segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Cyro Miranda: relações republicanas!!





EntrevistaCyro Miranda


“Dilma deve ter relação melhor com nosso Estado”
Empresário e líder classista, futuro senador tucano diz que pretende ir para as ruas colher assinaturas contra a volta do imposto do cheque 

“A presidente eleita falar em voltar com a CPMF foi uma decepção. Na campanha, em nenhum momento, ela falou em aumento de imposto, na plataforma dela falava em desonerar.” A reclamação é do empresário Cyro Miranda, suplente do senador Marconi Perillo. Com a renúncia de Marconi nos próximos dias, Cyro assumirá o mandato no Senado e pretende marcar sua passagem de forma propositiva nos quatro anos. E avisa que não pretende fazer oposição por oposição: “Vou votar a favor do que for bom para o País”.
 
Cyro Miranda acredita que a relação da futura presidente com Goiás será bem melhor do que com Lula. “Goiás foi muito prejudicado por causa da questão política. Por exemplo, o que veio do PAC para Goiás foi ridículo. Lula não soube perder na questão da CPMF, que foi derrubada no Congresso com atuação decisiva do senador Marconi”, diz. 
 
Cyro informa que vai formar conselhos de notáveis para ajudá-lo a formular projetos no Senado, de forma a beneficiar toda a sociedade. O tucano fala de sua expectativa com o novo governo Marconi e critica Alcides Rodrigues por ter dado ao País uma imagem negativa de Goiás. 
 
Prestes a dar uma guinada em sua vida, o empresário e líder classista, aos 64 anos, radicado em Goiás desde 1974, é só entusiasmo com o nova perspectiva. Ele falou ao Jornal Opção na terça-feira, 16.
 
Cezar Santos — O que o sr. acha da proposta de voltar a CPMF?  

Isso foi uma decepção. Em nenhum momento ela falou em aumento de imposto, na plataforma dela falava em desonerar. A gente está vendo que a finalidade é a mesma, mas os meios que estão sendo usados são outros. Agora, a vantagem é que ela não tem a maioria nos governos estaduais. Ela tem a maioria no Congresso. A pressão vai ser muito grande. Estou propício e serei um dos que vão lutar para haver um movimento popular contra a CPMF, como foi o Ficha Limpa.  

Cezar Santos — O sr. se propõe a ir para as ruas e colher assinaturas? 

Lógico. E agregar isso com vários outros colegas. Eu sou mais um para incorporar essa luta. 

Danin Júnior — A saída lógica parece essa. Mas como fazer na prática essa mobilização? 

Através das entidades de classe, dos movimentos populares. Você quando mexe no bolso... Já conversei com líderes de sindicatos, e todos eles estão dispostos. Eu acredito que eles vão fazer esse movimento dentro da rede deles. Várias pessoas vão se articular nisso, porque é uma vergonha. Essa vai ser a maneira de trabalhar, em alguns casos, contra o governo federal. Porque se for para a votação o máximo que vamos conseguir é retardar, ter vista, é fazer uma gestão aqui ou ali, mas na hora da votação não vamos ter maioria. 
 
Euler de França Belém — Como o sr. avalia as falas iniciais da Dilma? 
 
Boas, tirando esse negócio da CPMF, que ela disse que não é assunto dela, seria dos governadores. Eu acredito que isso seja mais coisa do Lula. Ele tem uma personalidade engraçada, não sabe perder. Numa entrevista ele disse que todos os projetos que ele quis enviar para a Câmara ele enviou e ganhou, com exceção da CPMF, que ele perdeu por um voto. Eu não sabia desse detalhe, nem sei se é verdade que foi por um voto. Então Lula é contra o senador Marconi, porque ele foi o primeiro da tribuna a ir contra e fazer apologia contra a CPMF. 
 
Acho que a Dilma tem perfil diferente. Ela tomou uma iniciativa... Após a eleição, ela ligou para todos os governadores eleitos no segundo turno. Começou a ligar aos senadores eleitos. Eu já fui procurado, sinalizaram que ela quer conversar com todos por telefone. Quem vai dar o tom da oposição será ela. Nós estamos de mão estendidas. Todos que foram eleitos, o governador Marconi foi eleito para cuidar do Estado, de todos os goianos, não de um partido ou município. E a mesma coisa ela. Acho que ela vai fazer um pouco diferente de Lula, para diminuir a tensão. Lula, por coisa muito pessoal, prejudicou muito o Estado de Goiás. O que veio do PAC para cá foi ridículo. Não aconteceu anda. Nós temos problemas estruturais que vão nos dar uma dificuldade tremenda de fazer um desenvolvimento industrial, porque antes de vir uma indústria para cá vão ver como estão nossas estradas, aeroporto, aeroporto de cargas, porto seco, hidrovias, energia. Acho que a Dilma vai ser um pouco propositiva, eu espero. Até porque, como ela terá mais força agora, ela não precisará medir. Ela vai ter mais aliados com os projetos. Ninguém vai fazer oposição por oposição. Nós vamos fazer oposição às CPMF's da vida. Projetos que são bons vão ser aprovados, pelo menos da minha parte. Temos que pensar na nação. 
 
Euler de França Belém — A CPMF não é uma forma de onerar mais o brasileiro, num País que tem tantos impostos?  
 
Eu fui contra quando houve a votação, vou ser contra se houver novamente e se possível vou fazer um movimento popular, porque o Senado, que é uma trincheira, vem nessa próxima legislatura debilitado em relação ao governo federal. Nós perdemos cadeiras, então o governo vem com muita força. Não basta à oposição obstruir ou retardar, se o governo quiser aprovar, ele aprova, porque tem a maioria. Então, nós temos que fazer um movimento popular. O problema da saúde não é de verba, mas de gestão. O tributo era provisório, foi desviado da sua finalidade e a saúde continua um caos. Depois que se suspendeu a CPMF, que arrecadava R$ 40 bilhões, o País duplicou a receita, e a saúde continua no caos. Então, não é questão de verba, mas de gestão, de desvio de recurso. Para se ter uma ideia, a Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp) fez um levantamento mostrando que, em 2009, se desviou desse País, de diversas maneiras, quase todas ilícitas, cerca de R$ 69 bilhões. Isso é um absurdo, não pode, onera a população. E pega muito mais que tem baixa renda, porque quem tem renda maior tem como repassar. A empresa vai repassar. E o coitado que paga em toda movimentação 0,1 centavo ou 0,2 e aquilo no final do ano vira uma fortuna? E que foi desviado dos seus princípios e não será isso que vai resolver o problema da saúde. 
 
Euler de França Belém — Carlos Alberto Sardenberg estava falando que Lula e Guido Mantega passaram o governo inteiro falando em desonerar a folha de pagamento. Sardenberg dizia que a cada R$ 2 mil o empresário e o trabalhador pagam R$ 800. Isso é único no mundo. No Brasil o custo para gerar emprego é muito alto. 
 
O brasileiro precisa trabalhar quatro meses só para pagar seus impostos. Depois é que se adquire renda. Eles não desoneraram. Este governo tem sede de impostos. Ele foi muito feliz na economia, pegou uma onda negativa mundial e teve o mérito de manter a economia do Fernando Henrique. Meirelles fez um bom trabalho no Banco Central, equilibrado. A arrecadação cresceu de forma assustadora. Mas também cresceu o déficit. O governo continuou gastando, e gastando mal. Estamos hoje com centenas e milhares de funcionário públicos no governo federal. Se diminuir a arrecadação vai dar um problema. Estamos com déficit interno muito grande. Não acredito, até porque Lula nos dois governos não deu nenhuma demonstração disso, de que vai desonerar alguma coisa. Por que ele não fez a reforma tributária? Porque na reforma tributária nós queríamos embutir um teto, o limite de impostos versus o PIB. Não poderíamos ultrapassar aquilo. E também gostaríamos de fazer outra proposta: vir desonerando todas as cadeias e impostos, nem que seja num programa de 10 a 12 anos, gradativamente. Vai se baixando em meio ponto, 0,3% para a economia ir se adequando. Em Goiás, quando o governador Marconi Perillo desonerou as cadeias a arrecadação subiu. Você baixa um imposto, tem mais consumo.  
 
Euler de França Belém — O projeto de reforma tributária que Sandro Mabel defende foi muito criticado. Qual sua posição? 
 
Eu também o critiquei. Eles erraram, vieram de dentro para fora. A gente chama a reforma tributária de "cobertor de pobre", estica pra cabeça e o pé fica de fora. Tem ouvir todos os governos estaduais. Todos os Estados vão, de uma maneira ou de outra, ser punidos em algo, vão deixar de ter alguma coisa que tinham com receita. Então, vai ter que fazer uma adequação. Lembro que estávamos muito preocupados com incentivo fiscal, que já tinha data para acabar. Eu sou contra acabar com incentivo fiscal, sou a favor de disciplinar. Isso não é guerra fiscal, existe no mundo todo. Isso é competitividade, só que vamos disciplinar, dar votação de área por área. Mas aí nós fomos a São Paulo conversar com o então governador José Serra. Ele disse "não estou nem um pouco preocupado, essa reforma não vai passar, eles nunca vieram conversar comigo, eu não estou sabendo de nada. Como vão fazer uma reforma e a gente não senta pra conversar?" Fomos a outro governador, que disse a mesma coisa. Vimos que aquilo não iria funcionar daquela forma. E tem mais, não existia nenhuma vontade de fazer reforma tributária no governo Lula. Nenhuma reforma foi feita. A principal delas, para mim, é a reforma política, para passar esse País a limpo.    
 
Euler de França Belém — No projeto da reforma tributária tinha a questão da Lei Kandir. Ela é um engodo? 
 
Um grande engodo. O governo federal está devendo, já há governos estaduais se reunindo novamente para reivindicar, porque eles desoneravam, você perdia seu imposto na exportação, mas tinha um fundo, só que esse fundo nunca era ressarcido. E a mesma coisa vai ser se fizer isso na reforma tributária. Não acreditamos em fundo. A maior polêmica será sobre destino e origem. Se o imposto foi pago no destino, haverá perdas em muito Estados, principalmente em São Paulo, que é produtor para o Brasil inteiro. Se for na origem, já há um novo problema para nós aqui do Estado, que se beneficia de um lado e perde do outro. O incentivo fiscal perde o sentido. Outro problema grave da reforma tributária do Sandro é que ele passava praticamente todo o poder de arrecadação, com a história de fazer um fundo, ao governo federal, que arrecada tudo e depois distribui. O maior instrumento que tem um Estado é o ICMS. Aí vai ficar com o pires na mão mais ainda. A gente sabia que aquilo não iria prosperar. Se a Dilma resolver fazer essas reformas ela tem que jogar isso no primeiro semestre, para já começar essa discussão.   
 
Euler de França Belém — Nessa questão de censura à imprensa parece que ela é mais aberta que o pessoal do Lula?  
 
Isso será um alívio para nós. A censura está aí batendo à porta de vocês e o ministro Franklin Martins é um grande incentivador. Uns seis ou sete Estados estão criando conselhos reguladores. Isso é censura prévia. É preciso liberdade para tudo. Com o controle de televisão você faz o que quiser. Compra o periódico que quiser. A liberdade tem que ser total. Estão ensaiando o maior retrocesso. Parece que não é da parte da Dilma, isso não é uma coisa dela. Acho que nesse ponto ela é mais... Vamos ver.    
 
Euler de França Belém — Dilma não é Lula, que é quase um hors-concours. O fato de ela ser uma pessoa mais comum facilita o jogo político? 
 
E ela tem uma instrução para discernimento, instrumentos intelectuais muito maiores que o Lula. Lula é muito intuitivo, a Dilma vai mais pela coerência. Lula realmente é nato, uma coisa impressionante como ele consegue com a população.  
 
 Euler de França Belém — Por que o pessoal do Lula praticamente vetou a Sudeco (Superintendência de Desenvolvimento do Centro-Oeste)? 
 
É simples. Uma das maiores figuras da Sudeco é a senadora Lúcia Vânia, que é do PSDB. Ela é amiga de quem? De Marconi. O outro senador é Demóstenes. Não há interesse do governo em apoiar. Vamos ver agora, a senadora foi reeleita, tem todo o meu apoio para fazer gestão nesse projeto. Há vários planos regionais importantíssimos para a gente. O mais importante é a gente tirar o FCO para que não fique só o Banco do Brasil como gestor. O Banco do Brasil é um entrave muito grande na liberação das verbas do FCO. Se houver dois gestores, vai ficar melhor.   
 
Cezar Santos — O complicador é que Antônio Palocci deve ser novamente figura de proa do próximo governo e ele sempre foi um dos principais adversários da Sudeco.  
 
Danin Júnior — Palocci tem a visão de que o Centro-Oeste pode caminhar com as próprias pernas. Ele sempre externou isso.   
 
Não acredito que Dilma vá repetir ministro. Mas mesmo se ele vier, as situações são diferentes. Ele sempre teve boa interlocução com o Estado de Goiás, mas tinha um chefe que segurava os projetos. Temos que tentar de novo. A coisa existe, está no papel. Nós temos uma bancada boa.  
 
Danin Júnior — Quando José Serra esteve na Fieg, na campanha, causou certo silêncio quando ele disse que seria contra a liberação do Banco do Centro-Oeste, por achar que haveria uma superposição de funções. É a visão paulista com relação a esses mecanismos de incentivos ao Centro-Oeste. Não seria empecilho tanto do PT ou do PSDB?  
 
O caso do PT é político e no caso do José Serra ele queria outros mecanismos. Serra não queria a formação de mais um órgão, porque ele tem muito medo que aquilo começasse pequeno, bem estruturado, e com o tempo inchasse. O Banco do Nordeste foi usado politicamente e deu no que deu. Houve bancos no Sul, a mesma coisa. Eles têm medo que isso escape da alçada e se torne um instrumento político. Dinheiro mal usado não tem retorno. Mas tudo isso é disciplinável.  
 
Danin Júnior — Serra foi corajoso?  
 
Ele é sincero. Vir aqui e dizer isso. Mas acho que talvez ele precisasse conhecer o projeto definitivo.   
 
Euler de França Belém — Os empresários criticam muito o FCO em Goiás, dizem que é uma burocracia muito grande.  
 
É o Banco do Brasil. O FCO é o que tem a menor inadimplência do Estado de Goiás, de 0,68%. É menor do que banco particular. E é de um dinamismo. Quando chega ao Banco do Brasil... No ano passado houve uma instrução normativa de que o BB não pode demorar mais do que 40 dias para devolver o projeto e fazer contratação ou dizer por que não vai fazer a contratação. O maior problema é a garantia, porque eles querem 200% e subavaliam a garantia que você dá. Seu negócio vale muito menos nas mãos deles. Eles são cautelosos demais e vão emperrando. Mas mesmo assim Goiás é o único Estado que esgota a verba dele em setembro.   
 
Cezar Santos — Até pega verba dos Estados vizinhos.  
 
Exatamente.    
 
Danin Júnior — Sobre a crise cambial, vê-se que as commodities que Goiás produz e vende estão com preço razoável no mercado externo.   
 
Extremamente acima do preço razoável. Engraçado, a agricultura tem dois picos: uma hora está quebrando o agricultor e colocando todo mundo em dificuldade. Agora, está ameaçando uma inflação alta e dificultar as indústrias, porque explodiu. O milho, a soja. Houve problema nos Estados Unidos e uma demanda muito forte da China, então isso desequilibrou. Então, são commodities que, infelizmente, o ideal seria que a gente trabalhasse no patamar de satisfação de produtores e do consumidor.
 


 
“Marconi tem aspirações muito mais altas”   
 
Danin Júnior — Mas pega um momento em que o dólar está baixíssimo... 
 
Para o produtor, isso tem pouca influência. Mas para o industrial, tem. Nós não conseguimos exportar. Não há preço para exportação. O exportador, o industrial está com dificuldades, porque o dólar está baixo. Mas eu acho que há uma acomodação.   
 
Danin Júnior — A crise cambial impacta a economia goiana?  
 
Tem impacto, sim. Nossas exportações caíram muito. Voltamos a exportar só matéria-prima. Não conseguimos exportar produto agregado em determinadas áreas.   
 
Danin Júnior — A crítica do José Serra de que Lula está desindustrializando o País é pertinente? Estamos importando demais? 
 
Não acho. Nós temos que importar tecnologia, aproveitar esse câmbio para importar tecnologia. É importante. Daqui a alguns anos a gente devolve isso em forma de produto acabado. Não concordo que haja desindustrialização do País. É uma situação de momento, nós vamos ter que nos adaptar. Vamos ter que ser cada vez mais eficientes, diminuir o custo dos nossos produtos. Mas isso passa pelo governo desonerar os impostos. Nós somos um dos poucos países que exportam impostos. E temos que ser eficientes na manufatura dos produtos. Não é diminuir o que se paga para o trabalhador não. A carga tributária é enorme. O funcionário poderia ganhar melhor e ter um imposto satisfatório. Mas isso passa por um rearranjo, isso começou em 2008 para cá. Não consigo ver engessar o câmbio, não se consegue fazer coisas fictícias por muito tempo. É a realidade. Para você ver, o G-20 não chegou a uma conclusão. Para os Estados Unidos não é importante. A mesma coisa é a reforma tributária, para eles não é importante. Para eles é importante a desvalorização do dólar. A China está valorizando o yuan para ser competitiva, mas já está com dificuldades de manter isso. Por isso que eles foram no G-20. A economia passou por uma turbulência muito grande, assim que ela for voltando vai se equilibrando. Para nós, no momento, não nos prejudica tanto.    
 
Euler de França Belém — O ex-presidente da Fieg Paulo Afonso Ferreira reclama muito do produto chinês em Goiás.    
 
A influência é muito grande. No setor de vestuário então. São produtos de baixa qualidade, mas de baixíssimo preço, porque eles têm mão de obra barata. Tanto que agora vai entrar veículos populares no valor de R$ 8 mil. Eles não estão preocupados com excelência. A gente tem que tomar cuidado, porque a China é a primeira a fazer barreira para a exportação dos nossos produtos. Nós temos que ficar atentos a isso, sobretaxar e muito em determinadas áreas, porque prejudica a nossa manufatura interna.     
 
Euler de França Belém — Como vê esse convite do Marconi para o pessoal que ajudou a organizar o governo de Minas, Espírito Santo, Pernambuco, a equipe do Falconi?  
 
Com bons olhos, me anima muito. Eu falei para ele que seria mais feliz no dia em que visse um anúncio dizendo: precisa-se de secretários, tantos anos de experiência com formação nisso, experiência naquilo, etc. Como o Jornal Opção seleciona um jornalista de economia? Premissa: ser jornalista, especialidade em Economia, prática, onde trabalhou, conceitos, etc. Você junta três ou quatro currículos e escolhe o melhor. O Estado tinha que por obrigação, pelo menos nas áreas essenciais, ser assim. É a maneira que o Marconi está encontrando. Ele observou que onde o instituto do Falconi ou institutos parecidos funcionaram, Minas, Espírito Santo, Pernambuco, Rio de Janeiro, os governadores foram eleitos no primeiro turno com mais de 60% dos votos. Eu fui com ele na primeira vez, quando foi contratar e o INDG, deu de presente as premissas do plano de governo. Agora ele voltou, eles vão fazer a radiografia de órgão por órgão, instituto por instituto, secretaria por secretaria, tudo que envolve o governo, e vão dizer qual é a maneira ideal para se formatar essas secretarias, os perfis das pessoas que devem compô-las. Como ainda tem que fazer um governo baseado na meritocracia, e isso é o que se faz na iniciativa privada, onde você também tem participação no resultado. As coisas vão começar a surtir efeito. Vai haver algumas dificuldades. Primeiro, não se encontra com facilidade esse tipo de mão de obra, uma vez que o mercado está demandado e o Estado paga mal. Um exemplo: surgiu uma pessoa muito interessante de Belo Horizonte, e nós fomos conversar, mas nem de longe tínhamos possibilidades de trazê-la, com o salário que oferecemos aqui. Ora, são profissionais e o mercado delimita no que se refere aos salários. Então, isso é um complicador para o Estado.    
 
Euler de França Belém — Marconi fez um concurso para gestores. Esses concursados já estão preparados e podem ser aproveitados?    
 
 Eu acho que podem. Mas tem de ser feita uma triagem. E com certeza vai ocorrer essa triagem porque vamos precisar. Além do mais, a equipe do INDG, com duas ou três pessoas do governo, vai compor uma banca para analisar os currículos e dar atenção especial quem tem formação apropriada.   
 
Euler de França Belém — Como foi exatamente essa recuperação? A economia de Minas Gerais estava arrasada na época do Itamar Franco. A economia de Pernambuco deu um salto. Espírito Santo estava também um caos, criminalidade absurda...  
 
A equipe do INDG apresenta qual é o perfil de gestores eficazes. E aquilo é medido, trimestralmente se faz uma avaliação. Se um gestor começa a ficar muito longe da expectativa, a equipe aconselha a substituição. Tem muito profissionalismo. Aécio cuidou da parte política e entregou ao Anastasia, que é um craque em administração, a parte administrativa do Estado. O Estado se sente às vezes na obrigação de ser paternalista, de ter seu papel social quando tem uma crise de desemprego, e vai abrigando mão de obra desqualificada, desnecessária. Há também o processo político, em que se indica tal pessoa por que foi parceira nas eleições. Muitas vezes quem indica não tem a parcimônia de trazer uma pessoa adequada ao cargo. Marconi vai dizer que tal área exige determinado perfil. E aí vai entregar o perfil do funcionário à equipe que vai analisar, se não for esse, arruma-se outro. No Brasil, há muito a questão do 'fulano não entende, mas pega rápido'. Isso é improviso. A gente não trata assim as empresas. Por que o âmbito empresarial é eficaz e o governo não é? Porque tem a pessoa certa, no lugar certo. Quando a empresa sai desses parâmetros, ela quebra.  Tem que gastar aquilo que arrecada. Então, é o mesmo modelo. Não tem ciência. Por que eu acredito que Marconi vai conseguir fazer grande parte do que ele imagina? Ele é um político por excelência, tem aspirações muito mais altas, ele está com 47 anos e tem de fazer um governo de excelência, porque, caso contrário, ele não vai dar o próximo passo. Ele não pode fazer um governo nem igual aos que fez antes, que foram muito bons. Ele tem que fazer um governo muito melhor. Um governo racional.    
 
 Cezar Santos — Houve alguma coisa que Marconi não explorou adequadamente?  
 
Pena que ele não soube explorar a questão, por exemplo, do Vapt Vupt, uma coisa que deveria ter uma repercussão nacional, uma inovação. Então, coisas como essas têm de existir. Tem de fazer, portanto, uma gestão preocupada com as coisas públicas, dar exemplo de licitações, de pregões eletrônicos, as coisas têm de ser cristalinas. Por que a gente fala tanto de Minas? Tem gente que nunca foi ao Espírito Santo e elogia aquele Estado porque fica sabendo. Então, Goiás, no cenário nacional, quer ter reconhecimento. Marconi está determinado a fazer isso. Acho até que ele vai ter problemas políticos em relação. Porque tem muita gente que se sente no direito de indicar cargos, então ele vai ter problemas ao conciliar tudo isso. Infelizmente, o País tem essa prática. Mas as pessoas vão ter de entender que existe um perfil apropriado para ocupar os cargos. A gente encontrava no passado, agora cada vez menos, pessoas completamente desfocadas no que fazia. Até a formação profissional era desnecessária no tempo das indicações políticas. São pressões, é o compadre, é o amigo e isso tem de acabar. Se não acabar, nós vamos ficar com marcas medíocres.    
 
Euler de França Belém — O que fazer na área da saúde? Seria recomendável tirar o comando da saúde dos médicos?  
 
Sim. Eu sou partidário da ideia de gestores na saúde não ter nenhum comprometimento, sem ligações com nenhuma classe. Eles não precisam ser médicos.    
 
Euler de França Belém — Os secretários de saúde do Estado e de Goiânia estão brigando por causa da dengue. Parece que a luta é mais política do que, de fato, referente à preocupação com a doença. Isso é muito sério.  
 
De fato, eles não estão olhando os malefícios que fazem. Quando morre uma pessoa, tem o dedo deles ali. Enquanto fica aquela briga sobre quem são os culpados, fica claro que eles apenas querem mídia. Eles não estão preocupados com a população. Por que, então, eles não assumem os erros. Qual é o problema? Se são dois governos que se dão bem. Por que eles não tomam uma medida em conjunto para acabar definitivamente com o problema. Nós não escutamos falar disso. Você só vê a briga política. Isso está errado, tem de acabar.    
 
 Euler de França Belém — A Secretaria de Indústria tem de ser de Anápolis? Só lá que tem indústrias? Só lá que precisa desenvolver?    
 
É um assunto muito delicado e eu concordo plenamente com você. Tenho certeza que Anápolis tem de ser contemplada porque tem uma importância muito grande nas eleições, mas não precisa ser a Secretaria da Indústria e Comércio. Vou de novo à questão do perfil. Não admito que se tenha um secretário de Comércio Exterior que precise viajar com tradutor. Isso, para mim, é um absurdo. Um secretário de Comércio Exterior tem de saber falar duas ou três línguas. Então, se em Anápolis tiver uma pessoa com aquele perfil, ótimo. Mas, ora, o polo de Catalão está crescendo, o polo de Itumbiara, de Rio Verde. Todos eles podem reivindicar. Agora, Anápolis tem direito a uma secretaria importante, mas não precisa ser essencialmente essa. E se lá der um grande gestor na saúde? Se isso continuar acontecendo é mesmice, Anápolis tem o direito de reivindicar uma secretaria de porte, não necessariamente uma específica.     
 
 
Euler de França Belém — Marconi vai enfrentar um problema sério, que é a questão da Celg. Faltam 40 dias para o governo Alcides acabar e, durante pelo menos dois anos, o governo federal vem falando que vai repassar o dinheiro. A Celg é o Dom Sebastião em Goiás. Até hoje os portugueses estão esperando a volta dele para transformar Portugal em um país modelo. Como analisa essa dificuldade? Um governo federal hostil, a Celg é a maior empresa pública de Goiás e não devolve o ICMS...  
 
É um assunto sério, do governador, mas temos acompanhado e a preocupação é grande. Saiu, há poucos dias, uma reportagem do "Estado de São Paulo" sobre a Celg, com uma crítica e eles propõem até que haja intervenção do Superior Tribunal Eleitoral porque a decisão (do empréstimo) da Celg saiu 15 dias antes do segundo turno e um dia antes de ser anunciado o apoio do grupo de Vanderlan Cardoso e do governador a Dilma Rousseff. Foi uma medida eleitoreira e não acredito que saia. Pior ainda. Agora, a Celg vai passar por uma reciclagem profissional. Marconi pretende trazer experts da Eletrobrás para compor o governo.   
 
Euler de França Belém — Haverá uma federalização?   
 
Desse jeito que se estava fazendo, é lógico. Começa com um porcentual de ações transferindo e, com certeza, a cada aumento de capital, como o governo tem capacidade de investir, dentro de quatro ou cinco anos já terá 95% das ações.     
 
Danin Júnior — Nesse artigo do "Estadão" fala-se que as distribuidoras assumidas pela Eletrobrás continuam sendo as mais ineficientes do País.    
 
Realmente. Mas eu acho que passa também por modelos de gestão. A Celg é uma empresa inchada e que sempre foi muito usada. Se conseguirmos acabar com todos esses gargalos, deixando-a fazer o papel que lhe é pertinente, a Celg vai melhorar muito. Mas tem de pegar um empréstimo, porque senão não tem jeito. Agora, se for para colocar dinheiro e federalizar, então que se faça isso de uma vez só. Outra coisa, os custos estão mal aproveitados também. Eu fiquei sabendo que os nossos contratos de compra de energia são um dos mais caros, porque havia prazos nos pagamentos e é claro que pagamos um ônus por isso. Mas a Celg tem chances. Tenho conversado com muitos técnicos que me dizem que, em dois anos, a Celg será uma empresa diferente. Cabe ao Marconi mergulhar de cabeça. Creio que ele irá deixar essa companhia, como a Saneago, completamente diferente das outras gestões. Ali, não vai se falar em outra coisa que não seja linguagem de energia. Será uma empresa compacta, enxuta.    
 
Euler de França Belém — Quais são as três áreas que a equipe do Marconi vai, em um primeiro momento, dar prioridade?    
 
Em primeiro lugar, a área da saúde e, em segundo lugar, a infraestrutura. Existe um problema muito sério em Goiás. Como não temos hospitais para segurar o pessoal no interior, há um êxodo e uma avalanche de pessoas que vem à capital.  No que se refere à infraestrutura, eu o acompanhei no TCU para resolver a questão do aeroporto, que é um gargalo, é claro que não virá nenhuma empresa para cá, do jeito que está. É brincadeira o que está acontecendo. Além desse problema, há de se resolver a questão da duplicação das estradas porque, caso o contrário, você não escoa a produção. Há de se resolver também o problema da energia, o problema da hidrovia Paraná-Tietê. Temos ainda de modernizar e dar mais apoio aos portos secos.    
 
Euler de França Belém — Um dos erros do Alcides foi o de criar a ideia de que o caos estava instaurado em Goiás. Agora, ele diz que está entregando a casa em ordem. Procede a essa informação?    
 
Eu não sei. Isso vai ser avaliado pela transição, vai ser avaliado se o que ele diz é uma coisa e o que está no papel é outra. No entanto, de uma coisa eu estou certo: ele não pegou o governo no caos. Claro que todo o governo passa uma dívida ao outro, mas não era o caos coisa nenhuma. Ao contrário, Alcides pegou o governo infinitamente melhor do que o que Marconi pegou. Eu creio que faltou gestão, a centralização de poder também foi muito ruim, o Estado não andou e, ainda mais, Goiás perdeu a competitividade com essa imagem negativa que o Alcides passou. Fale-me de uma empresa de porte que veio para cá e que começou e terminou no governo dele. Eu não conheço. Pode ser até que eu esteja mal-informado, mas não conheço.    
 
Euler de França Belém — Estão falando que há um déficit mensal grande. O sr. está sabendo de alguma coisa em relação a isso?  
 
Não. Eu acho que essa equipe que começa agora vai diagnosticar isso. Contudo, tem de diagnosticar e provar antes de entrar, para não dar essa celeuma que deu.    
 
Euler de França Belém — A proposta de Marconi é de transformar Goiás em uma área totalmente saneada, não sei se em quatro anos. Ele começou com a Estação de Tratamento de Esgoto e este governo não deu continuidade. Contudo, isso vai estourando em outra empresa quebrada que se chama Saneago. O que fazer?  
 
Não sei qual é a real situação da Saneago. Mas acho que nem de perto é a situação da Celg. A Saneago vai precisar de muita participação privada e de socorro de empréstimos externos.  
 
Danin Júnior — 40% da Saneago são da Celg, é isso?    
 
Eu não tenho essa informação. Mas isso é no papel ou é por débito?   
 
Danin Júnior — No papel.  
 
Eu acho que vai ter de dar uma mesma atenção, porque, caso isso não seja feito, a Saneago pode ir no mesmo caminho da Celg.   
 
Euler de França Belém — Por que o Sebrae desapareceu? Vários empresários, como os do setor hoteleiro, dizem que o Sebrae, nos últimos anos, perdeu a importância que tinha. Por qual motivo?    
 
Não é que ele perdeu a importância. Acho que precisam ser valorizados os técnicos da casa. Ali há muita ingerência política. O Sebrae possui diretores e superintendentes que têm de estar mais afinados, sendo mais conhecedores e mais técnicos. Isso é um problema sério de gestão, uma vez que o Sebrae não possui problema de verba. Há muito dinheiro ali, porque nós somos pagadores compulsórios para o Sebrae. Mas, com sinceridade, eu não o acompanhei de perto neste governo. Mas houve muitas críticas. O setor hoteleiro, o Luciano Carneiro também me procurou e reclamou que o Sebrae não estaria fazendo quase nada pelo setor. Acho que Marconi tem de aproveitar a chance e colocar os técnicos que estão na casa há anos e que a conhecem com profundidade.  
 
Cezar Santos — Isso não reflete uma orientação federal? Lula colocou um compadre que pagava as contas dele para dirigir o Sebrae nacional...    
 
Você lembrou bem. A coisa começou a se deturpar em nível federal. Foi colocada uma pessoa que não tem nada a ver. Foi um uso político no governo Lula que nunca houve antes. Assim como na Federação das Indústrias e na Federação do Comércio, há muitos sindicalistas hoje que são os manda-chuvas dessas instituições. Até o governo de Fernando Henrique Cardoso, o Sebrae era ocupado por gente que tinha seus trabalhos voltados à gestão empresarial. De repente, começaram a chegar os compadres. Esse é o grande problema.   
 
Euler de França Belém — O que o sr. acha da proposta de criação do Ministério da Pequena Empresa no governo Dilma?  
 
Só aumentaria a burocracia.   
 
Euler de França Belém — Vamos falar agora do Ciro senador. Sobre a questão do pré-sal, como será sua luta no Senado?    
 
Considero, em primeiro lugar, que o pré-sal, da maneira como eles colocaram, consistiu em um engodo e em um uso extremamente eleitoreiro. Por isso creio que cairá no esquecimento. Primeiro, o governo ainda não sabe o custo que isso terá. O pré-sal, enfim, constitui-se apenas em uma hipótese que foi usada como marketing para as eleições. No que se refere à minha atuação, eu vou trabalhar, inicialmente, com três áreas. Pretendo fazer três conselhos: educação e na saúde, que são os pilares que ajudarão o nosso governo, e o último na ordem empresarial. Esses conselhos não vão carregar qualquer espécie de vínculo empregatício ou de remuneração. Eles serão constituídos por pessoas que considero notáveis em suas áreas e que são boas gestoras em seus meios de atuação. Nós vamos nos reunir, a cada dois meses, e elas terão de me dizer sobre os assuntos referentes às suas áreas de atuação. Me dirão quais as demandas da saúde e qual é a possibilidade de atuação no Congresso. A ideia é de que elas me monitorem, uma vez que eu não sou expert em saúde, eu sou um leigo, minha área é outra. Na área empresarial, por exemplo, eu conversei com o presidente do Conselho da Perdigão e da Sadia, que será a próxima fusão, e vou escolher mais três ou quatro pessoas. Uma delas será no Sul. Eu estou fazendo esses contatos porque, no momento em que eu me mergulhar no Senado, eu perco a visão externa. Sendo assim, um grupo de pessoas desinteressadas - e interessadas em fazer algo útil - poderia me ajudar. Além do mais, percebi que 47% dos projetos que iniciam a tramitação não terminam, perdem-se no meio do caminho. Por quê? Aí a equipe dos conselhos poderá diagnosticar o que houve de errado e o que deve ser alterado.  Os projetos que são polêmicos terminam em plenário, mas aqueles que não são polêmicos, aqueles que a gente considera que expressam boa repercussão à Nação e ao Estado, queremos disponibilizar. O Paulo Afonso, o José Evaristo (Fecomércio), uma equipe de três pessoas da Confederação do Comércio e da CNI terão a função de seguir esses projetos e ver como estão sendo encaminhados, juntamente com funcionários do gabinete. Sendo assim, semanalmente nós vamos receber um relatório sobre os projetos que estão parados.

Nenhum comentário:

Postar um comentário