segunda-feira, 21 de junho de 2010

REPORTAGEM






PARTIDO PROGRESSISTA

AFONSO LOPES

A história reage
As declarações de Sérgio Lucas e Feliberto Jacomo Filho no meio da semana são a verbalização de um sentimento que está nas bases do PP: contra o PMDB

O secretário geral do PP de Goiás, Sérgio Lucas, passou os últimos três anos brigando e apostando em candidatura própria do partido na sucessão do governador Alcides Rodrigues. Mais do que qualquer outro pepista, Sérgio Lucas alimentou a esperança do PP de que seria possível, inclusive, contar com o presidente do Banco Central do Brasil, Henrique Meirelles, numa empreitada eleitoral que mexeria definitivamente em todo o tabuleiro partidário de Goiás nestas eleições. Não deu certo, como todos sabem. Meirelles preferiu, na última semana do prazo final de filiação partidária, filiar-se ao PMDB.

Felisberto Jacomo Filho, ex-deputado, é um velho combatente do PP. Está no partido desde sua formatação atual. É ligado ao deputado federal Roberto Balestra e ao governador Alcides Rodrigues. Jamais mudou de lado. Sobreviveu na planície 16 anos enquanto o PMDB dominava o Palácio das Esmeraldas.

Cerca de 35 dos 40 prefeitos do PP fizeram uma reunião em Brasília em meados de abril, tão logo foi anunciada a pré-candidatura do já então ex-prefeito de Senador Canedo, Vanderlan Vieira, do PR, ao governo do Estado, que contaria com o apoio pessoal do governador Alcides Rodrigues e de outros dirigentes do PP estadual. A reunião dos prefeitos pepistas teve como principal protagonista não a pessoa do senador Marconi Perillo, mas a candidatura dele ao governo de Goiás.

São três cenários completamente diferentes. O primeiro mostra um dirigente do PP de primeira grandeza que fez tudo o que era possível a ele fazer para que seu partido tivesse um candidato a governador. O segundo trouxe à tona a própria origem do PP atual, nascido desde os tempos da velha Arena, e que passou pelo PDS e pelo PDC/PPB. O terceiro revelou ao público externo o que quase todo mundo sabia sobre o pensamento majoritário dominante nas bases do PP.

Não se sabe até que ponto esses episódios foram articulados conjuntamente. Pelo menos se olhado de fora para dentro, não parece ter havido qualquer organização prévia. São, portanto, manifestações isoladas e francas, porém invariavelmente com o mesmo propósito: defender os interesses políticos da esmagadora maioria dos pepistas. E qual seria esse interesse no caso imediato, o das eleições deste ano?

PR

Não há dúvida sobre o distanciamento real entre Marconi Perillo e Alcides Rodrigues. De parceiros, no Palácio durante quase oito anos e numa dura campanha eleitoral durante quase um ano, foram separados por sucessivos conflitos internos na cúpula. Aos poucos, o tucano passou de benfeitor político-eleitoral a adversário a ser abatido. As motivações, embora imagináveis, não são conhecidas.

Uns mais, outros menos, os pepistas assistiram a batalha entre seus dois principais líderes com preocupação e até certa curiosidade. E, invariavelmente, sem entender as razões de tantos desencontros. Seria natural uma reacomodação de forças diante de uma sucessão entre governadores com filiações partidárias diferentes, mas isso nem de longe deveria desencadear uma disputa pessoal que se transformasse no cataclismo que atingiu diretamente a própria aliança política firmada em 1998, e que resultou em três vitórias eleitorais inquestionáveis contra o adversário comum, o PMDB.

Alianças como essa costumam ser duradouras. Não se tem farto exemplo histórico de separações após vitórias consecutivas. Geralmente, o oposto é que se torna comum: derrotadas, as alianças se perdem num ódio de culpas. Ódio com vitória é quase a mistura de água e óleo. É por isso que poucos conseguem entender o que houve com parte da cúpula do PP.

Quem menos entende são as bases pepistas, que começam a se manifestar de maneira mais dura. Na última década, essas bases se acostumaram positivamente com o governo de coalizão iniciado em 1999 e que colocou um filiado do PP no comando do Palácio das Esmeraldas. A última vez que um político dessa linhagem esteve no cargo foi na década de 1980, portanto há nada menos que 24 anos. Mais do que isso, após todos esses anos, o PP passou a figurar como terceira maior força partidária do Estado.

E por aí que pode se começar a entender a reação que se mostra dentro do PP. Não é uma dissidência partidária e nem um movimento de grupo. Trata-se de um levante das bases. Até porque não foi oferecida a essas bases uma alternativa que justificasse plenamente do ponto de vista político uma cisão com a aliança anterior. Muito menos quando se olha pelo prisma do interesse partidário imediato ou não.

O PP é maior do que aquilo que está sendo oferecido para as bases do partido, o PR. Em todos os sentidos. O PP tem história e raiz no Estado. O PR é um grupamento formado por políticos de vários naipes, do PMDB ao PFL, passando por inúmeras legendas das mais variadas estirpes. O PP forma no Estado a terceira força partidária, bem à frente do PR. Situação esta que, obviamente, se inverteria rapidamente caso o PP ajudasse o PR a conquistar o Palácio das Esmeraldas.

Além disso, os pepistas nem ao menos foram consultados a respeito dessa aliança com um partido que não tem senadores em Goiás, conta com apenas um deputado federal, e que nas eleições de 2006 passou o tempo todo procurando se aliar ao PMDB contra a candidatura do pepista Alcides Rodrigues. O PR só fechou coligação com o PP após exigir e levar a candidatura de vice-governador, e mesmo assim foram as suas bases que decidiram nesse sentido, já que a cúpula defendeu a aliança com os peemedebistas até as vésperas da convenção partidária.

É por essa e outras razões que o PP dificilmente irá se juntar totalmente ao PR. A cúpula poderá até conseguir dobrar os joelhos das bases pepistas na convenção e definir pela aliança com a candidatura republicana, mas na campanha essa união forjada dificilmente irá prevalecer. E mesmo a imposição da aliança com os republicanos não será tão simples.

Todos os políticos do PP que dependem de votos sabem que uma aliança forte melhora as possibilidades de eleição. Os pepistas têm como objetivo ampliar o número de deputados estaduais e federais. Numa avaliação com algum arrazoado eleitoral, dificilmente se pode concluir que o melhor caminho é aderir a uma campanha que tem pela frente sérias dificuldades para crescer. Aliás, antes disso até, há dificuldades para sobreviver. Retire-se, apenas a título de raciocínio, o apoio do PP e a candidatura do PR simplesmente passará a ser o que ela é individualmente: nanica. Com poder eleitoral muito menor inclusive que o representado pelo isolacionismo do DEM em 2006, que tinha como candidato a governador um carismático senador, Demóstenes Torres, eleito com mais de um milhão de votos em 2002.

Por fim, e diante desse quadro real, os históricos do PP começam a reagir contra a formação de uma aliança débil, que teria como objetivo de fundo favorecer o velho adversário PMDB. A cúpula já anunciou várias vezes que irá para a casa após as eleições. As bases do partido não querem voltar para a mesma planície das décadas de 1980 e 1990. É isso que agora está em disputa no PP.

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