terça-feira, 25 de agosto de 2009

José Serra no Twitter

Diário da Manhã

Política e Justiça

José Serra
"Quero ter um milhão de amigos no Twitter"
Político mais popular da rede relacionamentos, governador revela que entrou na internet somente aos 60 anos
Passa de 2 horas da madrugada. O governador de São Paulo, José Serra, deixa de lado um calhamaço de notícias de jornal, liga o aparelho de som e espera o sono vir ao som dos Beatles. A cena da intimidade do governador foi registrada em menos de 140 caracteres, pelo próprio governador, em sua página pessoal na rede de microblogs Twitter. “Vim dormir. Ia ler o clipping da imprensa da semana, mas desisti. Preferi ouvir o Abbey Road inteiro dos Beatles e zapear na TV sem som”, escreveu Serra na noite de 13 de julho.

O governador paulista é hoje o mais popular político da rede de microblogs, com 71 mil seguidores que acompanham em tempo real seus passos, já que é o nome forte do PSDB para concorrer à Presidência da República em 2010. Aos 67 anos, Serra entrou para a turma dos internautas depois dos 60 anos e para a dos “twitteiros” há pouco mais de três meses, em 19 de maio.

Agência Estado – Na opinião do senhor, qual será o papel da internet nas eleições presidenciais de 2010?

José Serra – Nas eleições de 2010, no Brasil, nenhum candidato poderá prescindir da internet na campanha, é evidente, mas a influência será muito menor do que nos Estados Unidos, porque somos muito menos conectados, nossa legislação eleitoral é mais restritiva, nossa campanha é muito mais curta do que a deles – que dura quase dois anos, contando com as primárias para a indicação do candidato do partido. Aqui, legalmente a campanha só pode começar na segunda metade de julho, e a eleição é em outubro. A internet envolve a criação de hábito, o que exige, por sua vez, mais tempo para atrair e fidelizar internautas a um site, a um blog, para formar público virtual e criar massa crítica nas redes sociais.

AE – Qual será o grande desafio das campanhas na web?

Serra – O grande desafio de campanhas na internet, que a de Obama (presidente dos Estados Unidos, Barack Obama) venceu com louvor, é transportar o ativismo e a militância do mundo virtual para o mundo real, para ações de visibilidade, para as ruas. Tenho dúvidas de que conseguiremos fazer já em 2010 essa passagem do virtual para o real.

AE – Como foi o seu primeiro contato com a internet?

Serra – Aprendi na marra a usar a internet em 2003, quando passei uma temporada nos Estados Unidos, no Instituto de Estudos Avançados de Princeton, depois de perder as eleições presidenciais de 2002. Fui obrigado a me conectar para conversar com a família, com os amigos, para me manter em dia com as notícias do Brasil e do mundo, para não ficar isolado. Primeiro, aprendi a receber e a mandar e-mail; em seguida, a navegar pelo noticiário on-line. Agora, sou o governador twitteiro e já ganhei até diploma de “especialização em relações twitteiras”, concedido pelo programa CQC da TV Bandeirantes.

AE – Para quais atividades o senhor utiliza a internet?

Serra – Até 2002, no Ministério da Saúde, costumava mandar bilhetinhos escritos a mão para a equipe, perguntando sobre esse ou aquele programa de governo, tirando dúvidas, cobrando essa ou aquela providência. Escrevia à noite e, de manhã, minhas secretárias recebiam uma caixa de papéis para redistribuir. Hoje, envio e-mail para os secretários e assessores. Muito mais rápido e eficiente. Também leio notícias nos principais portais e em alguns blogs, pesquiso no Google, escrevo artigos, discursos. Nunca consegui datilografar artigos. Fazia sempre a mão. O computador mudou-me: praticamente só escrevo textos no Word. Troco e-mails com meus filhos, com os amigos – todo mundo tem meu e-mail – e uso para lazer, navego no YouTube para ver clipes de músicas, procurar trechos de filmes. Sou um dependente da internet. Resisti muito a entrar, porque sabia que iria me viciar. Fraquejei, entrei e me viciei. No bom sentido, claro.

AE – O senhor é o político mais popular do Twitter, com mais de 71 mil seguidores. O que tem achado dessa experiência?

Serra – Fui para o Twitter meio por acaso e por curiosidade. Uso muito a internet. Comecei a ver reportagens sobre “o fenômeno do Twitter” e as pessoas mais próximas me diziam que eu devia entrar lá. Nem sabia direito o que era, como funcionava, para que servia, quando abri a minha conta. Esta, aliás, foi a primeira dificuldade: descobri que meu nome e quase todas as variações possíveis já estavam registrados no Twitter, com a minha foto e tudo. Eram muitos perfis fakes. Então, a melhor saída foi usar o meu nome com aquele underline no final: joseserra_. Entrei sem fazer alarde, sem contar para ninguém a não ser para o pessoal mais próximo do gabinete. Habituado a escrever artigos e textos mais longos, no início achei que não conseguiria dizer nada em 140 caracteres, que é o limite do Twitter. Aos poucos, estou aprendendo a ser sintético.

AE – Como o Twitter tem ajudado o trabalho como governador?

Serra – Eles (internautas) me dão dicas, fazem sugestões, apoiam medidas do governo, elogiam, mas também criticam, cobram, reclamam de coisas que não estão funcionando direito. Repasso para todas as áreas do governo, cobro dos secretários, tiro dúvidas com eles, vejo se as reclamações procedem etc. Os mais acionados pelos meus seguidores e por mim são o Barradas (secretário da Saúde), o Paulo Renato (secretário da Educação), as áreas de segurança e de transportes. É aí que a internet é fantástica. Poupa tempo, aumenta a eficácia, abre um canal direto entre o governo e o cidadão, para o governante ouvi-lo, prestar contas em tempo real e até para corrigir medidas. Meus seguidores me deixam mais bem informado, sabendo das coisas do ponto de vista deles, dos cidadãos, e isso para um governante não tem preço.

AE – O senhor também faz comentários pessoais...

Serra – Há o lado lúdico também. Quando disse lá no Twitter que gosto de cinema e de trabalhar ouvindo música, muitos seguidores passaram a me mandar dicas e links de canções, cantores, bandas, trechos de filmes. E posto lá links de músicas que estou ouvindo naquele momento e trechos de filmes que curto, que me marcaram. Também fazem muitas perguntas sobre a minha vida, o governo, o que eu acho disso e daquilo. Claro que não consigo responder tudo e fico até aflito, às vezes, por causa disso, mas sempre dá para conversar um pouco com eles. De que outro jeito isso seria possível? Só no Twitter mesmo.

AE – O que o senhor acha dos seus seguidores?

Serra – Os twitteiros têm uma característica notável: com mais de 70 mil seguidores, são raríssimos os que vão lá para me xingar, insultar. Baixaria não faz sucesso no Twitter, como se vê muito em certos blogs, por exemplo. E isso animou muita gente, muito político e o pessoal do governo a ir para lá também, depois que eu entrei e vi que era legal. Twitteiros são cordiais, gentis, sociáveis, divertidos, bem-humorados, informais, não têm preconceito de idade, de geração, de nada. São abertos, querem mesmo é conversar, ouvir e ser ouvidos. Se a gente não interagir com eles, não funciona, não tem graça. Sou muito mais informal lá, me divirto, brinco com eles, fico totalmente à vontade e eles também. Adoram ensinar novatos como eu a usar melhor o Twitter, a baixar programas, a twittar pelo celular. Quando tenho dúvida, pergunto lá e imediatamente dezenas me mandam dicas. Aprendo a twittar com eles. Quando escrevo três posts sobre o mesmo assunto, me puxam a orelha: “Ô, Serra, se quiser escrever mais, crie um blog.” Não tenho tempo para manter blog. Descobri que minha praia é o Twitter. E estou igual ao Roberto Carlos: quero ter um milhão de amigos lá.

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