terça-feira, 23 de novembro de 2010

Transição em Goiás: poderia ser mais fácil!





Política & Justiça

Transição manchada por picuinhas
Alcides critica pressa do grupo de Marconi e nega que “atraso” seja motivado por diferenças pessoais
Governador afirma que em pouco tempo tudo será mostrado e defende transição tranquila e transparente
 Membros da sociedade civil pedem boa vontade de ambas as partes e querem mais celeridade no processo

Márcia Abreu

As divergências políticas entre o governador eleito Marconi Perillo (PSDB) e o atual, Alcides Rodrigues (PP), continuam a protelar o processo de transição administrativa em Goiás – a 40 dias do início do mandato do tucano. Sem um posicionamento oficial do Palácio das Esmeraldas, que reluta em nomear uma equipe de técnicos e em disponibilizar informações detalhadas sobre a estrutura pública, o grupo escalado por Marconi para a missão continua a fazer uma transição, digamos, unilateral. 

Ontem, ao participar da posse do novo desembargador do Tribunal de Justiça do Estado, Carlos Alberto França, o governador criticou a “pressa” do vice-governador eleito José Eliton (DEM) em conhecer os representantes do governo na equipe de transição e adquirir informações acerca da situação do Estado. Alcides também negou que esteja a agir desta maneira por conta das diferenças que possui com Marconi e jurou estar com o espírito devidamente “desarmado”. 

“Eu não sei porque tanta pressa (da equipe de Marconi). Minha comissão já está praticamente escolhida. Em pouco tempo tudo será mostrado, até porque as coisas do governo são públicas. Já disse desde o início que da nossa parte não tem problema nenhum, e acredito que nem da parte deles, para que tenhamos uma transição tranquila, serena e, sobretudo, transparente e proveitosa para a equipe que vai tomar posse no início do ano que vem”, afirmou. 

“Não é (picuinha) não, longe disso. Eu sempre estive com o espírito desarmado. As minhas entrevistas, as minhas atitudes sempre foram nesse sentido. Eu nunca disse uma palavra que não fosse nessa direção. Não há problema algum, até porque eu conheço todos da equipe que já foi apresentada (por Marconi). Salvo um ou outro, não tem problema nenhum de ordem pessoal.” 

O impasse entre futuro e o atual governo resulta em preocupação para representantes da sociedade civil. Presidente da Associação Comercial Industrial e de Serviços do Estado de Goiás (Acieg), Pedro Bittar diz que uma boa transição só vai ocorrer por meio de diálogo, mas evita criticar Alcides. “Não acredito que a postura do governador seja de morosidade. Imagino que seja questão de agenda cheia. O que defendo é que deve haver boa vontade das duas partes (governo atual e governo eleito) para conciliar agenda e avançar no processo.” 

Para o vice-presidente da Academia Goiana de Letras (AGL), Getúlio Targino Lima, é próprio de quem vai assumir o governo querer informações claras a respeito da situação econômica, administrativa e geral do Estado. Ele também avalia que é dever de quem está se despedindo do poder facilitar o repasse de dados ao novo governo, já que tem conhecimento de tudo. 

“Sendo o governador atual e o futuro governador integrantes da classe política no Estado democrático de direito, só é aceitável pelo povo que haja entre ambos a maior e mais completa cooperação, não se justificando qualquer embaraço nesse sentido”, opina Getúlio. 

O apóstolo César Augusto, líder espiritual da Igreja Fonte da Vida, diz que não compreende os motivos da demora de Alcides. “Não entendo por que ele está tão moroso nessa questão de transição. Acho que o momento é de bom senso. Alcides está saindo e devia facilitar o trabalho de quem está entrando. Espero que ele tenha esse bom senso e nomeie logo a sua comissão para o bem de toda a sociedade”, analisou. 


Equipe de Marconi segue  trabalho de diagnósticos 

Ontem, membros políticos e técnicos nomeados pelo governador eleito, Marconi Perillo (PSDB), para a transição administrativa se reuniram para fechar a agenda desta semana. De acordo com o ex-secretário de Planejamento José Carlos Siqueira, a equipe ainda está à espera de informações sobre a rotina fiscal, financeira, e construção de obras no Estado. “Não paramos. Nos próximos dias iremos ampliar a equipe e aprofundar no diagnóstico”, conta. 

Quanto à parte política, a equipe deve discutir essa semana temas diversos. “Amanhã (hoje) trataremos a saúde; na quarta-feira, segurança pública; na quinta-feira, iremos ouvir alguns companheiros (presidentes de partidos aliados) que solicitaram audiência. Queremos ouvi-los para levar as sugestões ao novo governador. Enfim, estamos coletando informações independente da colaboração do governo”, afirma Siqueira. 

A equipe de Marconi é coordenada pelo vice José Eliton. Dividida por membros políticos (Antônio Faleiros, Ênio Paschoal, Fernando Cunha, Jales Fontoura e Nion Albernaz) e técnicos (Daniel Goulart, Jaime Rincon, João Furtado e José Carlos Siqueira), a Comissão tem trabalhado de forma unilateral desde o dia nove deste mês, data em que foi anunciada. 

Na semana passada, o coordenador-geral da equipe, José Eliton, reclamou da morosidade do governo atual e informou que estava buscando informações junto a órgãos públicos e que “a demora poderia acarretar em prejuízos de planejamento efetivo à equipe de Marconi”. A comissão deve continuar trabalhando de forma “isolada” até que Alcides torne pública sua equipe.   


“Não precisa ser com tanta afobação”  

Leia os melhores trechos da entrevista concedida pelo governador Alcides Rodrigues ontem, durante a posse do desembargador Carlos Alberto França no Tribunal de Justiça. O destaque da entrevista foram suas considerações acerca da transição administrativa. 

Demora  

Eu disse há poucos instantes para o vice-governador (Ademir Menezes, PR), quando me encaminhava para cá: certamente a imprensa está me aguardando para me perguntar por que a demora em nomear a equipe de transição. Eu não sei por que tanta pressa. Porque, sem dúvida nenhuma, durante pouco tempo, tudo estará sendo mostrado, até porque as coisas do governo são públicas. Mas não tem problema nenhum. Eu já disse desde o início que não tem problema nenhum da nossa parte, e acredito que nem da parte deles, para que tenhamos uma transição tranquila, serena e, sobretudo, bastante transparente e, mais do que isso, proveitosa para a equipe que vai tomar posse no início do ano que vem. 

Equipe 

Já está praticamente escolhida a minha equipe que vai estar em contato com a equipe do governador eleito. Todos os membros compõem o meu governo. Eu vou anunciar todos os nomes. Esta semana eu estarei anunciando e mostrando. Não tem problema nenhum. Nunca houve problema de nossa parte em nominar. Só que não precisa ser com tanta afobação assim. 

Picuinha 

Não. Não é não, longe disso. Eu sempre estive com o espírito desarmado. As minhas entrevistas, as minhas atitudes sempre foram nesse sentido. Eu nunca disse uma palavra que não fosse nessa direção. Então, não tem problema nenhum, até porque eu conheço todos da equipe que já foi apresentada. Salvo um ou outro. Não tem problema nenhum de ordem pessoal. 

Finanças 

O governo está pagando em dia, o governo tem credibilidade, acabamos com o déficit, acabamos com os restos a pagar que existiam, foi um fato, é um fato e pagamos também o funcionalismo público em dia. Nós não tínhamos como pegar um centavo de empréstimo. Hoje, temos condições de pegar 5 bilhões. Então, só isso já diz tudo. 

Ação do MPF 

Olha, nós ficamos aí quase quatro anos trabalhando essa negociação por parte da área técnica do governo federal e por parte da área técnica do governo do Estado e das instituições financeiras. Chegamos a um denominador comum, o que foi, sem dúvida nenhuma, um bom negócio. Foi muito bem estudado, foi muito bem olhado tecnicamente e não politicamente. Porque um volume tão grande assim ninguém vai opor à sua assinatura se não estiver tudo em ordem. Foi uma matemática financeira que foi muito boa, foi excelente para o Estado, foi excelente para a Celg. Não fosse isso, nós não teríamos como ficar com a empresa aqui em Goiás. Isso aí, sem dúvida nenhuma iria onerar muito o Estado. E irá onerar, se por acaso entrar alguma areia no meio.

Liberação 

Nós estamos ultimando tudo o que foi solicitado por parte do governo federal para o Estado. E acredito, segundo os próprios técnicos e segundo a própria Caixa Econômica Federal, que logo deve estar em conta para fazermos um bom uso desse recurso. Parte dele será distribuído para os municípios, como manda a lei, e a outra parte será direcionada para o Estado, para cumprir os seus compromissos, já que o Estado ficou sem receber durante muito tempo um montante de mais de R$ 700 milhões e atrapalhou muito o governo do Estado esses recursos, que são  muito altos. 

Cronograma 

O governo está cumprindo todo o cronograma à risca. Toda semana nós estamos assinando. Agora, nós fizemos uma pactuação de fazer o chamamento paulatinamente, porque nós temos o impacto financeiro na folha. Isso é uma verdade. Nós estamos fazendo o chamamento de acordo com o que foi acordado. 

Postura dos marconistas 

Olha, eu tenho a cabeça no lugar, tenho os pés no chão também. Isso aí não me chateia hora nenhuma, porque eu conheço muito bem esse processo. Eu já fui candidato várias vezes, já fui eleito várias vezes. E sei muito bem o que é um governo que está no seu final e um governo que está iniciando. Conheço também as fraquezas do ser humano. Então, isso para mim é a coisa mais natural do mundo.

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