segunda-feira, 21 de junho de 2010

CONEXÃO


GOVERNO LULA/CELG

Afonso Lopes

Acabou a farsa
Após inúmeras promessas, chega ao fim a grande farsa armada pelo governo federal nas negociações com a Celg; as promessas de Lula foram parar na lata de lixo da história

Não era pra ser assim, evidentemente. O governo de Goiás fez tudo o que foi exigido pelo governo federal em quase três anos de negociação sobre a Celg. Tudo e mais um pouco. Chegou a entrar em atrito com a Assembleia Legislativa unicamente para aceitar imposições fantásticas e descabidas, como no caso da administração teoricamente compartilhada com a Eletrobrás, na primeira operação desse tipo que se tem notícia, em que o sócio minoritário assume o comando. E o que resultou de tudo isso: nada. Ou, antes, quase tudo.

A embromação do governo Lula em relação à Celg é uma coisa estúpida e irresponsável até. Se não queria ou não tinha condições de ajudar na solução de um agudo problema financeiro da empresa goiana, o correto teria sido descartar desde sempre qualquer possibilidade de participar das negociações. O resultado dessa ação protelatória do governo federal em relação à estatal goiana tem um custo elevadíssimo financeiramente e também de viés econômico.

Nestes três anos, as dívidas acumuladas da Celg, que beiravam R$?4 bilhões, em 2006, hoje se aproximam de R$?7 bilhões. E se aproximam rapidamente. E irão fatalmente ultrapassar essa faixa caso a empresa não consiga alongar o perfil de sua dívida e, consequentemente, se submeter à taxa de juros suportável. A situação da Celg atualmente é como a de um cidadão que deve os tubos nos bancos, perdeu renda, queimou patrimônio e depende de agiotas espertos para não afundar de vez. Era exatamente dessa condição catastrófica que as negociações com o governo de Lula visavam livrar a empresa.

Esse rombo aí, de quase R$?3 bilhões nos últimos anos, deve ser creditado unicamente ao “embromation luliano”. E não foi o único. A cada ano, a Celg perdeu outros R$?300 milhões porque foi obrigada a manter suas tarifas congeladas graças à penalidade imposta pela Aneel, agência que regula o setor elétrico nacional, por conta da inadimplência da empresa.

Esse é o tamanho do custo financeiro provocado por uma interminável sequência de atitudes claramente protelatórias por parte do governo federal em relação à Celg. E olha que não faltaram aqueles que alertaram para a embromação federal. Foram muitos avisos de que as coisas não estavam cheirando muito bem, como nas vezes em que o presidente Lula esteve em Goiás e, de cima do palanque, politizou a crise da Celg. Estava claro, com essa atitude de Lula, num palanque, que a solução prometida não era séria. Tanto que de lá pra cá não mudou absolutamente nada na dura realidade da empresa. A Celg está muito pior do que estava há três anos — vide crescimento da dívida e impossibilidade de aumento no faturamento.

O que mais está faltando para fechar o negócio? Tudo e mais um pouco. Aquilo que se votou e aprovou até hoje na Assembleia Legislativa, e sob fortíssima pressão não apenas psicológica por parte do governo estadual, deve ser imediatamente revisto. Está em vigor, por exemplo, a autorização para que a Eletrobrás se apodere de quase metade da Celg e indique todo o comando administrativo e fiscal da Celg. Essa era a condição para que a Eletrobrás utilizasse um fundo nacional que ela administra para esticar o perfil da dívida da Celg. Esse dinheiro, que nunca existiu de fato, foi descartado oficialmente. Ou seja, a condição para que a estatal do governo federal assumisse de fato a Celg não existe mais. Então, é óbvio que também o desembarque da Eletrobrás na estatal goiana tem que ser revisto.

Se já era algo estranhíssimo um sócio minoritário se apoderar do comando administrativo da Celg, pior é viver essa mesma situação sem que esse sócio ao menos desembolse algum dinheiro. Sim, porque é essa a nova situação. O governo de Goiás sonha com autorização para poder se endividar em mais R$?4 bilhões, dinheiro que seria imediatamente entregue à Celg para quitação das dívidas urgentes e para alongar o restante da dívida.

Até agora ninguém falou com quanto a Eletrobrás entrará no negócio. Se mantida a proporcionalidade das ações, e como o aporte do governo goiano poderá ser de R$?4 bilhões, R$?1,640 bilhão terão que ser entregues em dinheiro vivo pela Eletrobrás para a Celg. Isso somente para manter a paridade em relação ao capital acionário de 41%. Ainda restaria pagar por essa montanha de ações.

A verdade é que as promessas de Lula e das autoridades federais foram parar na lata do lixo da história. Como nenhum dos compromissos assumidos, alguns de forma espetaculosa, em cima de palanques, foi cumprido, então se chega à conclusão que tudo o que foi feito pelo governo de Goiás, que cumpriu tudo aquilo que foi acordado e solicitado, tem que ser revisto. A partir de agora, que se negocie às claras, preto no branco, concretamente. O parceiro do lado de lá se revelou não confiável. Então, a parte de cá precisa se precaver. Até mesmo pela mais óbvia constatação de que será a população do Estado de Goiás quem terá que pagar por esses R$?4 bilhões.

Então, é justo que, no mínimo, esse negócio seja feito de modo simples, aberto e que, antes de ser concretizado, seja aprovado por aqueles que irão pagar a conta, os goianos. É o mínimo que se pode exigir como contrapartida. Fora isso, o que seria um grande negócio se transformará em mera chantagem.

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