terça-feira, 24 de novembro de 2009

O Popular

ENTREVISTA: LÚCIA VÂNIA

“Alcides faz governo bom, mas de pouca visibilidade”

Cileide Alves

A senadora Lúcia Vânia (PSDB) é candidata à reeleição, mas sua vaga ainda não foi garantida pela cúpula do partido. Ela admite suas dificuldades internas e afirma que elas acontecem por diferenças de estilo. A senadora sabe que terá de lutar por essa vaga e promete que buscará seu espaço como das outras vezes, nas bases do partido e “com muito trabalho”.

Lúcia acha que as divergências entre PP e PSDB ocorreram, principalmente, porque seu partido não soube perceber que o PP tentava criar uma identidade própria. Ela admite a dificuldade de reunir os dois partidos e diz que Alcides Rodrigues faz um bom governo: “A pessoa para fazer uma análise do governo tem de levar em conta as circunstâncias em que ele assumiu o governo e as dificuldades que enfrentou.” Confira os principais trechos da entrevista que ela concedeu sexta-feira ao POPULAR.

A senhora é candidata à reeleição ao Senado?

Sim, sou candidata à reeleição uma vez que eu acredito que, pelo serviço prestado, por ocasião da disputa eu posso apresentar esse trabalho de forma mais efetiva e acredito que eu tenha todas as condições de representar bem o meu partido no Senado da República.

O PSDB está convencido de que a senhora é uma boa candidata?

Eu tenho tido da direção nacional um apoio enorme. O partido sempre me contemplou com posições importantes. Eu participo das discussões internas do partido, eu sou vice-presidente do partido nacional. Em relação ao PSDB local, eu não tenho participação efetiva, não participo da executiva, porém, tenho um apoio muito forte da base. Tenho certeza que se for pela base eu tenho apoio total.

A cúpula do partido colocou essa vaga para negociar?

A cúpula do partido sempre está buscando alianças, eu não tenho tido apoio explícito pela cúpula. É sabido, não há como negar, que eu não participo das decisões do partido daqui, eu não tenho presença expressiva no horário do partido, e também, me parece que o partido não se preocupa muito em divulgar meu trabalho.

Por que isso aconteceu?

Eu acredito que é pelo estilo de trabalho, eu tenho um trabalho que busca muito o resultado. Eu não me preocupo muito em estar envolvida no cotidiano político do partido. Eu acho que isso é visto até como uma agressão, mas é o meu estilo. Eu não tenho como abrir mão desse estilo.

Como vai construir agora a sua candidatura com esse quadro que acaba de descrever?

Eu tenho conversado longamente com o senador Marconi Perillo. Ele sempre reafirma o apoio à minha candidatura. Naturalmente, esse espaço nunca foi me oferecido, eu sempre fui buscar através da base, do trabalho. É claro que não posso defender apenas a vontade do candidato a governador, preciso ter respaldo do partido, como toda a aliança que se formará com o partido. E não tenho muita dificuldade em buscar esse entendimento. Eu sempre entendi que não é muito fácil pra mim, como não foi no passado, buscar essa vaga. Eu tenho de lutar por ela. Porque eu procuro lutar pelo espaço na minha atividade política por merecimento, eu não procuro favores para chegar lá.

A senhora sempre teve divergências com o senador Marconi. Isso vai lhe prejudicar?

As divergências que nós temos são sempre superadas. São divergências do estilo do trabalho. E às vezes divisão mesmo de determinados problemas. E como eu tenho uma carreira construída com muito trabalho, uma carreira que de certa forma foi construída muito antes da dele, então, isso naturalmente gera conflitos. Eu tenho procurado administrar esses conflitos e ele também.

Um dos argumentos de quem quer mudar a chapa é que ela não poderia ser igual à de 2002.

Eu acredito que a chapa não deve ser avaliada porque é semelhante à anterior. Eu acho que ela tem de ser avaliada pelo que ela representa de trabalho. Obviamente essa chapa não se repetiria se o trabalho não tivesse sido reconhecido pela sociedade.

Em 2002, quando venceu a disputa interna no PSDB com Henrique Meirelles, falou-se que a senhora se colocou no papel de vítima, ameaçou inclusive tomar decisões radicais. Isso aconteceu?

Na verdade colocam mil coisas em torno disso, mas se você não tem o seu espaço, se não tem o seu trabalho reconhecido, principalmente naquela situação que tinha um candidato de expressão, ninguém te dá esse espaço na bandeja. O que venceu foi a importância do meu trabalho e os índices que eu tinha nas pesquisas que eram superiores inclusive aos do próprio Marconi. Acho que essa versão correu no sentido de justificar o não atendimento, o não cumprimento da promessa em relação ao Meirelles. Você conhece atividade política, sabe perfeitamente que não é fácil para uma mulher militar nesse ambiente. Então, para você interpretar uma vitória daquela natureza que demonstrou força e competência, é preciso que você deprecie a pessoa. À medida em que eu demonstrei ser competente, a ponto de disputar o espaço de igual para igual com qualquer um dos outros candidatos, obviamente precisavam mostrar uma fragilidade da minha parte. Isso é muito comum quando se trata de mulher disputando espaço.

Como a senhora vê a movimentação de PP, DEM, PR e PSB para lançamento de um candidato?

Eu tenho falado que eu vejo com a maior naturalidade, para mim não é nenhuma surpresa. Desde as eleições municipais eu tenho repetido que o quadro político no Estado de Goiás mudou, porque o resultado demonstrou um equilíbrio de força. Se você pegar hoje o PP, PSDB, PT e PMDB, eles têm os mesmos números de prefeituras. Mesmo se você quiser dizer que PP e PSDB estão mais ou menos imbricados, vai ver que a raiz do PP é diferenciada da raiz do PSDB. É mais que natural que um partido que começa a ter uma identidade, que está no poder, queira se fortalecer.

O PSDB não soube perceber isso no início do governo Alcides?

Acho que em nenhum momento o PSDB teve essa clareza. Eu repetia isso muito na campanha. Na medida em que nós temos uma aliança e essa aliança tem um novo candidato que não seja do PSDB, nós estávamos já propiciando que esse partido (o PP) pudesse se fortalecer. Isso se deu de forma efetiva, porque o governador Alcides é um homem que tem raízes muito claras no interior do Estado, numa região, que é a Sudoeste. Então, seria mais que natural que ele desse uma identidade nova a esse partido que vinha de, certa forma, adormecido ao longo do tempo e ressurgiu, se fortaleceu, e com ascensão do governador Alcides.

Essas raízes diferentes de PSDB e PP significam que os dois partidos não têm chances de voltar a se encontrar para as eleições de 2010?

Eu acho que por terem raízes diferentes isso não quer dizer que não terão chances de se encontrar. Tanto têm chances que se encontraram no passado. Agora eu acho que eles poderão se encontrar em uma situação diferente do que se encontraram em 98.

Como assim?

Eu acho que esse encontro seria de forma muito mais altiva por parte do PP, porque, ele se fortaleceu, já marcou uma identidade que está no perfil do dr. Alcides, na forma de governar, na forma de repassar para a população a sua visão de mundo.

O desgaste no relacionamento inibiria a reaproximação entre os partidos?

Eu acho que houve um desgaste, houve um descuido por parte dos dois lados, mas que eu atribuo especialmente ao PSDB em função de que no primeiro momento o partido não percebeu que o PP teria uma identidade e que precisava colaborar para que essa identidade pudesse ter visibilidade e isso foi gerando acúmulo de atrito e alguns elementos também radicais do próprio PP e do PSDB se encarregaram de fazer espalhar essa divergência.

Por sua percepção da realidade, a senhora aposta que vai haver aliança ou não?

Eu acho que nós temos de trabalhar com as duas hipóteses. Não há como ter uma bola de cristal e dizer eu vou trabalhar com a aliança. Se houver uma distensão nesse relacionamento a gente poderia trabalhar essa aliança de forma a ser produtiva, mas se não houver a distensão não há como trabalhar. Você acompanha pela imprensa, você viu que há questão de um mês o PSDB discutia a hipótese de romper com o PP. Então se isso tiver que ser consolidado intensificaria enormemente a divergência. Ao mesmo tempo que a gente vê que há possibilidade de distensão, de repente, na semana seguinte, vem um fato novo e aquilo se intensifica. A continuar esse quadro não há como trabalhar a hipótese da composição; se esse quadro for realmente arrefecido, eu acho que poderia pensar em trabalhar essa hipótese. Uma semana você acha que está tudo bem, que as pessoas começaram a conversar, a não se agredirem. Na outra semana aparece um e coloca tudo por água abaixo. Então, não tem como você trabalhar com hipótese. A continuar isso, esse quadro de altos e baixos, até o fim de março, não há como. Seria utopia você ficar pensando que vai ter uma aliança.

Na sua opinião, o governo de Alcides Rodrigues é ótimo, bom, regular, ruim, ou péssimo?

Eu acho que é um bom governo. Ele tem procurado enfrentar os problemas com responsabilidade. Ele tem uma característica muito importante no sentido de não prometer aquilo o que não vai realizar. Tem um respeito profundo pela Assembleia Legislativa, pela Câmara de Vereadores. O governo está cuidando de todos os segmentos de forma efetiva. Eu vejo muita responsabilidade na condução dos negócios do Estado em Brasília, no Tesouro Nacional, que eu já acompanhei toda essa trajetória das dívidas do Estado ao longo do tempo. Ela é feita com responsabilidade então, eu considero um governo bom, porém com pouca visibilidade. Portanto, eu acredito que a pessoa para fazer uma análise tem de levar em conta as circunstâncias que ele assumiu o governo e as dificuldades que ele enfrentou.

Nenhum comentário:

Postar um comentário