terça-feira, 19 de outubro de 2010

Marconi Perillo: debate de propostas!





Política & Justiça
Marconi defende propostas, Iris ataca
Candidato do PMDB perde o controle em diversos momentos do confronto. Tucano prega discussão de alto nível
 
Alexandre Bittencourt e José Barbacena
 
No primeiro embate entre os candidatos a governador Marconi Perillo (PSDB) e Iris Rezende (PMDB) no segundo turno, candidatos repetiram estratégias semelhantes às adotadas no primeiro turno. Marconi, sereno e com discurso propositivo, fez bem o papel do líder, apresentando compromissos com o desenvolvimento do Estado e respondendo ataques com elegância e serenidade.
 
Iris, apesar da troca de marqueteiro – Jorcelino Braga, ex-secretário da Fazenda e homem forte do governo Alcides é o seu novo guru –, continuou prolixo, com muita dificuldade para concluir seu raciocínio no tempo estipulado pela organização do debate, e extremamente irascível quando confrontado sobre temas como funcionalismo público e obras inacabadas.
 
O debate, com dois blocos de perguntas diretas entre os candidatos, foi quente, e mostrou que Iris ainda não consegue se controlar quando é perguntado sobre o famoso decretão, no seu primeiro governo, que demitiu mais de dois milhares de servidores públicos.
 
O peemedebista até tentou, mas não conseguiu tirar Marconi do sério em nenhum momento. O candidato provou o adversário citando o Centro Cultural Oscar Niemeyer como obra inacabada e tentando responsabilizar o tucano pela demolição do Estádio Olímpico. Em alguns momentos, sem querer, Iris acabou criticando seu novíssimo aliado, o governador Alcides Rodrigues (PP).
 
 
Primeiro bloco

Candidatos falam sobre educação e distribuição de renda
 
Iris Rezende (PMDB), como sempre demonstrando cansaço, abriu o bloco repetindo o mantra do seu desejo de se colocar a serviço dos goianos. Pela primeira vez, o peemedebista não estourou o tempo, mas também não conseguiu desenvolver seu raciocínio. Marconi, sereno, manteve a postura de líder com a qual atravessou todo o primeiro turno e começou agradecendo aos eleitores pelos mais de 1, 3 milhão de votos. O tucano falou do seu compromisso de promover o desenvolvimento sustentável do Estado, com distribuição de renda.
 
Iris fez a primeira pergunta, questionando-o sobre debate em 1998 quando teria perguntando o peemedebista sobre os altos impostos cobrados em Goiás. Marconi lembrou que o Brasil tem uma das maiores cargas tributárias do mundo, mas que, em seu governo, promoveu a maior desoneração de impostos da História do Estado, reduzindo impostos de mais de 43 cadeias produtivas. Marconi lembrou ainda que, mesmo cobrando menos impostos, seus governos promoveram a quitação de dívidas de governos anteriores no montante de R$ 5 bilhões, de de 3 folhas em atraso.
 
Marconi questionou Iris pelo fato do seu plano de governo não mencionar a continuação do Renda Cidadã. O candidato do PMDB disse por alto que daria continuação ao programa, mas logo mudou de assunto, falando de propostas para saúde e educação. Como sempre, não conseguiu responder no tempo estabelecido pelos organizadores do debate. Na réplica, Marconi falou de seu compromisso de fazer com o que o índice de Desenvolvimento Humano de Goiás, até o final do seu governo, seja um dos três maiores do Brasil.
 
Na segunda oportunidade de pergunta, Iris questionou Marconi sobre seu compromisso de implantar escola em tempo integral. O candidato do PSDB citou várias propostas para a área de educação, como colégios com cursos tecnológicos, consolidação da Universidade Estadual de Goiás, Creches 24 horas, Bolsa Universitária e apoio à Universidade Federal de Goiás. Marconi reforçou seu compromisso de garantir escola de tempo integral para todos os municípios goianos. Na réplica, Iris falou da experiência com escolas com aulas no contraturno quando esteve à frente da Prefeitura de Goiânia. Marconi, na tréplica, mencionou a valorização dos servidores da educação nos seus governos, com importantes ganhos salariais, investimentos na formação dos professores e melhores condições de trabalho.
 
O tucano questionou o peemedebista sobre projeto de desenvolvimento sustentável para o Estado. Iris se estendeu demais na resposta, falando sempre de forma evasiva. Passou boa parte do tempo falando de construção de parques em Goiânia quando governou a cidade. Na réplica, Marconi falou da necessidade de mudanças culturais que privilegiem a sustentabilidade e de adoção de parâmetros de consumo consciente.
 
Segundo bloco

Transporte coletivo de Goiânia tira Iris do sério
 
O jornalista Oloares Ferreira perguntou o candidato peemedebista sobre a ausência de propostas para a população carcerária – mais de 10 mil detentos em todo o Estado. Evitando o tema, Iris falou em aumento do efetivo das polícias Civil e Militar e se comprometeu a equipar melhor essas corporações. No comentário, Marconi mostrou conhecimento do assunto, e criticou o atual governo de Goiás por ter acabado com a Agência Prisional e com a Secretaria da Justiça. Marconi também reclamou do fundo nacional criado para financiar políticas carcerárias em todo o Brasil. Iris se limitou a defender Alcides sem, mais uma vez, tocar na questão carcerária.
 
A jornalista Vanessa Lima perguntou Marconi sobre a sua motivação para um novo mandato. Sereno, o candidato do PSDB falou da experiência positiva das suas gestões anteriores. Marconi acrescentou ainda que, diante das frustrações causadas pela gestão de Alcides Rodrigues, cabia-lhe recolocar Goiás nos trilhos do desenvolvimento. Marconi lembrou ainda que estudos sérios realizados pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), ligada à USP, comprovou a farsa do déficit criada pelo governo Alcides para tentar justificar suas falhas políticas e administrativas. Marconi também pediu desculpas aos goianos por ter ajudado a eleger Alcides que decepcionou a todos. “Se quer conhecer alguém, dê-lhe poder”, analisou.
 
A jornalista Nilce Moretto questionou Iris sobre prioridades de investimento na Capital. O peemeedebista falou de investimentos em saneamento básico e no Eixo Anhanguera, que segundo ele, estaria sucateado e seria o único ponto de estrangulamento no transporte coletivo da Capital. Aliado recente de Alcides, Iris nem se deu conta que ao criticar a atual gestão da linha sob comando estatal estava estocando seu novo companheiro.
 
No comentário, Marconi falou da importância de investimentos em saneamento básico, mas destacou a importância de fazer compromissos com responsabilidade. O tucano lembrou que o ex-prefeito de Goiânia se comprometeu a resolver os problemas do transporte coletivo em seis meses, mas que não o fez. Transtornado, o peemeedebista negou que o transporte na Capital esteja caótica, e culpou, novamente, o governo de Goiás por todos os problemas. “O problema todo é no eixão”, bradou.
 
A última pergunta do bloco foi feita pela jornalista Manuela Queiroz, que quis saber como Marconi contemplaria em seu governo o prefeito de Itumbiara, José Gomes da Rocha, mantendo o compromisso de não aproveitar em sua equipe “fichas-sujas”. Marconi lembrou que presidiu a sessão histórica do Senado em que o Ficha Limpa foi aprovado e que o seu compromisso é com o município de Itumbiara. O tucano elogiou o prefeito José Gomes, que tem uma das maiores aprovações populares do Brasil. O senador aproveitou a deixa para lembrar que seu adversário fez o compromisso de resolver o problema do transporte coletivo em seis meses.
 
Iris ficou ainda mais irritado e acusou Marconi de não ter viabilizado obras como metrô em Goiânia e trem-bala entre a capital goiana e Brasília. Marconi destacou o quanto Iris estava alterado, e explicou que a proposta de trem-bala era do ex-governador do DF Joaquim Roriz e que o metrô não se viabilizou por conta da falta de investimentos do governo federal.
 
Terceiro bloco
 
Iris se irrita quando questionado sobre relacionamento com servidores públicos
 
Marconi pediu a Iris para enumerar as iniciativas da Prefeitura de Goiânia, sob a gestão de Iris, para recuperar usuários de crack. Ele também quis saber o que o candidato pensa sobre o assunto. Iris demonstrou despreparo, e não soube dar uma resposta objetiva. Mencionou o trabalho de assistentes sociais e disse que criou a escola em tempo integral também para reduzir o problema.
 
O candidato do PSDB mostrou segurança ao apresentar compromissos para agir em três frentes: prevenção, combate vigoroso ao tráfico, e criação do Centro de Recuperação de Dependentes Químicos (Credeq), com o mesmo padrão de excelência na gestão adotado pelo Crer, para atender aqueles que sucumbiram ao vício.
 
Iris tentou colocar Marconi em uma situação difícil, ao afirmar que o tucano havia investido pouco em pavimentação de rodovias. Sereno, o candidato do PSDB lembrou que respeitava seu adversário, e apresentou números para rebater as críticas.
 
Marconi lembrou que as estradas construídas na gestão do PMDB tiveram alto custo, e baixa qualidade. “Era o chamado asfalto casca de ovo, sem acostamento”. Marconi lembrou que teve de recuperar 1,5 mil quilômetros de estradas, construídas na gestão anterior e de concluir mais de 80 estradas cujas obras estavam paralisadas.
 
O candidato do PSDB tocou em um ponto nevrálgico para o peemedebista quando questionou sobre o seu relacionamento com o servidor público. Marconi lembrou de 21 mil demissões promovidas por Iris em um único decreto. Transtornado, Iris mais uma vez responsabilizou os demitidos – segundo eles, eram fantasmas ou filhos de figurões. O áudio de Iris teve de ser cortado porque ele não conseguiu, mais uma vez, respeitar o tempo estipulado.
 
Marconi lembrou que sempre respeitou o servidor público, e que não houve panelinhas em seu governo. “Minha mulher não é política, meu irmão não participou do governo.”
 
Iris não conseguiu fazer a última pergunta do bloco, pois, mais uma vez, extrapolou o tempo. Marconi lembrou que assumiu o governo com mais de mil obras paralisadas, deixadas por seu antecessor. O tucano também citou várias obras abandonadas por Iris porque foram iniciadas por adversários: ele citou o Parque da Criança e a projeto de irrigação em Alto Paraíso.
 
 
Marconi ganhou indecisos
 
Alexandre Bittencourt
 
Pela primeira vez nesta eleição aconteceu um debate de verdade. Frente a frente, sem intermediários figurantes da grande disputa. E deu Marconi Perillo com larga margem. Convenhamos, Iris Rezende já não tem pique para encarar Marconi num debate como o da Record. Se fosse como no 1º turno, com candidatos em excesso, passaria, como passou, desapercebida a enorme diferença de dialética entre eles. No mano a mano, Iris perdeu. Se um debate como o de ontem tivesse acontecido no 1º turno, certamente não haveria este turno derradeiro. Marconi teria vencido a eleição com sobras. Ontem, ele ganhou a maioria dos eleitores que ainda não tinha escolhido candidato.
 
Não houve um só momento em que o peemedebista conseguiu deixar o tucano em condição difícil. Mesmo nas estocadas que deu, e foram muitas, Iris deixou válvulas de escape. Marconi as aproveitou para inverter as condições. Foi assim durante quase todo o tempo.
 
Uma estratégia do tucano ficou clara: ele, em duas oportunidades, evitou o questionamento de assuntos regionais e levou o debate para temas nacionais. Tentou esfriar o debate. Iris não entendeu, aparentemente, a intenção de Marconi, e acabou caindo em todas as questões repicladas.
 
O grande momento das armadilhas atiradas por Marconi a Iris foi o famoso e já lendário decreto das demissões de funcionários comissionados de 1983, no início do primeiro governo do peemedebista. Marconi perguntou sobre o fato de Iris ter demitido “ 50 mil servidores públicos”. Iris respondeu sem pensar, sob fúria: “Não foram 50 mil. Foram 21 mil” funcionários. Por incrível que pareça, historicamente jamais foi admitida a quantidade de servidores demitidos pelo decreto de Iris naquele início de 1983. Ontem, Iris deu os números definitivos: foram 21 mil funcionários demitidos.
 
De maneira geral, fora esses momentos de perspicácia, Marconi Perillo reinou no debate como se não houvesse adversário. Foi um passeio. Nada tão contundente que tenha criado um fato novo. Na realidade, fora as paixões da militância dos dois candidatos, Marconi deve comemorar seu desempenho no debate de ontem. Isso significa uma coisa: que ele deve redobrar a atenção aos próximos debates. Certamente, Iris não será pior do que ontem.

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