sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Diário da Manhã

2010, eleição do moderno contra o antigo

Os defensores da candidatura de Iris Rezende ao governo do Estado enfrentam três problemas: a mágoa do funcionalismo público com as perseguições sofridas nas administrações do PMDB, a falta de diálogo do próprio Iris com a juventude e o tradicional desprezo que o atual prefeito de Goiânia sempre teve pelos programas de ajuda direta às famílias carentes.

Com frequência, nas páginas do Diário da Manhã, deparamo-nos com entrevistas, reportagens e artigos em que funcionários do Paço Municipal e políticos peemedebistas tentam resolver essas três graves deficiências da candidatura de Iris.

Tentam. Só que é notória a carência de argumentos e a rachadura vai se ampliando e quem sabe até o ponto de comprometer em definitivo a candidatura.

Examinando a longa carreira pública do atual prefeito de Goiânia, é fácil notar que ele realmente tem um estilo administrativo que se caracteriza por uma única marca: a construção de obras físicas. E, mais objetivamente ainda, Iris gosta de fazer asfalto, pavimentando rodovias nos seus tempos de governador ou ruas, nos seus mandatos como prefeito da Capital.

Programas de governo que não são tangíveis – como oferecer condições de subsistência digna aos pobres – nunca foram o forte das gestões de Iris. Agora mesmo, na prefeitura, ele teve que ser acionado judicialmente pelo Ministério Público, através de uma ação civil pública, para que voltasse a cuidar dos menores e adolescentes de rua em Goiânia. Até então, Iris vinha desativando os programas municipais que prestavam atendimento a esse segmento, o que levou os promotores estaduais a buscar a Justiça para tentar resolver um problema social que se apresentava cada vez mais grave.

Falei da longa carreira pública de Iris. Seguramente, ele é um dos mais antigos políticos brasileiros em atividade. E sempre dando prioridade para os seus próprios interesses. Desde a primeira vez em que foi prefeito de Goiânia, Iris sempre foi o candidato da vez e só abriu mão quando estava impedido de disputar a reeleição. Foi assim que ele botou dezenas de políticos jovens para longe do PMDB, a começar pelo próprio Marconi Perillo, hoje o seu grande adversário.

Bem, como político antigo, que vem de uma outra época, quando não havia internet, telefone celular, imprensa de massas e nem sequer televisão, é inevitável que Iris tenha dificuldades para se comunicar com quem está habituado a essas novas tecnologias, especialmente a juventude. Já que, para Iris, o mundo se resume a um canteiro de obras, a consequência dessa visão é o distanciamento em relação às pessoas jovens, que se preocupam muito mais com qualidade de vida, acesso à web, serviços públicos rápidos e eficientes e, enfim, uma vida com acesso aos bens civilizatórios da modernidade.

Falta de contato com a juventude pode ser fatal em um Estado como o de Goiás, onde o eleitorado de 3.800.000 é composto em mais 50% de rapazes e moças com idade abaixo de 34 anos, conforme dados do TRE. Esperar, como disse Iris, que “avós e pais contem aos seus filhos” quem ele é e o que ele faz parece um pouco ingênuo e, pior ainda, o reconhecimento de que realmente existe dificuldade para falar com as novas gerações.

A ojeriza ao funcionalismo público, demonstrada não só nos governos de Iris Rezende, como também no de Maguito Vilela, decorre desse apetite insaciável por obras. Dinheiro gasto com a folha de pagamento dos servidores, em resumo, é dinheiro perdido, que desaparece e não fica eternizado em ferro, cimento e massa asfáltica. Por causa dessa filosofia, sabe-se que ao primeiro sinal oficial da candidatura de Iris a governador, um exército formado pelos funcionários e suas famílias se levantará contra, receoso da volta da perseguição e da desvalorização da classe.

Os obstáculos para a eleição de Iris Rezende, como se vê, não são pequenos nem desprezíveis. Seu adversário será o senador Marconi Perillo, político de terceira geração, jovem, sorridente e nada carrancudo, permanentemente antenado com as mudanças tecnológicas que chegam com rapidez incontrolável nos dias de hoje. E, até agora, não notamos nenhuma mudança no comportamento do prefeito de Goiânia, que se mantém apegado ao seu estilo populista tradicional, com um segundo mandato morno, sem mote para entusiasmar o eleitor.

A ser assim, o desfecho de 2010 não deverá trazer grande novidade. Será o enfrentamento entre o moderno e o antigo, com resultados previsíveis.

Nivaldo Mello é artista plástico

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