segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Marconi Perillo: surpreender os goianos!





Reportagens
                                                  Edilson Pelikano/Jornal Opção
Segundo alguns interlocutores, o governador eleito teria ficado chocado ao ver jovens comparando-o com Iris Rezende, que considera arcaico. Ele quer consolidar seu perfil de modernizador de Goiás
Vencer a si mesmo
O maior desafio de Marconi 
Em seu terceiro mandato, tucano enfrentará o mito de si mesmo. Por isso precisa se reinventar e encontrar novas formas para surpreender os goianos 

Danin Júnior
 
Como uma espécie de rito que passou a se repetir nos últimos 12 anos, o resultado da eleição em Goiás move novamente os holofotes para o governador eleito Marconi Perillo (PSDB). É dele a bola que será jogada a partir de 2011 - na verdade, o jogo já está em andamento, tendo participação preponderante do tucano, e a escolha do ex-deputado Kennedy Trindade para a vaga do conselheiro Naphtali Alves no Tribunal de Contas do Estado é uma prova disso. A sociedade e os diferentes grupos políticos (aliados e adversários) agora aguardam que destino Marconi dará ao seu terceiro mandato no Executivo estadual. Se no campo administrativo algumas pistas já foram dadas [confira reportagem de Andréia Bahia nas próximas páginas], na seara política o terreno ainda é tomado pelas especulações. O que se pode prever é a delicadeza com que este momento se apresenta ao tucano. Ele precisará se reinventar. 

Durante o processo eleitoral, uma parte significativa do meio político comentava que Marconi, vencendo o jogo contra Iris Rezende (PMDB), se tornaria uma espécie de rei inconteste no cenário goiano. A análise partia do pressuposto de que o tucano passaria a dispor de um poder sem precedentes em sua trajetória pessoal e talvez na própria história de Goiás - apenas uma figura histórica como Pedro Ludovico poderia rivalizar com ele. Essa tese se sustenta em alguns argumentos racionais. O primeiro deles diz respeito ao espectro da influência de Marconi, seja na Assembleia Legislativa, seja no Tribunal de Contas do Estado. Mas a principal justificativa usada por esses analistas tinha a ver com a desarticulação que sua vitória causaria em seus adversários, já que ele provocaria uma “ferida de morte” nos maiores focos de oposição ao seu grupo. 

Contudo, tal análise estava absolutamente equivocada e só era concebível aceitar sua formulação como uma tentativa de tirar votos de Marconi. Ou seja, tinha muito mais cara de peça de campanha do que uma argumentação razoável. De fato, essa tentativa de subtrair votos, apelando para uma espécie de ameaça, logrou algum espaço no debate eleitoral. No meio financiador de campanhas, vez ou outra, surgia essa conversa - de que era necessário ter cuidado com o poder que seria entregue ao tucano. Essas mesmas pessoas, às vezes tentando mudar a tendência de algum eleitor menos avisado, diziam (já no fim do primeiro turno) que as grandes lideranças que acompanham o projeto do PSDB - uma vez definida sua situação eleitoral na primeira fase do pleito - lavariam as mãos, também por temer o tamanho que Marconi assumiria caso confirmasse sua vitória. 

O fato de os senadores Demóstenes Torres (DEM) e Lúcia Vânia (PSDB), por exemplo, terem se desdobrado na campanha do segundo turno só reforçam o entendimento de que essa tese está completamente furada. Os senadores e outros importantes aliados do tucano não esmoreceram e foram aos quatro cantos do Estado para pedir votos porque acreditam no trabalho de grupo que é liderado pelo novo governador. A realidade é outra. Essa formulação de “Marconi tirano”, sem oposição, sem contraditório, carece de maior profundidade até mesmo no que diz respeito à desarticulação de seus adversários. O PMDB, com ou sem Iris no leme, continua sendo uma força eleitoral considerável em Goiás, pronta a despertar a qualquer momento e isso pode acontecer já nas próximas eleições municipais. Ainda mais que, ao lado do PT local, os peemedebistas terão todas as portas abertas no governo federal. 


Iris, não 

O que acontece é que a partir de 1º de janeiro de 2011 abre-se para Marconi o maior desafio de sua biografia, o seu momento mais delicado. Nem em 1999 nem em 2003 o tucano precisou provar tanto que é capaz de se superar. Pela idade que tem (47 anos, portanto, 30 a menos que Iris, para se ter uma ideia), este terceiro mandato é o que definirá seu futuro. Aquele que vai determinar o modo como pretende se inscrever na história de Goiás e do Brasil. Um exemplo do que se está tratando aqui: alguns de seus interlocutores mais próximos disseram nos bastidores que, durante a campanha, Marconi estava chocado com o fato de saber que jovens (eleitores de Vanderlan Cardoso) estavam comparando-o ao velho comandante do PMDB goiano, colocando-os no mesmo patamar. Muito já se disse sobre a semelhança de estilo entre Iris e o tucano, especialmente no que se refere ao cuidado pessoal com a administração, mas quem conhece Marconi sabe que essa comparação não o agrada. 

E deve ser mesmo preocupante. As duas administrações do tucano, comparadas com as demais, foram muito mais modernizadoras no que tange à organização do Estado. Imbuídos pelo espírito do tempo e incentivados por Marconi, seus auxiliares fizeram a primeira gestão realmente planejada de Goiás - nem a administração de Mauro Borges (ainda uma referência positiva nesse tema) foi tão detalhada e tão profissional. Cada órgão passou por dinâmicas de planejamento estratégico que culminaram na ampla reforma administrativa de seu primeiro governo e no plano maior, que até hoje sustenta as ações estatais. Também pela primeira vez o funcionalismo foi valorizado (com pagamento em dia e estímulos à profissionalização) e a qualidade dos serviços públicos deu um salto inédito, cuja representação mais visível (e aprovada pela população) é o Vapt Vupt. 

O tucano também exigiu da equipe de governo soluções criativas para a sua prioridade enquanto governante: o trato com as pessoas mais pobres. A área social mereceu os melhores programas da primeira era Marconi, alguns deles reproduzidos em outros Estados e até pelo governo federal: Renda Cidadã, Salário Escola, Bolsa Universitária, Banco do Povo e Cheque Moradia. Seu tratamento mais aberto com o meio empresarial também rendeu frutos importantes. Ineditamente, o setor produtivo passou a ser ouvido sistematicamente para a definição de políticas públicas. Marconi foi ainda o primeiro governador de Goiás a efetivamente acreditar que reduzir impostos aumentaria a arrecadação. E essas medidas, a parceria com o empresariado e a redução da carga tributária, se refletiram na explosão de crescimento econômico durante seus governos - quando o Estado chegou a se desenvolver três vezes mais rápido que a média nacional. 


Um novo tempo novo
 
Todo esse plantel de dados positivos, referendado pela votação massiva de 2006 (76% dos votos válidos para o Senado), foi de suma importância para a vitória da semana passada. Sem esse saldo e mesmo com sua quase inacreditável energia para viver a política em tempo integral, ele não teria sobrevivido ao massacre pelo qual passou nos últimos quatro anos. Marconi venceu Iris, mas também venceu Lula da Silva e Alcides Rodrigues. As três máquinas estavam atreladas ao projeto de desconstrução de sua imagem. O sucesso na eleição, entretanto, revela agora o seu pior adversário: ele mesmo. O governador eleito precisará ser um novo Marconi. Deve se reinventar para combater a tese quase insofismável de que tudo no universo possui um ciclo, ainda mais na política. Somente um grande esforço de superação poderá evitar que, neste terceiro governo, o seu ciclo entre na fase final. 

Marconi precisará de uma nova cara, um novo projeto para identificar a administração que começa no dia 1º de janeiro. Sensível aos movimentos da política e arguto observador da vontade popular, ele sabe disso. Sabe que este não poderá ser apenas mais um governo, somente uma continuidade dos dois anteriores. Nas entrevistas concedidas após a eleição (um bom termômetro, pois já vem sem a necessária maquiagem do marketing eleitoral), o tucano reiterou que sua prioridade será a educação. Passa a impressão de que moverá mundos para mudar o cenário difícil da rede pública de ensino. É um bom sinal, pois as verdadeiras mudanças sociais e econômicas começam mesmo pela educação. Mas, sob o ponto de vista pragmático da política, isso não será suficiente. Veja o exemplo de Barack Obama. O presidente americano conseguiu mexer em algo estrutural e que estava em sua plataforma nas eleições: a universalização dos planos de saúde. Mas não conseguiu, em seus dois primeiros anos, resgatar a grande mudança que sua campanha vendeu aos eleitores. Resultado: a pior derrota dos últimos 50 anos nas eleições legislativas. 

Além de trabalhar a área de educação, Marconi precisa cumprir as principais promessas de campanha e ainda mais: desenvolver ações que comprovem que ele realmente representa a modernidade, que ele tem fôlego para comandar mais uma superação dos limites, para realmente romper as amarras do atraso. Precisa de medidas que apaguem aquele fantasma da comparação com Iris, um líder que ele respeita, mas que pessoalmente reprova, por considerá-lo arcaico (adjetivo que ele utilizou no último debate do segundo turno). Investir em novas tecnologias, inovar na comunicação e na interação com a sociedade, desenvolver projetos ambientais, o que quer que seja - há uma ampla margem para experimentação, desde que a execução seja rápida e eficiente. O que importa é sacudir Goiás, mostrar que um Estado em desenvolvimento sempre vai precisar de um tempo novo.

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