quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Thiago Peixoto: Educação com profissionalismo!





Política & Justiça

Vou para dentro da escola
Novo secretário de Educação diz que pretende visitar, sem aviso, todas as unidades de ensino da rede estadual

Novo governo deve adotar 14º salário para estimular os profissionais a buscar o aprendizado do aluno

Thiago revela planos de instituir um sistema de avaliação regional de ensino e eliminar focos de desperdício

Alexandre Bittencourt

Responsável pelo maior cataclisma político registrado em Goiás desde muito tempo, o futuro secretário de Educação do governo Marconi Perillo (PSDB) e deputado federal eleito Thiago Peixoto (PMDB) pretende levar à cabo algumas de suas ousadas propostas para área – detalhadas na coletânea de artigos publicada por ele em 2010 com o título “O Desafio de Mudar”. Entre elas consta a adoção da meritocracia e a instituição do 14º salário, atrelado ao desempenho dos alunos da rede pública. Outra é a criação de um sistema de avaliação do ensino nos moldes do Enem e do Ideb, a ser aplicado com exclusividade em Goiás. Mas nenhum de seus projetos é mais ousado e mais louvável do que o perfil de gestão que ele pretende adotar à frente da pasta. “Vou para dentro da escola. Faço questão de visitar as mais de mil escolas que nós temos em Goiás. Vou visitar elas com os dados, com equipe, e quero conhecer uma a uma, saber as dificuldades.”

Filho do ex-ministro Flávio Peixoto e principal representante da nova geração de políticos do Estado, Thiago surpreendeu a todos com a notícia de que havia aceitado o convite de Marconi para participar do secretariado. Nesta entrevista ao Diário da Manhã, ele conta suas impressões a respeito da polêmica que criou e de seus planos para pasta.


Diário da Manhã – O senhor costuma dizer que a estipulação de metas é o melhor caminho para fazer a Educação pública avançar. O senhor já estipulou essas metas em conversas com o governador eleito? Quais são?

Thiago Peixoto – Olha, no que diz respeito à Educação, eu acho que faltam ao poder público dados e diagnósticos para saber onde você está e aonde quer ir. Se não existem dados, o agente público vai viver a situação presente e não vai ter como medir avanços ou regressões. Daí você investe, investe, investe, mas será que está dando certo? É difícil fazer este tipo de avaliação. Se a gente não estabelecer essas medidas, essas avaliações, dificilmente a gente vai seguir pelo caminho correto. Particularmente, penso que nós podemos nos pautar pelas 20 metas do Plano Nacional de Educação, divulgado recentemente, para desenvolver um projeto de profissionalização da educação aqui em Goiás. E tem outras metas. Sugeri ao governador que o governo assinasse um termo de compromisso com o movimento Todos Pela Educação, que tem cinco metas. E essas cinco metas eles mesmos acompanham, fazem a medida, o diagnóstico, e colaboram com o seu cumprimento. A gente tem que trabalhar de forma profissional. 


DM – Em seus artigos, o senhor reclama da ausência de um sistema de avaliação do ensino realizado pelo próprio Estado, que nos obriga a trabalhar apenas com os levantamentos realizados pelo governo federal, como Enem e Ideb. É de seu interesse criar essa avaliação de imediato?

Thiago – O governador falou muito em melhorar os índices da educação em Goiás. Para você melhorar esses índices, você precisa tê-los de forma mais detalhada, de forma minuciosa. Para “quebrar” esses índices, vai ser necessário que a gente tenha o nosso índice regional. Um índice estadual muitos Estados já têm, como São Paulo, Pernambuco, Minas Gerais e diversos outros. É algo que já está acontecendo no Brasil, e por quê? Porque o índice nacional que mede a educação básica (Ideb) é realizado apenas de dois em dois anos. Então o governo federal faz o índice agora para ser divulgado no ano que vem. Nós precisamos de algo mais urgente. Em um mandato de quatro anos, nós precisamos avaliar de ano a ano ou, se possível, semestralmente. Mas ano a ano é o normal. É uma proposta que defendo, mas eu não conversei com o governador especificamente sobre este assunto. Mas se quisermos melhorar os nossos índices, é fundamental criar esse sistema.


DM – Já que o mandato é de quatro anos, pressupõe-se que a criação do índice regional vá ocorrer de imediato. Certo?

Thiago – Em um primeiro momento, dá para trabalhar com o Plano Nacional da Educação. Mas eu entendo que logo, logo nós vamos ter que criar o nosso índice estadual. Qual é a vantagem de se trabalhar com dados regionais? É você que pode “quebrar” as informações ao máximo até chegar nos alunos, cujo aprendizado é a nossa principal finalidade. Por exemplo: você tem um dado de uma cidade X. Aí, você “quebra” esse dado por região. Aí você “quebra” ele por escola, depois sala de aula. E por fim, em cada sala de aula a gente vai ver quais são os dois ou três alunos que estão com dificuldades.


DM – As suas propostas pressupõem um aumento no valor investido pelo Estado em Educação. Existe um percentual de 25% do Orçamento que, por lei, deveria ser aplicado na área, mas nunca foi respeitado. Se os 25% forem repassados pelo futuro governo já será possível fazer tudo que o senhor pretende?

Thiago – Eu acredito que sim. Em Educação, agora, nós temos que trabalhar com um binômio muito claro: pedagogia, que é o ensino em si, e gestão. Em uma máquina tão grande quanto a Educação, existe muito desperdício. Existe muito recurso que não chega na ponta da forma adequada. Nós temos condições de buscar ferramentas de gestão que venham a otimizar o investimento no aluno. E, a partir daí, reunir mais recursos para executar os nossos projetos. E outra: priorizar. O próprio recurso previsto por lei já é algo viável e existe muito repasse do governo federal. Claro que a gente tem que estar preparado para ter uma boa relação com o Ministério da Educação para, a partir daí, participar dos muitos programas que existem, e que podem dar apoio aos projetos locais. Se puder ter ainda mais recursos, melhor. Mas eu entendo que existe uma margem grande para a gente trabalhar hoje, corrigindo a “não-eficiência”.


DM – Onde existe “não-eficiência” no nosso sistema educacional?

Thiago – Em todo lugar, acho que existem vários ralos pequenos. Eu não sei te falar onde especificamente existem os furos que provocam desperdício, mas eu sei que existem. Isso se corrige com métodos de gestão. Eu conversei com o governador e ele falou o seguinte: transformar a Educação em um dos carros-chefe da intervenção que o Movimento Brasil Competitivo (MBC) e o Instituto Nacional de Desenvolvimento Gerencial (INDG) estão fazendo em Goiás. O MBC e o INDG são formados por gestores qualificadíssimos, que estão ajudando Marconi a montar um governo enxuto, moderno. Normalmente, o MBC e o INDG trabalham da seguinte forma: eles entram primeiro nas Finanças, na Secretaria da Fazenda, e escolhem uma ou duas áreas de atuação mais rápidas. Finanças e Segurança Pública, por exemplo, ou Finanças e Educação. Aí, quem vai decidir quais áreas é o governador. Eu pedi a ele – e ele concordou – que uma das áreas que a gente vai mexer será a Educação.


DM – O senhor já discutiu com Marconi a criação do 14º salário para profissionais da Educação?

Thiago – Já. São duas coisas importantes que eu já discuti com o governador. Uma delas foi a questão da gestão, que a gente acabou de falar. A outra foi o seguinte: eu falei que a qualidade da educação nunca vai superar a qualidade dos professores. Isso eu falo sempre. Então, nós temos que ter um professor valorizado, bem remunerado e bem capacitado para a sala de aula. E o 14º salário é muito importante nesse sentido. Mas mais importante ainda, antes de chegar no 14º salário, é nos adequarmos ao piso nacional. E quando eu conversei com o governador, ele disse: “Eu tenho, como compromisso de campanha, a determinação de pagar um piso maior do que o piso nacional em Goiás.” É lógico que este não é um processo a ser executado já no dia 1º de janeiro, mas a gente vai fazer todo um planejamento, todo um projeto, para chegar a um piso salarial que seja mais alto que o piso nacional. Isso é valorizar a base da educação, que é o professor. O projeto que cria o 14º salário em todo o País foi apresentado pelo senador Cristovam Buarque (PDT-DF) e relatado por Marconi. O que é o 14º salário? É um bônus por desempenho com base na evolução do aluno. E quem ganha o 14º salário não é só o professor. É a escola, é o corpo da escola. Tem-se o entendimento que quem colabora com a Educação é toda a escola. E por ser um projeto que Marconi foi relator, que ele participou, ele tem interesse que seja implantado aqui em Goiás.


DM – Em relação ao piso salarial a ser pago em Goiás, já dá para falar em valores?

Thiago – Acho que é precipitado eu falar isso. Melhor eu chegar, assumir a secretaria e trabalhar com planejamento para chegar nisso. Nós temos que fazer essa gestão eficiente para sobrar recursos e para promover este tipo de ação.


DM – Nos Estados que implantaram o 14º salário, qual foi o impacto médio na folha salarial, em termos percentuais? Há um estudo sobre isso?

Thiago – Eu não sei te dar esse percentual. Mas eu sei que é algo possível, tanto é que tem muitos Estados fazendo isso. É algo viável.


DM – Dentre as suas propostas iniciais para a Secretaria de Educação, alguma sofreu veto do governador em função das dificuldades financeiras do Estado?

Thiago – Tudo foi colocado em um trabalho de quatro anos. Nada foi colocado de forma imediata. Tudo foi pensado e elaborado pensando em prazos a serem cumpridos no futuro. Todos os compromissos feitos tem um período de quatro anos para serem cumpridos. Alguns serão executados de forma mais rápida, outros de forma mais lenta, mas só vamos ter condições de criar este cronograma quando estivermos lá.


DM – Durante a campanha, em 2006, o governador Alcides Rodrigues disse que ao final de seu mandato todas as escolas funcionariam em tempo integral. No entanto, logo que assumiu, a secretária Milca Severino disse que o compromisso era inviável. O senhor é capaz de assumir para si este objetivo? É possível transformar todas as escolas de Goiás em escolas de tempo integral?

Thiago – Eu entendo que é um desafio e que nós vamos trabalhar para isso. Sim, é possível, mas nós temos que trabalhar para isso. E nós temos que discutir a escola de tempo integral que nós queremos. Não do ponto de vista físico, mas do ponto de vista pedagógico e de apoio. Porque não adianta você construir ou reformar escola para funcionar em tempo integral se você não tem o conteúdo adequado, o método adequado para implantar. Aluno tem que aprender. Então, eu diria que é possível, mas nós temos que repensar qual escola nós queremos oferecer aqui em Goiás. A que eu conheço e que me chama mais atenção é o Ginásio Pernambucano, no Recife, que combinou pedagogia e gestão e tem um trabalho junto à sociedade civil organizada e também junto à iniciativa privada.


DM – No que diz respeito a Educação, o que o governador Alcides Rodrigues deixa como herança positiva, se é que deixa alguma?

Thiago – Eu entendo que, em Educação, você tem que estar alguns passos à frente. Na minha opinião, o governo Alcides paralisou o ritmo que existia na evolução do sistema educacional de Goiás. Agora, teve avanços. O que estou contestando é o ritmo do avanço. Nós vamos ter que recuperar este ritmo e mantê-lo acelerado durante quatro anos.


DM – O senhor diz, em um dos seus artigos, que é inquestionável a relação entre avanço da economia e avanço da educação. No entanto, em Goiás a economia cresceu a 8% em 2010, apesar do avanço lento na educação. Como explicar este fenômeno?

Thiago – Hoje, nós temos uma mão de obra que teve acesso à educação anos atrás. A mão de obra utilizada hoje em Goiás foi formada há muito tempo, e não atualmente. Então, o crescimento econômico é reflexo do que foi feito no passado. Não só no ponto de vista de Educação, mas também de infraestrutura, de incentivos fiscais, e por aí vai. Aquilo que foi feito dez anos atrás tá surtindo resultado agora. Economia é assim. Poucas são as medidas que surtem efeito a curto prazo, da mesma forma que a educação. O que eu percebo é que nós talvez enfrentaremos dificuldades no futuro, para manter um ritmo de crescimento de 8% ao ano, já que nos últimos anos a educação não acompanhou o ritmo do Estado. Esse é um grande desafio.


DM – Este fenômeno não tem a ver com a vocação de Goiás para a economia primária?

Thiago – Acho que tem a ver, e acho que nós temos que respeitar e valorizar o setor primário. Mas no século XXI, nós temos que priorizar o conhecimento, a tecnologia, a pesquisa. O Estado vai viver sua maior evolução se estas áreas se desenvolverem. E a educação é o grande ponto de convergência de tudo isso. E eu entendo que o governo Marconi pode representar o início deste novo momento, com maciços investimentos e visão adequada a respeito do que o conhecimento pode fazer em Goiás.


DM – As prefeituras enfrentam grande dificuldade para atender a demanda de alunos de até seis anos por vagas na rede fundamental de ensino. Aparecida, por exemplo, supre apenas 10% da demanda. O Estado pode fazer alguma coisa para ajudar esses prefeitos?

Thiago – É algo a ser estudado. Como nós queremos a melhor educação, quanto antes a criança estiver na escola, maiores serão os avanços que ela pode conquistar. Agora, eu não sei ainda se o Estado tem como colaborar nesse sentido. A Prefeitura de Goiânia, desde a gestão do prefeito Pedro Wilson (2001 a 2004), passando por Iris Rezende (2005 a 2010) e chegando em Paulo Garcia (atual prefeito) vem construindo Centros Municipais de Ensino Infantil (Cmeis) de forma intensa, mas ainda existe um déficit muito grande. Do ponto de vista de qualidade os Cmeis são referência, mas faltam unidades. Eu ainda preciso entender melhor como ajudar. Isso seria importante.


DM – Do ponto de vista pedagógico, as escolas carecem de mudanças?

Thiago – Olha, tudo tem que ser discutido, e a sala de aula é o centro disso. Se você não tiver conteúdo, metodologia e abordagem adequados, além de tecnologia dentro da sala, dificilmente vamos atingir os resultados que buscamos.


DM – Já há esboço de projetos que visem a profissionalização dos servidores da Educação?

Thiago – Existe uma ideia que ainda precisa ser discutida com o governador. Tem uma figura muito importante nessa história toda que é o diretor da escola. É sensível a diferença entre visitar uma escola que tem um líder forte, competente, e visitar outra que não tem, inseridas na mesma realidade social. Vou citar um exemplo prático: aqui na Vila Mutirão nós temos a Escola Edmundo Rocha, que vem buscando avanços porque tem um líder lá dentro, um diretor muito competente, especializado em gestão, que buscou uma parceria com a iniciativa privada para ajudar a escola. A alguns metros dali nós temos outras escolas, entre elas a Escola Jaime Câmara, que vive a mesma realidade social, mas não tem a mesma qualidade educacional e nem a mesma estrutura. Por quê? Porque não tem liderança. Então nós temos que criar um centro de liderança, de diretores para a gestão dessas escolas.


DM – Estes diretores serão fundamentais no seu projeto de descentralização administrativa das escolas.

Thiago – Sim, desde que estejam preparados. Hoje, já existe uma grande autonomia, mas eu entendo que o gestor precisa estar mais preparado para lidar com isso. Temos que corrigir isso através deste centro de liderança.


DM – O senhor já está pensando no modelo de gestão compartilhada de escolas que vai propor à iniciativa privada?

Thiago – Existe um programa em funcionamento em Goiás chamado Parceiros da Educação. Aqui em Goiás, ele é formado por um grupo, do qual eu faço parte, que se chama Novos Líderes. São empresas privadas que, de certa forma, adotam escolas. Mas elas não repassam os recursos para escolas simplesmente, não. Elas repassam de acordo com o desempenho da escola, discutindo bem os avanços que a escola tem que ter antes de investir. Nós temos que ampliar isso, mas como? Hoje, as empresas não tem nenhum tipo de incentivo para investir. A minha sugestão é que a sociedade civil organizada, liderada pelos Novos Líderes e por outras entidades empresariais criem uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip). Essa Oscip vai ter condições de receber recursos de empresas e investir em escolas. O que a empresa tem de vantagem? Como é um programa de Oscip, ela pode deduzir isso do seu imposto de renda. Então, a ideia é criar uma grande rede da iniciativa privada que colabore com as escolas. Mas sempre amarrado a metas e objetivos.


DM – A secretaria de Educação consegue se comunicar bem com as escolas?

Thiago – Eu não conheço bem essa estrutura, agora vou adotar um estilo próprio. Eu vou para dentro da escola. Eu faço questão de visitar as mais de mil escolas que nós temos em Goiás. Vou visitar elas com os dados, com equipe, e quero conhecer uma a uma, saber as dificuldades. E vamos chegar à sala de aula preparados, com o Ideb dela, discutir com o professor, discutir com o diretor e discutir dificuldades físicas pessoalmente. Quero criar uma forma de gestão em que eu possa ter, diariamente, contato com as escolas. 


DM – Sem avisar.

Thiago – Sem avisar. E já fica avisado (risos).

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