quinta-feira, 25 de novembro de 2010

PMDB: as derrotas não ensinaram nada!!





Política & Justiça

Aberta temporada de caça às bruxas
Em vez de avaliar erros cometidos na campanha, partido busca bodes expiatórios para justificar fracasso
Executiva abre ação para expulsar Bittencourt e ignora a necessidade de modernizar e reinventar a legenda
Deputados federais, estaduais, prefeitos e lideranças se levantam contra gesto de autoritarismo

José Barbacena

Depois que perde uma eleição, um partido tem dois caminhos a seguir: ou procura um bode expiatório para justificar a derrota ou promove o debate sobre os erros que cometeu durante a campanha. O PMDB de Goiás optou pelo primeiro caminho. Ontem, o presidente do partido, Adib Elias, anunciou que vai encaminhar em até 48 horas ao Conselho de Ética do diretório o processo de expulsão do deputado federal Luiz Bittencourt, que está filiado à sigla há mais de sete anos. Bittencourt será condenado por um crime bastante recorrente no período da ditadura militar: o chamado delito de opinião. O seu erro foi criticar a postura centralista e autoritária da cúpula e discordar da forma como Iris Rezende gerencia o PMDB. Um “crime” já praticado por muitos, inclusive por aqueles que agora querem expulsá-lo.

A reunião ocorreu ontem de manhã na sede do diretório, localizado no centro de Goiânia. No momento em que o assunto entrou em pauta, a maioria permaneceu em silêncio. Ninguém ousou defender o acusado. As duas únicas exceções foram o deputado estadual Paulo Cézar Martins – o mais bem votado da legenda nas eleições deste ano – e o deputado federal Leandro Vilela. Paulo Cézar argumentou que a expulsão será um atentado à democracia interna e que o diálogo deve servir de alternativa à intransigência. O deputado ainda lembrou que, no passado, houve inúmeros casos de peemedebistas que contrariaram a linha do PMDB para apoiar um outro candidato. O próprio Iris já desobedeceu orientações partidárias em eleições passadas. Mas ninguém foi punido. Por que, então, expulsar Bittencourt agora?

“O partido precisa se reunir e acalmar os ânimos, não pode agir no calor da derrota. Este não é momento adequado para tomar decisões. O partido tem história, tem uma posição consolidada, precisa agora ter amadurecimento para fortalecer. Não é momento de caçar cabeças”, afirma Paulo Cézar. "Todos merecem o mesmo tratamento do partido. Se é para exercer o estatuto e exigir absoluta obediência, que sirva para todos. E, se o partido agir assim, vamos ter de expulsar muita gente do PMDB”.

Paulo Cézar tem razão. Na cúpula do partido existe um amplo histórico de casos de “infidelidade”. Em 1989, Iris apoiou a postulação de Fernando Collor de Mello à presidência da República e virou as costas para o candidato de sua legenda, o deputado federal Ulysses Guimarães. Maguito Vilela, por sua vez, manifestou predileção por Mário Covas nesse mesmo ano. Nem um, nem outro foi punido. Em 2001, a pedido de Maguito, Iris contrariou o partido e rompeu com o governo Fernando Henrique Cardoso. Nas eleições de 2006, o fiel escudeiro de Iris, ex-senador Mauro Miranda atropelou a opção do PMDB pela candidatura de Lula e instalou um comitê em apoio a Geraldo Alckmin na Avenida Paranaíba, centro de Goiânia. Mais uma vez, nada foi feito.

A realidade atual prova que nada mudou. Basta analisar o comportamento do partido no Distrito Federal. Enquanto os senadores Geddel Vieira Lima (BA), Renan Calheiros (AL) e José Sarney (AP) se destacam na defesa do presidente Lula e o deputado Michel Temer (SP) é eleito vice-presidente ao lado de Dilma Rousseff (PT), os também senadores Jarbas Vasconcelos (PE) e Pedro Simon (RS) decantam como dois dos principais líderes da oposição no Congresso. Apoiaram José Serra (PSDB) nas eleições presidenciais deste ano, bem como o governador de Santa Catarina, Luiz Henrique da Silveira, e o ex-governador de São Paulo Orestes Quércia. Em momento algum cogitou-se expulsá-los do partido.

Em Brasília, o deputado Tadeu Fillippelli trabalhou contra a candidatura do colega de partido, Joaquim Roriz, ao governo do DF, em favor de uma aliança com José Roberto Arruda (DEM). Ele também não foi punido.

“O diretório do PMDB em Goiás está na contramão da história. Se o partido for expulsar todos que descumpriram alguma ordem ou apoiaram, em algum momento, um candidato diferente daquele apoiado pelo partido, vai sobrar muito pouco”, afirma Leandro. “Bittencourt é um grande parlamentar e um grande líder. À exceção de Dona Iris, com quem ainda não conversei, todos da bancada federal do PMDB de Goiás são contra a expulsão e, portanto, contra o diretório”.

Na opinião de Leandro, que tentou pedir vistas ao processo mas teve o pedido negado pela executiva, caso a Comissão de Ética decida expulsar, o PMDB sairá fragilizado e correrá risco de perder outros tantos filiados, que não concordam com a ingerência do diretório. “Eles acham que todo mundo é obrigado a caminhar do jeito deles. Temos que evoluir, ou pelo menos ter uma relação diferente com as lideranças do partido”, reclama do deputado. “Discordo completamente da forma como este processo está sendo conduzido. Vou lutar e me colocar sempre contra o que estão fazendo”.

O secretário-geral do partido, Kid Neto (PMDB), tem 48 horas a partir de hoje para encaminhar o processo à Comissão de Ética, presidida pelo advogado Ênio Salviano da Costa, que é composta por sete membros titulares e sete suplentes.


PMDB faz vista grossa ao ficha-suja Adib Elias

As mãos que assinam o pedido de expulsão do deputado federal Luiz Bittencourt são as mesmas que afagam o presidente regional do PMDB, o ex-prefeito de Catalão Adib Elias – dono de uma ficha suja de fazer inveja a companheiros de legenda como os senadores Jader Barbalho (PA) e Renan Calheiros (AL).

Adib era prefeito de Catalão quando a Polícia Civil deflagrou a Operação Ouro Negro, em parceria com a Polícia Federal, e desarticulou um complexo emaranhado de corrupção que sugava a administração da cidade com obras faraônicas e superfaturadas. À época, o compadre de Adib e secretário de Administração, Nelson Fayad, foi levado de algemas para a cadeia.

A título de comparação, pode-se dizer que Nelson era uma espécie de José Dirceu do governo Adib, tamanha sua influência.

Por conta de problemas com a Justiça, o ex-prefeito de Catalão teve a sua candidatura ao Senado em 2010 indeferida pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) – um capítulo a mais na triste história do PMDB este ano. Porém, nunca se cogitou afastar Adib da presidência do diretório por conta de suas pendências com a polícia. A propósito, o secretário-geral da legenda, Kid Neto, que vai protocolar o processo contra Bittencourt no Conselho de Ética, é chefe de gabinete da deputada estadual Adriete Elias – ninguém menos que esposa do ex-prefeito de Catalão.


Líderes preveem debandada de militantes

O ex-prefeito de Cristianópolis Juarez Magalhães Júnior prevê uma debandada de militantes do partido caso o diretório estadual leve adiante a proposta de expulsão do deputado Luiz Bittencourt. “Esses recalcados que estão na direção da Executiva são pessoas ultrapassadas, que não têm mais perspectiva nenhuma. Ficam aí com picuinhas em cima de um grande nome, como Bittencourt. Você olha lá, cinco pessoas que, juntas, devem ter mais de 600 anos de idade. São recalcados, derrotados em convenções, sem mandato, sem voto, sem nada. Lá não tem nenhum com voto. Não se modernizam. Estão no período da inquisição”.

O ex-presidente da Assembleia e do Tribunal de Contas Frederico Jayme Filho destaca Bittencourt como um grande quadro, e lamenta os “vícios arraigados” no comando do PMDB. “Eu fico triste ao ver que o partido está reunido para montar uma ação de caça às bruxas, o partido não está reunido para discutir qual é o seu papel daqui pra frente”. O jurista Ney Moura Teles, que há poucos dias se desfiliou do partido, diz que o processo está equivocado política e juridicamente.


Prefeitos condenam a cúpula

A manobra da direção do PMDB para expulsar o deputado Luiz Bittencourt por delito de opinião enfrenta resistência não só de quatro dos cinco deputados federais do partido, mas de prefeitos que possuem uma vida inteira dedicada à legenda. É o caso de Jerônimo Pereira Lopes, de Jandaia, de Wellington José Siqueira, de Taquaral, e de Teodoro Araújo Aragão, de Vila Propício. Os três se levantaram contra a ingerência do diretório estadual.

“A expulsão não é o caminho”, diz Jerônimo. “Não é assim que vamos corrigir as falhas e os defeitos do partido, mas com diálogo e muito debate. Infelizmente, a cúpula do partido sequer me procurou para ouvir minha opinião, mas eu vou manifestá-la mesmo assim: o PMDB tem que se reunir para tomar decisões e trocar ideias. É com diálogo que vamos corrigir os erros que cometemos”.

O prefeito de Taquaral, Wellington Siqueira, afirma que é hora de recolher os cacos para que o partido reconquiste o governo do Estado em 2014. “Não é expulsando companheiro que nós vamos somar esforços. Além do mais, pode ser que, ao mandar o deputado para fora, outros insatisfeitos também decidam sair com ele. Sou admirador de Iris Rezende e gosto do PMDB, mas sou contra o que a Executiva planeja fazer”.

Em entrevista publicada ontem no Diário da Manhã, o prefeito de Vila Propício, Teodoro Aragão, também se levantou contra a proposta de expulsão de Bittencourt. Na opinião de Teodoro, deve-se respeitar a opinião de companheiros de partido e refletir acerca dos motivos que resultaram na derrota de Iris, em vez de perder tempo a caçar e perseguir.

Teodoro afirma que o contraditório de opiniões ajudará o PMDB a encontrar os motivos de seu fracasso nas urnas este ano, e diz que a derrota do partido prova que as críticas do deputado eram e continuam sendo procedentes.

“Não é expulsando companheiro que vamos resolver o problema do PMDB. É refletindo. Bittencourt se colocou contra a cúpula por entender que a conduta das pessoas que mandam na legenda estava equivocada. As circunstâncias provaram que ele estava certo.”

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