segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Marconi: união pelas bases!

O Popular

Política

Cileide Alves

PP encontrará luz no fim do túnel?

“Os tempos prometem continuar difíceis, pois o governo é politicamente frágil, está preso no discurso de austeridade sem contraponto à falta de recursos.”

A cúpula do PP tinha até a semana passada grande força política por ter em suas mãos o governo do Estado e por oferecer perspectiva de poder futuro acalentando o desejo de lançar a candidatura do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles. Desde a última quarta-feira, quando Meirelles assinou sua ficha de filiação só que ao PMDB de Iris Rezende, o poder do PP começou a escorregar pelos dedos das mãos de sua cúpula. Não restou candidatura natural para oferecer a seu público interno. Sem ela, os descontentes começaram a aparecer.

Essa nova situação de esvaziamento político do governo pode ser exemplificada por um único caso. O ex-deputado Nédio Leite, secretário extraordinário do governo de Alcides Rodrigues, trocou o PP pelo PSDB em ato festivo comandado pelo senador Marconi Perillo, sexta-feira, sem nem sequer se dar ao trabalho de pedir demissão. Ficou com os dois, o cargo no governo e a perspectiva de continuar lá com Marconi. “Saio (da secretaria) se ele (Alcides) quiser”, disse Nédio, imitando o comportamento de todos os tucanos que permanecem no governo, mesmo depois do racha explícito entre Marconi e Alcides, aproveitando-se da dificuldade do governador de demitir quem quer que seja.

Se o governador não exige fidelidade e o racha não é oficializado, muitos dos que estão à sua volta ficam à vontade para aproveitar os dois lados, as benesses do poder e a proximidade de Marconi. Em outras palavras, gozam as vantagens de estar casados com o governo e, paralelamente, comportam-se como se fossem solteiros e preparam novo casamento.

A falta de firmeza do governador, o esvaziamento político do PP depois que Meirelles optou pelo PMDB, e esse jeito de agir de muitas lideranças que, nas palavras de um marconista, “não pulam em galho seco” (leia-se: aderem só a quem tem chance eleitoral) ajudaram a compor a atual fase negra do PP.

Por isso muitas lideranças pepistas, especialmente os que têm projetos eleitorais, querem abraçar urgentemente a candidatura de Marconi. Alcides Rodrigues, o presidente regional, Sérgio Caiado, e o mais novo filiado, o secretário da Fazenda, Jorcelino Braga, trabalham para construir uma alternativa eleitoral fora do PSDB. Um deputado próximo ao governador disse sábado que acha mais fácil Alcides encerrar seu mandato e aposentar-se, do que entrar no barco de Marconi apenas para manter seu espaço na política.

A filiação de Braga ao PP na semana passada aconteceu neste contexto e atendeu a uma solicitação de Alcides. No meio político tem muita gente desconfiada de que Braga não será candidato. Quem pensa assim, se justifica observando que sua filiação objetiva única e exclusivamente segurar no PP as lideranças doidas para pular no barco tucano e com a falta de entusiasmo que o próprio secretário demonstrou ao se filiar ao PP. Diferentemente de quem de fato quer ser candidato, Braga assinou o documento sem fazer estardalhaço: “Não tem nada a ver esse negócio de festa para se filiar. Estou trabalhando. Não tem porquê fazer evento”, declarou o único provável candidato a governador que foge de publicidade. Para provar que Braga estava realmente filiado, o presidente Sérgio Caiado teve de exibir sua ficha aos jornalistas na quinta-feira.

Governistas mais próximos do Palácio das Esmeraldas, no entanto, afirmam que o secretário está apenas fazendo “charminho” e que ele deixará sim o governo em março para entrar na disputa. Dizem mais: Braga não será um candidato “tabajara”, isto é, não entrará na disputa apenas para fazer número, e que sua falta de densidade eleitoral é compensada por sua densidade política. Por este raciocínio, Braga será mesmo a opção eleitoral de seu grupo que não aceita a hipótese de apoiar Marconi.

Na semana passada, o governador aproveitou que não é o único a ter restrições ao senador e procurou o DEM e o PR. O deputado Ronaldo Caiado (DEM) e o vice-governador Ademir Menezes (PR) já almejaram ser candidatos ao governo com apoio de Alcides, mas não mais agora. Não querem colocar suas carreiras em risco (Caiado quer se reeleger e Ademir acha que pode eleger-se deputado federal) para entrar em um projeto eleitoral sem futuro. Esse fato, somado à resistência de PP, PR e DEM ao projeto do PSDB é que, na visão desses governistas, vai sustentar a possível candidatura de Braga a governador.

Essa candidatura resolve um problema político, mas cria um administrativo em março, quando o secretário terá de se desincompatibilizar do governo. Os próprios governistas admitem que Braga é o homem que toma as principais decisões no governo, desde questões políticas delicadas até as decisões técnicas, e não apenas em sua pasta.

Curioso, Alcides tem dois secretários de Governo, o tucano Fernando Cunha, titular da Secretaria de Governo, e o deputado federal Roberto Balestra (PP), secretário extraordinário de Articulação Política, mas quem de fato exerce essas funções é o secretário da Fazenda, segundo relato de deputados governistas. A desincompatibilização vai cobrir um santo, o projeto eleitoral do PP, mas descobrir outro, a administrativa, na fase mais crítica, o último ano do mandato – e em plena campanha eleitoral.

O encerramento no sábado do prazo de filiação para quem quer ser candidato aliviará momentaneamente a pressão sobre o governo e lhe dará fôlego para respirar. Mas os tempos prometem continuar difíceis, pois o governo é politicamente frágil, está preso apenas no discurso de austeridade financeira, sem ter conseguido oferecer um contraponto administrativo para compensar a falta de recursos; tem dificuldades para tomar decisões é carente de lideranças carismáticas para conquistar apoio popular.

Alcides terá agora um enorme desafio pela frente, a reconstrução de um projeto alternativo para seu grupo. Será uma boa oportunidade para provar que é um político habilidoso.

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