiás e a herança que deixou como homem público. Não só tenho um relacionamento como admiração por ele, que deu a base do que depois veio a ser o Tempo Novo do ponto de vista filosófico e programático. E não sei se é a mesma perspectiva de hoje. A sociedade tem um movimento que a gente pode não querer perceber, mas tem, e vem avançando. Não tenho dúvida de que os governos foram avanços. O de 1983 foi um avanço no que diz respeito à democratização; no de 1986 houve um realinhamento; em 1990 a população retornou com Iris Rezende; em 1994 Maguito se apresentou como novidade com um cunho social. E em 1998 veio Marconi, em 2002 não houve projeto consolidado e veio Marconi de novo; em 2006, questionou-se, mas a figura emblemática do governador Alcides com o apoio do governo se elegeu.
Sarah Mohn — Essa força comandada pelo governador já tem um nome?
Primeiro precisamos definir um projeto claro para o Estado e depois definir um nome.
Danin Júnior — Mas estamos a seis meses das eleições.
Sessenta e sete por cento do eleitor define seu voto no horário eleitoral gratuito, 60 dias antes da eleição.
Danin Júnior — Mas seguindo certas tendências.
Quais tendências? De números de partidos, de tempo de televisão? De estrutura política.
Danin Júnior — Os pré-candidatos que aparecem desde o início nas pesquisas tendem a absorver o maior número de votos.
Mas qual era o porcentual de Alcides em dezembro 2007? Ele venceu a eleição.
Danin Júnior — O sr. tinha a tendência do campo do governo que iria ser muito forte naquela época.
Tinha gente que tinha já comprado terno e gravata para o discurso de posse. Em 1998 a tendência era Iris Rezende e quem ganhou?
Danin Júnior — Mas a tendência é que haja uma candidatura forte desse campo que aglutinou força em 1998 e veio somando força desde então.
O candidato em 1998 era Roberto Balestra até dois meses da convenção. O que fizeram foi aglutinar força. A maior força política para o ano que vem não é nome.
“Eleitor pode apostar no novo”
Danin Júnior — Mas há no governo alguém já aglutinando essas forças?
Há mais que um nome, há o sentimento em prol dessa articulação, que reúne vários partidos.
Danin Júnior — Como a força comandada pelo governo vai se apresentar contra seus adversários?
Com um projeto novo e consistente o cidadão vai com ele. Essa é a tendência eleitora. O eleitor tem duas posturas. Ou aposta no novo ou vai naquilo que conhece. Será possível construir um projeto novo consistente? Se sim, pode ser competitivo; se não, o eleitor vai naquilo que conhece.
Danin Júnior — É preciso ter um nome. Quando será definido?
Lógico, até porque a legislação exige isso. O que discuto é um modelo. Os nomes colocados já foram governadores duas vezes. Nominalmente não é o nosso forte. Se “fulanizar” a eleição o projeto novo não ganha diferenciação. Precisamos incorporar forças e há um movimento nesse sentido. O que precisa claramente é de um projeto consistente.
Cezar Santos — Que projeto seria esse? Tem de ser um projeto fantástico para suplantar a preferência do eleitorado por nomes como Iris Rezende e Marconi Perillo, certo?
Um projeto de responsabilidade fiscal, investimentos claros, obras macroestruturantes, quebra do paradigma da polarização da política goiana, são conceitos que a população está percebendo que são importantes. Porque nos últimos dez anos a Ferrovia Norte-Sul no Maranhão ficou pronta? No Tocantins 70%? Aí se percebe que existe um espaço para uma ação mais unificada dos objetivos macros de Goiás. Penso assim, defendi uma candidatura desse jeito e hoje tenho muito mais convicções e respeito, tenho uma admiração pessoal pelo prefeito Iris. Boa parte do que aprendi foi assessorando ele e militando na política junto com ele. Sou padrinho de casamento do senador Marconi, convivemos juntos na militância da juventude do PMDB. Percorremos o Estado, ele tem qualidades extraordinárias. Não há aqui nenhuma crítica, pelo contrário, tenho pelo prefeito e sua família uma admiração pessoal. Ele está fazendo um esforço para fazer uma boa gestão, retomou o brilho nos olhos. Marconi também tem muitas qualidades. O que estou dizendo é que o momento exige um agrupamento diferente e que inclusive ambos poderiam compreender isso. Iris tem dado sinais claros disso, com Henrique Meirelles no processo dentro do PMDB. O próprio Marconi, quando se vê dele a sinalização de marchar com Júnior da Friboi. Já são percepções de homens experimentados. Essa polarização cria uma política muito ferrenha do a favor e contra. Tem muita gente no interior que não é a favor de Marconi e é contra o PMDB e, consequentemente, Marconi é o instrumento de desaguar sua raiva. Eu não estimulo o ódio e não tenho nenhuma intenção de participar de um projeto que tenha como objetivo derrotar alguém. Pelo contrário, gostaria que o objetivo fosse tornar Goiás um Estado vitorioso nas ações. Com o aprendizado de deputado federal por três vezes, deputado estadual, vereador, secretário da prefeitura e agora presidente da Goiás Turismo, quero contribuir com um projeto que, do ponto de vista daquilo que meu partido prega, de liberdade, crescimento e competência da gestão pública, pudesse ser o que vamos apresentar para Goiás.
Sarah Mohn — Houve uma reunião do PSB em Recife há algumas semanas para definir o posicionamento dos diretórios estaduais para a eleição de 2010. Qual será o posicionamento do partido em Goiás?
O papel do PSB é claro, eleger Ciro Gomes presidente da República. Ele sendo o candidato o partido tem outra performance. Foi discutida também a necessidade de estimular as candidaturas a deputados federais, por que o Brasil é um país que tem no Congresso Nacional uma instrumentalização muito forte. Vamos organizar uma chapa boa de deputados estaduais. Foi apresentado um planejamento estratégico e vamos fazer o mesmo em Goiás. Marcamos a decisão para março, para que a gente possa até lá fazer uma avaliação mais profunda. Até agora temos a tendência de participar de uma frente que possa apresentar uma candidatura a governador, senador e deputados federais e estaduais.
Cezar Santos — O que o sr. tem como projeto pessoal?
Fazer com que a atividade turística seja um instrumento de melhoria de vida para as pessoas.
Cezar Santos — Mas o sr. pensa em se candidatar?
Sim, mas a partir de março é que vamos buscar as alternativas. O projeto natural é uma candidatura a deputado federal, mas outros projetos podem surgir.
Danin Júnior — O sr. disse que a terceira via tem que definir um nome
Não. Disse que concordo que tem que decidir o nome, só não acho que agora é o momento adequado.
Danin Júnior — Então quando é o momento adequado?
Em junho, na convenção.
Danin Júnior — Não fica muito em cima?
Não é a minha opinião. Isso é uma construção. Fui candidato de uma frente. Um dia em uma reunião no Castro's Hotel com todos os presidentes, Sandro Mabel levantou e disse “o nome é o do Barbosa”. E o Rubens Otoni disse “eu topo e vou levar o PT, o PR e o PCdoB”. Lançamos e consolidou. Ok, a chapa não foi vitoriosa, mas aprendi muito e esse é o processo natural.
Danin Júnior — E agora, novamente, o sr. toparia ser o nome?
Não entro nesta discussão, com todo respeito. O nome surge na compreensão das pessoas. O que sinto é que há um desprendimento verdadeiro na construção de um projeto. Se não percebesse isso não participaria.
Sarah Mohn — O PSB reivindica o nome do sr. como candidato a governo?
Se o PSB tiver que oferecer um nome, com toda a nossa história, o que me dizem é que poderia, mas acho que essa é uma discussão a ser travada no momento certo. O PSB tem como projeto uma chapa de deputado estadual. Fui fomentar o processo em Piracanjuba, Luziânia, Anápolis, Minaçu, Jataí, consolidando candidaturas em âmbito regional. Para que o partido esteja no momento certo instrumentalizado para ter competitividade à Assembleia, à Câmara e, consequentemente, se isso for unificado, um trabalho conjunto, com nossa líder na Assembleia, a deputada Betinha Tejota, com o presidente da Câmara de Anápolis, vereador Ciro Miguel, que é um dos pré-candidatos. É um trabalho artesanal de dirigir o partido nas diversas regiões.
“Vila Cultura será entregue dia 24 de outubro de 2010”
Danin Júnior — Como está o andamento do projeto da Vila Cultural?
Sobre o aspecto da administração pública estadual todas as etapas foram cumpridas. Fizemos o projeto, licitamos e contratamos a obra, viabilizamos o recurso, baixou-se o decreto de desapropriação, os recursos na ordem de R$ 3 milhões depositados há quase dois anos, e estamos aguardando a concretização das desapropriações que ainda restam para podermos, efetivamente, dar início no começo do ano que vem. Hoje temos duas desapropriações bem avançadas, uma delas tem o prazo no dia 23 de dezembro para a desocupação, já foi feita a intimação; e a outra, que fizemos acordo na última semana, diminuindo o valor pericial da correção e foi aceito pelo proprietário. Há outras duas que mais rapidamente queremos concretizar.
Cezar Santos — O sr. não vê nenhum problema no cronograma previsto inicialmente?
A princípio continuamos com o programa arrojado de entregarmos no dia 24 de outubro de 2010. Esse é o projeto da Vila Cultural, que é um projeto muito mais amplo. Tivemos a confirmação pela Secretaria da Fazenda da aquisição do novo prédio, para transferir a unidade de saúde do Juarez Barbosa. No local será uma das maiores inovações do setor turístico nacional, que é a Casa do Turismo. Todas as entidades estarão instaladas no mesmo complexo físico. Teremos, além da Associação Brasileira da Indústria Hoteleira, da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes, do Sindicato de Guias, da Associação Brasileira de Agências de Viagens, do Instituto de Pesquisa Turística, de representação do Sebrae, do Senac, do memorial do Turismo, do Memorial à Saúde, Restaurante Escola, para que possamos cumprir aquilo que era o primeiro item mais importante do Plano Estadual de Turismo, denominado arranjo institucional. A outra inovação é a revitalização e requalificação da Praça Cívica, em parceria com a Agepel (Agência Goiana de Esporte e Lazer). O processo está em avaliação junto ao Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) para que, concretizado, possamos também licitar no início do ano. A revitalização e requalificação das obras do Teatro Goiânia que serão feitas em sua maioria pela Agepel, em parceria com a Goiás Turismo para os equipamentos do teatro, tornando-o top e voltando a ser o que foi originalmente sua concepção.
Sarah Mohn — Todos esses investimentos serão feitos com recursos do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID)?
Também. Existem recursos do governo estadual. Os R$ 3 milhões para desapropriações são todo do governo do Estado. A aquisição do novo prédio do Juarez Barbosa, no valor de R$ 2,7 milhões. A revitalização do teatro que ficará em torno de R$ 2 milhões, também recursos do Tesouro, e outros recursos do governo federal e do Programa de Desenvolvimento do Turismo (Prodetur).
Cezar Santos — Os recursos do BID chegam quando?
Já chegaram. Estivemos em Jaraguá lançando mais uma audiência pública do governo de Goiás para a socialização do Prodetur. A contratação da Fundação Getúlio Vargas já é com esses recursos. O fortalecimento institucional da Goiás Turismo, a reforma, equipamentos, aquisição de veículos, também com esses recursos. A partir do momento que aprovamos a carta consulta os recursos já começam a ser liberados para que a gente se instrumentalize. Recebemos uma visita do BID, que foi considerada pelo Ministério do Turismo um sucesso. O governo de Goiás, além da presença física do governador e do secretário da Fazenda, contou com outros 11 secretários de Estado na reunião com o BID, que envolveu Planejamento, Agetop, Saneago, Celg, Ciência e Tecnologia, Meio Ambiente, Cidades, Goiás Turismo, Agepel. Ainda tivemos a visita a Caldas Nova e Rio Quente para que o pessoal do banco pudesse conhecer de perto a pujança do turismo goiano. Em fevereiro e março estão vindo para nova visita e em junho do ano que vem definitivamente estaremos assinando a concretização da realização de um sonho, que há mais de três décadas vem sendo procurado pelo governo de Goiás. Desde a década de 80 Goiás busca a possibilidade de termos um programa de desenvolvimento do turismo no Estado. Graças à determinação de um governo e um ajuste fiscal que possibilitou a capacidade de endividamento do Estado nós tivemos a carta consulta aprovada. Com a visita do BID, teremos o contrato assinado no ano que vem, possibilitando investimento na ordem de R$ 233 milhões na estruturação política dos cinco principais pólos de desenvolvimento turístico de Goiás.
Danin Júnior — Como a Goiás Turismo avalia a situação do Centro Cultural Oscar Niemeyer?
Vejo com pesar que uma magnitude como essa não possa ser oferecida à comunidade goiana, brasileira e internacional como instrumento de atratividade para a atividade turística goiana. É uma problemática que se arrasta no âmbito do Tribunal de Contas. A Goiás Turismo não tem nenhum envolvimento direto com essa ação e aguardamos as definições claras da Agetop e dos órgãos responsáveis para que possamos, dentro do possível, contribuir.
Cezar Santos — Um jornal diário divulgou que o dinheiro do BID iria ser investido no Centro Cultural.
Não é essa a informação. Há uma manifestação de que o Oscar Niemeyer poderia estar inserido nestes recursos. Porém depende-se de uma decisão técnica, jurídica e institucional, que nós não podemos atravessar.
Danin Júnior — Quais são as linhas de trabalho da Goiás Turismo?
Temos que fortalecer a imagem da Goiás Turismo enquanto instituição. Temos um documento extraordinário, que é o Plano Estadual de Turismo, que define claramente de 2007 a 2011 a política estadual a ser seguida. Ela se dá objetivamente na concretização da política regional de turismo, instituídas nove regiões turísticas, consolidadas primeiramente as 49 cidades consideradas indutoras de desenvolvimento turístico. A partir daí nós instrumentalizados todas essas ações. As nove regiões são: das Águas, do Ouro, do Vale da Araguaia, dos Eventos, dos Engenhos, da Biosfera, da Serra da Mesa, Agroecológica e a do Vale do Sol Nascente, que envolve as cidades de Mossâmedes e Paraúna. O plano é o nosso Norte. Na reforma administrativa mudamos a nomenclatura de Agetur para Goiás Turismo em uma estratégia de divulgação do nosso Estado. O turismo se dá basicamente em três etapas: identificação de produtos, desenvolvimento de produtos e comercialização de produtos, e a Goiás Turismo trabalha focada nisso. O peso político do turismo é pequeno e caso não haja o peso político também não há o econômico. Temos uma estruturação que faz com que tenhamos R$ 60 milhões em empenhos realizados este ano e a concretização não chegará a R$ 10 milhões porque a burocracia da máquina é aquém do que o turismo, com sua competitividade, exige de nós. Então vamos concretizar cerca de 15% disso.
Danin Júnior — Só um sexto do orçamento do Turismo foi executado?
Sim, mas o restante será executado ano que vem. Plantamos e vamos colher e não é por deficiência do governo. Nenhum desses recursos será perdido, apenas não executado no exercício em que foi aprovado. No governo temos um conceito que precisamos mudar que é o legalismo. No Brasil o conceito da Constituição Federal, e eu fui legislador, é um tripé, que é a legalidade, a economicidade e a gestão. Ficamos analisando permanentemente a legalidade e eu concordo com isso. Mas em determinados momentos o gestor perde muito tempo para instrumentalizar isso e por isso os orçamentos não são concretizados.
Danin Júnior — O que é feito especificamente nessas nove regiões turísticas que o sr. citou?
Primeiro o arranjo institucional. Estivemos recentemente em Jaraguá e pedimos em público para o prefeito desvincular Indústria e Comércio do Turismo. Ele autorizou. Que tenha uma secretaria própria como no governo de Goiás. A Goiás Turismo é jurisdicionada a Indústria e Comércio e temos uma ótima relação, mas é um órgão próprio de turismo. Os prefeitos de Jataí e Rio Verde também fizeram a mesma coisa. É necessária a criação do Fundo Municipal de Turismo, Conselho Municipal de Turismo, Criação de órgão próprio de Turismo, Fórum Regional de Turismo, para que o turismo seja debatido em fóruns específicos. Turismo não pode mais ser apêndice de outras atividades. É a atividade que mais cresce no mundo, responsável por 10% dos empregos no mundo. Depois disso, a política clara de regionalização, não há turismo municipal, tem que ser regional. No Congresso de Urologia em Goiânia, os médicos aproveitaram para visitar Caldas Novas, Pirenópolis e a cidade de Goiás. Os profissionais da área de saúde que aqui vieram visitaram essas regiões. Quanto mais o turista permanece, mais gasta e mais gera emprego e renda, melhorando com isso a qualidade de vida da população.
Danin Júnior — Quantas cidades o plano pretendia atingir inicialmente?
Quarenta e seis. Hoje já são 49 e prendemos chegar a 63 em 2011. Existe uma divisão entre elas: as categorias diamante, esmeralda e cristal. Para chegar a diamante depende do processo de vontade própria que esses municípios demonstram na implantação da política. Criação do Fundo Municipal de Turismo, uma pontuação; criação do Conselho Municipal de Turismo, outra pontuação; criação de um órgão próprio de turismo, outra pontuação e assim por diante.