segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Lula mostra a cara aos goianos!

Diário da Manhã

Opinião

Afonso Lopes

Uma agressão a todos os goianos

17/08/2009

Não teve jeito: o presidente Luiz Inácio Lula da Silva veio, viu a festa, falou pelos cotovelos e renovou as velhas promessas. Nada de novo, portanto, na sua populista passagem por estas bandas. Isso é o que ele sempre faz aqui: promete melhorias e benefícios que não saem da retórica.

Ele não tomou realmente nenhuma atitude para mudar o marasmo das obras federais importantes para Goiás. O Aeroporto Santa Genoveva é o grande exemplo do descaso do presidente para com os goianos. São dois anos com as obras completamente paradas. O que há do novo aeroporto é somente uma bela maquete e um descampado que já consumiu, conforme dados oficiais, nada menos que 30% do valor inicialmente calculado. O pior é que até o pouco que foi feito e o muito que já se gastou estão se perdendo dia após dia.

A culpa, segundo o próprio, não é do governo dele, Lula. O mordomo das obras paralisadas é o TCU, Tribunal de Contas da União, que descobriu que a licitação do aeroporto de Goiânia apresentava ralos para roubalheira de dinheiro público, e mandou suspender os pagamentos e, consequentemente, as obras. Em Goiânia, Lula explicou como resolver o problema: dentro de dois meses, a Infraero, da esfera do governo federal, vai anular a concorrência fraudada e realizar outra, que permitirá a retomada das obras. O presidente precisou de dois anos inteiros para descobrir que bastava fazer isso, anular a falcatrua licitatória. Se isso não é embromação, é algo muito pior: é incompetência aliada ao desprezo pelos interesses do Estado de Goiás. E ainda resta a dúvida se a nova promessa, com prazo de dois meses, será cumprida. Isso se verá depois.

A Ferrovia Norte-Sul, que vai sendo construída num ritmo que, em projeções futuras baseadas no andamento atual das obras, consumirá 50 anos para ser concluída, também tem o mordomo TCU como culpado. O presidente deveria ter incluído a Polícia Federal, que descobriu um esquema de roubalheira inusitado: além de superfaturamento até nas britas usadas na sua construção, diminuíram o número de dormentes assentados, de 1.600 por quilômetro para 1.500. É como se uma estrada de 1 km tivesse somente 900 metros. E o TCU é o culpado.

O presidente Lula não deixou de renovar a promessa embromatória sobre a Celg. Disse que em dois meses chegará o dinheiro para resolver os gravíssimos problemas imediatos da empresa que sempre foi vital para o desenvolvimento de Goiás. Mas ele também ampliou as exigências: avisou que a Eletrobrás terá participação na Celg. Qual o tamanho dessa participação ele não disse, mas explicou que isso seria uma espécie de garantia contra desmandos administrativos no futuro. Nesse aspecto, o presidente simplesmente endoideceu. Quem disse que participação do governo federal em alguma empresa é garantia contra corrupção?

Não é, ao contrário. Os dois exemplos aqui citados anteriormente deixam isso muitíssimo claro. O mais incrível é que essa frase do Lula passou em branco. Ora, o que a afirmativa do fazedor de promessa enseja é gravíssima e agride a honra de todos os goianos. Em outras palavras, Lula disse que o governo federal manda o dinheiro necessário desde que um fiscal do governo dele vigie a empresa para que não a roubem. Como se todos os goianos que porventura forem destacados para dirigir a Celg, incluindo os que lá estão hoje e que foram colocados pelo governador Alcides Rodrigues, precisem ser vigiados de perto, e não fiscalizados normalmente como integrantes de uma grande empresa pública.

Não tenho absolutamente nada contra a participação da Eletrobrás no quadro de comando da Celg. Até pela óbvia razão de que quem é dono tem mais é que interferir e participar das decisões que dizem respeito ao patrimônio que lhe pertence. Creio até que isso será muito bom, mas não pelo motivo canalha apresentado pelo presidente. Que há problemas de gestão na empresa, ninguém contesta. Que aconteceram decisões absolutamente prejudiciais às finanças da Celg, também estamos de acordo. Agora, creditar todos os problemas atuais somente a esses fatores é, acima de tudo, primarizar a discussão, além de revelar que Lula não conhece a Celg e sua história.

Ele não tem a menor noção de que a Celg é uma das raras exceções do mundo das elétricas que não se dedicou tão somente à energização do Estado. Enquanto empresa energética, a Celg foi o grande agente fomentador do crescimento econômico da história de Goiás. Mais até do que instituições criadas com esse objetivo, como o velho BD, Banco de Desenvolvimento.

Então, que numa próxima vez Lula venha, e continuará sendo bem recebido, mas como pagador de promessas. De embromação e discurso de palanque, Goiás e os goianos já se fartaram. E que seja, enquanto presidente da República, mais respeitoso. Será que ele falaria em “bolso da bunda” para os quatrocentões de São Paulo ou no plenário da ONU? Creio que não. Que ele seja avisado de que a plateia daqui é tão nobre quanto aquelas de lá.

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