segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Banho de água fria

Diário da Manhã

Opinião

Joãomar Carvalho de Brito Neto

Lula desautoriza aliados e zera o jogo em Goiás

17/08/2009

O presidente Lula não economizou em maldades, na sua visita a Goiás, no último dia 13 de agosto: desprestigiou deselegantemente o prefeito de Goiânia, Iris Rezende, desautorizou a direção do PT goiano favorável à construção de um único palanque para a sua candidata, a ministra Dilma Rousseff, e continuou enrolando o governador Alcides Rodrigues com as velhas e recorrentes promessas de resolver os problemas da Celg, gargalo financeiro da sua administração. Desinformado sobre a origem das dívidas da estatal goiana – venda de Corumbá I (Iris Rezende) e Cachoeira Dourada (Maguito Vilela), principalmente –, o presidente quis jogar toda culpa no senador Marconi Perillo (PSDB), que ele não perdoa, porque este o teria alertado sobre o mensalão e reafirmado isto publicamente. Até claque contra o senador goiano foi organizado para fazer o jogo de auditório que o presidente da República tanto aprecia.

Ao longo dos últimos meses temos insistido numa hipótese de trabalho: se o presidente apostar em Meirelles, atraindo o governador Alcides Rodrigues, ele tromba de frente com o prefeito Iris Rezende e seu PMDB, nacionalmente nas mãos da deputada Iris Araújo, em concluio com Michel Temer. Até então o presidente vinha sinalizando em direção a um único palanque para Dilma Rousseff em Goiás, capitaneado por Iris Rezende. Vamos ver a escalada das maldades do presidente em Goiás.

As maldades lulistas começaram em Anápolis, onde o presidente começou a disparar sua artilharia de descortesias pessoais e políticas, ao desconhecer a trabalheira do deputado federal Rubens Otoni (PT), que sequer foi mencionado no discurso do presidente. Este preferiu, ao colocar o jabuti (Henrique Meirelles) no galho mais alto do árvore da sucessão em Goiás, e elogiar o adversário interno do Otoni, o federal Pedro Wilson, amigo pessoal do presidente do Banco Central e líder de uma tendência minoritária do PT goiano.

Em Goiânia, o presidente fechou seu ciclo de maldades políticas e pessoais, ao desconhecer politicamente o prefeito de Goiânia, que armou todo o circo para receber em grande estilo o presidente da República. O prefeito ainda contou com a ajuda do governador Alcides Rodrigues neste processo que, necessitando da ajuda de Iris Rezende, na hora dos palanques só conseguiu expor obras do seu governo que nem mesmo ele consegue ver. Além disso, o presidente carregou a mão nas gafes e deselegâncias distribuídas, aí sim, contra adversários (Marconi à frente) e aliados não mais tão interessantes (Iris Rezende e seu PMDB).

A análise de tudo isto nos leva às seguintes considerações:

1. O presidente desautorizou a ala majoritária do seu partido (PT), liderada pelo deputado Rubens Otoni que, desde muito tempo, vem defendendo uma aliança preferencial com o PMDB e, em especial, com Iris Rezende. Se o prefeito sai candidato ao governo, o PT ganha a prefeitura de mão beijada, assumindo o vice Paulo Garcia, porque hoje não tem mais votos suficientes para tanto.

2. O presidente desprestigiou uma das maiores lideranças do PMDB no País. Não lhe deu sequer um refresco no comício de Goiânia, marcado por gafes imperdoáveis pelo cargo que ocupa. Até agora, o prefeito tem se mantido em silêncio, mas sabe-se que ele não vai engolir o desaforo, o que é uma marca de sua personalidade: duro e intransigente com quem lhe pisa no pé. Na quinta-feira louca, ele levou, na realidade, um tapa na cara.

3. O prefeito também foi pisoteado pelo governador do Estado, que nunca conseguiu imprimir uma marca para sua administração. Na realidade, Iris Rezende apostou errado numa aliança com Alcides Rodrigues, um político sem prestígio pessoal e sem coisa alguma para mostrar como executivo. Colou em Lula e virou as costas para Iris Rezende, o aliado de ontem.

4. Iris Rezende está a cavaleiro para congelar a aliança com o PT: vai levá-la em banho-maria até quando lhe interessar. Como sabemos, na hora oportuna, ele dará o troco à descortesia pessoal e política do presidente da República, que não sabe em que cipoal se meteu. Ele nunca foi de desconsiderar este tipo de atitude, até porque os militantes do PMDB no interior nunca engoliram a aliança com o PT.

5. O prefeito, por sua vez, sabe que precisa olhar para sua cozinha, onde velhos aliados, como Juarez Magalhães Junior, entre tantos outros, estão sendo expulsos pela pequena porta. O tapa na cara do presidente da República explicitou as razões dos chamados rebeldes que, à luz dos interesses do PMDB, precisam ser chamados novamente de companheiros, sem disfarçar o constrangimento.

6. Marconi Perillo, eleito pelo presidente como o inimigo daquela estranha aliança, sobrou soberano deste episódio patrocinado pelo presidente da República: respondeu elegantemente às provocações, apontando o dedo para as mazelas da atual administração estadual e revelando, mais uma vez, as origens sabidas da crise da Celg.

Para um presidente que não tem o hábito de respeitar a própria palavra empenhada, o episódio de 13 de agosto revela mais das angústias de quem, como ele, nem pôde apresentar sua candidata aos goianos, porque está envolvida em mais um caso de suposta mentira, revelada pela ex-diretora da Receita Federal. Diante deste imbróglio, a sucessão em Goiás ficou zerada e precisa ser reinventada, em meio a justificadas desconfianças na base do governo federal, enquanto a oposição caminha solta para construir seu projeto. Ah!, o novo candidato de Lula em Goiás: Meirelles revelou, nos dias seguintes, que ainda não sabe o que fazer de sua vida: se casa (com a candidatura) ou se compra uma bicicleta.....

Joãomar Carvalho de Brito Neto é jornalista e professor universitário (joaomarbrito@gmail.com)

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