sábado, 23 de outubro de 2010

Goiás: sob censura!!





Política & Justiça  

Censura a Beringhs vai parar na Justiça
Coligação Goiás Quer Mais entra com pedido de investigação judicial sobre o polêmico caso que envolve a Agecom  

Alexandre Bittencourt e José Barbacena    

O caso explícito de censura na emissora estatal TBC, a mando do ex-secretário da Fazenda e marqueteiro da campanha de Iris Rezende, Jorcelino Braga que resultou no pedido de demissão, ao vivo, do jornalista Paulo Beringhs, foi parar na Justiça. Segundo o presidente do diretório regional do PSDB, Daniel Goulart, a coligação Goiás Quer Mais, composta também pelo seu partido, se viu forçada a entrar na Justiça com um pedido de investigação judicial. “O que fizeram é muito grave. A TBC é uma emissora pública, que tem de se pautar pela isenção e pela ética. Não pode se transformar em um joguete na mão de pessoas inescrupulosas”, afirmou.

Segundo Daniel, tão ou mais grave que a censura em uma TV estatal, foi saber de quem partiu a determinação para que não fosse realizada entrevista com o senador Marconi Perillo, candidato ao governo de Goiás pelo PSDB. “Jorcelino Braga, ex-secretário da Fazenda continua governando o Estado de fato nesse melancólico apagar das luzes do governo Alcides Rodrigues (PP). O jornalista Paulo Beringhs que, ao contrário de Braga, é um homem sério e respeitado, foi enfático ao dizer ao vivo que o veto à participação de Marconi partiu de Braga”, alfinetou.  

Na ação proposta pelo PSDB, figuram como réus o presidente da Agência Goiana de Comunicação, à qual à TBC é subordinada, Marcus Vinícius de Faria Felipe, o candidato do PMDB ao governo de Goiás, Iris Rezende, e seu vice, Marcelo Melo (também peemedebista).
Foi anexada a transcrição do momento em que Paulo Beringhs, não aguentando mais a pressão contra si e contra sua equipe, pediu demissão no ar, compartilhando com os goianos a sua indignação.   

Paulo Beringhs, um dos jornalistas mais respeitados de Goiás, anunciou seu desligamento do programa publicamente na noite de quarta-feira, quando apresentava jornal da TBC ao vivo. O motivo de sua indignação fora a proibição de realizar entrevista com o senador-candidato Marconi Perillo. 

A equipe de Beringhs, depois de vários convites ao candidato do PMDB, Iris Rezende, jamais respondidos, resolveu mais uma vez convidar Marconi para uma entrevista, que aceitou de pronto. Ao Diário da Manhã, o jornalista relatou que foi pressionado pelo presidente da Agecom a anunciar, no ar, que a entrevista com Marconi seria cancelada, e ainda afirmou que, a partir daquele dia, ele passaria a ter de dividir a bancada do telejornal com jornalistas de sua estrita confiança.  

A petição apresentada pela assessoria jurídica do PSDB, solicita que seja investigado o cerceamento do direito do candidato Marconi Perillo expor suas ideias em uma emissora pública. Também é pedido cancelamento do registro ou do diploma dos candidatos beneficiados com o gesto arbitrário, e, para o presidente da Agecom, que seja declarada inelegibilidade.  


Sindicato dos jornalistas repudia ato e decide investigar mordaça  

Em nota oficial, o Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado lamentou o episódio envolvendo o jornalista Paulo Beringhs e a Agecom. O texto, assinado pelo presidente do sindicato, Cláudio Curado, informa que será criada uma comissão independente para avaliar o caso de censura. “O Sindicato repudia qualquer tipo de censura e, igualmente, repudia também a criação e utilização de fatos com interesses eleitoreiros. Para esclarecer a sociedade o Sindicato dos Jornalistas vai criar uma comissão independente para averiguar o acontecimento”, diz a nota.    

O sindicato afirma também que pedir informações sobre a legalidade e o custo para o povo goiano dos diversos contratos de terceirização da programação da TV Brasil Central. A instituição informa ainda que a TBC é um patrimônio histórico que deve servir o povo goiano. E não pode ser apenas um instrumento para o grupo político dominante. Em reportagem publicada na edição de ontem do Diário da Manhã, políticos, jornalistas e membros da sociedade civil criticaram a censura imposta a Paulo Beringhs.  

Deputados e vereadores lembraram a história de credibilidade e competência do jornalista e lamentaram o episódio ocorrido na quarta-feira. O presidente da Associação Goiana de Imprensa (AGI), Valterli Guedes, disse que a entidade “será sempre contrária a qualquer tipo de censura, ainda mais quando se trata de um assunto político e que seja de interesse da população”.  


Perseguição de Braga era recorrente, afirma apresentador  

Em entrevista concedida à jornalista Fabiana Pulcineli, de O Popular, e publicada no Blog da Fabiana, Paulo Berignhs afirma que não é funcionário da TBC e que tem um contrato de prestação de serviços. Ele diz que não fará mais nenhum programa e que se recusa a trabalhar com este “tipo de gente”. “Eu vivenciei muita coisa. Fui levando em banho-maria, mas chega um momento em que não dá”, declara.  

Na entrevista, o jornalista explica sua filiação ao PSDB, que foi divulgada na internet. “Olha, isso é antigo. Me filiaram no PSDB. Foi um convite de Nion e eu fiquei sem graça de não aceitar à época. Depois pedi desfiliação, ainda na época do Faleiros (Antonio Faleiros, ex-presidente do diretório estadual)”, justifica. Fabiana pergunta se Beringhs continua filiado ao partido tucano. O jornalista diz que já pediu sua desfiliação junto ao diretório. “Eu tenho até que ver isso. Mas eu pedi desfiliação. Eu nem sei onde é o diretório do partido. Preciso checar, mas acho que tenho esse documento de desfiliação. Pedi para sair em 2005, eu acho”, disse ao Blog da Fabiana.   

Paulo Beringhs disse que o episódio de quarta-feira não foi a primeira vez em que foi censurado por Jorcelino Braga. “Dois anos atrás, ele reclamou e pediu minha cabeça por uma entrevista que fiz com Marconi na TV Goiânia. Nem era na TBC. Em outra ocasião, Marconi deu entrevista na TV Fonte da Vida, para o Luiz Gama, e houve uma fofoca que ele tinha falado mal do governo no meu programa. Fofoca. Então por duas ocasiões, Braga já havia tentado me prejudicar, usando o aliado dele, Marcus Vinicius”. revelou.   


Ricardo Setti, da Veja, diz que Agecom deu “mãozinha” ao “cacique“ Iris  


O consagrado jornalista Ricardo Setti, blogueiro da revista Veja, também emitiu o seu parecer a respeito do escandaloso caso de censura contra contra o jornalista Paulo Beringhs. A exemplo do seu colega de empresa, o jornalista Augusto Nunes, devidamente citado no post, Setti condena o “cacique” Iris pela “mãozinha” que pediu à Agecom para se eleger. E repetiu a frase dita por Beringhs ao jornalista Cléber Ferreira, já imortalizada: “Garanta o seu emprego que eu garanto a minha dignidade”. Veja o post na íntegra.  


“O jornalista que não se rendeu à censura e se demitiu ao vivoNum momento em que os críticos — e os inimigos — da mídia tanto falam em “mídia vendida” e “jornalistas comprados” no âmbito da campanha eleitoral mais virulenta desde a volta das eleições diretas para a Presidência, este blog, mesmo com atraso, quer prestar uma homenagem a um bravo jornalista, o goiano Paulo Beringhs.  

 Conforme conta com detalhes o blog de Augusto Nunes, ele denunciou ao vivo a ressurreição da censura na TV Brasil Central, controlada pelo governo estadual. Atendendo a uma ordem do governador Alcides Rodrigues (PP), a direção da emissora comunicara ao jornalista, pouco antes, que a entrevista previamente agendada com o senador e candidato ao governo pelo PSDB, Marconi Perillo, marcada para quinta-feira, deveria ser cancelada.  

(Um parêntese: o governador Rodrigues era um zé-ninguém que Perillo, em 2002, tornou seu vice-governador, assumiu no início de 2006 para que Perillo concorresse ao Senado, foi reeleito no mesmo ano para o governo goiano e, depois, apunhalou seu benfeitor político — agora apoia o candidato do presidente Lula, Iris Rezende, principal adversário do senador no Estado).  

No ar, o jornalista identificou os responsáveis pelo atentado à liberdade de expressão, cometido para dar uma mãozinha à candidatura do velho cacique Iris Rezende (PMDB), pediu demissão e disse ao diretor da emissora, sentado à sua direita, a grande frase:
– Garanta seu emprego que eu garanto a minha dignidade.  


Escândalo  

Veja nota divulgada pelo sindicato ontem  

O Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de Goiás, entidade que luta há mais de 50 anos em defesa do jornalismo, dos jornalistas e da democracia na comunicação, vem a público lamentar o recente episódio envolvendo a Agência Goiana de Comunicação e o jornalista Paulo Beringhs.  

 O sindicato repudia qualquer tipo de censura e, igualmente, repudia também a criação e utilização de fatos com interesses eleitoreiros. Para esclarecer a sociedade o Sindicato dos Jornalistas vai criar uma comissão independente para averiguar o acontecimento.  

A comissão vai também solicitar informações sobre a legalidade e o custo para o povo goiano dos diversos contratos de terceirização da programação da TV Brasil Central. A emissora, com um dos melhores quadros de jornalistas do Estado, não pode viver à mercê de programas, alguns de duvidosa qualidade, distantes dos interesses da sociedade.  

Na oportunidade, o Sindicato dos Jornalistas cobra dos candidatos a governador de Goiás um posicionamento em relação à TV Brasil Central, que deve assumir um caráter eminentemente público. A TV e emissoras de rádio Brasil Central são um patrimônio histórico do povo goiano e a ele deve servir, não podendo mais ser apenas instrumento para o grupo político dominante.

Goiânia, 22 de outubro de 2010
Cláudio Curado Neto, presidente

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