sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Batista Custódio





Opinião

Os sinos da hora final - Parte 3

Batista Custódio
01 de Outubro de 2010

O candidato do PMDB a governador já foi a maior novidade da popularidade na política nos feirões de votos, e está, atualmente, expondo em sua banca mercadoria que já saiu de linha na preferência do eleitorado nas vitrines de conhecimento nos atacados na novidade. Líder não é mais o varejo das ideias que se foram embora no antigo. Os jovens filhos dos fazendeiros estão universitários. As mulheres que apanhavam dos maridos nas cozinhas goianas trouxeram as salas das esposas que vivem em Paris. A sociedade está mundialmente na internet.

Urge o Iris Rezende sair do seu Machado e ir para a ferramenta dos livros. Não pode insistir em viajar na mentalidade fazendeira nos roçados da devastação, não apenas do meio ambiente, mas no ambiente da cabeça. Iris foi o grande arrastador de votos em Goiás e está labutando para ser arrastado pelo eleitorado do Lula. E sem perceber que o pregão do segundo turno é subliminarmente reconhecer que perdeu as ofertas do primeiro turno no mercado das urnas. Isso é burrice de marqueteiro que não consegue unir a teoria à prática e não possui a clarividência da percepção que distingue a distância infinita que há da promoção entre a venda de eletrodomésticos e a de gente. Eletrodoméstico é um objeto. Candidato é uma pessoa. Iris não está sendo oferecido nessa eleição com a matéria-prima que legitima o seu carisma extraordinário, a sua energia do trabalho realizador que o envolve com a incansabilidade da satisfação que contagia o serviço no prazer dos desejos. O grande líder está sendo anunciado com as qualidades postiças às vontades pelos que são eleitos para mandatos populares com os votos do Iris. Não fosse o poder eleitoral seu, o Mauro Miranda jamais teria sido senador, o Otoniel nunca chegaria ao Senado, e Iris nem sairia da candidatura para deputado federal sobrando votos para a legenda. O que está dificultando a vitória não sobe dos assoalhados no povo, mas desce do tablado de seus palanques.

A família de Filostro e Genoveva deu dois gênios: Orlando Alves Carneiro, empresário, e Iris Rezende Machado, político. Os demais são gado comum no campo dos dois superdotados. O povo continua amando o Iris e deixou de gostar do irismo. O irismo do Iris não é o irismo dos seus. Do jeito que o amigo do governador disse-me que “o Alcides é refém do Braga”, do mesmo modo a amizade fala-me que “o Iris está refém da familiocracia e da amigocracia”.

Todas as culpas do seu desgaste político estão é no Iris. A causa é de ele ser um fugitivo dos livros. Se a fenomenal percepção intuitiva do Iris Rezende viesse a ser enriquecida pela cultura literária de Irapuan Costa Júnior ou tivesse sido lapidada pela erudição intelectual de Henrique Santillo, seria o líder preparado para já estar na História como o primeiro presidente da República goiano.

O Iris e eu começamos juntos no mesmo tempo, ambos vindos da roça, ele para a política, eu para o jornalismo. O jornalista correndo atrás do conhecimento. O político correndo para trás do conhecimento. Esse foi o seu desfoco no sonho que o trouxe. Permaneceu parado no feitio político do coronelismo colonial e não teve nos olhos a visão dos livros. Pegou-lhe a cegueira da cultura do conservadorismo e não enxergou os tempos da modernidade já raiados lá nos dias dos comícios da sua primeira eleição para governador de Goiás.

O mote que o elegera é o mote que está derrotando-o agora. Os conchavos do realinhamento de adversários de formação ideológica contrária na base eleitoral causam desgaste para as duas frentes.

O eleitorado do Iris é conservador. Os eleitores do Lula são progressistas. A aliança dos dois líderes contraria os radicais. Tira iristas do Iris. Tira lulistas do Lula. Há, sobretudo, a agravante do maior sectarismo ideológico-partidário em Goiás. A parceria branca Iris-Alcides no lançamento da candidatura de Vanderlan a fim de abrir fenda para a vitória de Marconi no primeiro turno cair para o segundo turno na controvérsia de outro mote. Iris é de origem pessedista. Alcides é originário do udenismo. E pessedista não vota em udenista. E udenista não vota em pessedista.

Caso a eleição passe impossivelmente para o segundo turno, será benéfica para o candidato que sair na frente no primeiro turno, pois uns 10% dos eleitores do segundo e do terceiro colocados migram para o primeiro mais votado, não só é a tendência natural, mas principalmente agora que o povo está com as emoções esfriadas com a classe política, e não sem razão.

Cadê o Iris que era ele? O Iris não nomeava parentes. O Iris que era um peregrino sacerdócio no romantismo na política e foi se escorregando nos resvalados para o materialismo. O Iris que condenava quem ficasse rico no exercício dos mandatos populares. Todos aqueles Iris saíram mudados das neuroses da cassação do mandato da Prefeitura de Goiânia e do exílio nos 10 anos da suspensão dos seus direitos políticos. Desde o seu primeiro governo, surgiu-lhe uma rejeição psicológica pelos que lhe foram solidários e uma atração inconsciente pelos que lhe bateram. É chamada síndrome de Estocolmo: a vítima apaixona-se pelo seu carrasco.

O meu compadre Iris Rezende Machado precisa fazer uma autocrítica e tirar as cores que não são suas e puseram nele, para que retorne o brilho do verniz do seu mundo interior e volte a refletir a transludência do seu carisma enlouquecedor no emocional coletivo. Viemos de muitos sofrimentos lado a lado na solidariedade recíproca: juntos, eu nas dores dele na política, ele nas minhas feridas no jornalismo. E sei que não fosse a falta que os livros lhe fazem, o Palácio das Esmeraldas não teria permitido o seu governo de ser a legenda do fechamento do Diário da Manhã que está escrita na História. Nem eu teria carregado nas costas a pecha da sentença da falência durante 25 anos, calado, e sabendo que não era falido, o que a própria Justiça reconheceu recentemente. E quem irá restaurar as minhas dores íntimas durante esse quarto de século? Dias atrás fui ao cardiologista João Batista, que diagnosticou uma disritmia cardíaca. Expliquei que as falhas das batidas do coração não são sintoma de disritmia cardíaca. É que trago, calado, tantas dores no peito, que o coração pula algumas para aguentar.

Quando o Iris ler o livro SagaSonho, verá o Batista Custódio que nunca enxergou em mim. Um abraço, compadre.

Os tempos, não os rotulados de Tempo Novo e de Tempo Velho, trouxeram a liderança popular de Iris Rezende para Marconi Perillo. Os institutos de pesquisa de tendência de votos – Ibope, Serpes, Ecope e Grupom – apontam a vitória tanto no primeiro turno quanto no segundo turno. O fato, que parece-me mais sintomático e dá veracidade ao quadro da realidade e ao índice registrado por todos os levantamentos, é que o concorrente Fortiori, de Gean Carvalho, coparente de Maguito Vilela, não divulgou uma só pesquisa eleitoral na campanha atual.

O mote que empurrou a vitória para Marconi Perillo é o bem que está em seu coração na luta contra o mal no sentimento do governo de Alcides Rodrigues. E o ódio sempre perde para o amor. Marconi prefere ganhar o governo do Estado na humildade a ganhá-lo na soberba. O sofrimento destrói os fracos e engrandece os fortes. Marconi retemperou-se da bondade integral no padecimento absoluto das traições recebidas dos companheiros que pôs no governo e voltaram-se contra ele na ingratidão do governador, de fazer Calabar se revirar no túmulo de inveja do Alcides.

O meu compadre Marconi Perillo gosta e o compadre Iris Rezende não tem boa vontade com a imprensa formadora de opinião. O primeiro compadre, padrinho de João do Sonho, sabe que se fizer como o segundo compadre, padrinho do Fábio Nasser, ficará sem ver esse compadre nos quatro anos que estiver no Palácio das Esmeraldas.

Se houver espaço para o ódio no seu mandato, o seu governo não me caberá.

Se não nomear para todos os escalões da sua administração o maior expoente de competência específica na formação profissional para comandar e não der autonomia para o comandante formar a diretoria, ouvirá de mim a voz do protesto ao amadorismo do compadrismo que debilitou a Celg, a Saneago, por culpa do despreparo dos governadores. Os ex-governadores não sabiam trocar uma lâmpada e assinavam no escuro o que lhes traziam. E não sabiam consertar uma torneira e assinavam no seco o que lhes traziam da Saneago. A administração pública precisa passar a ser dirigida por gestores profissionais. Se os próximos governadores prosseguirem iguais aos antecessores, irão ao Palácio das Esmeraldas, não para a reeleição, mas para a cadeia, caso continuem dentro dessa tecnocracia que, de técnicos, só têm o diploma. São desse tipo de economistas, de administradores de empresa e de cientistas políticos que se alojam nos comitês das campanhas eleitorais, preconcebidamente, movidos pela subintenção de criarem o compromisso serviçal da gratidão na fatura de emprego no próximo governo. Mas os governadores acham bom os elogios adulatórios. É bom mesmo nos céus do poder. Mas depois verão que são tão bons como seria assar a própria carne no fogo do Inferno.

(Se a administração estadual não passar a ser gerida por profissionais de alto porte em sua especialidade – como Ênio Branco para a Celg – e permanecer uma prelazia do padrinhado diplomado no decorebismo amnésico de criatividade, o futuro governador verá no jornalista do Diário da Manhã o jornalismo do Cinco de Março.

Goiás não é mais um Estado sertãozado, mas vários Estados com divisas demarcadas, entre si, nas fronteiras de crescimento econômico nas regiões. O mesmo acontece com Goiânia em relação aos bairros, que possuem vida própria de cidades agrupadas à Capital.

O Plano de Metas não pode continuar sendo inventado pelo tecnocratismo nos refrigerados gabinetes; ao contrário, os planejadores devem ir conhecer no local a vocação e o potencial de cada município; reunirem-se com empresários com aptidão para o setor industrial, e agrupá-los num empreendimento concernente com o potencial das riquezas naturais do lugar.

No caso de Piranhas, por exemplo, existem jazidas imensas de granito que está sendo extraído e exportado em pedras talhadas no abrupto. O governo precisa alocar recursos para que seja formada uma empresa composta de piranhenses, sem cor partidária, sem juros ao prazo de dez anos, mas com a exigência de que os impostos sejam pagos a partir do primeiro lote da produção, descontada uma taxa para que a empresa monte um polo de ensino técnico no município. E, assim por diante, com um projeto de expansão dentro do mesmo critério para todos os municípios goianos. O fato de não se condicionar a filiação partidária, amplia o prestígio político do governador. E com a implantação de centros de ensino profissionalizante, ao fim de quatro anos não haverá mais analfabetos em Goiás. Não bastasse esse gesto fundamental para libertar o povo do analfabetismo e do desemprego decorrente da falta de formação profissional, há outro de suma importância para o fortalecimento econômico de Goiás: a implantação de médias e pequenas empresas – com a exigência de que os donos sejam goianos – aumentará a arrecadação de impostos e criará as condições para que o nosso empresariado não continue sendo sangrado pelos grupos de fora, nacionais ou estrangeiros. A participação da Fieg-GO e da Acieg-GO no planejamento dessa meta governamental é obrigatória.)

O presidente Lula fez uma crítica à imprensa brasileira, publicada nos grandes jornais, que assino-a. Recortei-a e a transcrevo por retratar o que penso:

“A imprensa brasileira deveria assumir categoricamente que ela tem um candidato e tem um partido, que falasse. Seria mais simples, seria mais fácil. O que não dá é para as pessoas ficarem vendendo uma neutralidade disfarçada”, afirmou o presidente da República. Questionado sobre os ataques feitos anteriormente à imprensa, Lula disse duvidar “que exista um país na face da terra com mais liberdade de comunicação do que neste País, da parte do governo”.

“Agora a verdade é que nós temos nove ou dez famílias que dominam toda a comunicação desse País. A verdade é essa. A verdade é que você viaja pelo Brasil e você tem duas ou três famílias que são donas dos canais de televisão. E as mesmas são donas das rádios e as mesmas são donas dos jornais...”, afirmou o presidente. Para ele, "muita gente" não teria gostado do fato de seu governo ter distribuído os recursos para publicidade para imprensa entre vários Estados brasileiros. “Hoje, o jornalzinho do interior recebe uma parcela da publicidade do governo.”

Para Lula, “o que acontece muitas vezes é que uma crítica que você recebe é tida como democrática e uma crítica que você faz é tida como antidemocrática”. “Ou seja, é como se determinados setores da imprensa estivessem acima de Deus e ninguém pudesse ser criticado”, disse o presidente. No entendimento de Lula, “a posição de um presidente é tomada como ser humano, jornalista escreve como ser humano, juiz julga como ser humano. Ou seja, temos um padrão de comportamento e julgamento e, portanto, todos nós estamos à mercê da crítica”.

Defendo e sempre pratiquei a linha editorial, tanto no Cinco de Março quanto no Diário da Manhã, de me posicionar ao lado do melhor candidato a governador, por entender que é um dever cívico para com a opinião pública, embora eu mantenha espaço para todos os candidatos no jornal. Mesmo na ditadura, publiquei artigos assinados dizendo os nomes dos meus candidatos escolhidos, por ser contra o voto secreto.

A relação dos candidatos que votarei neles é esta:

Para governador, Marconi Perillo. O coração me pediu e a consciência aplaudiu.

Para o Senado, Pedro Wilson e Paulo Roberto Cunha. Doeu-me ver o Pedro exposto a ser barrado pelo TRE, por causa da suposição de que ele não era um ficha-limpa, logo ele, que honesto, e muitos ficha-suja estão candidato. Não apenas ponho a mão no fogo pelo caráter honrado do Pedro, mas ponho fogo nas duas mãos com a certeza de que o fogo, caloroso, vira luz. O Paulo é de uma bondade de fazer São Francisco votar nele no Céu, e eu votarei por que em todas as minhas quedas nas lutas do jornalismo independente doíam nele.

Para deputado federal, o meu voto continua cativo ao Ronaldo Caiado, não apenas por que foi o guerreiro que saltou para dentro da batalha que reergueu o Diário da Manhã, mas voto em sua coragem frontal ao perigo. Ronaldo não é desses deputados federais que apanham na cara de outro deputado federal na Câmara e choram, no caso dele, quem choraria seria a viúva do que bateu.

Para deputado estadual, irei às urnas com Martiniano Cavalcante. Não concordo com suas ideias fumegantes de radicalismo ideológico e ele também discorda da minha tolerância no pensamento articulador da paz onde há guerra. Martiniano, eleito, os corruptos não dormirão em paz durante o seu mandato de deputado. Ele será um marimbondo ferroando as abelhinhas que, na Assembleia Legislativa, fazem cera no mel dos corruptos.

Para presidente da República, não me foi fácil conciliar as determinações da consciência com as decisões do coração. Se votasse na Dilma Rousseff, ficaria com remorso de não haver votado no José Serra. Se votasse no Serra, haveria o remorso de não ter votado na Dilma. Nela, por ter sido torturada na ditadura e ser culta. Nele, por haver sido perseguido pela ditadura e ser culto. Os dois à esquerda nas ideias. Ambos de comprovada competência eficiente e cada qual parecer mais candidato do Lula que o outro.

Decidi votar no Lula.

NÃO fui eu quem escreveu OS SINOS DA HORA FINAL. Chegou-me escrito da alma.


Batista Custódio

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