Diário da Manhã

Requião critica Meirelles e lança prefeito candidato a governador

Pré-candidato do PMDB à presidência da República critica dirigente do BC em convenção da sigla

O governador do Paraná e pré-candidato à presidência do PMDB, Roberto Requião, visitou ontem o diretório regional do partido em Goiânia e defendeu com veemência que a legenda tenha um nome próprio para disputar a eleição nacional, quebrando a aliança com o PT do presidente Lula. Com discurso arrojado, Requião criticou a política macroeconômica do Banco Central – presidido pelo peemedebista Henrique Meirelles – e, na abertura da entrevista coletiva, disse que o evento marcava o lançamento da candidatura do prefeito Iris Rezende (PMDB) ao governo do Estado.

“O PMDB deve ter candidatura própria e não vejo a possibilidade de o Meirelles ser (candidato a vice na chapa da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff). Ele seria um bom vice para a presidência do Banco Itaú. Agora, não faço uma crítica pessoal. Não conheço o Meirelles, nunca falei com ele, a minha crítica é à política macroeconômica do Banco Central”, disse Requião.

Meirelles não compareceu à convenção do partido, que reelegeu o presidente Adib Elias e definiu nomes para a nova executiva da legenda, mas, em compensação, recepcionou o senador Marconi Perillo (PSDB) na sede do Banco Central. O encontro, ocorrido pela manhã, foi noticiado pelo próprio senador no twitter.

Cerca de 300 pessoas estiveram na convenção, realizada na sede do diretório estadual do PMDB, próximo ao Centro de Convenções, no Setor Aeroporto. A delegação composta por Requião, Iris Rezende, a deputada e presidente nacional do partido Iris de Araújo, o prefeito de Aparecida de Goiânia, Maguito Vilela, e Adib, chegou ao local num ônibus Citybus às 11h20 e foi recebida por foguetório.

Adib foi o primeiro a discursar. Ressaltou que, em Goiás, Requião terá espaço para trabalhar sua candidatura. O presidente regional do partido falou no pequeno palanque montado que recebeu telefonema de Meirelles na noite de quarta-feira e que o presidente do BC justificou a ausência por ter outros compromissos agendados. Segundo Adib, “Meirelles é presença certa na festa de aniversário de Iris”, que completa 76 anos na próxima terça-feira.

Em seguida, o prefeito discursou. Logo de início, revelou que deixou de lado alguns encontros e não cumpriu ordens médicas para estar junto do “amigo” Requião. Iris ainda lembrou os tempos de luta contra a ditadura, quando conheceu o atual governador do Paraná. Às 11h45, o prefeito já deixava o diretório e na saída falou rapidamente com a imprensa. “O PMDB tem um compromisso hoje com o PT em nível nacional. E aqui, no caso estadual e municipal. Não podemos embarcar em qualquer projeto que possa tumultuar o processo. Eu acho que, enquanto o PMDB compor o governo do presidente Lula, com tanto espaço e tantos ministérios ele tem que discutir com muita responsabilidade qualquer projeto nacional”, disse Iris antes de entrar no carro.

A deputada federal e presidente nacional do PMDB, Iris de Araújo, abriu seu pronunciamento justificando que o prefeito iria embora antes do fim da convenção devido aos cuidados com a saúde. “Iris saiu mais cedo para se cuidar melhor. Porque no futuro vamos precisar dele”, disse.

O prefeito submeteu-se recentemente a uma cirurgia para retirada da vesícula, devido a um problema de oclusão intestinal.

A deputada mostrou-se a favor da candidatura própria do partido na chapa presidencial, porém ressaltou que a legenda é formada por várias correntes e existem opiniões diversas. Segundo ela, em determinadas situações é difícil ter de tomar decisões sozinha. “O mais importante é o PMDB caminhar unido, para ser respeitado”

“BC atende capital vadio”

O principal alvo das críticas de Requião é o Banco Central. O governador do Paraná afirma que o BC atende aos interesses do capital financeiro e não aos anseios do povo. Para ele, a instituição precisa aplicar recursos em defesa do trabalho e do capital produtivo para se opor ao “capital vadio e financeiro”. No discurso, ele disse que na hipótese de encontrar Meirelles, iria cumprimentá-lo.

O presidente do BC é cotado para ser candidato ao governo do Estado, assim como vice da ministra-chefe da Casa Civil Dilma Rousseff, na chapa federal. Requião diz não se opor a Meirelles em Goiás, mas no final arranjou uma maneira de alfinetá-lo, dando prioridade a Iris. “Não tenho nada contra Meirelles ao governo de Goiás. Eu tenho contra a política que ele representa no BC. Goiás não tem Banco Central. Aqui ele iria provar um pouco do seu próprio remédio. Cá entre nós, o nosso governador de Goiás é Iris Rezende”, resume Requião, que não alivia nas críticas e continua batendo na política econômica do Banco Central. Ele contou ser amigo de Lula e fã do PT, mas que agora é preciso que aconteça o desligamento da política macroeconômica do BC.

Meirelles volta a negar pretensão de ser candidato a vice de Dilma

O presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles, negou hoje que tenha aspiração em concorrer ao cargo de vice-presidente da República, ao lado da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, pré-candidata do PT à presidência da República em 2010. “Eu não tenho nenhuma pretensão a este cargo”, disse ele, durante entrevista a emissoras de rádio coordenada pela NBR, em Brasília.

Meirelles voltou a afirmar que, até abril do próximo ano, não pensará em mais nada que não seja o BC. “Não tenho pretensão a cargos de âmbito nacional. Meu foco, no momento, é o Banco Central”, disse. Ele relatou também que há um pedido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para que fique à frente da autoridade monetária até o final do ano. “Vou levar isso em consideração. Nada pode me distrair”, afirmou ele, acrescentando que seu trabalho é o de continuar a fazer com que a economia brasileira saia da crise financeira. Indagado por um jornalista se já há essa discussão dentro do PMDB, partido ao qual se filiou este ano, Meirelles disse que o debate ainda é “um pouco prematuro”. “Será uma decisão tomada pelo PMDB no momento adequado.”