quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Diário da Manhã

Pane agora afetou mais Estados do que em 1999

O apagão de terça-feira afetou um número maior de Estados do que o último grande incidente do setor, em 1999, quando dez deles ficaram mais de quatro horas sem luz. Desta vez, por conta de maior interligação entre as regiões brasileiras, a queda de linhas de transmissão que transportam energia de Itaipu afetou 18 Estados, alguns apenas parcialmente. Mas, segundo especialistas, o sistema mostrou mais agilidade para o restabelecimento da energia.

Os dois apagões tiveram início pouco depois das 22 horas. Em 1999, o governo também alegou que a interrupção foi provocada pela queda de um raio, desta vez sobre subestação de Furnas em Bauru. Naquela ocasião, o suprimento foi cortado em 22 mil megawatts (MW) médios. Agora, 28 mil MW médios caíram. O número de consumidores afetados, no entanto, foi menor agora - cerca de 40% da rede, ante 70% em 1999.

"O apagão de agora foi mais amplo porque o sistema está mais interligado. Mas mostrou que está também mais ágil para restabelecer o fornecimento", comentou o professor Luiz Pinguelli Rosa, diretor da Coppe/UFRJ e presidente da Eletrobrás no primeiro ano do governo Luiz Inácio Lula da Silva. De fato, segundo dados do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), a energia começou a ser restabelecida por volta das 22h30, pela região Sul. Às 0h45, a energia começava a chegar a Rio de Janeiro e Espírito Santo.

O incidente desta semana chegou a Estados como Rondônia e Acre, além de regiões do Nordeste, que ficaram a salvo do blecaute de 1999. Isso porque hoje há mais linhas de transmissão ligando o Sudeste a essas regiões, resultado de investimentos na ampliação da rede brasileira nos últimos anos. Ao mesmo tempo em que permitem maior intercâmbio de energia, as novas linhas tornam Norte e Nordeste mais vulneráveis a problemas no Sul e Sudeste.

A vulnerabilidade, por sinal, é apontada por especialistas como um sinal de que as lições de apagões anteriores não foram devidamente aprendidas. Em 2002, após o apagão que novamente deixou dez Estados sem luz, as autoridades do setor elétrico anunciaram um grande programa de investimentos em sistemas de "ilhamento" da rede, que impediriam o efeito dominó observado anteontem. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Fonte: Agencia Estado - AE

A noite que o Brasil apagou

Governo federal afirma que chuva forte causou apagão que atingiu mais de 70 milhões de brasileiros em 18 Estados l Além da falta de energia elétrica, paulistas, capixabas e cariocas sofreram com interrupção do fornecimento de água

O governo federal acredita que a concentração de raios, ventos e chuvas muito fortes na região de Itaberá, no interior de São Paulo, causou o apagão que deixou às escuras, por quatro horas, mais da metade do País, na noite de anteontem. Ao todo, 18 Estados e 70 milhões de pessoas ficaram sem energia elétrica. O mau tempo teria provocado um curto-circuito que levou à queda nas linhas de transmissão de energia da Hidrelétrica de Itaipu, em um efeito dominó, segundo o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão.

O anúncio foi feito após mais de 20 horas de informações contraditórias do governo, que chegaram a irritar o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, e fizeram a oposição convocar Lobão, além da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff – tratada como virtual candidata petista à presidência –, para prestar esclarecimentos no Congresso.

O diretor-geral da Usina Hidrelétrica de Itaipu, Jorge Samek, disse que foi a “Lei de Murphy”. Dos 1 mil quilômetros de rede, em apenas seis quilômetros, as cinco linhas de transmissão andam juntas. “E foi bem nesse trecho que caiu o raio.” Ele acredita que a solução para evitar que o apagão se repita é depender menos de Itaipu. Especialistas ouvidos pelo Grupo Estado também apontaram a “fragilidade” do sistema interligado.

De acordo com Luiz Eduardo Barata, diretor de Operação do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), apesar da extensão do apagão, os sistemas de proteção funcionaram adequadamente, impedindo que o defeito se propagasse pelo sistema, o que poderia causar danos maiores. “O grande prejuízo que se teve foi a interrupção no suprimento de energia para o consumidor, mas do ponto de vista de prejuízos materiais não existe nada, porque houve proteção devida e correta dos circuitos”, disse.

Oficialmente, o ONS, órgão que administra a rede nacional de energia, disse que “uma perturbação de grande porte” teria provocado a interrupção parcial do suprimento de energia nas regiões Sudeste e Centro-Oeste equivalente a 28.800 megawatts médios (MW) ou mais de 40% da demanda de energia do País, que é de 55 mil MW médios – o megawatt médio é a unidade de medição da energia consumida. O blecaute que ocorreu em 1999 durou quatro horas e resultou numa queda de cerca de 70% da energia. Em 2002, a queda foi de 60%.

ÁGUA

O apagão que atingiu o País e parte do Paraguai afetou também o abastecimento de água, a telefonia celular e o atendimento em delegacias. Após o blecaute, 6,7 milhões de pessoas na região metropolitana de São Paulo e 1 milhão no Rio ficaram sem água. No Espírito Santo, 575 mil pessoas ficaram sem água. No momento do apagão, todos os sistemas de abastecimento e tratamento de água foram desligados. A maioria foi religada na madrugada. A previsão é que o fornecimento seja normalizado hoje cedo.

Consumidores que tiveram aparelhos eletrônicos queimados podem buscar ressarcimento dos prejuízos com a empresa distribuidora de energia da sua região. Resolução da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), de 2004, trata especificamente desses casos. Por isso, os órgãos de defesa orientam os consumidores a tentar obter a reparação diretamente com as empresas concessionárias.

Problema de gestão” provoca blecaute

Primeiro diretor de Gás e Energia da Petrobras do governo Lula, cargo que ocupou por quatro anos, Ildo Sauer, professor do Instituto de Eletrotécnica e Energia da USP, deixou o cargo em meio a discordâncias na condução da política energética do governo. Ele vê com ceticismo a probabilidade de o apagão ter sido causado por uma tempestade e credita o transtorno a um “problema de gestão”. “Ou as reformas feitas (no sistema elétrico brasileiro) em 2003 e 2004 foram inadequadas ou insuficientes.”

Agência Estado - É provável que o apagão tenha sido provocado por tempestade?

Ildo Sauer - O tal raio de Bauru (a causa oficial para o apagão de 1999, que atingiu 10 Estados), que deu o “Prêmio Pinóquio” aos ministros da ocasião e diretores da Aneel e do ONS, agora talvez vire o “Prêmio Rolando Lero”, porque estão nos enrolando. O que causa perplexidade é que, tanto tempo depois, ainda não se tenha clareza do que aconteceu. Tipicamente eventos que podem ser causadores de uma catástrofe dessa monta, quando não devidamente tratados, são de cinco categorias distintas. A primeira categoria é formada por eventos intrínsecos ao próprio sistema, tipo um curto-circuito, um desligamento não programado devido à proteção do sistema, quando algum parâmetro de temperatura ou algo do tipo foi atingido e ele desliga sozinho, ou quando alguém, em manobra acidental, provoca o desligamento dos sistemas. Você pode ter a perda de um equipamento importante, uma usina, uma subestação ou outra coisa do gênero, por eventos intrínsecos ao próprio sistema.

AE - E as outras causas?

Ildo - As outras quatro categorias são externas: eventos de força maior,como terremoto e furacão; atos de vandalismo ou terrorismo; tecnologia da informação, com hackers entrando no sistema operativo e mudando o software, fazendo manobras ou operações indevidas; ou acidentes graves com choques de veículos, aviões, helicópteros.

AE - O que parece mais evidente?

Ildo - Teria que ver o que o governo vai fazer primeiro. O que posso dizer agora é que, nitidamente, estamos diante de um problema de gestão do sistema. É a única conclusão a que chego. Porque se um evento desses acontece, pelo critério de confiabilidade, se precisaria desligar aquele equipamento ou sistema e o restante conti-nuaria operando. A perda de um equipamento ou elemento importante não pode prejudicar o sistema como um todo. Nesse momento temos investimentos suficientes em geração e transmissão, aparentemente.

AE - Se há investimentos, o que justifica a fragilidade?

Ildo - Isso é que é mais surpreendente: os investimentos aparentemente foram feitos e o sistema não funciona. Isso indica problemas de gestão. Se temos os recursos físicos operacionais disponíveis e eles não estão dando resposta, é um problema de gestão e organização do sistema a nível de responsabilidades, é o pessoal batendo cabeça, botando a culpa um no outro, como aconteceu ontem (terça-feira).

AE - Como assim, problema de gestão?

Ildo - Tipicamente estamos hoje diante de algo que só pode ser circunscrito a duas esferas. Uma é o nível de organização do sistema energético, o que indicaria dizer que as reformas feitas em 2003 e 2004 ou foram inadequadas ou insuficientes, porque mesmo com investimentos e capacidade de sobra, o sistema não está operando adequadamente. A segunda é que, quando um evento desse tipo acontece, não se sabe dizer qual foi a causa e se demora tanto para fazer o diagnóstico, o que também é um problema de gestão e organização.

16 cidades goianas são atingidas

A Companhia Energética de Goiás (Celg) não descobriu o que motivou o blecaute em 16 cidades goianas na noite de terça-feira (10), que ocorreu entre o período das 20 às 22 horas. O apagão, que teve efeito dominó, começou na Usina de Itaipu no Paraná e atingiu 18 Estados Brasileiros. A causa da falha ainda não foi esclarecida e está em processo de apuração por parte do Operador Nacional do Sistema (ONS).

As regiões do Centro e Sul do Estado de Goiás foram as mais afetadas. Treze municípios ficaram completamente no escuro, como Itaberaí, Corumbá, Cocalzinho, Pirenópolis, Goiás, Santa Helena, Itapuranga, Piranhas, Itaguari, Arenópolis. As regiões rurais de Alexânia, Itaguaru e Bom Jardim também ficaram às escuras. Apenas parte das cidades de Anápolis, Inhumas e Corumbá permaneceram sem energia.

Volta

O tempo máximo de recuperação da energia foi de três minutos na maioria dos municípios, porque um esquema de proteção do sistema interligado, denominado Erac, evitou a perda total de energia, quando o problema ocorreu na noite de terça-feira.

A exceção ficou por conta de Itaberaí, que permaneceu por 46 minutos sem luz, pois a Celg teve que deslocar um operador até a subestação Paranaíba.

Principais blecautes do País e as origens

18/abr/84


“Grave blecaute atinge seis Estados”

O que ocorreu: 12 milhões de pessoas nas principais cidades de seis Estados do Centro-Sul do País ficaram sem energia elétrica
Causas apontadas: queima de um transformador de grande porte da usina de Jaguara (MG)

17/set/85

“Novo blecaute atinge 8 Estados e DF’’

O que ocorreu: São Paulo foi o Estado mais afetado pela pane, que durou três horas e deixou 8 Estados e o Distrito Federal sem luz
Causas apontadas: queda acidental de linha Itaipu-São Roque (SP). Na época, suspeitou-se que a usina de Itaipu transmitia experimentalmente a energia gerada por três turbinas – hipótese negada pela empresa, que afirmou que as máquinas operavam normalmente

30/jun/92

“9 milhões ficam sem luz em três Estados’’

O que ocorreu: o fornecimento de energia elétrica para GO, MT, TO e DF foi interrompido por mais de uma hora, afetando cerca de nove milhões de pessoas
Causas apontadas: um curto-circuito na subestação de Itumbiara (GO), do sistema Furnas. Após o curto-circuito, o sistema ficou sobrecarregado e passou a desligar em “efeito dominó”

6/mar/98

“Bairros ficam 30 horas sem luz e água’’

O que ocorreu: blecaute atingiu SP por quase dois dias e afetou hospitais e a central de operações da CET (Companhia de Engenharia de Tráfego), que teve suas operações prejudicadas pela falta de energia
Causas apontadas: a Eletropaulo alegou que o problema foi causado pelas chuvas, que provocaram o alagamento da rede subterrânea e a queima de um transformador

11/mar/99

“Blecaute deixa 10 Estados e DF sem luz e afeta 76 milhões’’

O que ocorreu: às 22h16 do dia 11, houve um corte de energia que durou quatro horas. SP, RJ, RS, PR, SC, ES, MG, GO, MT e DF foram afetados. Ao menos 76 milhões de pessoas ficaram sem energia
Causas apontadas: à época, o ministro das Minas e Energia descartou a possibilidade de uma sobrecarga no sistema. Dias depois, um relatório do presidente do ONS afirmou que um raio na subestação seccional de Bauru (SP) foi a causa

Em 2007, um estudo de pesquisadores do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) apontou que o blecaute de março de 1999 não foi provocado pela queda de um raio na região de Bauru, desmentindo a versão divulgada pelas autoridades do setor elétrico na época

21/jan/02

“Cabo se rompe e apagão corta luz de 10 Estados’’

O que ocorreu: dez Estados e o Distrito Federal ficaram sem luz. Em São Paulo, a falta de energia durou quatro horas e 26 minutos
Causas apontadas: queda de um cabo na linha de transmissão entre Ilha Solteira e Araraquara (ambas em SP)

10/out/2002

“Curto-circuito provoca apagão no Nordeste’’

O que ocorreu: falha em uma linha de transmissão de energia elétrica da Chesf (Companhia Hidro-Elétrica do São Francisco) causou blecaute de até uma hora em cerca de 30% da região
Causas apontadas: curto-circuito sem causas conhecidas

Fonte: Folhapress

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