quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Thiago Peixoto: um novo PMDB!





Política & Justiça


Proponho um novo PMDB 
Novo secretário da Educação cobra respeito do partido às suas posições e afirma que Iris não é dono da legenda 

Deputado lembra que caciques se aproximaram com antigos rivais, como PT e PP, e nunca foram punidos  

Peemedebista alerta para risco de a sigla desidratar caso não dispute as prefeituras de Goiânia e Anápolis 

Alexandre Bittencourt 

O novo secretário estadual de Educação, Thiago Peixoto (PMDB), diz ter a exata noção da situação que provocou ao discutir a possibilidade de ocupar a pasta no governo Marconi Perillo, e mais ainda: aceitar o convite para integrar a equipe de auxiliares do tucano. Durante dias a fio, Thiago serviu de alvo para a ala reacionária e arcaica do PMDB, que não entendeu e não aceitou o seu movimento. Nesta entrevista ao Diário da Manhã, ele responde as críticas e lembra ao ex-governador Iris Rezende que o partido não é dele, e que a sua vontade não pode se sobrepor à vontade de todos os outros filiados. “Precisamos construir um novo PMDB. E é isso que eu proponho”, afirma. 


Diário da Manhã – O seu pai, o ex-ministro Flávio Peixoto, disse na segunda-feira que o convite de Marconi ao senhor pode gerar uma situação inédita, em que o diálogo entre PMDB e PSDB com vistas às eleições é possível. É esta a principal consequência do convite? 

Thiago – Eu acho que o PMDB abre opções. Que fique claro que eu não vou para o governo com essa missão. Talvez represente isso de forma simbólica, mas em nenhum momento o governador me disse ou manifestou que o projeto era de buscar peemedebistas. O projeto é para a Educação. Agora, eu acho que naturalmente, como eu sou uma figura do PMDB, a relação do governador com o PMDB tende a ser melhor. Os prefeitos do PMDB hoje passam a ter um interlocutor próximo ao governador para tratar de muitas demandas. O próprio relacionamento que eu vou ter com a equipe de governo vai fazer com que isso avance. Ou seja: a aproximação política entre PMDB e PSDB pode ocorrer de forma natural, mas não é o plano.


DM – Como o senhor gostaria que o PMDB interpretasse o seu gesto? 

Thiago – É preciso entender o seguinte: o que houve não foi apenas um rompimento. Fui convidado a ser um agente extremamente importante na educação e na vida de mais 500 mil crianças e jovens do Estado. Não é uma missão política, não é uma mera missão administrativa. É algo muito maior. Agora, em relação ao PMDB, penso o seguinte: dentre os muitos caminhos que o PMDB pode seguir, eu proponho um novo caminho. Proponho um novo PMDB. O partido precisa mostrar maturidade e  entender que o processo eleitoral passou. Temos a intenção de promover uma grande união para o Estado. Isso o governador repetiu diversas vezes. Ele quer governar acima das questões político-partidárias e nós vamos trabalhar para que esta grande união aconteça. E eu sou um sinal forte disso, nesse processo. Defendo que este novo PMDB aproveite a oportunidade para estabelecer um diálogo diferente com a sociedade. Porque o diálogo que nós temos hoje não está gerando os resultados que o partido esperava. A bancada de deputados federais nossa reduziu, a bancada de deputados estaduais reduziu, não ganhamos o governo, não elegemos nenhum senador. Quem sabe com esta proposta de união e trabalho pelo Estado possamos estabelecer uma relação melhor com o cidadão.


 DM – O ex-governador Iris Rezende interpretou o gesto como traição ao PMDB. 

Thiago – O estatuto permite que dentro do partido haja diversas linhas de pensamento. Se hoje tem uma linha de pensamento que sugere a oposição, eu vou defender a linha de união pelo Estado. Estou ciente de que houve uma ruptura grande. Uma mudança muito grande. E mudança incomoda. E o que eu percebo, depois de conversar com muita gente no PMDB, é que existe no PMDB hoje uma maioria silenciosa, que não tem condições de se posicionar agora, que percebe que este não é um projeto individual. É um projeto de muitos. Talvez até da maioria do partido.


DM – Por que esta maioria continua silenciosa? Quando ela vai se manifestar? Quando for iminente o seu risco de expulsão? 

Thiago – Eles vão se manifestar conforme as coisas forem acontecendo. Eu não vou cobrar isso deles. É um processo natural, quando eles considerarem importante se manifestar, eles virão. A ruptura está feita. A mudança chegou. 


DM – É possível dizer que a resistência à mudança concentra-se hoje na velha guarda do PMDB? 

Thiago – Eu não colocaria desta maneira. Têm membros tradicionais do partido que estão comigo nesse processo. Alguns já declarados, como o ex-deputado Luiz Soyer, que tem me dado um apoio fundamental, importante. E outros mais cautelosos, mas que estão comigo. Antes de eu aceitar o convite, eu ouvi muitas pessoas do PMDB. E sabe o que eu percebi? Que as pessoas gostaram muito de serem consultadas, de serem ouvidas sobre o processo. Porque no PMDB é muito comum as decisões serem definitivas e de uma voz só. Eu percebi que se você conversar, se você dialogar, até aqueles que são contra podem se tornar favoráveis. E eles estão se sentindo muito valorizados pelo fato de terem sido consultados. Não é uma prática do partido. 

DM – Falando em decisões de uma voz só, o que representou para você a presença inesperada do ex-governador Iris Rezende naquela reunião da Executiva do partido em que se discutia o seu processo de expulsão? 

Thiago – Eu entendo que é uma situação que mexe com o partido, confesso até que mexeu mais do que eu imaginava. Então era natural que o Iris, que tem uma história no partido, se manifestasse, se posicionasse. Este episódio mexeu com o partido que ele entende ser dele. Agora, eu tenho todo respeito. Tenho todo cuidado, tenho admiração. Eu vi as declarações dele e lamento o que ele disse. Lamento e acredito que ele disse tudo aquilo no calor do momento. Eu não vou levar a discussão para aquele nível de forma alguma. Estou no meu direito, de defender uma linha dentro do PMDB, um novo caminho para o partido. Lamento o tom e as palavras usadas pelo ex-governador. Ele é muito maior do que a forma como ele conduziu este processo. 


DM – Ele é muito maior do que a forma como conduziu o processo, porém menor que o PMDB. É isso? 

Thiago – Exatamente. É isso que precisa ficar claro. O PMDB é um partido que precisa ter um projeto coletivo, que não pode ficar preso a diferenças pessoais. Eu vou citar um exemplo: Em 2004, nós disputamos uma eleição pela Prefeitura de Goiânia contra Pedro Wilson (PT). Eleição dura. Quatro anos depois, nós fizemos uma aliança com o PT e o Paulo Garcia, que era o coordenador geral da campanha do Pedro Wilson, hoje é o prefeito de Goiânia graças a essa aliança. Tivemos condições de superar todas estas divergências e construir uma aliança. Alguns anos depois, agora em 2010, o Pedro Wilson estava de mãos dadas com o Iris no palanque. Em 2006, nós lutamos contra o governador Alcides, que era aliado do Marconi na época. Quatro anos depois, o mesmo governador Alcides, que nos derrotou, estava ao lado de Iris no segundo turno pedindo voto para ele. E desde o primeiro dia do governo Alcides, a relação do Iris e do Maguito com o pepista foi muito positiva. Então, pode ser amigo do PT, pode ser amigo do PP, do Pedro Wilson, do Paulo Garcia, mas não pode fazer aliança com Marconi por quê? 


DM – Por que Iris não quer? 

Thiago – É. Então fica, no meu ponto de vista, parecendo uma decisão passional. E individual. Eu entendo que o partido tem que ser maior que isso. O PMDB é maior que isso. 


DM – Se o senhor estivesse no partido nas eleições presidenciais de 1990, quando Iris ignorou a candidatura de Ulysses Guimarães (PMDB) para apoiar Fernando Collor (PRN), teria pedido a expulsão dele? 

Thiago – Não acho que tenha que expulsar ninguém, mas tem que ser coerente. Vou te dar mais um exemplo: em janeiro de 2007, o PMDB fez uma nota oficial, assinada por toda a Executiva, pelo presidente do partido na época, Maguito Vilela, afirmando que seria oposição ao governador Alcides. Posição oficial do partido, votada de forma unânime no diretório. Alguns dias depois disso, o Iris já declarou que Poder Executivo não faz oposição a Poder Executivo e que a prefeitura deveria ter uma boa relação com o governador. E manteve a boa relação. Passados alguns dias, Maguito faz uma visita a Alcides no Palácio das Esmeraldas. Dois meses depois de perder a eleição para o mesmo Alcides. Qual é a diferença? Qual é a diferença, a não ser que o agente era Alcides, agora é o Marconi? Eu não tenho condições de lidar com esse tipo de raciocínio. Quer mais um exemplo? O Iris foi ministro do Fernando Henrique Cardoso, do PSDB. O Fernando Henrique, por sinal, disse uma frase muito sábia quando soube que o Henrique Meirelles havia sido convidado para ser presidente do Banco Central, e que Meirelles teria que sair do PSDB por exigência da lei. FHC disse: Meirelles não está indo servir o PT de Lula, ele está indo servir a nação. Está indo servir o País. Eu vou servir o meu Estado. Qual é o problema de um agente político que quer e entende que pode colaborar com a Educação de Goiás, servir o seu Estado da forma como ele achar melhor?


DM – O seu projeto político, de agora em diante, passa necessariamente pelo grupo de Marconi? 

Thiago –  A partir do dia 1º de janeiro, me torno um auxiliar do governo Marconi. E eu passo a fazer parte do seu projeto administrativo e, lógico, do seu projeto político. Não tem como a gente separar as coisas. Agora, o governador me deu a liberdade de continuar dando respaldo aos meus companheiros políticos até porque ele quer fazer um governo acima de questões partidárias. Eu estou discutindo política aqui hoje, mas eu quero assumir um compromisso: daqui a poucos dias, vou discutir Educação 24 horas por dia, todos os dias da semana. Vou dedicar todo o meu tempo a isso. Tenho que me entregar de corpo e alma a este projeto, que me causa muito entusiasmo mas, ao mesmo tempo, sei que ele é muito difícil. As minhas energias, então, estarão voltadas à Educação do Estado de Goiás. 


DM – Existe o entendimento de que o PMDB corre o risco de reduzir drasticamente nas eleições de 2012 sem o governo nas mãos e sem um candidato à Prefeitura de Goiânia. O senhor concorda? Seria o caso de repensar a aliança com o PT em 2012? 

Thiago – Olha, eu concordo que, dada a crise pós-eleição que o PMDB vive hoje, a crise de falta  de discussão, projetos e diálogo, limitam os horizontes do partido. Isso me preocupa. E o fato de não disputar eleição em Goiânia e Anápolis (as duas cidades são administradas por prefeitos do PT candidatos à reeleição) pode atrapalhar muito o PMDB daqui a alguns anos. Eu vi, de forma muito clara, os deputados Luis Cesar Bueno e Rubens Otoni, dizendo que o PT tem candidato a governador em 2014. Se o PT tem candidato a governador em 2014, como fica o PMDB nesse processo? Fica de aliado, fica de vice, fica como?  

DM – Vira satélite. 

Thiago – É. Então este é um momento em que, por mais que o relacionamento seja bom com os prefeitos de Goiânia e de Anápolis, nós temos que, politicamente, analisar se a aliança é o melhor caminho.


DM – O melhor caminho para o PMDB é ter candidato próprio nestas cidades? 

Thiago – Eu não vou afirmar isso. Acho que o melhor caminho é o novo PMDB, que vai mostrar maturidade e que é capaz de superar divergências políticas em nome do bem do Estado.


DM – Existe algum risco, ainda que mínimo, de o senhor tentar ser candidato a prefeito de Goiânia pelo PMDB? 

Thiago – Risco zero. Zero, zero, zero. Olha o tamanho do desafio que eu vou enfrentar. Se eu não me planejar para quatro anos, que é o período de duração do governo, eu já vou começar errado. Em nenhum momento me passa pela cabeça a ideia de disputar a eleição daqui dois anos. Todo esse risco que eu estou correndo, o rompimento que está sendo provocado, tem um rumo: educação de qualidade. A Educação vale qualquer risco, qualquer rompimento. A Educação vale todo o desgaste que estamos vivendo.


DM – O senhor tem noção exata da situação política que provocou? 

Thiago – Tenho. Como eu te disse, a mudança incomoda. E eu acho que a mudança é importante porque, a partir dela, as coisas passam a acontecer.  


DM – A bancada de deputados estaduais eleitos pelo PMDB manifestou apoio praticamente unânime à sua decisão de assumir a secretaria. A exceção foram os deputados estaduais Daniel Vilela e Waguinho Siqueira. De que forma o senhor interpretou este movimento dos dois colegas? 

Thiago – Legítimo. São pessoas com quem eu tenho uma ótima relação. Tanto o deputado Daniel quanto Waguinho são meus amigos e eu entendo que, no fundo, no fundo eles estão torcendo pelo sucesso da Educação em Goiás e pelo sucesso dessa nova missão que eu estou encarando. A resposta que eu vou dar a eles é trabalhando bem, é fazendo um trabalho bonito e melhorando a administração do Estado.

DM – Daniel e o pai dele, Maguito, se posicionaram de formas totalmente diferentes a respeito do episódio que te envolveu. Enquanto Daniel fez severas críticas, Maguito considerou o convite “honroso”. Considera normal que esta divergência ocorra neste momento? Pode ser uma estratégia política? 

Thiago – Não. Eles são pai e filho, mas eles têm personalidades próprias. Cada um toma suas decisões da forma que entende ser a melhor. Eu convivo com os dois e sei disso. E é muito bom que seja. O Maguito, como uma figura mais experiente, que sabe que vai precisar manter uma boa relação com o governo estadual, teve um tom. E Daniel, que está querendo defender a oposição de forma mais veemente, tem outro tom. Eu sei separar as coisas.

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