sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Frederico Jayme Filho vê ameaça à democracia!





Opinião

Será que Lula deixou de amar a democracia?

Frederico Jayme Filho

Contrariando as expectativas dos brasileiros, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem mostrado uma faceta até então oculta. Apregoa a democracia aos quatro cantos, mas revida as críticas que seu governo ou membros de sua equipe de governo recebem em alto e bom tom. Parece ter esquecido que a imprensa simplesmente divulga os fatos, e que isso não é motivo de retaliação. Até me pergunto por que é que os nervos lhe sobem à flor da pele, pois ele como chefe da nação deveria estar feliz por sanar publicamente os vícios administrativos.

Não é somente em relação aos fatos da atualidade, que envolvem a ministra chefe da Casa Civil, que ele se manifesta negativamente. Ora, se os erros existem, eles devem ser corrigidos e corrigidos às claras, sem subterfúgios. A democracia exige a transparência e a justiça existe para ser exercida em todos os níveis e ser válida para todas as pessoas, indistintamente. A imprensa é a voz da sociedade, e se ela não pode manifestar a verdade, a quem caberia, então, esse ofício?

Infelizmente, Lula arma-se de prepotência durante a reta final da campanha eleitoral, e se acha no direito de desfilar comentários grotescos acerca de políticos que não seguem a sua coligação partidária. Interfere na política regional, como se isso fosse natural. Mas isto não lhe compete, em especial porque deveria manter a honradez de seu cargo de presidente da República. É notório que isso extravasa certa insegurança, talvez pelo tempo que finda à frente do posto e do sonho que conquistou; talvez porque a conquista tenha endurecido seu amor pela retidão.

Mas, não me cabe ser julgador. Passaria horas relatando os prós e os contras da administração Lula, só que isto, no momento, não importa. O Brasil, soberano que é, mereceu crescer, se desenvolver, ver seu povo, ainda sofrido, com um ar de esperança no futuro. E cuidar da nação é, ou pelo menos deveria ser, a razão principal de conduzir o País administrativamente. Assusta ver um presidente que tem uma boa política externa, relacionando-se com autoridades governamentais mundiais, dispor seu tempo para ataques pessoais a três senadores de Goiás, simplesmente porque discordaram da questão da CPMF.

Será que estaríamos caminhando para um governo similar ao venezuelano? Onde fica a questão da liberdade de imprensa? Onde fica a questão da liberdade de pensamento? Quem for contra seus propósitos merece ser crucificado? O que eu sei é que essa personificação do presidente é distinta de sua trajetória política junto ao Partido dos Trabalhadores e foge completamente a seu propósito inicial de abertura e transparência. Espero, com sinceridade, que ele possa acordar desse pesadelo que o está assolando.


Frederico Jayme Filho é advogado, ex-presidente da Assembleia Legislativa, ex-secretário estadual de Segurança Pública, ex-presidente do Tribunal de Contas e ex-governador interino do Estado de Goiás

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