quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

PMDB goiano em crise!





Política & Justiça

“Querem esconder o fracasso”
Luiz Bittencourt diz que não tem culpa pela derrota e defende renovação

Da Redação

Mesmo ameaçado com um processo de expulsão do partido após apoiar a candidatura de Marconi Perillo (PSDB), o deputado federal Luiz Bittencourt continua defendendo a renovação e principalmente a modernização da legenda com novas ideias e novas formas de fazer política. Bittencourt diz que o movimento liderado pela cúpula de caça às bruxas é tática para esconder os erros do partido na eleição. O deputado concedeu a seguinte entrevista, ontem, ao programa “Falandro Francamente” da Rádio Mil FM, comandado pelos jornalistas Ivan Mendonça e Jerônimo Teixeira. 

O senhor tem muitos adeptos e mesmo alguns que não são adeptos contrários à sua expulsão. Afirmam que este não é o melhor caminho. Esta eleição pode ser um marco de transformação do partido? 

Eu tenho muita preocupação. Primeiro, eu sinto que o sentimento do partido não é este que a cúpula leva à frente. É uma tentativa de esconder o seu fracasso. Uma fracassada gestão que houve nesses últimos anos. O PMDB tem diminuído de tamanho em Goiás, tinha 3 senadores, hoje não tem nenhum, não ganha eleições majoritárias. Nós tínhamos 12 deputados federais, na última legislatura tinham cinco, hoje só temos quatro. Tinham 12 deputados estaduais, chegamos a ter 27, hoje o partido foi reduzido a oito e a maioria deles de Goiânia. Esta cúpula é atrasada, arcaica. O PMDB vai ser transformando cada vez mais no perfil do PMDB nacional. Ou seja, um partido que vai ser coadjuvante, que estará apoiando quem estiver no poder, então eu tenho receio que nos próximos momentos políticos de Goiás importantes o PMDB esteja apoiando o PT na eleição para a Prefeitura de Goiânia ou fazendo composição com os partidos que estejam disputando o governo. 

Que mudanças poderiam fazer no partido em Goiás o PMDB? 

 Primeira coisa, abrir as suas discussões internas, ouvir as bases, conversar com os líderes, democracia interna e colocar lideranças com mandato na executiva estadual. Fazer que o partido se oxigene, possa voltar para a população do Estado de uma forma mais moderna, de uma forma interativa principalmente. Com os instrumentos que nós temos hoje, o PMDB tem que se aproximar dos movimentos organizados da sociedade civil, da universidade, do sindicato dos movimentos populares. A cúpula do PMDB hoje é isolada e defende só projetos pessoais. Você veja a eleição passada o tanto de pai, sobrinho, filho, irmão que tinha como candidato. Não podemos tratar o partido como um caldeirão de interesses pessoais. Nós temos que ter projetos coletivos, partido político tem que ter ideias e projetos coletivos. 

Agora esta história de expulsão, deputado. O senhor acha que há tempo hábil para concretizar sua expulsão até dia 31 de dezembro, que é quando se encerra o seu mandato de deputado federal? 

 Bom, eu acho difícil a forma com que o partido, a cúpula do partido está conduzindo isto. É uma espécie de jogo de cartas marcadas. Outro dia eu vi uma declaração do presidente do partido dizendo que eu já estava expulso, que o conselho de ética já tinha decidido a minha expulsão, sendo que o conselho de ética nem fez reunião ainda para tratar deste assunto. E o conselho de ética do partido estadual, como o nacional, ele é pródigo em promover a democracia interna. Se eu tiver que ser expulso muita gente no PMDB tem que ser expulsa. O nosso candidato Iris Rezende, por exemplo, apoiou o presidente Collor quando Ulysses Guimarães era candidato a presidente da República, o ex-senador Mauro Miranda, quando nós decidimos apoiar Lula, montou um comitê para apoiar o candidato a presidente da República Geraldo Alckmin. Nós temos aí, por exemplo, tantas outras situações. 

O que vale dizer então é que esta atitude de pedir a expulsão do senhor seria uma atitude infantil, de vingança? 

Exato. É um atitude pessoal, mesquinha. A tentativa de me perseguir, de tentar encontrar um responsável pela derrota que o partido sofreu. Eu não fui o responsável por esta derrota, todo mundo sabe. Pelo contrário, eu até alertei várias vezes a falta de democracia interna, autoritarismo e a forma com que a cúpula estava conduzindo o partido mais uma vez de maneira errada. Eu tive a dignidade de não ser candidato, de assumir uma posição, uma eleição relativamente construída já neste últimos 4 anos com grandes chances de vitória. Todos o deputados federais de Goiás nesta eleição foram vitoriosos em função do trabalho que nós fazemos em Brasília, mas o partido não entendeu esta posição e acabou sendo derrotado. 

O senhor acha que o PMDB goiano tem cacife junto às lideranças nacionais para indicar algum nome goiano para o 1º escalão do governo Dilma? 

Pela experiência que nós temos no longo de três mandatos, dificilmente o PMDB de Goiás conseguiria emplacar um cargo relevante no cenário nacional. Primeiro, não tem um perfil capaz de ocupar um espaço dentro do partido para receber um respaldo muito forte, já que infelizmente o enfraquecimento do nosso partido em Goiás acabou diminuindo a sua importância no conjunto nacional. Segundo, a presidente Dilma não está dando a menor bola para o PMDB de Goiás. Então estas questões acabaram confinando o partido a uma situação pequena e pior, de coadjuvante na política de Goiás. Além do mais, eu tenho repetido isto, se o PMDB não fizer autocrítica neste momento e discutir novos caminhos,  o desastre será maior. 

Seu mandato está terminando daqui a 23 dias. O senhor analisa a hipótese de trocar de partido? 

Não. Por enquanto eu vou continuar defendendo a minha posição dentro do PMDB. Entendo que a base do partido, seus militantes, seus filiados pensam como eu penso, tanto que ninguém nunca veio dizer para mim: você tem que sair do partido. Pelo contrário, as pessoas vêm me cumprimentar, me aplaudir, me estimular. Você tem que resistir, fazer o que você está fazendo. Vamos ver se pelo menos assim a cúpula tem coragem de assumir outra posição e o partido possa melhorar. 

Iris Rezende desistiu de realizar aquela grandiosa festa de aniversário dele na fazenda. Como que o senhor viu esta atitude do ex-prefeito de Goiânia? 

Olha, eu acho que é uma forma de o ex-prefeito punir a população de Goiás pela sua derrota. As suas declarações, a maneira com que ele tem se dirigido nas entrevistas desde apurado o resultado final das eleições é um forma ressentida. Vencer ou perder uma eleição faz parte da vida pública. Estava escrito que dificilmente o PMDB ganharia estas eleições, então não há razão para ter ressentimento contra a classe política, contra a população do Estado. No meu entendimento esta festa deveria ter sido mantida, realizada, até porque ela é um elo, uma relação que existe com as pessoas e o prefeito Iris Rezende. 

O senhor foi candidato do PMDB à Prefeitura de Goiânia. Acha que o partido deve lançar candidato ou apoiar Paulo Garcia (PT)? 

Eu acho que para o partido ser grande ele tem que ter candidato nas eleições majoritárias. Apresentar propostas, teses, não pode ter projetos pessoais. O partido tem que estimular lideranças, disputar o espaço, apresentar propostas, mudar a realidade da cidade, do município, do Estado do Brasil. Quero dizer que a cúpula do PMDB tem que enxergar isto. A base pede  candidatura própria de estar disputando este espaço, o risco é você entrar num caminho que o partido será previamente definido como coadjuvante. 

A ala dissidente do PMDB vai ocupar algum cargo no governo Marconi Perillo? 

Claro. O governador Marconi Perillo já manifestou, inclusive em reuniões conosco, que vai prestigiar a dissidência do PMDB e vai dar espaço em função do trabalho que eles tiveram na campanha. A dissidência do PMDB não foi contra o candidato em si que o partido apresentou. Foi contra a forma com que o partido conduziu politicamente num processo de erros, de equívocos, onde a cúpula perdeu a sintonia com a manifestação popular e acabou enfiando o partido num corredor da derrota. 

E Luiz Bitencourt estará entre estes auxiliares? O senhor foi convidado, já foi sondado? 

Eu já conversei com o senador Marconi duas vezes ou três vezes após as eleições. Naturalmente ninguém quer se oferecer para ocupar cargo. Eu defendo que a dissidência tenha espaço e possa ter um tratamento de partido político. E nós possamos continuar fazendo o nosso trabalho, inclusive na tentativa de fortalecer a ação do partido neste projeto de aliança com o PSDB.

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