quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Diário da Manhã

Iris e os servidores: a defesa da solidão

O deputado estadual José Nelto, veterano em conquistas de mandato para a Assembleia Legislativa, tornou-se o único e fiel defensor de Iris Rezende nos jornais. É fácil perceber que ele está sozinho nessa empreitada. Além do próprio Iris, ninguém mais tem a petulância de defender a política do velho PMDB em relação aos servidores públicos. Isso ocorre, em minha opinião, não porque o partido não tenha gente com coragem ou capacidade para fazê-lo. O problema é que essa é uma causa perdida na origem, gasta pela prática e irremediavelmente forjada na história.

Em seu último artigo defendendo a relação de Iris com os servidores públicos, o deputado José Nelto afirmou que o prefeito sempre quitou as folhas de pagamento do funcionalismo em dia, “como determinava a legislação” na época em que foi governador. Não é verdade, e o deputado sabe muito bem disso. Neste aspecto, provavelmente Nelto se baseia na máxima nazista da repetição sistemática de uma mentira até que a verdade seja substituída por ela. Isso realmente funciona, mas somente em regimes de exceção.

Se os salários dos funcionários da Prefeitura de Goiânia são hoje pagos dentro do mês trabalhado, não há qualquer dúvida na sociedade sobre o início dessa prática. Nasceu com o então prefeito Nion Albernaz, do PSDB, que em 1997, ao receber a Prefeitura com folhas vencidas e acumuladas, lançou mão de uma programação de pagamentos, avisando ao servidor exatamente quando receberia. Em um ano, o prefeito colocou a folha dos servidores rigorosamente em dia e, aí sim, dentro do que determina a legislação.

No Estado, Marconi Perillo avançou nessa questão, e mesmo tendo herdado folhas atrasadas, não somente colocou o pagamento dos servidores em dia como passou a antecipar a liberação dos salários dentro do mês trabalhado, algo absolutamente inédito nos Estados brasileiros até então. Essas são as diferenças entre aquilo que o PMDB de José Nelto prega e a prática daquilo que sempre foi norma de conduta de Iris Rezende em relação aos servidores públicos. De um lado, tanto na Prefeitura de Goiânia como no Governo de Goiás, os avanços na relação entre governantes e servidores, de outro, no máximo, a repetição do que foi implantado por Nion e Marconi.

É por isso que os servidores sabem perfeitamente o que virá pela frente com o retorno de Marconi Perillo ao comando do Estado. Recentemente, o próprio secretário da Fazenda, Jorcelino Braga, que se tornou o maior crítico das modernizantes administrações de Marconi por razões meramente políticas, admitiu que de 1999 para cá, especialmente no período em que o Tempo Novo esteve no poder, os salários dos servidores públicos de Goiás subiram mais de 100% acima da inflação desse período. E disse isso em tom de crítica, imagine só.

A falta de sensibilidade política de Iris Rezende quanto ao serviço público é que faz com que não se registre qualquer tipo de avanço nessa questão em seus governos. Na Prefeitura de Goiânia não há pauta para a discussão plena e aberta de planos de cargos e salários. Não há qualquer perspectiva real de mudança a curto, médio ou longo prazo para a carreira profissional dos servidores, enquanto o governo tiver a orientação arcaica adotada por Iris Rezende.

A ojeriza de Iris Rezende para com os servidores públicos é quase totalmente indisfarçável. Chego a imaginar que o prefeito, assim como setores do governo estadual atualmente, enxerga no funcionalismo um câncer permanente que estraga as administrações. É questão de pele, talvez. Ou resultado de visão ultrapassada, que não consegue se moldar aos dias atuais.

Louvo a fidelidade do solitário deputado José Nelto dedicada a Iris Rezende. Sei também que o deputado tem se preparado para disputar uma das vagas de deputado federal nas próximas eleições. Se isso realmente acontecer, então ele perceberá que para Iris não existe funcionário público, companheirismo ou amizade. Como bem disse o deputado federal pelo PMDB, Luiz Bittencourt, em entrevista a uma rádio da capital, basta “observar as fotos de Iris nos jornais, verá que a seu lado quase não tem lideranças representativas do partido”. Só ele sempre aparece. Por isso mesmo, ao que tudo indica, em 2010, Iris vai continuar priorizando Iris.

Gilvane Felipe é mestre em história pela Universidade Sorbonne Nouvelle (Paris) e presidente do PPS em Goiás (gilvanefelipe23@gmail.com) (http://twitter.com/gilfelipe)

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