quinta-feira, 12 de novembro de 2009

O Popular

APAGÃO

Governo culpa clima pelo apagão
Problema, na noite de terça-feira, deixou 18 estados e cerca de 70 milhões de pessoas sem energia elétrica por cerca de 4 horas

Brasília - O governo federal acredita que a concentração de raios, ventos e chuvas muito fortes na região de Itaberá, no interior de São Paulo, causou o apagão que deixou às escuras por quatro horas mais da metade do País, na noite de terça-feira. Ao todo 18 Estados e 70 milhões de pessoas ficaram sem energia elétrica. O mau tempo teria provocado um curto-circuito que levou à queda nas linhas de transmissão de energia da Hidrelétrica de Itaipu, em um efeito dominó, segundo o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão.

O anúncio foi feito após mais de 20 horas de informações contraditórias do governo, que chegaram a irritar o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, e fizeram a oposição convocar Lobão, além da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff - tratada como virtual candidata petista à presidência -, para prestar esclarecimentos no Congresso.

Lobão negou que o problema tenha sido provocado por falta de investimentos e defendeu mais uma vez a solidez da estrutura do sistema elétrico brasileiro. “Nenhum governo fez tantos investimentos neste setor quanto o atual”, disse Lobão, citando o aumento de 30% nas linhas de transmissão do País entre 2003 e 2009 e os R$ 22 bilhões investidos. “Se há governo madrugador nesses investimentos é o atual. E o sistema é de muita boa qualidade”, acrescentou.

Após reunião extraordinária do Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE), grupo que tem a função de acompanhar a segurança do abastecimento de energia elétrica no País, Lobão tentou por diversas vezes mostrar que situações extremas de meteorologia, como as que teriam sido registradas ontem na região de Itaberá, podem afetar qualquer sistema. “O Brasil é o País de maior concentração desses fenômenos meteorológicos, e essa área concentra ainda mais.”

O diretor-geral da Usina Hidrelétrica de Itaipu, Jorge Samek, disse que foi a “Lei de Murphy”. Dos 1 mil quilômetros de rede, em apenas seis quilômetros as cinco linhas de transmissão andam juntas. “E foi bem nesse trecho que caiu o raio”, afirmou. Ele acredita que a solução para evitar que o apagão se repita é depender menos de Itaipu. Especialistas ouvidos pelo Grupo Estado também apontaram a “fragilidade” do sistema interligado (leia reportagem na página 5). Em Goiás, 16 m unicípios ficaram sem energia. (AE)

ONS diz que proteção funcionou

O diretor de Operação do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), Luiz Eduardo Barata, apesar da extensão do apagão, os sistemas de proteção impediram que o defeito se propagasse pelo sistema, o que poderia causar danos maiores. “O grande prejuízo que se teve foi a interrupção na energia para o consumidor, mas do ponto de vista de prejuízo material não existe nada, porque houve proteção devida e correta dos circuitos”, disse.

O ONS, órgão que administra a rede nacional de energia, disse que “uma perturbação de grande porte” teria provocado a interrupção parcial do suprimento de energia nas Regiões Sudeste e Centro-Oeste equivalente a 28.800 megawatts médios (MW) ou mais de 40% da demanda de energia do País, que é de 55 mil MW médios. O blecaute de 1999 durou quatro horas e resultou em queda de cerca de 70% da energia. Em 2002, foi de 60%. (AE)

MPF vai investigar causas

Brasília - O Ministério Público Federal abriu ontem uma investigação para apurar as causas e os responsáveis pelo apagão de terça-feira. Integrantes do Grupo de Trabalho Energia e Combustíveis da Procuradoria Geral da República encaminharam ofícios ao Ministério de Minas e Energia, à Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), ao Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) e à Diretoria Jurídica da Usina Itaipu Binacional pedindo explicações. De acordo com nota divulgada pela Procuradoria, esses órgãos terão de enviar em 72 horas toda a documentação produzida e recebida sobre o apagão. (AE)

APAGÃO
Especialista diz que problema expõe fragilidade do sistema

De acordo com dados fornecidos pelo ons, 95,16% da energia do País é gerada pelas hidrelétricas

Rio - A extensão do apagão expôs a fragilidade de um sistema de abastecimento quase integralmente dependente da geração hidrelétrica. Pelos dados do Operador Nacional do Sistema (ONS), esta semana 95,16% da energia consumida foi gerada por hidrelétricas - Itaipu respondeu pela parcela de 78,18% desse total. A opção brasileira para o fornecimento elétrico divide especialistas.

“Eram 22 horas e Itaipu estava gerando tudo o que podia. Botar toda Itaipu gerando pode ser correto do ponto de vista energético, já que não tem reservatório e não é bom desperdiçar água, mas é arriscado”, diz o físico Luiz Pinguelli Rosa, diretor da Coordenação de Pós-Graduação em Engenharia da Coppe e ex-presidente da Eletrobrás. Ele defende o uso de “redes inteligentes”, que evitem o efeito dominó que ocorreu ma terça-feira, com um número maior de pontos controlados. É o que o mercado chama de ilhamento. “Isso foi estudado, discutido, mas não implementado.”

O apagão foi provocado por uma sobrecarga no sistema, pelo aumento de demanda residencial, na opinião do especialista em infraestrutura Adriano Pires, que é mais contundente nas críticas à condução da política energética. “Está havendo barbeiragem de operação. Às 22 horas, não há porque manter as 20 turbinas de Itaipu ligadas. É populismo manter modicidade tarifária, excluindo as usinas térmicas, que deviam estar também na base do sistema”, diz ele, creditando ao aumento no uso de aparelhos, como ar-condicionado, a sobrecarga. “O governo estimulou muito o consumo da linha branca. A linha de transmissão tem um limite de capacidade e não aguentou.”

Luiz Fernando Vianna, presidente da Associação Brasileira dos Produtores Independentes de Energia Elétrica (Apine), discorda, porém, dos defensores da ideia de que as termelétricas deveriam estar ligadas para garantir a segurança do fornecimento de energia. “Isso tem um custo alto nem todas as termelétricas são capazes de operar sem ser na utilização da capacidade máxima; além disso, está sobrando água, o que também representa um risco.”

A divisão dos especialistas é bastante evidente. Se por um lado há quem acredite que em 2009 o nível de umidade do ar pode provocar constantes tempestades de maior força, que devem acarretar em novos incidentes semelhantes, há quem garanta que o sistema estava completamente preparado para intempéries climáticas do porte verificado. “O sistema está sendo constantemente testado para esse tipo de risco. É como se um paciente passasse sem problemas por completos exames e na saída do consultório médico tivesse um enfarte ao atravessar a rua. Houve erro nos exames ou algo que não poderia ser previsto?”, indagou o especialista Mário Veiga, da PSR Consultoria. (AE)

Transtorno afetou 100 mil em Goiás

Adriano Marquez Leite

Cerca de 100 mil pessoas de 16 municípios goianos foram afetadas pelo corte no fornecimento de energia elétrica, que ocorreu na terça-feira entre São Paulo e Paraná e atingiu 18 Estados brasileiros. Diferente do resto do País, que ficou às escuras por até seis horas, a média no restabelecimento da eletricidade em Goiás foi de três minutos.

As cidades afetadas total ou parcialmente foram: Anápolis, Corumbá, Cocalzinho, Pirenópolis, Alexânia, Inhumas, Itaberaí, Goiás, Itapuranga, Itaguari, Itaguaru, Santa Helena, Piranhas, Arenópolis, Bom Jardim e Itumbiara.

Por causa da suspensão do abastecimento de energia produzida no Sudeste, diminuiu o volume de eletricidade enviada para Goiás. Assim, para evitar um colapso generalizado, entrou em ação um sistema automático chamado Esquema Regional de Alívio de Carga (Erac), que diminui a demanda por energia, com os cortes em diferentes pontos do Estado.

Imediatamente, o Operador Nacional do Sistema (ONS) verificou a falta de energia elétrica em Goiás e já passou a realizar o fornecimento de eletricidade a partir de hidrelétricas como Corumbá e Serra da Mesa. No caso do Rio de Janeiro, São Paulo e Espírito Santo, a normalização do serviço demorou mais porque as linhas de transmissão foram afetadas, ou seja, não havia como mandar eletricidade para esses Estados.

Segundo o gerente do Departamento de Operação do Sistema da Companhia Energética de Goiás (Celg), João de Oliveira, o fornecimento de energia no Brasil é eficiente, tanto que foi restabelecido em poucas horas. João citou casos semelhantes que ocorreram em outros países e que demoraram vários dias para serem solucionados.

Americanos voltam a fazer críticas

Washington - A imprensa e os blogueiros dos Estados Unidos aproveitaram o apagão de terça-feira para voltar a pôr em dúvida a capacidade do Rio de sediar a Olimpíada em 2016. “Um olho roxo” para o País que vai sediar a Olimpíada - essa foi a descrição da agência de notícias Associated Press, que distribui suas reportagens para milhares de jornais.

Os americanos alfinetaram o País pela segunda vez por causa das Olimpíadas, já que Chicago perdeu para o Rio a disputa pela sede. A primeira crítica foi quando traficantes derrubaram a tiros helicóptero da polícia. Agora, com o apagão, o foco das críticas é a infraestrutura precária do Brasil e a falta de preparo para sediar os jogos. (AE)

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