sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Diário da Manhã

Patrocinadores do filme “Lula” mantêm negócio com governo
Produtora da obra, que custou R$ 12 mi, diz que contratos com empresas são confidenciais

A maior parte das 17 empresas patrocinadoras do filme “Lula, o filho do Brasil”, que deve entrar no circuito comercial em 1º de janeiro, mantêm negócios com os ministérios e bancos do governo federal. Apenas em 2009, sete dessas empresas receberam cerca de R$ 407 milhões em pagamentos diretos da União por conta de obras, aquisição de equipamentos e outros serviços. Outras cinco obtiveram financiamentos do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) desde o início do mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 2003, e outra tem como sócio um banco estatal e o fundo de pensão a ele ligado, ambos controlados pela União.

O Banco do Brasil e a Previ (fundo dos funcionários do BB), cujos presidentes são nomeados pelo governo federal, detêm cerca de 61% das ações da Neoenergia, terceiro maior grupo do setor energético brasileiro, que confirmou à reportagem ter doado R$ 500 mil para a produção do filme. O custo total é um dos mais altos do cinema nacional. Os produtores, a família de Luiz Carlos Barreto, afirmam que foi de R$ 12 milhões.

As empresas investiram de uma maneira pouco usual no mercado – injetaram dinheiro próprio e fora das leis de incentivo à cultura que preveem o abatimento das doações no Imposto de Renda. Os produtores do filme dizem que não procuraram as leis justamente para não serem acusados de beneficiamento indevido. Se preservou o dinheiro dos contribuintes, o caminho adotado pelos produtores tornou a operação cercada de mistério.

Nos projetos financiados de acordo com as leis de incentivo à cultura (cerca de R$ 88 milhões em projetos de cinema em 2008), a Ancine (Agência Nacional do Cinema) tem acesso aos valores e empresas financiadoras, dados tornados públicos pelo site da Ancine. Não é o caso do filme “Lula”. “É como um negócio qualquer entre duas empresas, não temos acesso a essas informações”, informou a agência.

Em e-mail enviado à reportagem por meio de sua assessoria, a produtora Paula Barreto informou que os valores exatos da doação de cada empresa não podem ser revelados: “Os contratos são confidenciais, não é possível divulgar valores”. Ela também disse que “100% dos patrocinadores são empresas que já investiram em cultura”.

Em sua edição de ontem, o jornal O Globo informou que Paula disse que quatro doadores pediram para que seus nomes sequer fossem divulgados, o que eleva para 21 o número total de doadores do filme. Procurados pela reportagem, alguns patrocinadores deram transparência às suas cotas.

O Senai (Serviço Nacional de Aprendizagem na Indústria) informou ter doado R$ 2 milhões, a Neoenergia, R$ 500 mil, e a EBX, do empresário Eike Batista, R$ 1 milhão – em 2009, Eike ajudou outro projeto de cinema, o filme “Cinco vezes favela” de Cacá Diegues, também de forma direta. A maior parte das empresas alegou que a estratégia de não revelar o valor da doação faz parte da política usual da companhia na área dos patrocínios, não tendo relação com o filme.

A telefônica Oi, que fechou ontem com o BNDES um contrato de financimento de R$ 4,4 bilhões, manteve o mesmo tom: “A Oi tem como prática não informar valores específicos por projeto patrocinado.”

Fonte: Da Folhapress, de Brasília

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