Quem ganha, quem perde
Afonso Lopes
Voto útil define?
Em todas as eleições, a reta final das campanhas ganha o fenômeno do chamado voto útil
Muita gente desconfia que o chamado voto útil seja invenção de quem está na liderança das pesquisas contra candidatos que não conseguiram decolar de forma expressiva. Não é, não. A concentração de votos principalmente nos dois primeiros colocados das pesquisas é uma cultura enraizada nas eleições brasileiras. Isso sempre ocorreu, portanto. Para alguns estudiosos, o voto útil é praticado por até 10% do eleitorado. Provavelmente não chegue a tanto, mas que uma parte dos eleitores define seus votos como se estivessem tentando acertar um prognóstico não há dúvida.
Mesmo pregando publicamente o contrário, até mesmo os candidatos bem estruturados que derrapam em posições intermediárias lutam contra o voto útil. É o caso que vem ocorrendo com Vanderlan Cardoso. O ex-prefeito de Senador Canedo aparece em um distante 3º lugar nas pesquisas, mas as forças do seu exército eleitoral permanecem com afiado discurso de que a virada eleitoral está em pleno desenvolvimento. Chegam a dizer que o 2º turno será entre ele e o candidato do PMDB, Iris Rezende Machado.
Nada mais desconectado com a realidade que se tem nas ruas. O que se percebe hoje é uma coisa só: se haverá ou não 2º turno. Marconi Perillo está no limite máximo de possível vitória em turno único. E como está neste limite, a decisão igualmente poderá acontecer em dois turnos. Nesse caso, contra o segundo colocado, o ex-prefeito de Goiânia Iris Rezende.
Manter o ânimo e o moral em alta numa campanha secundária não é fácil. Além de enfrentar verdadeiras ondas de adversários muito mais numerosos e barulhentos, é necessário manter a fé da militância para não desmoronar de uma vez. E os problemas não são apenas de ordem interna, não. A passagem do interno para o público externo é igualmente complicada. Levar apelo eleitoral aos eleitores que não se engajam nas campanhas é tarefa difícil quando se tem pouca ou quase nenhuma perspectiva de vitória.
Aí, começa a faltar tudo. De voluntários a dinheiro. Campanhas sem real possibilidade de vitória sofrem desnutrição constante. Um dos melhores e mais bem acabados exemplos desse fato aconteceu em Goiânia, na década de 1990. O atual deputado federal Sandes Júnior, pelo PFL, começou a campanha com pique extraordinário. Chovia apoios de todos os lados. Pra se ter uma idéia, seu comitê central era um prédio de dois andares em plena Avenida Goiás. Aos poucos, enquanto seus dois principais adversários iam consolidando posições, a campanha de Sandes foi murchando. Faltando 15 dias para a eleição, o comitê simplesmente amanheceu com as portas fechadas e com uma porção de cabos-eleitorais na calçada esperando pagamento.
É claro que hoje, com as campanhas muito melhor estruturadas e organizadas, jamais isso ocorreria com um candidato de ponta. Tem-se um planejamento que mostra desde o início quanto se pode gastar em função do quanto haverá de contribuição. E a distribuição dessa verba se estende ao longo do tempo. Assim, mesmo que não surjam novos financiadores, garante-se material de campanha do início ao fim, e pessoal suficiente para a sua distribuição. Naqueles tempos não havia nada disso. Começava-se a campanha de um jeito e ia tocando o barco conforme a maré. Dependendo da onda, afundava.
Não é o caso da candidatura de Vanderlan Cardoso. Mesmo apresentando índices muito baixos, praticamente três vezes menores que os de seu mais direto adversário, Iris Rezende, a turma do 22 tenta passar otimismo numa virada milagrosa que até agora, pelo menos, não deu qualquer sinal de evidência. O que se quer, no caso, não é somente manter as esperanças, mas evitar um vexame total que poderia ser provocado pela cultura do voto útil. Mantendo-se como está, no mínimo Vanderlan sairá da campanha deste ano com algum recall para 2012. Se cair na reta final poderá perder até isso.
E quem está de olho neste eleitorado? Marconi Perillo e Iris Rezende. Por razões opostas. O primeiro quer ganhar o pouco que talvez seja o máximo, a vitória já no 1º turno. E, pela regra, basta um único voto a mais que a soma dos concorrentes para isso acontecer. Parece algo insignificante. Parece, mas não é. Iris, no caso, também quer este voto, que lhe daria a oportunidade de manter a esperança de vitória numa segunda rodada eleitoral, desta vez sem Vanderlan ou qualquer outro pra lhe atrapalhar na disputa contra Marconi.
Historicamente, os dois principais candidatos, os mais bem situados nas pesquisas e na sensação popular, costumam conquistar votos úteis de maneira mais ou menos proporcional ao tamanho de seus eleitorados. Assim, quem está na frente ganha um pouco mais de quem está em segundo, mas mantendo a proporcionalidade entre eles. O sprint final que costuma se observar nas campanhas é a tentativa para quebrar essa regra da distribuição proporcional desses votos. É aí que pode estar a diferença entre um ou dois turnos.
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