terça-feira, 24 de novembro de 2009

Apagão rende transtornos!

Diário da Manhã

Lições do apagão

As causas exatas do apagão não foram ainda esclarecidas – ao menos até quinta-feira, quando escrevia este artigo – mas algumas lições podem ser delas tiradas.

A primeira é a da humildade. O governo precisa aceitar que também comete erros. Não adianta sair atirando para todos os lados e de forma desencontrada, procurando pôr a culpa nisso ou naquilo, em intempéries, no fato de o mundo ser redondo e girar. A imprensa e os cientistas incumbiram-se de demonstrar a fragilidade e inveracidade das “explicações” oficiais. Em vez de tentar pôr a culpa no imponderável, ou tentar equiparar o problema de agora ao ocorrido em 2001, sob o governo Fernando Henrique, melhor faria o governo se reconhecesse ter havido grave falha. Pode ter sido na usina de Itaipu – onde, segundo se noticiou, teria havido algum percalço dez horas antes – pode ter sido deficiência de manutenção, principalmente nas linhas de transmissão, assim como pode ter sido decorrência de falta de investimentos em montante suficientemente adequado.

A segunda lição: sempre propagandearam que o presidente Lula poderia ausentar-se tanto do País, porque a administração teria quem a tocasse com eficácia. Antes de ser tragado pela torrente do “mensalão”, quem se desincumbia da missão era ministro José Dirceu. Para seu lugar, na Casa Civil e no comando da administração, foi a ministra Dilma Rousseff, em torno de quem se ergueu uma certa aura de competência, desde quando, por dois anos e meio, dirigiu o Ministério das Minas e Energia. O apagão, no mínimo, põe em xeque tais qualidades, pois ela Deixou o MME, mas continuou tendo sobre ele forte influência. Sem falar que o Programa de Aceleração do Desenvolvimento (PAC), que gerencia, não mais do que se arrasta. Faltando pouco mais de um mês para terminar o ano, não conseguem aplicar, efetivamente, mais do que 4,7 bilhões de um total de 27,8 bilhões (17%) das verbas orçamentárias postas à disposição do PAC, permanecendo o País sem obras essenciais à sua infraestrutura.

A última, mais advertência do que lição, está na sucessão presidencial. Surgem fundadas dúvidas sobre a capacidade de a ministra assumir a chefia da Nação. Sabe-se de sua inexperiência política, pois jamais disputou qualquer cargo eletivo. O governo argumentava que esse não seria problema maior. Agora, porém, sua qualidade de administradora é posta em quarentena. Vou além: ressalta-se contra ela o comportamento durante a crise do apagão, quando, literalmente, sumiu por quarenta horas inteiras. Ora, a primeira condição que se exige de um líder é a coragem de sair à frente, infundindo confiança aos liderados. Pior: quando ressurgiu, demonstrou, em entrevista coletiva à imprensa, arrogância e irritação diante das perguntas que lhe eram colocadas. Péssimo sinal.

Eis aí, enfim, algumas das principais lições a serem extraídas da crise e para as quais a população certamente haverá de estar bem atenta.

Arthur Virgílio é senador pelo Amazonas e líder do PSDB

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