quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Marconi Perillo: reconhecimento dos anistiados!





Opinião

Anistiados políticos com Marconi

José Elias Fernandes

Impressionante como alguns termos caem em desuso, tão sumariamente: esquerda, direita, ditadura, democracia tornaram-se palavras estranhas, depois de massificadas, por décadas, na mídia e no vocabulário até das pessoas comuns. O que dizer então de anistiado político, que faço questão de registrar, na minha qualificação, no rodapé do que escrevo?

Em solenidade na Assembleia Legislativa comemoramos os 31 anos da lei federal 6.683, de 28 de agosto de 1979, que concedeu anistia aos brasileiros punidos pela ditadura militar de 1964. Atualmente, pouca gente avalia o significado dessa lei que devolveu a cidadania a tantos idealistas, que viviam na clandestinidade ou foragidos do País, para escapar das punições do regime militar. Até então, políticos como Leonel Brizola, Miguel Arraes, José Serra, Tarzan de Castro, Aldo Arantes, Oriestes Gomes e tantos outros moravam no exterior; enquanto milhares, que não puderam se exilar, usavam nomes falsos e viviam às escondidas, fugindo da repressão, que torturou e matou tantos de nós.

Lamentável existirem mal informados que duvidam das violências do regime, cuja execração se restringe quase só às vítimas e aos familiares de quem sofreu suas brutalidades. Para nós, não há como apagar da memória aqueles anos de horror. Por exemplo: eu preso, meses seguidos, num sanitário do quartel do Exército, certo dia de agosto de 1972, ouvi os estertores da morte do Ismael Silva, na cela vizinha. Na época, ainda entregavam os cadáveres, para as famílias sepultarem. Como crescia a revolta popular, diante de tantos assassinatos, adotaram a tática do desaparecimento dos corpos lacerados pela tortura. Quantos contemporâneos da minha juventude goianiense figuram na lista dos desaparecidos!

Pois bem, anistiados políticos somos nós, contestadores da ditadura, que conseguimos sobreviver aos seus mais de 20 anos de perversidades: imprensa censurada, Congresso fechado, Judiciário coagido, governadores, parlamentares, desembargadores e juízes cassados, universidades vigiadas, professores e estudantes presos, servidores exonerados, entidades sindicais sob intervenção, artistas proibidos de se exibirem e tudo mais. O futebol escancaradamente usado como instrumento de alienação do povo, assim clubes de serviço, tipo Lyons, Rotary etc. Rico pela própria natureza, o Brasil progrediu em alguns setores, como não poderia deixar de acontecer; porém, como Nação, regrediu à condição de colônia dos Estados Unidos, que passaram a controlar tudo por aqui, inclusive a vigilância do nosso espaço aéreo, sem falar no domínio do comércio monopolizador e da imposição de usos, costumes e da própria língua.

Embora recém-nascido na época, Marconi Perillo, quando governador, procurou reparar muitas daquelas injustiças, criando lei estadual que indenizou os principais prejudicados, com pensões mensais e acesso ao seguro-saúde do Ipasgo. Quantas personalidades, que depois de galgarem o topo da vida pública, agora, em idade avançada, sofriam constrangimentos, privados de seus direitos, por falta de recursos, até para a própria manutenção! Eis a razão pela qual nas comemorações do 31° aniversário da Lei da Anistia o nome do senador cresce na gratidão dos anistiados goianos, empenhados na luta pela sua vitória e breve retorno ao governo do Estado.


José Elias Fernandes é jornalista, anistiado político e já foi deputado, diretor-geral do Detran, delegado de polícia e prefeito de Aragarças (jornaldegoiania@hotmail.com)

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