POLÍTICA
DEBATE - TV ANHANGUERA
Marconi e Iris partem para o ataque
Reproduzindo a tensão da reta final da campanha, candidatos promovem confronto mais duro da eleição
O Popular
Bruno Rocha Lima, Carlos Eduardo Reche, Carla Borges, Erika Lettry, Fabiana Pulcineli e Lídia Borges
No último debate antes da disputa do segundo turno, no domingo, os candidatos ao governo de Goiás não pouparam munição no confronto de propostas promovido na noite de ontem pela TV Anhanguera. Do primeiro bloco às considerações finais, da primeira pergunta às despedidas, Marconi Perillo (PSDB) e Iris Rezende (PMDB) não perderam a oportunidade de trocar acusações, cobrar promessas, confrontar modelos de gestão e feitos de seus governos - dois cada um. Nos temas definidos e nas perguntas livres, o que se viu na TV foi o confronto mais aberto entre os dois candidatos, que repetem o embate histórico de 1998, em que Marconi saiu vencedor e interrompeu o ciclo de poder aberto pelo próprio Iris em 1983. O clima era tenso já nos bastidores, resultado de mais de uma semana de alta tensão no enfrentamento das campanhas pela única vaga de governador.
O senador Marconi Perillo (PSDB) e o ex-prefeito Iris Rezende (PMDB) partiram ontem para a troca de ataques no debate promovido pela TV Anhanguera, o último antes do segundo turno da eleição para o governo de Goiás, no domingo. Os candidatos fizeram o confronto mais duro e recheado de farpas da campanha para o Palácio das Esmeraldas, do primeiro ao último bloco do debate, mediado pelo jornalista Fábio William.
As trocas de ataques começaram já no primeiro bloco, com perguntas feitas entre os candidatos a partir de temas definidos. Primeiro a perguntar, Iris também foi o primeiro a partir para a troca de farpas, ao afirmar que Marconi não cumpriu o porcentual constitucional de 12% de investimentos na Saúde.
Os temas dos questionamentos entre os candidatos foram saúde, gestão fiscal, educação e transporte metropolitano. Sempre tenso, o bloco teve seu momento mais crítico nas trocas de ataques no debate sobre gestão fiscal e transporte. Marconi disse que Iris não cumpriu "nem em seis meses, nem em seis anos" a promessa de "resolver o problema do transporte coletivo" da Grande Goiânia. Iris rebateu afirmando que o "único problema" do sistema da capital é a Metrobus, que, segundo o peemedebista, o tucano "usou para politicagem".
No segundo bloco, de temas livres, os candidatos ao governo prosseguiram com os ataques, desta vez na troca de cobranças sobre promessas não cumpridas. Marconi e Iris trocaram acusações de promessas não cumpridas na área social, de habitação, funcionalismo público e saneamento. Marconi disse que Iris fez "casas de placas" e que, caso eleito, vai dar "mais dignidade" aos moradores dessas unidades permitindo que eles façam a substituição das casas. Iris reagiu afirmando que Marconi não cumpriu a promessa de construir 245 mil casas populares em seus governos e que usou o número da meta para "fazer política".
As propostas para o funcionalismo também foram um dos pontos alto do enfrentamento. Marconi citou planos de carreira aprovados em sua gestão e disse que Iris é "conhecido por não valorizar o servidor". Iris reagiu citando esforços para pagar folhas em atraso e dizendo que 90% do funcionalismo da capital o apoia.
A postura de enfrentamento no debate é resultado de uma reta final de campanha marcada pela tensão e trocas mútuas de acusações, que culminou, na quarta-feira, com a divulgação, pela TV Anhanguera, de nova rodada da pesquisa Ibope com manutenção do empate técnico entre os candidatos, agora separados por 1 ponto porcentual (46% para Marconi e 45% para Iris).
PRIMEIRO BLOCO
Discussão sobre transporte coletivo acirrou ânimos no início do debate
Não deu tempo para respirar. O primeiro bloco do debate já começou quente, com os candidatos trocando críticas e acusações sobre saúde, finanças públicas, educação e, especialmente, trânsito e transporte coletivo. Este último tema rendeu os momentos mais acirrados deste bloco.
Não deu tempo para respirar. O primeiro bloco do debate já começou quente, com os candidatos trocando críticas e acusações sobre saúde, finanças públicas, educação e, especialmente, trânsito e transporte coletivo. Este último tema rendeu os momentos mais acirrados deste bloco.
Marconi entrou no tema acusando Iris de não ter cumprido a promessa de resolver os problemas do transporte em seis meses, feita nas eleições de 2004, quando Iris foi eleito prefeito de Goiânia. O tucano disse que após seis anos de mandato, o transporte continuava "humilhando" os usuários do sistema.
Iris rebateu citando que adquiriu mais de mil novos veículos e disse que o gargalo do transporte na capital é o Eixo Anhanguera, jogando a culpa pela situação da linha nos governos Marconi, acusando-o de deixar a Metrobus, empresa gestora do Eixo, com mais de R$ 20 milhões de dívidas. "Quando o senhor era governador, o Eixo não recebeu a mínima atenção, só usou a linha para fazer politiquice", disse, lembrando que o tucano reduziu a tarifa para 45 centavos, número do PSDB.
Marconi alegou que reduziu a tarifa para atender a população carente, e aproveitou para criticar também os problemas do trânsito de Goiânia. "Nenhuma intervenção foi feita no trânsito de Goiânia quando o senhor foi prefeito", disse. A ironia deu o tom da resposta de Iris. "O candidato sempre olhou Goiânia com descaso. Ele não percorre Goiânia, só anda na cidade de helicóptero", disse Iris.
Na primeira pergunta do bloco, sobre saúde, Iris quis saber as propostas de seu adversário. Marconi prometeu priorizar a conclusão das obras já iniciadas na área, melhorar atendimento em unidades que já estão em funcionamento e depois construir Hospital da Mulher, Centro de Recuperação de Dependentes Químicos e hospital da região Noroeste de Goiânia.
Na réplica, Iris acusou o adversário de não ter cumprido as promessas em sete anos e meio de governo. "Exceto o CRER, muito pouco se viu na área de saúde pública", disse o peemedebista, acrescentando que também não foram investidos 12% em saúde, como determina a Constituição Federal. O tucano contestou.
"O senhor está completamente equivocado. Comecei e deixei quase pronto os hospitais de Santo Antônio do Descoberto e de Valparaíso. Obras que foram começadas com recurso da venda da usina de Cachoeira Dourada, porque começaram mais de mil obras com esse dinheiro, que foi pulverizado", afirmou.
O segundo tema foi responsabilidade fiscal. O peemedebista voltou a acusar Marconi de ter deixado R$ 1,5 bilhão de dívidas e déficit mensal de R$ 100 milhões, ressaltando que as afirmações são do governador Alcides Rodrigues. Marconi usou o relatório produzido pela FIPE, instituição da Universidade de São Paulo (USP), para dizer que as acusações de Alcides são uma farsa.
Iris desqualificou o relatório da Fipe na tréplica e afirmou ainda que Marconi empenhava gastos em saúde e educação para ter suas contas aprovadas pelo Tribunal de Contas do Estado e pela Assembleia Legislativa, para depois cancelar os investimentos. "Isso foi um secretário de Estado que disse e eles não responderam. Eles deviam ter desmentido antes e botado o secretário na cadeia", insistiu o candidato do PMDB.
Ao falarem sobre educação, o tucano prometeu investir na melhoria dos salários dos professores e implantar escolas de tempo integral. O peemedebista prometeu transformar todas as escolas do ensino médio em tempo integral.
SEGUNDO BLOCO
Candidatos comparam governos e tentam desconstruir imagens
No segundo bloco do debate, em que os candidatos faziam perguntas com temas livres, Iris Rezende e Marconi Perillo fizeram questionamentos sobre propostas de governo, mas aproveitaram todas as respostas, réplicas e tréplicas para fazer comparações e tentar desconstruir a imagem do outro como governante. O momento mais tenso foi quando Iris perguntou a Marconi se era verdade que ele pretendia demolir as casas da Vila Mutirão. "Seriam as casas de Goiânia ou também das outras mais de 200 cidades que têm Vila Mutirão?", disse.
Marconi respondeu que as casas de placa de concreto construídas por Iris foram duramente criticadas pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante visita a Goiânia. "Não vamos demolir, mas dar a oportunidade para quem quiser substituir as placas por paredes de tijolos e telhas de barro", afirmou. O tucano disse ainda que o adversário construiu mil casas em Goiânia e 3 mil no interior do Estado, enquanto ele fez 186 mil moradias. Iris o criticou por não ter feito as 245 mil casas prometidas em campanha, para concluir: "Não venha agredir as famílias que têm tanto amor às suas casas. Cumpra sua promessa de campanha de construir 200 e tantas mil".
O bloco começou com a pergunta de Marconi sobre política de distribuição de renda e sobre a "porta de saída" das famílias beneficiadas por programas sociais. Iris respondeu enumerando as principais obras de infraestrutura de seus governos e se disse preocupado com a pesquisa que aponta que 162 mil jovens em Goiás estão fora da escola e sem trabalho. Marconi enfatizou os programas sociais criados em seu governo e prometeu ampliar o Renda Cidadã. Iris prometeu manter e ampliar o programa.
Marconi questionou Iris sobre um dos pontos em que ele é mais criticado: sua relação com o funcionalismo público. O peemedebista disse que colocou salários atrasados em seis meses em dia, durante seu primeiro governo, realizou concursos e que deixou a Prefeitura de Goiânia com 90% do funcionalismo público municipal integrados em sua campanha. "O adversário nunca apoiou funcionário público e deixou a Prefeitura com a Educação em uma greve de quatro meses". Iris respondeu que a acusação "não procede", que tem o apoio do Sindicato dos Trabalhadores na Educação (Sintego) e que propôs mínimo de R$ 1,4 mil para professores.
Na última pergunta do bloco, Iris perguntou a Marconi se é verdade que ele buscará a iniciativa privada para obras de saneamento básico. O tucano disse que foi quem mais investiu na área, com a construção de 51 Estações de Tratamento de Esgoto (ETE) no Estado e 5 mil quilômetros de rede de coleta de esgoto e prometeu construir mais. "O candidato não construiu um palmo de esgoto em Goiânia. Disse que o Rio Meia Ponte teria as águas mais puras, mas deixou a ETE de Goiânia pela metade e o Meia Ponte poluído", atacou Iris. Marconi respondeu que o opositor não fez nem metade das rodovias que diz ter construído, assim como em relação a outras obras.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nas considerações finais, Iris e Marconi agradeceram os votos recebidos no primeiro turno, pediram apoio nas urnas no domingo e teceram mais críticas aos adversários.
Iris, que disse que fez de sua vida pública um "sacerdócio", destacou sua experiência política, lembrando que foi governador de Goiás por duas vezes, ministro da Justiça e da Agricultura e senador. O candidato também cutucou o adversário ao dizer que ele não cumpriu promessas e voltou a prometer fazer a melhor administração de sua vida.
Marconi aproveitou para criticar ataques na campanha, condenando os panfletos apócrifos, a compra de votos, e o uso das máquinas federal e estadual. Ele também comparou os estilos administrativos de cada um, deu uma atenção especial ao Dia do Servidor Público, pediu desculpas por ter apoiado Alcides Rodrigues (PP) em 2006 e reeditou a fala de Iris. "Quero fazer não o melhor governo da minha vida, mas de todos os tempos para os goianos."
BASTIDORES
A mulher de Marconi, Valéria Perillo, chegou à OJC reclamando de dores no corpo. Disse que havia viajado a sete cidades e que não via a hora de terminar a campanha.
Os dois candidatos deixaram sobre a mesa pastas com divisão por temas. Iris nem abriu. Marconi lia e fazia anotações a todo momento. No primeiro intervalo, a assessoria do peemedebista levou a pasta e deixou apenas uma folha.
No segundo intervalo, quando o mediador avisou do tempo para as considerações finais, Iris se surpreendeu: "Já acabou? Não tem mais perguntas? Mas já?". Aliás, o peemedebista só ultrapassou o tempo-limite uma vez.
Antes do início, o mediador Fábio William perguntou se os candidatos preferiam ficar sentados ou de pé. Ambos defenderam que ficassem de pé. E não sentaram nos intervalos. Ao fim, ele parabenizou os dois pelo "alto nível".
Em sala reservada, Iris tinha a companhia de Vanderlan Cardoso, Paulo Garcia e as duas filhas. Marconi estava com Giuseppe Vecci, marqueteiros, a mulher e as filhas. A mulher de Paulo Garcia, Tereza, desejou boa sorte a Iris pelo telefone.
Na chegada ao estúdio, Iris Rezende e Marconi Perillo conversaram sobre o peso da reta final. "Está terminando, né?", disse Iris. "É, graças a Deus. Muito cansativo."
No clima quente do fim do 1º bloco, Marconi reclamou no intervalo que havia sido "citado nominalmente" e pediu direito de resposta. Iris rebateu: "Uai, mas vou citar quem? O debate é com o senhor". Marconi acabou desistindo da solicitação.
Cada candidato podia receber um assessor no intervalo. Thiago Camargo esteve com Iris. Marconi ouviu as dicas de Paulo de Tarso e Carlos Maranhão, um em cada intervalo. No primeiro, Paulo se atrasou, entrou correndo e tropeçou nos fios.
No segundo intervalo, em tom mais ameno, Iris e Marconi trocaram sorrisos quando o tucano comentou que os assessores entravam dizendo a mesma coisa. "Eles falam pra mim que estou muito bem. E os seus dizem o mesmo", brincou.
Na despedida, Marconi cumprimentou Iris e brincou: "Espero que este seja o último debate de que participamos juntos". O peemedebista deu uma gargalhada e desejou boa sorte no domingo. Aos jornalistas, o tucano repetiu.
Plateia ‘participa’ enérgica
Lídia Borges
Foi no último debate realizado nestas eleições entre os governadoriáveis Iris Rezende (PMDB) e Marconi Perillo (PSDB) que a plateia presente na Organização Jaime Câmara (OJC) mais se manifestou. Do lado direito do anfiteatro, assessores e convidados de Marconi quase lotaram as cadeiras e reagiam enérgica e ironicamente contra as respostas do peemedebista. Do lado esquerdo, poucos convidados de Iris compareceram, mas tentaram rebater a participação adversária, com aplausos ao aliado.
Do lado de fora, a Polícia Militar preparou oito viaturas e 20 PMs para garantir a segurança em frente à OJC, mas a concentração de cabos eleitorais foi pequena (a grande maioria tucana), diferente do primeiro debate, em que a rua foi tomada por militantes e carros de som.