Afonso Lopes
afonsolopes@uol.com.br
PRESIDENTE LULA
Entre dois amores
No balanço da visita presidencial a Goiás não se sabe ainda qual é o nome preferido de Lula para disputar com Marconi
Muito difícil concluir algum balanço político sobre a visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em relação ao candidato preferido por ele para enfrentar Marconi Perillo no ano que vem na disputa pelo governo do Estado. Foram duas as oportunidades para ele dar alguma dica sobre seu ungido. A primeira, em Anápolis, ele encheu a bola do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, especialmente quanto à sua administração à frente do BC. A segunda, na Praça Cívica. E ali o jogo terminou zero a zero. O presidente não apontou seu cobiçadíssimo dedo nem para o prefeito Iris Rezende e nem para Meirelles.
Compreensível o comedimento do presidente sobre os tais candidatos ao governo? Talvez sim, talvez não. Por um lado, Lula sabe de cor e salteado que o prefeito Iris Rezende Machado é hoje muito mais candidato, e com muito maior potencial, do que Henrique Meirelles. Mas ele sabe igualmente que se apoiar Iris de forma atabalhoada, tratorando quem estiver pela frente, muito provavelmente esmagará também qualquer chance de somar o PP, do governador Alcides Rodrigues, para a grande coligação que ele pretende patrocinar em Goiás. E o presidente também não pode simplesmente destronar Iris de sua preferência e optar por Meirelles, porque aí faria exatamente o oposto em direção contrária, deixando o PMDB goiano perigosamente descontente.
Ou seja, Lula passou descalço sob o braseiro político de sua base e fez tudo o que era possível para não torrar os pés e nem trocá-los pelas mãos. Não se declarou por Iris Rezende porque conhece as dificuldades que o PP teria de apoiar o peemedebista de bate-pronto. Não indicou Meirelles porque causaria um desarranjo total nas relações políticas com os peemedebistas. O único sinal que ele emitiu foi que prefere uma só chapa reunindo todos os partidos de sua base.
Partindo do ponto de vista do prefeito Iris Rezende, que se mobilizou pessoalmente para dar substância humana ao grande comício da Praça Cívica, a visita de Lula pode ter sido um bocado frustrante. Até por um detalhe que praticamente passou em branco durante os discursos. Iris elogiou Lula e Alcides, que elogiou somente Lula. E não deve ter sido mera traição da memória, mas algo deliberadamente intencional.
A grande questão que fica cada vez mais forte dentro da base lulista em Goiás deverá ganhar mais força nos debates internos depois dessa visita do presidente: com quem será que o Lula vai ficar? Ele deixou muito claro que vive essa dualidade nos amores de uma só candidatura.
O problema é quem nem a matemática político-eleitoral melhora a equação. Em tese, a candidatura do prefeito Iris Rezende Machado é uma mão-na-roda para o presidente Lula. Primeiro porque formaria de imediato um forte palanque para a ministra Dilma Roussef — ou para qualquer outro candidato caso ela saia do processo. Em segundo lugar, o potencial de Iris eleitoralmente é muito maior do que o de Meirelles. Sem falar no fato de que um sabe exatamente como pedir votos, enquanto o outro teria que começar do zero, aprendendo passo a passo cada movimento da arte de ser um candidato realmente competitivo.
Olhando dessa forma, seria muito natural que Lula optasse imediatamente pela candidatura do prefeito e, mais do que isso, colocasse sua tropa de choque à disposição do PMDB. Por que, então, ele não faz isso? Simplesmente, porque mesmo sendo uma opção para lá de razoável, e até natural, Lula não define o quadro logo para tentar até o último momento manter o PP nas proximidades.
Eventual candidatura de Meirelles sem o explícito apoio de Lula, o que implicaria uma coligação que abrangesse o seu PT, estaria pré-condenada a morrer no meio do oceano eleitoral, sem sequer avistar a praia. E, nesse sentido, há que se entender um claro recado do presidente durante entrevista para emissora de rádio de Anápolis, a São Francisco-FM, de que Meirelles só não poderá ser candidato “para perder”. Ou seja, se ele entrar na disputa, terá que contar com todos os exércitos existentes, o que, então, incluiria também o PMDB. Lula percebe que somente o apoio do PP do governador Alcides Rodrigues, contra as candidaturas de Marconi Perillo e Iris Rezende, é levar Henrique Meirelles a se transformar num náufrago.
Tudo isso implica outras consequências político-partidárias. Sem a candidatura de Meirelles com apoio de Lula, o PP palaciano terá muitíssimas dificuldades para evitar que as bases pepistas se unam em torno da tese de nova coligação com o PSDB. Vale lembrar que o Palácio já estará na reta final de mandato, e que então a perspectiva de poder passa a ter muito mais valor dentro da vida partidária.
Todas essas complicadas alternativas mostram que a situação atual do senador Marconi Perillo é muito boa. Ele tem um forte recall junto à população de Goiás, o que significa que, logo nas primeiras pesquisas que se fizer sobre as eleições, seu nome estará muito bem situado, se não na liderança absoluta. Sua coligação mínima está consolidada, com PSDB, PTB e PPS, o que já lhe garante pelo menos um quinto do tempo de campanha eletrônica, no rádio e na tevê. Além disso, seu nome é disparadamente o preferido dentro das bases do DEM e do próprio PP, o que não fecha completamente a possibilidade de rebeldias contra imposições das cúpulas para coligações esdrúxulas. E caso consiga somente o apoio do DEM, seu tempo de tevê cobrirá então um terço do total, considerado por qualquer especialista como suficiente para fazer uma campanha adequada e até com alguma sobra.
No final das contas, a visita do presidente Lula a Goiás não passou em branco, mas também não foi o chamado dia D. Ele cumpriu o figurino de sempre, prometendo finalizar obras que estão paradas há muito tempo, como a do aeroporto Santa Genoveva, e até anunciando outras, como a duplicação da BR-060. Nesse sentido, Lula foi somente protocolar. Como não tinha o que inaugurar, além de menos da metade de um programa de 5 mil casas populares, curtiu a festa e foi-se embora, deixando para sua base em Goiás as mesmas dúvidas que existiam antes.
Entre dois amores
No balanço da visita presidencial a Goiás não se sabe ainda qual é o nome preferido de Lula para disputar com Marconi
Muito difícil concluir algum balanço político sobre a visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em relação ao candidato preferido por ele para enfrentar Marconi Perillo no ano que vem na disputa pelo governo do Estado. Foram duas as oportunidades para ele dar alguma dica sobre seu ungido. A primeira, em Anápolis, ele encheu a bola do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, especialmente quanto à sua administração à frente do BC. A segunda, na Praça Cívica. E ali o jogo terminou zero a zero. O presidente não apontou seu cobiçadíssimo dedo nem para o prefeito Iris Rezende e nem para Meirelles.
Compreensível o comedimento do presidente sobre os tais candidatos ao governo? Talvez sim, talvez não. Por um lado, Lula sabe de cor e salteado que o prefeito Iris Rezende Machado é hoje muito mais candidato, e com muito maior potencial, do que Henrique Meirelles. Mas ele sabe igualmente que se apoiar Iris de forma atabalhoada, tratorando quem estiver pela frente, muito provavelmente esmagará também qualquer chance de somar o PP, do governador Alcides Rodrigues, para a grande coligação que ele pretende patrocinar em Goiás. E o presidente também não pode simplesmente destronar Iris de sua preferência e optar por Meirelles, porque aí faria exatamente o oposto em direção contrária, deixando o PMDB goiano perigosamente descontente.
Ou seja, Lula passou descalço sob o braseiro político de sua base e fez tudo o que era possível para não torrar os pés e nem trocá-los pelas mãos. Não se declarou por Iris Rezende porque conhece as dificuldades que o PP teria de apoiar o peemedebista de bate-pronto. Não indicou Meirelles porque causaria um desarranjo total nas relações políticas com os peemedebistas. O único sinal que ele emitiu foi que prefere uma só chapa reunindo todos os partidos de sua base.
Partindo do ponto de vista do prefeito Iris Rezende, que se mobilizou pessoalmente para dar substância humana ao grande comício da Praça Cívica, a visita de Lula pode ter sido um bocado frustrante. Até por um detalhe que praticamente passou em branco durante os discursos. Iris elogiou Lula e Alcides, que elogiou somente Lula. E não deve ter sido mera traição da memória, mas algo deliberadamente intencional.
A grande questão que fica cada vez mais forte dentro da base lulista em Goiás deverá ganhar mais força nos debates internos depois dessa visita do presidente: com quem será que o Lula vai ficar? Ele deixou muito claro que vive essa dualidade nos amores de uma só candidatura.
O problema é quem nem a matemática político-eleitoral melhora a equação. Em tese, a candidatura do prefeito Iris Rezende Machado é uma mão-na-roda para o presidente Lula. Primeiro porque formaria de imediato um forte palanque para a ministra Dilma Roussef — ou para qualquer outro candidato caso ela saia do processo. Em segundo lugar, o potencial de Iris eleitoralmente é muito maior do que o de Meirelles. Sem falar no fato de que um sabe exatamente como pedir votos, enquanto o outro teria que começar do zero, aprendendo passo a passo cada movimento da arte de ser um candidato realmente competitivo.
Olhando dessa forma, seria muito natural que Lula optasse imediatamente pela candidatura do prefeito e, mais do que isso, colocasse sua tropa de choque à disposição do PMDB. Por que, então, ele não faz isso? Simplesmente, porque mesmo sendo uma opção para lá de razoável, e até natural, Lula não define o quadro logo para tentar até o último momento manter o PP nas proximidades.
Eventual candidatura de Meirelles sem o explícito apoio de Lula, o que implicaria uma coligação que abrangesse o seu PT, estaria pré-condenada a morrer no meio do oceano eleitoral, sem sequer avistar a praia. E, nesse sentido, há que se entender um claro recado do presidente durante entrevista para emissora de rádio de Anápolis, a São Francisco-FM, de que Meirelles só não poderá ser candidato “para perder”. Ou seja, se ele entrar na disputa, terá que contar com todos os exércitos existentes, o que, então, incluiria também o PMDB. Lula percebe que somente o apoio do PP do governador Alcides Rodrigues, contra as candidaturas de Marconi Perillo e Iris Rezende, é levar Henrique Meirelles a se transformar num náufrago.
Tudo isso implica outras consequências político-partidárias. Sem a candidatura de Meirelles com apoio de Lula, o PP palaciano terá muitíssimas dificuldades para evitar que as bases pepistas se unam em torno da tese de nova coligação com o PSDB. Vale lembrar que o Palácio já estará na reta final de mandato, e que então a perspectiva de poder passa a ter muito mais valor dentro da vida partidária.
Todas essas complicadas alternativas mostram que a situação atual do senador Marconi Perillo é muito boa. Ele tem um forte recall junto à população de Goiás, o que significa que, logo nas primeiras pesquisas que se fizer sobre as eleições, seu nome estará muito bem situado, se não na liderança absoluta. Sua coligação mínima está consolidada, com PSDB, PTB e PPS, o que já lhe garante pelo menos um quinto do tempo de campanha eletrônica, no rádio e na tevê. Além disso, seu nome é disparadamente o preferido dentro das bases do DEM e do próprio PP, o que não fecha completamente a possibilidade de rebeldias contra imposições das cúpulas para coligações esdrúxulas. E caso consiga somente o apoio do DEM, seu tempo de tevê cobrirá então um terço do total, considerado por qualquer especialista como suficiente para fazer uma campanha adequada e até com alguma sobra.
No final das contas, a visita do presidente Lula a Goiás não passou em branco, mas também não foi o chamado dia D. Ele cumpriu o figurino de sempre, prometendo finalizar obras que estão paradas há muito tempo, como a do aeroporto Santa Genoveva, e até anunciando outras, como a duplicação da BR-060. Nesse sentido, Lula foi somente protocolar. Como não tinha o que inaugurar, além de menos da metade de um programa de 5 mil casas populares, curtiu a festa e foi-se embora, deixando para sua base em Goiás as mesmas dúvidas que existiam antes.
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