quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Diário da Manhã

O difícil caminho da terceira via
Desentendimentos entre presidentes de partidos e distanciamento das bases podem melar frente contra Marconi e Iris

Apesar do discurso de euforia e entusiasmo dos cabeças do movimento, a chamada terceira via, ou Nova Frente, como foi batizada pelos líderes simpatizantes, tem um longo e penoso caminho para se consolidar como alternativa eleitoral viável. Os problemas começam nos desentendimentos dos presidentes dos partidos envolvidos e chegam até a dificuldade para as bases engolirem o prato feito apresentado pelas cúpulas das legendas. PP, DEM, PR e PSB enfrentarão fortes dissidências internas a se confirmar a opção pela tentativa de construção de um novo eixo político no Estado.

O DEM, por exemplo, quer o deputado federal e presidente do partido, Ronaldo Caiado, como candidato a governador da frente. O senador Demóstenes Torres, preocupado com a reeleição, já avisou que, se o candidato não for Ronaldo, os democratas preferem caminhar com o PSDB de Marconi Perillo. Na contramão de Demóstenes, Sandro Mabel, deputado e mandachuva do PR, praticamente veta Ronaldo ao dizer que o DEM na cabeça de chapa não teria a simpatia do PT e do presidente Lula, que nem compõem o grupo que discute a alternativa à polarização entre Iris Rezende e Marconi. Sandro, claro, puxa a sardinha para a própria candidatura.

As principais lideranças do PP também não se entendem. O deputado federal Roberto Balestra, nome de muito prestígio e larga militância no partido, defende a reconstrução da antiga base aliada e afirma categoricamente que as bases não querem lançar terceiro nome. “Tenho andado e conversado muito pelo interior e sinto que nossos prefeitos, vereadores e lideranças querem a união da base aliada”, testemunha.

O parlamentar, conhecido pelo trânsito nos bastidores e ligação com as bases do PP, deixou o governo depois que defendeu publicamente a tese de reunião dos partidos que formaram a coligação vitoriosa em 1998, 2002 e 2006. Ele levou um pito indireto do governador Alcides Rodrigues, que, em declaração à imprensa, recomendou aos que não concordavam com a construção da terceira via que deixassem os cargos no governo.

O episódio mostrou que a tese não é consenso no PP. Logo depois, o presidente da Associação Goiana dos Municípios e prefeito de Inhumas, Abelardo Vaz, disse que as bases do PP discordavam da movimentação da cúpula. Nédio Leite, que havia trocado o PP pelo PSDB, também entrou no debate e fez duras críticas ao presidente do PP, Sérgio Caiado, por tomar decisões sem ouvir o conjunto do partido. Fala-se que Balestra faz trabalho de formiguinha nas bases para confrontar as propostas na convenção do ano que vem. A intenção é vencer o grupo governista e recolocar o PP na aliança com Marconi.

No PR, Mabel sofre oposição do deputado Cláudio Meirelles, marconista rasgado. Os dois chegaram até a trocar palavras duras em encontro reservado dos republicanos. O deputado Álvaro Guimarães, do PR de Itumbiara, também vê com desconfiança a articulação. Prefeitos do PR também se opõem à terceira via e participam entusiasmados de eventos de apoio a Marconi, mesmo contrariando a cúpula. Não abrem o jogo, mas em tom reservado reclamam que o projeto da Nova Frente é “prato feito” da cúpula para as bases e que a articulação é movida pelo “ódio pessoal” de Ronaldo Caiado, Mabel, Sérgio Caiado por Marconi, e que a ideia não leva em conta os interesses dos partidos nem de Goiás. “Eles formam o eixo do mal”, define outro prefeito, que não quer se identificar.

No momento, segundo esses mesmos prefeitos e alguns deputados, que preferem o anonimato, “todos se fingem de mortos” para conseguir obras com o governo. “Mas, na hora H, no momento da onça beber água, ficaremos com Marconi. No interior não tem jeito, é lé com lé e cré com cré. Ou seja, PMDB e base aliada não se unem e a única candidatura que pode ser vitoriosa contra Iris é a de Marconi”, desabafa outro prefeito.

O PSB de Barbosa Neto também não é unanimidade em relação ao acordo entre PP, DEM, PR e socialistas. Um dos quadros pensantes da legenda, Jeovalter Correia, disse ontem a O Popular que Barbosa não tem autonomia para incluir o partido numa “canoa furada” em 2010.

Problemas

Mabel aceita ser candidato, mas impõe como condição a saída do governador Alcides para disputar cargo eletivo em 2010 para que o vice Ademir Menezes assuma e fique no governo durante nove meses. Alcides já disse que quer permanecer à frente da administração até o último dia de mandato. A Nova Frente tem ainda o desafio de mostrar-se viável eleitoralmente criando uma real expectativa de vitória e poder. Até agora, todas as pesquisas eleitorais divulgadas reforçam a polarização Iris/Marconi e sinalizam a falta de espaço para o surgimento da terceira via. Na última pesquisa Ecope/DM, publicada na segunda-feira, Marconi lidera com pouco mais de 50% das intenções de voto contra cerca de 37% de Iris Rezende. O melhor nome dos cotados para encabeçar a terceira via é Ronaldo Caiado com 2,3%.

O projeto pessoal de deputados federais e estaduais também pesa nesta composição. Candidatos à reeleição ou marinheiros de primeiro teste nas urnas precisam de um palanque forte e com possibilidade de vitória para o sucesso do projeto pessoal.

Outro nó a ser desatado é o palanque federal. Alcides, Mabel e Barbosa caminham para apoiar a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, e o PT na eleição nacional. Caiado é fechado com José Serra e um dos mais ácidos críticos dos petistas e do presidente Lula no Congresso Nacional, como líder do DEM.

Por fim, outro problema a vencer é administrativo. O governo Alcides ainda não deslanchou e é mal avaliado nas pesquisas de opinião pública. Para se tornar atraente e viável, a terceira via teria de representar governo com índices de aprovação positivos e com um portfólio razoável de obras para se contrapor aos currículos e à popularidade dos dois virtuais concorrentes: Marconi e Iris.

Histórico de fracassos nas urnas em Goiás

O histórico recente de terceiras vias em Goiás não é animador. Nas duas últimas vezes em que chapas tiveram esta denominação o insucesso nas urnas foi grande. Em 1990, o então senador Iram Saraiva trocou o PMDB pelo PDT para disputar eleição ao governo do Estado. O hoje vereador em Goiânia foi o lanterninha.

Sem espaço no partido, Iram mudou de lado para obter apoio informal do governador Henrique Santillo, então dissidente do PMDB. O senador Iris Rezende (PMDB) venceu a eleição, disputada em turno único, com larga vantagem sobre os adversários: teve 889.927 votos (56,38%), contra 537.111 de Paulo Roberto Cunha (PTB); 88.836 de Valdi Camarcio (PT); e 62.327 de Iram.

É bom lembrar que Iris disputou a eleição sem apoio da máquina administrativa. Arrependido, Iram retornou ao PMDB durante o governo Iris e conseguiu ser indicato ao Tribunal de Contas da União (TCU) pelo partido.

Nas eleições de 2006, o PFL (hoje DEM) se desgarrou da base aliada para lançar candidato. O senador Demóstenes Torres, eleito em 2002 com apoio do governador Marconi Perillo (PSDB), encabeçou a chapa. Dentre seis concorrentes, ficou apenas em quarto, com vantagem apenas sobre os nanicos Elias Vaz (PSol) e Edward Júnior (PSDC).

Demóstenes obteve 95.701 votos e o partido elegeu somente um deputado federal (Ronaldo Caiado) e dois estaduais (Helio de Sousa e Nilo Resende). O fracasso fez com que Demóstenes, alguns meses após a eleição, se aproximasse novamente de Marconi.

Concorrentes apostam em mudança com apoio do governo do Estado

Apesar de histórico malsucedido de terceiras vias no Estado, a aposta dos partidos que formam o novo eixo é que no atual contexto a empreitada tenha êxito. O apoio da máquina estadual – o que leva os articuladores da aliança a chamar a coligação de primeira via – é um dos motivos que reforçam a convicção de que dessa vez o candidato pode sair vitorioso.

Outro fator relevante é o número de prefeituras que DEM, PP, PR e PSB, principais legendas que estruturam o grupo que pode fazer frente a PMDB e PSDB nas eleições do próximo ano, conquistaram em 2008. Somadas chegam a 95 prefeituras. PP fez 49, seguido por PR, 28, DEM, 14, e PSB, 4. O PSDB fez 52 e seu principal aliado, o PTB, fez 8. Já o PMDB conquistou 59 municípios e consolida aliança com PT, que fez 12 prefeituras.

A demora para anunciar o candidato (previsto para março de 2010), garantem os articuladores da terceira via, não é desvantagem. PSDB e PMDB, por sua vez, pretendem fazer as definições ainda este ano. Com apoio do governador Alcides Rodrigues (PP), a nova frente acredita que o período em que fará propaganda em rádio e TV será suficiente para convencer o eleitorado.

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