terça-feira, 6 de outubro de 2009

Marconi: contas em dia!

Alex Malheiros - 20-08-09

"Deixamos apenas 10% de restos a pagar que eu havia herdado em 1999. Como um governo que manteve a folha em dia pode ter produzido deficit?”

Diário da Manhã

Política e Justiça

Alexandre Bittencourt

“Deixei as contas do Estado em dia”
Senador diz que, ao se desincompatibilizar do cargo em março de 2006, não entregou deficit para Alcides

Logo que assumiu o mandato, em 2007, o governo divulgou a informação de que havia herdado um deficit de R$ 100 milhões dos dois mandatos de Marconi Perillo (PSDB) à frente do Estado. O secretário da Fazenda, Jorcelino Braga (PP), diz que o deficit já foi sanado, mas não por isso o assunto morreu. Em entrevista aos jornalistas Ivan Mendonça e Jerônimo Rodrigues, âncoras do programa Falando Francamente, da Radio Mil, o senador dá sua resposta àqueles que tentaram atribuir a ele a culpa pelo deficit. Leia os melhores trechos da entrevista:

PSDB goiano sai fortalecido após fim do prazo para filiação de candidatos a cargo eletivo em 2010?

Marconi Perillo – Na minha opinião, esta fase foi um pouco atípica. Vi uma movimentação relativamente pequena por parte dos partidos, não vi correria atrás de filiações. PSDB trabalhou muito nesses últimos dias, conseguimos um bom salto. Tivemos sucesso, conquistamos filiações de qualidade. Assim como os partidos já aliados ao PSDB. Mas, no geral, não houve grande expectativa, salvo essa história de filiação do Henrique Meirelles ao PMDB.

A filiação de Meirelles ao PMDB surpreendeu o senhor?

Marconi – Não. Ao longo dos últimos dois meses, eu e Meirelles mantivemos contato. Conversamos algumas vezes e, em primeira mão, ele me antecipou que faria essa opção. Ele disse que queria me comunicar, em primeira mão, que havia desistido de se filiar ao PP, que não seria candidato a governador, e que provavelmente se filiaria ao PMDB.

Quando ocorreu esta conversa?

Marconi – Há cerca de dez dias.

Na sua opinião, o verdadeiro projeto do presidente do Banco Central é participar da sucessão do presidente Lula?

Marconi – Acho que este é o grande sonho dele. Agora, ele não descarta a hipótese de ser candidato a senador.

O senhor acredita que, ao se filiar a um partido, Meirelles deveria deixar o BC?

Marconi – Tenho a impressão que a imprensa especializada em economia no país fará esse tipo de cobrança ao presidente do Banco Central. Em tese, tecnicamente falando, é incompatível ao gestor da política monetária se imiscuir na política partidária. Ele acaba perdendo a isenção. Hoje ele tem respeitabilidade de bons parlamentares de oposição, mas a medida que começar a misturar a política partidária com a gestão da política monetária perderá apoio, perderá respaldo da imprensa especializada. Portanto, ele terá muito que refletir sobre o assunto.

O senhor se sentiu atingido quando o presidente Lula disse que quer saber quem é o culpado pelo endividamento da Celg?

Marconi – Pelo contrário, acho que ele rapidamente terá a resposta. Basta pedir à Aneel, o órgão regulador do sistema elétrico brasileiro. Terá informações seguras. Além disso, a Eletrobrás acaba de fazer relatório, com apoio de uma consultoria privada, que com certeza deve ter chegado a muitas conclusões. Aqui em Goiás, há CPI em curso. Espero que essa CPI possa, também, conseguir informações, chegar a conclusões com apoio do Ministério Público, do Tribunal de Contas da União. Esse relatório a que me referi foi solicitado também pelo ministro Edison Lobão. Eu convoquei o ministro Lobão para ir à comissão de Infraestrutura falar desse assunto da Celg. O ministro me pediu um tempo, até porque queria aguardar o desfecho das negociações da Eletrobrás com o governo do Estado. Estou aguardando, com tranquilidade. Ainda quero pedir audiência com o presidente Lula para que possa levar a ele algumas conclusões. Já visitei a Eletrobrás e a Aneel pedindo informações, e eles terão de me responder. Afinal, sou parlamentar. E a medida que eles me enviarem, se o presidente não tiver conseguido essas informações, vou fazer questão de levar para ele e mostrar quem são os responsáveis pelo que aconteceu com a Celg do ponto de vista do desequilíbrio econômico-financeiro. Eu e a minha equipe fomos heróis ao segurar a empresa, inclusive, durante três anos com lucro depois da privatização da usina de Cachoeira Dourada, e depois a privatização da Usina de Corumbá I. Na verdade, a Celg deveria estar hoje tranquila, assim como a Cemig, em Minas Gerais. É uma empresa auto-suficiente. Se a Celg tivesse geração própria de energia, com certeza seria empresa absolutamente equilibrada. Teria condições de atender as demandas novas por energia. É bom ressaltar que, na verdade, nós tivemos um surto de desenvolvimento muito grande em Goiás nessa última década. A economia saltou de R$ 17 bilhões pra quase R$ 60 bilhões em termos de PIB (Produto Interno Bruto). As exportações se multiplicaram por dez, 15 vezes. Emprego cresceu muito. A industrialização foi muito forte, e com isso também apareceu essa demanda nova por energia, construção de sub-estações, linhas de transmissão e distribuição. E a Celg teve que viabilizar recursos para áreas que não possuíam. Se a Celg tivesse hoje, por exemplo, a usina de Cachoeira Dourada, teria renda mensal líquida, além da que tem hoje, de mais R$ 150 milhões. Isso seria suficiente pra resolver esses problemas. Quando eu cheguei ao governo, a Celg devia R$ 1,7 bilhão. Conseguimos na época dar reduzida na dívida, mas se você calcula os juros de 1,7 bilhão em dez anos, isso dá mais que R$ 5 bilhões só de juros de serviço. Além do que a Celg deixou de arrecadar nestes 11 anos, depois da privatização da Usina, cerca de R$ 13 bilhões em lucros e dividendos. Portanto, a equação é fácil de ser fechada. Infelizmente cometeram grandes irresponsabilidades com relação a Celg ao privatizar as duas usinas mais importantes de Goiás.

O senhor oferecerá este relatório à CPI instalada na Assembleia?

Marconi – Sem dúvida. Acho que CPI tem que trabalhar de forma independente. É composta hoje por todos os principais partidos do Estado. São parlamentares sérios. Espero que cheguem a conclusões, mas acho que tem muito mais pessoas e autoridades nesse País que podem chegar a algumas conclusões. Aliás, na minha opinião, esses órgãos todos já tem opiniões formadas, informações técnicas que dão conta do que aconteceu com a empresa. Como uma empresa que não tem receita vai sobreviver ao longo do tempo? Nós conseguimos melhorar muito a empresa durante o período que fui governador. Apesar dessas dificuldades.

O que o senhor achou da proposta da Eletrobrás de repassar R$ 40 milhões em troca de 41% das ações da Celg?

Marconi – Não me compete tratar deste assunto, até porque não administro o Estado. É discussão que compete ao governador e à sua equipe. O que posso dizer é que, quando era governador, houve tentativa de federalização. Primeiro de privatização, porque não tinha mais cabimento uma empresa viver só de distribuição já que a geração tinha sido privatizada. Foi frustrado o leilão porque não apareceram compradores, naquela época a empresa já tinha problemas. Depois tentou-se a federalização. Me foi oferecido na época cerca de 170 milhões de dólares e recusei, encerrei o assunto e toquei pra frente a empresa buscando equilibrá-la apesar das muitas limitações e dificuldades. Agora, é importante registrar também que na última conversa que mantive com o ministro Edison Lobão, ele me disse que as seis ou sete empresas de distribuição federalizadas tiveram, em 2006, prejuízo de R$ 800 milhões. Em 2007, prejuízo de R$ 1,2 bilhão. E, em 2008, prejuízo de R$ 1,8 bilhão. Para 2009, havia a previsão de prejuízo de R$ 2,2 bilhões, previsão revertida porque tiraram totalmente a influência e a ingerência política dessas distribuidoras. Conseguiram amenizar um pouco a situação. Na minha opinião, esse tipo de solução deverá ser adotada em relação a Celg.

É verdade que o governador Alcides Rodrigues herdou deficit de R$ 100 milhões em função dos dois mandatos do senhor à frente do governo de Goiás?

Marconi – Basta requisitar as fitas do programa eleitoral da campanha de 2006 junto ao TRE (Tribunal Regional Eleitoral) ou relembrar o que falava o governador Alcides durante a campanha de 2006, e ele já era governador. Eu já tinha saído do governo. Aliás, fez no dia 30 de setembro, três anos e meio que eu deixei o governo e que Alcides assumiu a administração. Portanto, aqueles que não tem o que fazer e, às vezes pela incompetência, tentam justificar o fracasso atribuindo responsabilidades a terceiros, basta que estes mal-avisados assistam aos discursos, às falas do governador no programa eleitoral de 2006 a respeito de como é que estavam as finanças do Estado e como é que estava o governo. O governador Alcides, em todas as suas aparições na televisão, dizia que nós haviamos feito um grande trabalho em Goiás. Que eu era um grande benfeitor de Goiás e dos goianos, e que ele gostaria de dar continuidade a todos os programas sociais e a todos os projetos econômicos do governo. Isso foi dito e repetido dezenas de vezes na televisão, no rádio, nos palanques eleitorais. Não posso entender como discurso como esse feito durante toda a campanha possa ter mudado a partir de 2007. A verdade é que os goianos foram acostumados a governos sucederem outros governos recebendo heranças, folhas de pagamento em atraso, três, quatro, cinco meses de folha em atraso. Quando deixei o governo já havia pago o mês de março. Os goianos todos são testemunhas disso. Deixamos o 13º proporcional de janeiro, fevereiro e março pagos, rigorosamente em dia. A dívida externa do Estado, rigorosamente em dia. Pagamos, até o dia 30 de março, sempre rigorosamente em dia, durante sete anos e três meses. Foram mais de R$ 5 bilhões de juros e serviços da dívida externa contraída por outros governos. Deixamos todos os programas sociais rigorosamente em dia. Deixamos, também, apenas 10% de restos a pagar que eu havia herdado em 1999. Como um governo que deixa a folha rigorosamente em dia pode ter deixado deficit?

Por que, na sua opinião, o discurso mudou tanto?

Marconi – Tenho a impressão que um ou outro elemento do governo foi picado pela mosca azul, e deve ter se preocupado com a própria candidatura a governador. E aí chegou à conclusão que era preciso tentar desmoralizar o ex-governador Marconi, desconstruir a sua imagem pra tentar ter alguma luz, alguma possibilidade eleitoral às custas da desconstrução de quem fez muito por esse Estado e trabalhou com muita seriedade, honestidade e respeito aos goianos. Isso é discurso de quem não tem voto. É como aquele time que perde o jogo no campo e depois quer ganhar no tapetão. Felizmente, quem participou disso foram um ou dois apenas. Tentaram descontruir a minha imagem, porque certamente tem projetos e acham que... ou então além disso, pensaram: “se o Marconi ficar por perto, pode atrapalhar planos excusos da nossa parte”.

A quem o senhor se refere?

Marconi – Não vou entrar nesse tipo de discussão. Só posso entender essa maldade como tendo sido ardilosamente engredada com esse objetivo.

Qual cenário o senhor vislumbra para a eleição de 2010?

Marconi – Acho que com habilidade, com tempo, muito diálogo haverá possibilidade da reaglutinação da base aliada, que se formou em 99. E o outro pólo será o PMDB. Acho que vamos repetir essa polarização no ano que vem.

Filiação de Meirelles no PMDB interfere na recomposição da base?

Marconi – Ajuda muito. Essa decisão de Meirelles com certeza vai colaborar muito para a busca dessa reunificação da base.

O que o leva a crer que, no momento certo, a base estará unida?

Marconi – Há três anos e meio deixei o governo falando de união e paz. Foi graças a esse discurso que conseguimos a vitória em 2006, e de lá pra cá não mudei nenhum milímetro. Continuo pregando a humildade da nossa base, até porque quem participa da base – vereadores, prefeitos, militantes, dirigentes partidários – todos querem a unidade da base, porque isso significa responsabilidade da cúpula com relação à militância. Acho que as pessoas, os prefeitos, os militantes, precisam ser ouvidos, precisam ser levados em consideração, nome que emergir dessa unidade, desse desejo da base, deverá ser o nome que vai enfrentar as urnas ano que vem.

O governador dá mostras de que pretende continuar no governo até o final do mandato. Acredita que isso vá mesmo acontecer?

Marconi – Olha, há tempo não falo com o governador, mais de ano, não sei o que que ele está pensando. Ele sempre foi homem de posições partidárias, sempre buscou colaborar com a comunidade da base... com certeza ele vai, pelo menos é o que eu imagino, buscar a convergência desses partidos que apoiam o seu governo dele.

O senhor crê na formação de uma chapa governista em 2010?

Marconi – Acho difícil, mas em política tudo é possível.

E como imagina que pode haver reconciliação da base, se nem tem conversado com Alcides?

Marconi – Olha... o PP conta com mais de 50 prefeitos, me relaciono bem com praticamente todos. PSDB colaborou com o PP em quase todos esses municípios nas eleições de 2006. As bases vão sugerir às cúpulas alinhamento que possa resultar na vitória. Acho que as coisas vão se resolver no tempo certo, no momento oportuno. Tudo vai entrar no leito natural nos próximos meses. É preciso ter tolerância, paciência, cautela e muito trabalho daqui pra frente.

O senhor tem mantido contato com todos estes prefeitos?

Marconi – Converso com muitos deles, com quase todos, recebo visitas aqui em Goiânia e lá no gabinete em Brasília, todos os dias. Na semana passada, devo ter recebido mais de 40 prefeitos no gabinete. Tenho falado muito com eles, dado atenção aos deputados, assim como também a todos os segmentos organizados na sociedade goiana. Sou muito procurado pelas entidades, pelas instituições, e procuro dar atenção.

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