quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Quem será?

Diário da Manhã

Política e Justiça

Valterli Guedes

Goiás em bom momento: Iris, Meirelles ou Marconi?

Três candidatos com forte perspectiva de poder embaralham cenário político do Estado. Indecisão segue até março

É chegada a hora definida no dito popular “de a onça beber água”. A ação do tempo é inexorável. Os prazos vencem. Quanto a uma provável candidatura de Henrique Meirelles a governador de Goiás, já pertencem ao passado certas dúvidas, até provocadoras de chacotas. Um exemplo é a afirmação do suplente de deputado federal Vilmar Rocha, feita há meses, atribuindo ao presidente do Banco Central certa semelhança com dom Sebastião, o rei de Portugal morto na guerra com Marrocos em 1578, deixando no imaginário popular a esperança salvacionista do reaparecimento. Assim seria a tão propalada candidatura de Henrique de Campos Meirelles ao governo de Goiás.

O prazo de filiação partidária para quem pretende disputar um mandato no pleito de 3 de outubro de 2010 tem como limite o próximo 2 de outubro, um ano e um dia antes das eleições. A incógnita está desfeita: Meirelles vai filiar-se ao PMDB às 11 horas de hoje, quarta-feira, 30 deste setembro. Sua prioridade é a disputa do mandato de governador, um sonho acalentado desde muito antes do início da carreira bancária exitosa que o levou à presidência mundial do Banco de Boston. Aposentado, no ano 2002, cuidou imediatamente da construção de uma nova carreira, já agora na chamada vida pública. Naquele mesmo ano, elegeu-se deputado federal pelo PSDB, sagrando-se campeão em número de votos. Renunciou antes de assumir o mandato, aceitando o convite de Lula para presidir o BC. Foi ousado.

O atual posto de presidente do Banco Central do Brasil, onde está há quase sete anos e foi, num primeiro momento, duramente combatido, alvo de críticas à beira do achincalhe, compõe a estratégia do estreante na política partidária. Buscou credenciar-se. E conseguiu, tanto que tem seu nome lembrado para competições bem maiores que o alvo na província, como, por exemplo, a vice-presidência e mesmo a presidência da República.

No PMDB

Ainda em seus tempos de dom Sebastião, há cerca de três meses, Meirelles resolveu buscar assessoramento em Goiás, ouvindo pessoas conhecedoras da realidade local. Uma delas é Olvanir Andrade de Carvalho, atualmente síndico da massa falida da construtora Encol. Antigo homem forte do primeiro governo de Iris Rezende (1983/87), Olvanir esquivou-se de início, mas logo aceitou conversar. Conversa franca, de amigo e, mais que isso, portador de amizade desinteressada, de alguém na condição de dizer as suas verdades. Em tom de bronca, Olvanir foi logo dizendo:

– Se você quer ser candidato para ganhar tem que ser pelo PMDB, que tem estrutura.”

Seguiu-se um lenga-lenga, do tipo “e o Iris?” Falou-se, é claro, do que sobre essa opção iria pensar o governador Alcides Rodrigues, autor e principal estimulador da candidatura Meirelles ao governo.

Logo o presidente Lula entrou no circuito. Pra valer, tanto que foi direto ao prefeito Iris Rezende que, de olho em disputar, ele próprio, chegou a desdenhar das possibilidades eleitorais de Meirelles, que, ao saber disso, ficou chocado. Mas logo absorveu, afinal, uma coisa de somenos, uma vez que, na empreitada a que se propõe, terá de “engolir toucinho com mais cabelo”, conforme teria dito, numa outra circunstância, Lampião, o Rei do Cangaço.

Seguiram-se episódios como a visita de Lula a Goiás, no dia 13/08/2009, quinta-feira, quando bebeu água servida por Iris, confundiu o prefeito com o presidente do Tribunal de Justiça, desembargador Paulo Teles, e, mais que isso, “encheu a bola” de Meirelles, alguém que, segundo palavras do presidente, sendo candidato, não poderá perder. Ora, isso dito logo por Lula, que perdeu todas, em primeiro e em segundo turnos, até ganhar pela primeira vez em 2002 e não mais perder.

O certo é que Meirelles, sem jamais declarar-se candidato, alcançou esse status, arrancando o comprometimento de apoio do próprio Iris Rezende. Com quem, por sinal, teve conversas no aeroporto Santa Genoveva, num hangar de táxi aéreo. A primeira, na manhã de 2 de setembro, dia de reunião do Copom, sacrificada, em parte, pelo presidente do BC. Uma outra, mais recente e definitiva, na noite do dia 24 último, quinta-feira, antes do evento promovido pela Federação das Indústrias do Estado de Goiás no Clube “Antônio Ferreira Pacheco”. Das conversas, compromissos fechados, embora, ressalve-se, compromissos não assinados, de políticos. Logo...

De qualquer forma, compromissos assim:

– E se o partido não homologar o meu nome?

– Aí eu também não serei candidato. Vão lançar quem?



Bom momento

Henrique Meirelles é definitivamente pré-candidato a governador de Goiás? Bem, aí é preciso trabalhar com os dados atuais. Sua filiação ao PMDB indica que sim. Nada impede que, de agora até a desincompatibilização em abril, e depois até meados de 2010, quando, entre 10 e 30 de junho, serão realizadas as convenções homologatórias, o excesso de cabelos no toucinho o leve a optar, por exemplo, por disputar uma cadeira no Senado. Iris Rezende agradeceria. Afinal, está no clímax da consagração como administrador. Agora, a partir do momento em que Meirelles assumir publicamente uma candidatura, aí será irreversível. Pelo menos o compromisso extraído dele por Iris é este. “Depois da definição, nada de recuo”. Até lá, o PMDB de Goiás contará com dois pré-candidatos fortes: Iris e Meirelles, Meirelles e Iris, um torcendo pelo outro, irmãos siameses. Nada mal para um partido político.

Para Goiás, nada mal também. Aliás, o nada mal para Goiás é quanto aos nomes disponíveis, todos interessados na disputa: além de Iris e de Meirelles, os nomes do PMDB, já se acha em campo o senador Marconi Perillo (PSDB), candidato declarado. Com qualquer deles, é consenso quase geral, Goiás estará em boas mãos. Sem falar que o governador Alcides Rodrigues, colhido de surpresa pela filiação de Meirelles ao PMDB, pode também surpreender, em princípio, com o lançamento do atual secretário da Fazenda de seu governo, Jorcelino Braga, à disputa. O governador incentivou a filiação de Braga ao seu partido, o PP. Executivo bem avaliado, com atuação sem reparos até agora frente a uma pasta complexa, Braga pode ser a carta na manga do governador, que tanto incentivou a candidatura de Meirelles.

A posição do governador, desconfortável para alguns, na verdade é de certa tranquilidade: basta dizer que ele poderá compor com qualquer das partes, do PMDB de Iris ao PSDB de Marconi, pois qualquer dos dois aceitaria um vice indicado por Alcides, podendo ainda, é claro, lançar uma candidatura própria do PP. Para a população, a existência de um maior leque de opções é positiva. Nada a perder, até pelo contrário.

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