terça-feira, 10 de novembro de 2009

Governo estadual: mais ação menos choro!

Diário da Manhã

O cansativo discurso das dificuldades financeiras

O discurso do governo do Estado, justificando suas eventuais falhas em razão das supostas dificuldades financeiras que teria encontrado, já se tornou não apenas repetitivo, como extremamente cansativo. Alcides Rodrigues já beira quatro anos à frente do Executivo e pouco ou quase nada tem a apresentar, mantendo-se agarrado ao passado para suprir a falta de um projeto consequente para Goiás.

Outro dia, cartas de leitores nos jornais diários responsabilizavam o governo Alcides pela interrupção do ciclo virtuoso de desenvolvimento que o Estado vivia desde 1998, a partir da histórica vitória de Marconi Perillo sobre o até então monstro sagrado Iris Rezende. É fato que os índices econômicos e sociais conquistados durante os dois governos Marconi constituem hoje uma boa lembrança, substituídos pelo clima de pessimismo e negativismo que tomou conta de Goiás com a chamada política de “desenvolvimento com responsabilidade”, implementada pelo secretário Braga.

É da maior importância restabelecer a verdade histórica, evitando a politização do debate. E fazer isso, principalmente, deixando de lado os sentimentos pessoais de ódio e vingança que estão por trás da tentativa de desconstruir o governo Marconi e o seu significado positivo para o povo goiano.

Em primeiro lugar, é preciso registrar que aqueles que estão hoje à frente do Executivo foram beneficiários e participantes do governo Marconi. Aliás, Alcides só foi eleito graças a um fabuloso processo de transferência de prestígio eleitoral e não em função de qualquer estratégia de marketing.

De certa forma, a eleição de Alcides assemelha-se à eleição do apagado Maguito Vilela sob o patrocínio de Iris Rezende, nos anos de ouro do PMDB. Ambos, Alcides e Maguito, vinham de uma experiência como vice-governador e tiveram suas candidaturas impulsionadas pela sua identificação estreita com os seus “padrinhos” políticos. Sem esse apoio, dificilmente teriam condições de vencer.

A diferença é que Maguito Vilela permaneceu fiel ao seu santo padroeiro, Iris; enquanto Alcides Rodrigues trilhou outro caminho, buscando promover a destruição do patrimônio político e administrativo de Marconi Perillo.

Em segundo lugar, Alcides sucedeu a si mesmo. Durante o seu primeiro ano de governo, depois de assumir como substituto de Marconi, que se desincompatibilizou para disputar o Senado, ele manteve na íntegra os fundamentos recebidos do governo anterior. Somente depois de confirmado nas urnas para um novo mandato é que Alcides decidiu mostrar a sua verdadeira face, passando a criticar o que antes elogiava com ênfase.

Um exemplo é a questão da folha de pagamento, que hoje o atual governo aponta como bode expiatório de todas as mazelas do Estado. Ora, foi no primeiro ano de Alcides que o valor da folha aumentou, alavancada pelos planos de cargos e salários – a maioria deles sancionada pelo próprio Alcides como governador do Estado. E o principal deles, o mais oneroso, foi o das carreiras policiais, inteiramente gestado e promulgado no período em que Alcides já estava à frente do governo do Estado!

Portanto, Alcides sabia de tudo. E mais ainda: foi responsável, em alguns casos, ou corresponsável, em outros, pelas medidas que agora ele mesmo e o secretário Braga dizem que levaram o Estado à situação difícil que vivem apregoando. Na verdade, no primeiro ano de Alcides como governador, o titular da Secretaria da Fazenda foi Oton Nascimento, cuja gestão tem muito a ver com as dificuldades que hoje o governo procura atribuir à gestão de Marconi Perillo.

Como disse no início deste artigo, não é só repetitivo, como cansativo o discurso de que o Estado vive um quadro de agruras herdado do governo anterior. Quatro anos praticamente já se passaram e a toada continua a mesma. De Estado que chamava a atenção nacional pelo seu desenvolvimento explosivo, regredimos à condição de mendigar a ajuda do governo Federal, dependendo de soluções sobre as quais não temos nenhum poder.

O caso da Celg é emblemático e serve apenas para mostrar a falta de criatividade, a ausência de representatividade política, a perda da autonomia federativa e o estreito ângulo de visão dos nossos atuais governantes.

Gilvane Felipe é mestre em História pela Universidade Sorbonne Nouvelle (Paris) e presidente do PPS em Goiás

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