terça-feira, 1 de dezembro de 2009

O Popular - 30 de novembro de 2009

O Popular

Disputa como 3ª chapa será desafio
Polarização entre PSDB e PMDB e a falta de nome forte são apontadas como principais dificuldades

Bruno Rocha Lima

Totalmente atípica dentro do contexto político goiano pela forma como começa a surgir, a nova frente de partidos capitaneada pelo governador Alcides Rodrigues (PP) deve encontrar dificuldades de emplacar nas eleições de 2010, apontam cientistas políticos consultados pelo POPULAR. A histórica polarização entre PSDB e PMDB e a falta de um nomef orte para encabeçar o projeto são apontados como principais obstáculos para articulação - que envolve, além do PP, DEM, PR, PSB, PTN e PTdoB – se consolidar.

Mas, se o retrospecto das disputas eleitorais desde 1982 (veja quadro) aponta a dificuldade de romper a polarização, os especialistas ponderam que, desta vez, o novo grupo político nasce sob um novo contexto: quem o está bancando é o Palácio das Esmeraldas. “A tradição da política goiana, cujo eleitorado é conservador, é de ter apenas dois candidatos competitivos. Mas o governo é sempre muito forte no Estado e, se conseguir deslanchar administrativamente no próximo ano, pode apresentar uma candidatura consistente”, avalia o cientista político Itami Campos, da UniEvangélica. “No mínimo, essa chapa atrapalha as outras duas, especialmente a liderada pelo PSDB”, frisa.

A participação do governo na construção do novo grupo torna um erro chamá-lo de terceira via, tese sempre defendida pelas lideranças ligadas ao Palácio das Esmeraldas. “O termo terceira via surgiu na Europa para designar grupos políticos mais reformistas e de oposição. Não é o caso de Goiás, cujo grupo alternativo à polarização histórica, além de estar no governo, tem um perfil essencialmente conservador”, explica Itami. “No mínimo, é uma candidatura que terá de pregar a continuidade. E a terceria via teria de representar um rompimento total”.

Tradicionalmente, cabia ao PT, junto com os partidos de esquerda, tentar formar nas eleições estaduais uma terceira via em Goiás. Chegaram mais perto disso em 2002, quando Marina Sant’Anna obteve quase 400 mil votos. Em 2006, buscaram uma coligação mais ampla com a candidatura de Barbosa Neto (PSB), mas a tentativa não decolou pela pequena estrutura do partido do candidato e a falta de engajamento do PT, apontam os especialistas. A tendência do próximo pleito é de que o PT não conte com candidatura própria, unido-se ao PMDB.

RACHA

O maior desafio para a nova frente política se consolidar em Goiás será provar que ela não é apenas um racha entre os partidos de oposição ao PMDB e se apresentar perante o eleitorado como um projeto político consistente e com perspectivas de vitória. Na opinião do cientista político Wilson Ferreira da Cunha, da PUC-Goiás, o cenário atual é semelhante ao da eleição de 1994, quando Ronaldo Caiado, então no PFL, e Lúcia Vânia, no PP, racharam a oposição com suas candidaturas e acabaram derrotados por Maguito Vilela (PMDB).

“É uma bobagem falar hoje em uma outra candidatura competitiva fora da polarização entre PSDB e PMDB. Acredito que os governistas, com problemas de relacionamento com o PSDB, estão hoje só jogando conversa fora e vão compor mais na frente com um dos lados”, critica Wilson Cunha. Embora admita que o fato de a iniciativa partir do Palácio das Esmeraldas dá uma dimensão maior ao grupo, ele cita como obstáculos o receio de Alcides em atuar politicamente e a dificuldade do governo deslanchar na área administrativa.

Outro exemplo citado é o do vereador Iram Saraiva (PMDB), que em 1990 decidiu romper com o PMDB, com quem tinha relação histórica, e se lançar candidato pelo PDT, colocando-se como uma opção à candidatura de Iris Rezende (PMDB) e àquela dos partidos originários da extinta Arena – encabeçada por Paulo Roberto Cunha (PDC). Não conseguiu descolar sua imagem do PMDB, sendo visto pelo eleitor apenas como uma dissidência do partido, e terminou como último colocado.

“Os partidos ligados ao governo terão dificuldade para emplacar um discurso de renovação, pois os líderes são todos figuras bem conhecidas da política goiana. O governador acordou tarde para a articulação, poderia ter começado a trabalhar um novo projeto político há mais tempo na cabeça do eleitor, já preparado um nome”, diz Wilson Cunha. “Qual ruptura ideológica vão trazer? É a grande questão. Por enquanto, esse grupo não passa de uma carta de intenções”, afirma Itami.

Um dos problemas apontados inclusive nos bastidores do Palácio das Esmeraldas é a ligação que muitas lideranças da frente alcidista do interior têm com o senador Marconi Perillo (PSDB). Com isso, caso o nome apresentado não deslanche logo nas pesquisas eleitorais, essas lideranças poderiam cruzar os braços e não se engajar na campanha, atuando a favor do tucano. Para evitar a debandada, os governistas apostam, além da estrutura do governo, na chapa proporcional. Acreditam que terão uma chapa competitiva e que isso asseguraria o apoio dos deputados estaduais e federais.

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