quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Diário da Manhã

Opinião

Dona Antonieta, nossa guru

Ensinam os iogues que guru é o mestre, que aparece quando o discípulo está preparado. Dona Maria Antonieta Alessandri Figueiredo é uma guru, presença silenciosa e benfeitora na vida de milhares de pessoas, inclusive deste humilde escriba, pois de nossos caminhos ela espanta trevas há quatro décadas.

Juntamente com o professor Múcio de Melo Álvares e sua irmã Nizinha, foi Dona Antonieta quem nos acendeu as primeiras luzes da doutrina espírita. De mentalidade holística, dela ganhamos também os primeiros livros que lemos de Huberto Rohden – Assim Dizia o Mestre – e de Pietro Ubaldi – A Grande Síntese – Síntese e Solução dos Problemas da Ciência e do Espírito –, além de muitos outros, que guardamos quase como relíquia, pelo interesse, utilidade e emoção que nos proporcionaram.

Na proporção em que fomos verificando seu exemplo e seu trabalho, tivemos repetidas provas de como Deus faz descer à Terra espíritos mais adiantados, para trazerem conhecimentos essenciais aos mais atrasados, ajudando os homens a se tornarem melhores e, consequentemente, menos infelizes.

Não é que Dona Antonieta, uma das fundadoras da Irradiação Espírita Cristã em 1948, ao suceder 10 anos depois o presidente Colombino Augusto de Barros, que retornara ao Mundo Maior, deu sequência às suas realizações espirituais e materiais, dotando-a de 14 obras de notável importância, nas áreas doutrinária, educacional, de assistência e promoção social, profissionalizante e de saúde. Só creches são quatro, que Dona Antonieta achou pouco. Tanto assim que, ao completar agora 90 anos, decidiu concretizar a quinta dessas instituições que abrigam, amparam e educam, gratuitamente, crianças filhas de mães trabalhadoras pobres.

Quem a conhece sabe que juventude não lhe falta, porque servindo tanto ela nunca teve tempo para envelhecer. Continua acesa e disponível, criativa e extraordinariamente sensível às necessidades do próximo. Ela integra o rol predestinado dos velhos moços, numa sociedade humana cheia de moços velhos, dos quais falava Gibran Khalil:

“Há duas espécies de homens: os homens de ontem e os homens de amanhã. A qual das duas pertenceis? Fazei a vós mesmos essa pergunta, quando estiverdes sozinhos no silêncio da noite. Julgai, por vós mesmos, se pertenceis aos escravos de ontem ou aos homens livres de amanhã”.

O general Douglas Mac Arthur, que historicamente concretizou a rendição japonesa e iniciou a reconstrução do Japão arrasado por duas bombas atômicas, tinha a mesma opinião:

“És tão jovem quanto é tua fé. Tão velho quanto a tua descrença. Serás jovem enquanto te conservares receptivo ao que é belo, bom e elevado, receptivo às mensagens da Natureza, do homem e do Infinito”.

A prática nos proporcionou a seguinte constatação: muitos dos homens mais jovens com os quais convivemos e muito aprendemos eram ricos em anos. O professor Zoroastro Artiaga, por exemplo, um dos mais lúcidos autodidatas goianos, de há muito ultrapassara os 80. No apogeu da juventude espiritual, o professor Venerando de Freitas Borges, primeiro prefeito de Goiânia, superara 87 anos, e Francisco Cândido Xavier era luz pura no velador, ao morrer com 92 anos completos.

Assim, não é por estarmos no crepúsculo da existência física que envelhecemos. Envelhecemos quando abandonamos o nosso ideal, perdemos a esperança, vacilamos na fé e desinteressamo-nos pelo bem e grandeza do nosso semelhante.

Não é norma de sabedoria popular que o coração não envelhece? Infância, juventude, madureza e velhice são simples fases da experiência material. A vida, na realidade, é essência divina e a juventude é seiva imortal do espírito imperecível.

Dona Antonieta possui, ainda, a cidadania do mundo, visitadora das nações e dos povos, através dos livros e das viagens. Alguma coisa já nos contou do que neles viu, admirou e assimilou, para repartir as mancheias entre nós.

Uma parcela ínfima da humanidade alcança os 90 anos, porque este privilégio Deus reserva a filhos especiais, aos quais apõe Sua mão direita, no reconhecimento ao seu esforço e a seus méritos adquiridos no aprendizado e na distribuição do amor, sinônimo de sabedoria.

Sabedoria não se compra nem se recebe em doação, não se aprende no colégio nem consta dos currículos universitários. Sabedoria é diferente de cultura, não vem de fora para dentro, mas jorra de dentro para fora, desenvolvida lentamente no imo d’alma. Sabedoria nos aprimora a paciência, a modéstia, a espontaneidade e a solidariedade, proporcionando-nos a incomparável alegria em servir.

Por isso, em 40 anos de altamente proveitosa convivência, nunca vimos Dona Antonieta sem a expressão do sorriso.

Invariavelmente, ela está sempre transmitindo às pessoas em sua volta a doce e linda paz que, sendo mestra, aprendeu com o Mestre dos mestres.

Javier Godinho (transcrito do Diário da Manhã de 28/5/2008)

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