sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Batista Custódio





Opinião

Os sinos da hora final - Parte I

Batista Custódio
01 de Outubro de 2010 

As inovações do Mundo acontecem todos os dias na evolução da Vida o tempo todo. Até a pedra parada debaixo da montanha não está paralisada em si, mas se move e transforma-se na metamorfose das matérias compostas na rocha, na areia, no silte e na argila, reciclam-se na simbiose e formam-se outros minerais.

É a Lei da Natureza.

Tudo é dinâmico e nada é estático nas dimensões do desconhecido nos mistérios do Universo e no desvendado dos fenômenos nos planos da Ciência na Terra.

É o Código Divino da Imortalidade.

Os seres vivos são as espécimes que se reproduzem nas sementes da flora e nas crias das raças na fauna. As coisas mortas são as espécies que se refazem na mutação das matérias.

É o Princípio na Dialética da Evolução.

As pessoas são as criaturas agentes e instrumentos com a função de acionar as etapas reformadoras na cadeia das conquistas do progresso para a Humanidade.

É o Preceito da Lógica na Unidade da Existência.

As partes dos ciclos de mudanças históricas estão no todo do moto-contínuo na evolução universal. O pó da estrada viaja no cosmos e a gota do mar salga as lágrimas. O atual, o outrora e o porvir estão juntos no conjunto do permanente do que se sabe e do que se ignora, seja no concebido nos dogmas da Gênese e do Apocalipse, ou do encontrado nas buscas da Ciência Clássica e nos avançados da Ciência Quântica. Nenhuma célula é isolada na matéria do corpo de todos os Mundos e se movimenta interligada à cadência do ritmo na Ordem da Criação Divina.

É o Determinismo na Regra da Harmonia Sideral que rege a essência na substância do transcendental entre o físico e o metafísico.

O Espaço-Tempo não é fracionado em passado, presente e futuro, como as quatro estações do ano, e os três estão todos um nos outros, todavia afinados como a terra, o fogo, a água e o ar nos quatro elementos da Natureza. O inteligível da junção unificada dessa identidade depende apenas do descortínio da clarividência da pessoa para se perceber que no hoje está a modernidade do futuro na França e está o atraso do passado em Goiás na mentalidade humana.

GOIÁS está como um pedaço do Mundo que girasse para trás no tempo estacionado na cabeça de vários líderes políticos e empresariais. Assiste-se à aberração de um choque de inversão do conhecimento. O retardo da tolice e a insanidade da loucura possuíram-se e desordenou-se a lucidez humana reguladora da ordem original na ética do evolucionismo.

Há acontecimentos contemporâneos indicadores da presença de dirigentes públicos e empresariais que se pressupõem com poderes superiores à vigência dos princípios éticos que simetrizam o eixo do Universo no movimento das transformações nas escalas progressivas da evolução constante. Mas há os sem-luz da visualidade sobrepujante ao temporal. Portadores da megalomania alucinante nos delírios da estupidez, param-se do lado de fora da realidade. Renegam os postulados fundamentais à expansão do desenvolvimento. Descem da viagem dos tempos e, ancorados no roteiro regressivo das épocas extintas, veem o Mundo pela bússola do umbigo. Refratários à atualidade, reluzem-se ao brilho de suas riquezas opacas ante o esplendor das fortunas internacionais que virão engoli-los, um a um, na marcha da globalização.

Sediados no amadorismo em seus dias finais, fincam marcos de domínios na ilha fluvial quando as enchentes nas cabeceiras do rio já estão vindo com a inundação do profissionalismo mais alta que os castelos do amadorismo. São os novos índios da ocupação colonial. Não se atentam para o imponderável iminente das mudanças históricas. Assossegam-se passivos e posudos, como se lhes fossem dotados no imaginário da fórmula mágica capaz de deter na inércia parasitária a dinâmica realizadora das decisões competitivas na natureza humana.

Há políticos e empresários dissonantes da modernização nos fundões do regionalismo e enfeitados de cosmopolitas no centro das decisões do Estado. São o sucesso por acidente. Não concebem nem anteveem a revolução social que reformula o ideário político, altera a concepção do fato econômico e muda o conceito da qualidade de vida, das aldeias às metrópoles, no andamento milenar das civilizações.

As nações de primeiro mundo já viram o potencial das riquezas naturais do Centro-Oeste, já estão vindo, já passam por cima dos goianos e já chegam para assumir a exploração das fontes de produção do crescimento econômico do Brasil Central. O progresso de Goiás está sendo instalado aqui de fora do Estado e vai ocupando o espaço dos empresários pioneiros, com a mesma voracidade da dominação das agropecuárias nas terras dos colonos que desbravaram os sertões.

O idealismo nos livros sempre vence o mentalizado da força braçal nos confrontos da adoção do feito no hodierno com a manutenção do desuso obrado na antiguidade.

O tempo está com pressa. Todas as épocas entraram umas dentro das outras com o acumulado do conhecimento e deram o salto urgente na transição para a sobrevivência de todos, ou não se salvará ninguém, se não viermos a ser um só povo na Terra.

A versatilidade mecanizada das máquinas deficitou o manejo utilitário das ferramentas. A criatividade corrigiu a fertilidade do solo e suplantou a rentabilidade das colheitas amadoras com a produtividade das safras profissionalizadas. Os chãos estéreis foram tratados com adubos químicos e responderam com multiplicidade enriquecida na variedade dos grãos nos plantios.

A exploração descomedida gerou resultados benéficos e efeitos nocivos que nos armazenaram nos estoques de Causa e Efeito. A porção do veneno está na dose do remédio. Os laboratórios do progresso semearam três mortos à vida.

A intoxicação dos alimentos.

A abertura de desertos nos solos arados dos sertões.

A pirataria no fato econômico mais valioso doravante para a captação de recursos externos, que são as supersafras de investimentos na flora e na fauna nativas no tesouro das terras preservadas nos sertões intocados no meio ambiente.

O sectarismo cega a razão.

Os radicais do progresso materialista e os fanatizados do ideologismo não percebem que os processos de desenvolvimento trazem em si as contradições que destroem os líderes que se desviam do desígnio das lutas e os movimentos que descumprem o objetivo das metas.

Atualmente, a conquista do patrimônio rural está povoada de controvérsias que conflitam a disparidade crescente entre a produção nos campos e o consumo nas cidades. De um lado, uma renca de fazendeiros trabalha o cultivo das glebas, desavisados que o perigo real armado contra o meio rural não é o MST, mas o agronegócio, se não organizarem suas fazendas como empresas. De outra parte, os redutos que lavouram no extremismo esquerdista não se atinam que a adversidade que terão à sua frente não será a irascividade dos latifundiários atuais, mas os focos de resistência dos sem-terra, senão nos assentados, nas levas de descendentes que passarão a pensar como proprietários e a agir como os donos dos minifúndios europeus. O tempo da modernidade agrícola que fez a partilha das terras italianas no passado é o tempo do arcaísmo ruralista que irá fazer para o futuro a divisão das terras brasileiras no presente.

O coletivo engoliu o pessoal.

Os fazendeiros trabalharam bem suas fazendas e trabalharam mal suas cabeças. Os que fazem a doutrina das invasões não fazem o ensino do aproveitamento produtivo nos assentamentos. Vive-se o sementeio das lutas de classes nos eitos da discórdia sustentada. A direita permanece montada no arreio dos equívocos e fincando as esporas na esquerda. A esquerda continua encabrestada nos enganos e batendo a chibata na direita. Os dois extremos cruzam a linha do equilíbrio à beira dos próprios abismos e resvalem-se juntos para o caos do favelamento dos campos, já se inflamando de novo êxodo rural por falta de uma política agrícola do governo.

A pobreza integral não é virtude e é dever, mas a riqueza absoluta não é nobre e é desonra. As plebes e as elites estão se aninhando no colo da política de assistencialismo social e cria-se a geração dos coitadinhos na distribuição dos auxílios esmolados para os pobres e gera-se a casta dos apaniguados nos benefícios lucrados pelos ricos na produção das benesses do consumismo alimentado pelo paternalismo oficial com as sobras dos impostos comidos pela corrupção no poder.

Estamos comprometidos no dilema moral do crescimento na produção do descartável nos utensílios e na indignidade.

Na aristocracia rural, a densidade populacional pede a fartura de alimentos, a tecnocracia ecológica pede a preservação, o Incra pisa no acelerador do desmatamento, o Ibama pisa no breque da depredação, e o agricultor sai debaixo de uma multa com outra multa por cima.

No elitismo empresarial urbano, os funcionários sofrem na servidão aos salários e os patrões padecem na escravidão ao patrimônio, os lucros concentram preocupações nas rendas dos ricos e centram angústias no repasse dos prejuízos aos pobres.

Muitos empreendedores triunfam por descuido do mérito concorrente. O fato de notórios deles estarem vencedores chega a ser uma afronta à Ciência na Física, pois evidencia-se que no vácuo do cérebro a Lei da Gravidade se anula no vazio das ideias desconectadas com o modernismo.

No universo político, os líderes caíram no buraco negro da abóbada mental. A democracia no Brasil virou um absorvente para tapar as menstruações das ditaduras do autoritarismo civil. A república patrocina o gigantismo do Estado brasileiro ao estilo imperial das monarquias, adicionadas com o despropósito institucional de que nos Três Poderes há muitos reis mandando e desmandando, como se a Nação fosse uma propriedade particular dos partidos políticos donatários do governo.

A chamada sociedade organizada está desorganizada. A pirâmide das entidades de classe está esteada em líderes que não representam o expoente do gabarito profissional da categoria, mas personificam a impudência do tráfico de influência a serviço do corporativismo descarado das facções manipuladas por militâncias grupais. A construção social representativa dos segmentos evoca a Torre de Babel nas bases falsas. Não há dentro da moldura o espelho que reflete a imagem do pensamento dos associados.

A percepção dessa desconexão nos pilares da sociedade brasileira explica o fenômeno da popularidade espantosa do presidente do Brasil. Lula detectou a acintosa inversão de valores no topo dos organismos do proletariado, do empresariado, do profissionalizado, enfim, na estrutura dos sindicatos, das associações, das ordens, inclusive das ONGs, das cooperativas, dos partidos políticos, das congregações religiosas, onde prolifera o absolutismo autoritário da estirpe dirigente selecionada na cozinha do panelismo aceso e reaceso no continuísmo que reduziu as mudanças às cinzas da renovação.

O politiquismo ideológico é que define o cardápio das decisões partilhadas ao sabor dos grupismos, respeitado o paladar das partes dominantes nos dois pratos postos à sua mesa. Este é o formato montado em todas as entidades representativas das categorias da população. Lula não teve dúvida. Era chegado o momento de repassar um pouco da gordura dos ricos para a magreza dos pobres e dividir ao meio a impaciência dos pequenos e a intolerância dos grandes. E foi consolidar o seu prestígio nos pontões populares excluídos dos movimentos classistas.

O presidente Lula percebeu que o Brasil está carente de um líder político com carisma capaz de encher de calor a frieza do vazio entre os extremos das riquezas e das misérias que dividem o País em dois Brasil.

O do povo na fome e nas doenças e o da casta no desperdício e no supérfluo.

O dos empregados que trabalham o Produto Interno Bruto e o dos patrões que ficam com o PIB.

O dos políticos que roubam verbas públicas e o dos eleitores que pagam a conta nos impostos.

Os devotos que rezam a caridade na fé em Deus e que oram evangelizados à comercialização nos templos.

Luiz Inácio Lula da Silva viu que não era o seu o destino dos que vivem no alto da Nação e enxergou que era sua a sorte do primeiro operário predestinado a ser presidente do Brasil.

E assumiu-se. Rompeu os diques dos oceanos contrários. E abriu as torrentes da água-benta ao sofrimento dos fracos e filtrando nelas a lágrima da dor aos fortes, mas temperando-as com o seu suor. E estendeu o manto da paz aos perdedores e sem tecer nele a mortalha aos vencedores, mas costurando os dois panos à bandeira de lutas hasteada no mastro do sentimento pacifista e da vocação democrática do povo brasileiro.

O presidente Lula expôs-se ao fogo cruzado da intolerância entre as camadas sociais dos que precisam de ajuda e dos que necessitam de auxílio dos que podem socorrer. Foi como se brotasse no coração de Lula a árvore dos enforcados para Hitler e Stalin no mesmo galho dos ditadores.

A pessoa de Lula fez a grande viagem no presidente. Levou os bens de utilidade doméstica produzidos pela indústria e trouxe clientela nova para o empresariado. Criou endereço e qualidade de vida para multidões encostadas nas periferias sem rendas e gerou o crescimento econômico para o comércio e a indústria.

E, num só golpe de estratégia política, fez-se estadista com os focos da direita e da esquerda rendidos ao seu prestígio. Sobretudo, subiu olimpicamente em dois mastros inéditos na História brasileira: o de primeiro presidente que elege o sucessor e o de eleger a primeira mulher para presidente do Brasil.

Lula é um outro tipo de JK na Presidência da República. JK construiu um Novo Brasil no governo cercado de corrupção e morreu pobre. Lula construiu um Novo Povo no País cercado de corrupção e está pobre. JK teve a Roubobras. Lula teve o Mensalão. Os lírios também florescem nos charcos. Permanece o perfume que emana da auréola das pétalas. Não dura o odor que exala do esterco rodeado aos pés da roseira. Vai na fragrância a essência da beleza da flor. Segue no cheiro a substância do inato na raiz. Também no denuncismo se projeta a natureza do denunciador. Do mesmo modo, o estadista é um ser isolado do comum no meio dos entes do seu tempo. Assim como o diamante no centro dos cascalhos.

O presidente Lula navega solitário nas marés montantes das oceanidades populares, indiferentes aos arrecifes e aos icebergs, submersos ou à tona nas tendências revoltas nas ondas ideológicas contrárias, como se ouvindo no coração o ruflar prévio das urnas os tambores da vitória.

Lula não tomou os votos de nenhum dos políticos.

O presidente buscou o Novo Brasil no povo.

E trouxe o contingente do eleitorado emergente da republiqueta da esperança morta para a Nação dos sonhos vivos.

Lula é a fenomenologia da celebridade transcendental ao populismo dos mitos e ao estadismo dos líderes e cria no inconsciente coletivo o ilusionismo do endeusamento no triunfalismo dos vultos históricos.

O presidente do Brasil não se limita mais às tabelas da manufatura operacional do petismo, mas redimensionou-se amplificado nos índices do trabalhismo.

Lula está à Vargas.

A estrutura do carisma nos gestos de um é a nomenclatura do fascínio nos atos de outro. O lulismo é o novo getulismo.

O eleitorado lulista não nasce nas vertentes do governo ou nas vazantes da oposição, mas é o caudal de votos que transborda sobre o estuário dos partidos e afoga os políticos na foz das urnas.

As enchentes se esvaziam ao fim das quadras de chuvas. As temporadas também têm seus atemporais. Os tempos mudam a paisagem conforme as quadras de estio e de inverno. O panorama social também se transforma de acordo com os períodos de intempéries econômicas. Antigamente, nuvem escura era indício de chuva. Atualmente, pode ser vestígio de fumaça da poluição.

GOIÁS é onde o País passa com o Brasil por cima do Estado.

Nós, os gentios da colônia. Eles, os donatários da província.

Eles, ditos patriotas, extraem e levam as riquezas naturais do sertão. Nós, tidos idiotas, ficamos com o que trazem e deixam nas misérias da devastação.

Os goianos, encravados na paradoxia do retrógrado no progresso e, quais habitantes confinados em regiões no Entorno do Atraso, são sugados em suas forças de competição leal pelos tentáculos dos monopólios alienígenas do sentimento de pátria.

Os horizontes mais atrativos do potencial indutor da emancipação econômica no coração territorial do Brasil estão minados pelas ventosas dos conglomerados industriais de São Paulo desde os velhos anos da escravidão dos brasileiros negros e esta evoluiu para os dias da escravatura dos goianos brancos ao mercado de produção, compra e venda nos balcões dos que controlam não apenas a riqueza nacional, mas também as fatias em que o empresariado dos Estados em desenvolvimento pode investir e competir com os paulistas.

O efeito da supremacia dos dominadores de fora é resultante da subserviência dos dominados locais. Iguais aos moradores das eras paleolíticas, uma parcela goiana da escol empresarial habita suas cavernas mentais e, de costas para a modernização mundial já se instalando às portas dos empreendimentos regionais, mantém-se na viseira da administração familiar que subordina a condução das empresas S/A à gestão das firmas LTDA.

Acabaram-se as reservas de mercado do amadorismo e implantou-se a competição profissional em todas as atividades humanas. O único legado sólido que o empresário deve construir para os descendentes é o investimento no conhecimento, a fim de que se capacitem tecnicamente na sua aptidão e possam se realizar na vida conforme a sua vocação.

A não ser nas raríssimas exceções da regra geral dos superdotados, o dono que cria um empreendimento e passa o comando para os herdeiros, ao invés de montar uma equipe preparada para gerir o seu parque industrial ou a sua rede de lojas, é um bobo que se escraviza à vaidade do mandonismo personalizado.

Empresa é empresa. Família é família. Os dois ambientes não se conciliam no mesmo clima do lar com os negócios. Um é o sentimento amolecido. O outro é o pensamento decisivo. A contabilidade do ativo nos lucros auferidos pela identidade da competência dos administradores não suporta o negativo das desavenças competitivas dos consanguíneos na casa dos proprietários. E o pai só conhecerá o tempo de se beneficiar dos frutos do seu trabalho empreendedor nas rendas gastas com os médicos na perda da saúde na idade provecta e desgostoso nos finais de seus dias com a discórdia da partilha dos filhos e noras, das filhas e genros saqueando as economias da mãe. Ou assistindo postumamente na Espiritualidade a viúva deixar o padrasto se locupletar do patrimônio transmitido aos filhos.

Notórios empresários vovozaram nas ideias já caducadas nas gerações longínquas nos terminais do passado. Perderam o horário da viagem do tempo e embarcaram-se de regresso para de onde nunca saíram da gravitação em torno de si mesmos. Mas, como se diz, eles têm muito pano na manga, daquele tecido com que se fazem as mortalhas bordadas a ouro. Enquadram-se no vaticínio espírita entre os que são tão pobres que só têm muito dinheiro.

O equilíbrio da vida nesse mundo está justaposto em duas linhas paralelas na natureza das pessoas: a do romantismo e a do materialismo. A retidão de caráter está em não contribuir para que o mercenário e o poeta se comprometam no egoísmo recíproco, seja na construção de bens sem benefício social, ou seja, na destruição dos sonhos no pesadelo da realidade. Mas existem ilustres empresários que se tornam máquinas funcionando a todo vapor nas suas riquezas, como se já houvessem visto caminhão de mudanças acompanhando enterro.

O conhecimento é o patrimônio que nos espera na consolidação dos valores permanentes, dentre os quais o nome honrado será o principal legado dos pais aos filhos. Não faça. Ensine a fazer. O recebido feito pode ser um bem grande, mas parece ser menor e não se sente realizado nele porque não tem o sentido grandioso do que se fez. A criança não conhecerá nos brinquedos comprados a alegria dos feitos por ela. O menino e a menina não saborearão nas frutas adquiridas o gosto inigualável das colhidas na árvore que plantaram.

Aos empresários rurais, pondero que não deem rebanhos para os filhos. Deem-lhes livros. Tampouco assegurem-lhes a propriedade das fazendas. Garantam-lhes estudos.

Ao empresariado urbano, advirto que não ensine aos herdeiros repetir a legenda na aptidão da história de seu sucesso. Doutrine-nos a se realizarem nos méritos da própria vocação.

Os filhos não devem ser conduzidos como satélites na órbita de seus planetas, ou para vagarem como meteoros sem rota definida no espaço dos pais, mas criados para terem luz própria como as estrelas. Essa variedade de destinos é que faz o maravilhoso da vida e não deixa o mundo tornar-se monótono. No universo humano a vocação é que faz a diferença no itinerário da grandiosidade das pessoas.

As galinhas ciscam para os pintinhos comerem e aprenderem a procurar alimentos. As vacas desmamam os bezerros quando estes aprendem a pastar. Na espécie humana pontilham senhores bem-sucedidos que agem como se houvessem reinventado as leis da natureza, pois mantêm filhos erados no mimo das tetas fáceis do consumismo ao supérfluo e ao desperdício até a ociosidade na adolescência. Essa é a qualidade das crias que o único serviço que aprendem a fazer é dar muito trabalho para o seu criador.

Na última entrevista que fiz com Pedro Ludovico Teixeira às vésperas de sua saída da vida para entrar na História, perguntei-lhe, já que era um líder de larga vivência e profundo conhecimento no relacionamento com as tendências do comportamento humano, como ele definia, como médico e condutor de povo, a influência psicológica do Dr. Sigmund Freud na formação moral das famílias.

Pedro surpreendeu-me, incisivo, na taca da ilhapa:

– Sou mais ao Dr. Chiquinho do Cabide.

Não adianta darem conselhos morais aos filhos os pais que não podem dar exemplo de honradez. Pedro teve. Foi para o chão do Cemitério Santana e não levou um palmo das terras da capital que ele construiu.

Alfredo Nasser, o político mais inteligente e culto da História de Goiás, humílimo, era contra nomeação de parente para cargo público e nunca empregou um dos seus, mesmo tendo sido senador, deputado federal, ministro da Justiça e Negócios Interiores. O oposicionista chegou a primeiro-ministro no regime parlamentarista. Nasser foi o único goiano que governou o Brasil e morreu pobre. Definiu campanha eleitoral para os candidatos assim: “Prefiro perder por falta de dinheiro, a ganhar por falta de vergonha.”

Quem acumula riquezas materiais na Terra para sua pessoa, está acumulando misérias morais para o seu espírito no Céu.

Compare agora os contemporâneos. Os políticos chegaram ao poder no pó da pobreza e saíram do governo no outeiro de fortunas cavadas no subsolo do Tesouro Estadual. Muitos dos chamados homens de bem estão à altura dos criminosos conhecidos. Parece pensarem que Deus é cego e surdo.

GOIÁS é onde a classe política passa compactada no descoberto do prestígio e por fora da influência direta nos andares do Planalto em Brasília. O Estado está com um resto de mundo esquecido nos porões de líderes fora de moda. Estão a tangos às três da tarde ao sol ardente. Chefões políticos revivem a controvérsia do primata no civilizado. Semelhantes neolíticos na idade da pedra trabalhada, utilizam-se do denuncismo como funda para depredar a honra dos adversários. Ignoram a lei de Causa e Efeito. Os ataques odientos seguem à imitação do bumerangue disparado na direção do alvo e volta ao final para quem o arremessou.

Muitos politiquistas goianos posam de renovados no velho que está neles e não conseguiram chegar ainda nem próximos ao passado, tão afigurados ao sucedâneo do desusado, que as carreatas de manjados candidatos ficariam mais apropriadas ao realismo de suas ideações em carros de boi.

Estão caídos no buraco da História. Por isso desconhecem que os movimentos de ódio sempre trabalharam contra a causa dos próprios odiosos que tiveram de bebê-los gota a gota, odiados, no cálice amargo da derrota de suas lutas. Todo poder terreno é uma concessão Divina para ser exercício com amor na construção do bem. Os que infringem na Terra o destinado desse desígnio abrem para a sua pessoa débitos para o seu espírito quitá-los no Céu.

Uma chusma de políticos, quando estão no governo, age como se o patrimônio público fosse suas propriedades particulares.

É a vertigem do poder.

Quem retratou com fidelidade a corporificação da imagem de semideus nos possuídos pelos delírios da vaidade foi Homero, em Odisséia, na figura de Ulisses. Fascinado pela aura de herói na vitória dos gregos na Guerra de Troia, Ulisses foi tentado pelo canto de sereia de Circe na passagem pela Ilha de Calipso durante a viagem para a sua Penélope na Ilha de Ítaca.

Agora, medite e avalie.

Ulisses é o personagem glorioso da ficção épica e fundeou-se ao ataque do envaidecido súbito.

Imagine o deslumbramento de um desses bobalhões dos cerrados, fantasiados de líderes, surtados pelo desvario no poder.

Afora os políticos consagrados nos estagnados da evolução aos empurrões da mentalidade no roceirismo primitivista, como o candidato a deputado federal Sérgio Caiado, há duas candidaturas ao governo de Goiás trilhadas no eco do sectarismo ideológico, quase um século depois de Lenin (Vladimir Illitch Ulianov) haver apagado, em 1920, a luz no fim do túnel do extremismo político bolchevista, no livro Esquerdismo: Doença Infantil do Comunismo; ou após mais de duas décadas de Mikhail Gorbachev ter, em 1987, com o livro Perestroika, libertado da Rússia as colônias da União Soviética; em cima dos dias de conscientização de Fidel Castro, talvez despertado pelo remorso da morte à sua vista nas doenças que o destronaram da ditadura, fez como que uma Declaração de autocrítica à Humanidade, reconhecendo que as práticas das guerrilhas de Sierra Maestra já não teorizam mais revoluções como a de Cuba.

O esquerdismo empacota-se nos rótulos da liberdade para comunizar com a bula do direitismo as democracias nos laboratórios das ditaduras. O baixo clero da direita e da esquerda se embolou tão totalmente nos guetos do proselitismo tendencioso, que temos esquerdistas de direita e direitistas de esquerda, uns corrompidos no atacado, outros corrompidos no varejo e com as duas frentes à traseira dos tempos e voltados ao fogo de cores do crepúsculo quando a manhã já nasceu na luz da alvorada das mudanças.

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