terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Os mosquitos do Íris!!

Diário da Manhã

Opinião

Dengue em Goiânia: à beira de uma epidemia
Segundo os dados oficiais do Ministério da Saúde (disponíveis no site http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/apresentacao_final_liraa_241109.pdf)

Goiânia é o município goiano que apresenta os índices mais alarmantes e altamente preocupantes com respeito ao risco para uma epidemia de dengue. Os números são resultado do chamado Liraa (Levantamento Rápido de Infestação Predial pelo Aedes Aegypti), aplicado em capitais e municípios da região metropolitana, municípios de mais de 100 habitantes e municípios com grande fluxo de turistas ou em regiões de fronteira. Aqueles que apresentam índice de infestação de até 1% são considerados em situação satisfatória no controle da dengue; aqueles que se situam entre 1 e 3,9% são classificados como estando em situação de alerta e, finalmente, os que têm mais de 4% encontram-se em risco de surto da doença.

Para obtenção do índice de infestação predial calcula-se a proporção entre o número de imóveis nos quais se encontrou o mosquito e o número total de imóveis inspecionados, multiplicados por 100. Uma coisa que preocupa é que em condições de temperaturas elevadas, que comumente ocorrem nessa época do ano, o ciclo de vida do mosquito – que normalmente dura cerca de 30 dias –, pode ser reduzido para apenas 12, o que significa um aumento enorme da presença do mosquito transmissor da doença.

Dos municípios goianos analisados, que em 2008 encontravam-se em situação de controle satisfatório, todos passaram em 2009 para a situação de alerta (Anápolis, Águas Lindas, Aparecida de Goiânia, Luziânia, Valparaíso e Rio Verde), ou seja, enfrentam uma situação de maior preocupação. O grande problema é Goiânia, que já se encontrava em situação de alerta desde 2008, mais que dobrando seu índice médio de infestação predial (de 1,2 para 2,5%). O que é ainda mais grave é que o intervalo dos índices de infestação encontrados nos diferentes locais investigados em nossa Capital varia de 0,0 a 6,4%. O que isso quer dizer? Que há locais em Goiânia, que, analisados de maneira isolada, já estariam vivendo uma situação semelhante à de surto de dengue por encontrarmos ali índices acima dos 4%. Além disso, nenhum outro município goiano, dentre os já mencionados, chega a ter índices tão altos de infestação. Goiânia detém o índice mais alto, infelizmente.

Uma particularidade que chama atenção é a de que, quando analisados em função do tipo de criadouro predominante, ou seja, do tipo de material onde foram encontrados larvas do Aedes Aegypti, os números de Goiânia e de praticamente todos os outros municípios (à exceção apenas de Valparaíso) mostram uma forte predominância dos “resíduos sólidos”, ou seja, lixo. Seguem-se, em ordem de importância, o abastecimento de água (caixas d’água, tambores, tonéis, poços etc) e os depósitos domiciliares (vasos, pratos, bromélias, ralos, lajes, piscina etc). Os números indicam pistas importantes que, se seguidas por ações eficientes, eficazes e tempestivas do Poder Público, poderiam levar a uma situação totalmente diferente, o que, aliás, foi conseguido em outras localidades brasileiras. A Secretaria Municipal de Saúde, se atuasse decisivamente de modo a promover as condições necessárias ao trabalho dos agentes de dengue e das equipes profissionais, com o apoio indispensável da população, certamente poderia ter colocado Goiânia, mesmo já em 2008, numa condição bastante diferente daquela em que hoje se encontra, quando uma boa parte da população encontra-se exposta ao risco de contrair dengue e, ainda mais, com riscos agravados para a forma hemorrágica da doença, em razão de essa acometer preferencialmente aquelas pessoas que já tiveram a doença anteriormente.

Matéria publicada em importante jornal diário da Capital, no dia 16 de dezembro último, diz que em Goiás passaram de 1.000 os casos da doença na primeira semana de dezembro. Um aumento de 350% em relação à mesma semana de 2008, que teve 232 ocorrências. Dados dizem, ainda, que há maior letalidade em 2009, com taxa de 8,5% contra o 1% aceitável pela OMS (25 pessoas vieram a óbito em Goiânia até o dia 5 de dezembro).

Eis, aqui, outra preocupação enorme, pois, além da ação no combate ao mosquito transmissor da dengue, a assistência às pessoas doentes precisa ser conjugada à facilidade de acesso aos serviços de saúde, à rapidez do diagnóstico e tratamento, à notificação obrigatória, além do monitoramento e avaliação dos casos. Ora, se a taxa de letalidade, que são as mortes por aquela determinada doença, encontra-se muito acima das aceitas pelo Ministério da Saúde e pelos organismos internacionais, como a Organização Mundial da Saúde, isso traduz a ineficiência da organização do sistema e de sua efetiva prestação de serviços à população.

Algo precisa ser feito. Quando criticamos, de maneira franca e construtiva, a inadequada organização do Sistema Único de Saúde em Goiânia, não o fazemos por picuinhas político-partidárias, mas sim pelo dever de alertar e estimular o aperfeiçoamento de seu funcionamento em benefício da população. Uma coisa é dizer que tudo anda às mil maravilhas, outra é testemunhar o sofrimento, a doença e até a morte de pessoas que necessitam e buscam, por direito, o atendimento à saúde. Bem aqui na nossa Goiânia.

Honor Cruvinel é médico, deputado estadual pelo PSDB e vice-presidente da Assembleia Legislativa

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