segunda-feira, 14 de junho de 2010

CONEXÃO












Afonso Lopes


GOVERNO ALCIDES

Oposição em dose dupla
Marconi Perillo e Iris Rezende preparam discursos de candidatos oposicionistas. Acabou o recreio

Foram três anos e meio sem qualquer tipo de ação oposicionista mais contundente. O governo Alcides Rodrigues (PP) chega às vésperas das convenções partidárias que vão definir o quadro eleitoral sem ter tido o menor trabalho com a oposição. Nada de nada. O PMDB, que seria a oposição natural, optou por uma adesão branca logo nos primeiros dias do mandato atual de Alcides. Já o PSDB conviveu com estranha situação de ser governo e inimigo declarado ao mesmo tempo. Mas isso acabou. A partir de agora, PMDB e PSDB vão concentrar fogo nas hostes palacianas. Acabou o recreio.

Até aqui, o governo viveu um mundo maravilhoso. Raramente houve qualquer ação política de confronto e em direção contrária às orientações palacianas, fora algumas declarações de um deputado estadual do PMDB, Thiago Peixoto, e de um deputado do PSDB, Daniel Goulart. No mais, é como se o governo fosse uma grande e tranquila unanimidade.

Parte do mérito dessa situação tranquila é herança das urnas de 2006. Naquela eleição, o governo saiu das urnas com nada menos que 27 deputados estaduais eleitos, quórum suficiente para mudar o texto constitucional sem precisar de um único voto da oposição. Foi esse resultado que contaminou o ânimo, ou desânimo, oposicionista no PMDB.

A coisa foi tão demasiadamente governista nesse tempo todo até aqui que o Palácio sequer se deu ao trabalho de fazer política. Inúmeras vezes os deputados da base reclamaram da falta de atenção do Palácio. Nenhum interlocutor foi indicado para facilitar esse contato. Possivelmente, deve ter sido o período administrativo com o menor número de visitas de deputados ao Palácio das Esmeraldas. A economia com a ambrosia palaciana deve ter sido considerável.

Se tudo isso fosse consequência de uma boa ação política, a ausência de deputados da base no Palácio seria um ótimo sinal. Mas não foi bem assim, não. Na realidade, os deputados bem que tentaram marcar audiências, mas quase nunca conseguiram algo além de contatos com secretários de Estado.

O incrível é que isso não explodiu numa enorme crise política apesar de tantas ameaças e ensaios nesse sentido. No PSDB, sobrou a orientação de que era necessário aceitar esse tipo de jogo para evitar que o PMDB desembarcasse no governo de uma vez. Já entre os peemedebistas havia sempre alguma esperança de que a relação do Palácio com os tucanos explodiria de vez e sobrariam para eles os louros governistas dessa guerra. O tempo passou, nada aconteceu e o recreio terminou.

Oficialmente, o PSDB já está na oposição. Timidamente, é verdade. Talvez esse posicionamento seja percebido apenas no âmbito eleitoral, e não político. Até porque, e mesmo declaradamente marconistas, existem tucanos dentro da administração de Alcides. O governador, mesmo com pressão dos seus novos aliados, se recusa a demitir os tucanos. Imagina que assim não permitirá que seja ele identificado como o autor do rompimento com o PSDB. Nesta altura do campeonato, se for realmente isso que tem limitado a ação do governador, trata-se de uma bobagem.

No PMDB, a ordem é começar a tentativa de manter associada a imagem do governo de Alcides com o PSDB. O objetivo é óbvio: explorar as falhas administrativas atuais e creditá-las na conta político-eleitoral do senador Marconi Perillo. Os estrategistas do partido entendem que esse é o melhor e mais fácil caminho para atacar o adversário. Ou talvez o único. Como o PMDB não conseguiu formular críticas aos dois mandatos de Marconi até hoje, a alternativa viável é essa: atacar o governo de Alcides com o objetivo de acertar a candidatura de Marconi. Conta simples e direta.

A estratégia do PMDB é boa, mas ainda não apresentou qualquer resultado concreto. Nas pesquisas até aqui, Marconi lidera. Não é uma liderança tranquila, com muita folga, mas para quem andou apanhando politicamente por mais de três anos até que a situação é confortável. Marconi aparece com média de 5 pontos porcentuais de vantagem sobre Iris Rezende. Como a polarização entre eles é total, há sempre uma possibilidade de definição do processo eleitoral já no primeiro turno. Marconi, nesse caso, a se contar apenas as intenções de voto válidas, estaria a 1 ponto e meio por cento da vitória.

Já o Palácio das Esmeraldas deve se preocupar com tudo o que virá pela frente, na campanha propriamente dita. Por enquanto, como se falou, há um processo oposicionista em formação tanto no PMDB quanto no PSDB. Quanto mais se adentrar no período eleitoral, mais denso e sistemático será esse posicionamento. Caberá ao Palácio então formular sua defesa permanente. A pergunta é como isso será feito.

Em tese, seria muito mais fácil criar defesas se aliando a uma das duas candidaturas polarizadas. Sabe-se que, depois de tamanho distanciamento, uma reaproximação com o PSDB está totalmente descartada. Restaria o PMDB, que tem como desculpa para essa aliança a união do palanque pró-Dilma Roussef em Goiás. O Palácio escolheu um terceiro caminho ao apoiar a candidatura de Vanderlan Vieira, do PR. É por aí, então, que ele terá que se preparar para não se transformar em pó de traque numa campanha que promete ser muito dura.

Curiosamente, pelo menos até agora a candidatura que deveria ser o ponto de apoio do Palácio no processo eleitoral ainda está totalmente apática nesse sentido. Iris e Marconi estão nadando de braçada nas críticas sem ter que enfrentar correnteza contrária. Aliás, ambos nadam a favor da correnteza oposicionista, que é natural em todos os finais de governos sem popularidade altíssima.

Bem, mas o que um governo que está nos momentos finais tem a perder se for transformado em jirau de pancada no processo eleitoral? O governo em si não perderia nada até pelo fato de que está mesmo no fim. Mais alguns meses e tudo acabará. O problema é o estrago que isso causa nas chapas de deputados, tanto estadual quanto federal, que ficariam sem um rumo político-administrativo, dependendo então do prestígio individual para sobreviver em eleições complicadas pela polarização no andar de cima.Essa situação poderá levar o governo ao pior dos mundos: perder o apoio até mesmo das chapas proporcionais. Isso, em qualquer eleição, é definitivo. E compromete também o futuro. Essa é a conta que ficará pendente.

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