sexta-feira, 27 de novembro de 2009

O Brasil tem oposição inteligente!

Diário da Manhã

Opinião

O criticável em Lula

Faz parte do folclore político uma passagem atribuída à antiga raposa política mineira José Maria Alckmin. Um amigo chegou a ele com uma novidade: “O fato é o seguinte...” Alckmin: “Dê logo a versão.”

Vem bem a calhar no caso Caetano Veloso versus Lula. O talentoso compositor, em entrevista à jornalista Sonia Racy, do Estadão, disse que a senadora Marina Silva é Lula e Obama. Teve, como o primeiro, bonita história de superação e, como o segundo, a pele negra, sem ser “analfabeta como o Lula, que não sabe falar, é cafona falando, grosseiro”.

Não adiantou o próprio Caetano explicar que a fala de Lula, “pouco instruída e frequentemente grosseira e cafona”, não é meramente negativa. O próprio presidente se vangloria disso, “os linguistas aplaudem” e ele “é forte inclusive por isso: atinge a maioria dos ouvintes”. A versão que se espalhou foi de que chamou Lula de analfabeto.

É preciso ser sincero. Lula é um animal político, figura de muitos méritos. E hoje é pessoa culta. Não possui a cultura livresca, a escolaridade regular que almejamos para nossos filhos. Mas é muito inteligente. Revela imensa capacidade de aprender e de apreender o que lhe ensinam. Conhece mais de 100 países e os mais relevantes chefes de Estado. Conhece o mundo e as pessoas.

Não é por aí que, a meu ver, merece ser condenado. Não pode, porém, ficar imune a críticas. Ter 80% de aprovação em pesquisas não lhe confere carta branca para fazer o que bem entende. Nem pode inibir a oposição. Se denunciar o que está errado, corrupção e superfaturamento, significa marchar contra a corrente e implica risco de perder eleição, corra-se o risco, porém cumpra-se o dever para com a Nação.

O País está tomando rumo preocupante, sobretudo porque as coisas mais absurdas já estão parecendo naturais. A Nação está aceitando como normal um filme produzido com dinheiro de empresas que dependem do governo, sobre um personagem vivo e que está no poder. Sua bonita história até mereceria um filme, mas que eticamente só poderia ser realizado e exibido após o término do mandato – como aconteceu com as obras de Sílvio Tendler sobre João Goulart e Juscelino Kubitschek.

Convive-se ainda, de forma alarmantemente passiva, com investidas contra a liberdade de imprensa e contra a fiscalização de obras do governo. O presidente já disse que o jornalismo deve ser informativo e não investigativo. E o governo acusa um órgão respeitável como o Tribunal de Contas da União de, com sua fiscalização, estar emperrando o Programa de Aceleração do Desenvolvimento (PAC). Só aceita que possíveis irregularidades sejam apontadas após a conclusão das obras...

No Congresso, com sua folgada maioria – bem menor no Senado – o governo vai sufocando a oposição ao desmoralizar, por exemplo, o instituto das CPIs, esse que é o mais tradicional instrumento de apuração de denúncias de irregularidades. A base governista assume o comando delas, tumultua as reuniões e não deixa aprovar a convocação de quem julgue inconveniente, além de, sistematicamente, impedir quebras de sigilo bancário ou telefônico.

Estabelece-se perigoso maniqueísmo. Quem se coloca contra qualquer iniciativa de interesse do governo não é “patriota”. Investigar irregularidades na Petrobras é ficar “contra o Brasil”, discutir a Petro-Sal é “impatriótico”. Só há um caminho “certo”: o do governo. Daqui a pouco estaremos a assistir ao culto à personalidade, com grandes estátuas e grandes painéis com a figura do chefe de Estado espalhados pelo País.

Arthur Vírgilio é senador pelo Amazonas e líder do PSDB

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