terça-feira, 3 de novembro de 2009

Governo Lula: muita promessa, pouca realização!

O Popular

02/11/2009

Editorial

O vexame do aeroporto

Goiânia construiu um conjunto de boas referências, mas também algumas que comprometem a sua imagem e, entre as piores, certamente está a péssima qualidade do terminal do Aeroporto Santa Genoveva.

As precárias condições enfrentadas pelos passageiros e as limitações do terminal, cuja capacidade operacional ficou muito comprometida e em larga defasagem, deixaram o Santa Genoveva na rabeira de qualidade dos aeroportos das capitais. Pode-se dizer que, hoje, mesmo capitais menores, como Palmas, no Tocantins, e Cuiabá, no Mato Grosso, estão mais bem-servidas. O desconforto enfrentado pelos passageiros no aeroporto de Goiânia já é de conhecimento geral, pois notícia ruim circula com mais rapidez do que as boas.

Com certeza pesou muito na exclusão de Goiânia das sedes da Copa do Mundo de 2014 a má qualidade do terminal do Santa Genoveva. E a promissora posição de Goiânia como sede de grandes eventos profissionais começa também a ficar comprometida A capital goiana tem de retomar essa posição e sustentá-la, tornando-se uma campeã neste campo tão importante para a sua economia.

Neste momento não cabe mais discutir culpas do passado. Agora é preciso discutir as culpas por novos atrasos na realização das obras que já foram tão retardadas. Pois não se pode nem sequer admitir que elas continuem sendo proteladas a um ponto de os prejuízos da cidade se tornarem irreversíveis e irremediáveis.

O Popular

SUS sem vagas nos hospitais privados

Altamir Vieira

A medicina evoluiu, onerou-se e o acesso ao sistema de saúde tornou-se difícil para o paciente não abonado financeiramente. Os hospitais privados reduzem os leitos aos doentes do Sistema Único de Saúde e os serviços públicos só custeiam o tratamento de quem é quem no Executivo, Legislativo ou Judiciário.

Sabe-se que dos 190 milhões de brasileiros, pouco mais de 40 milhões têm plano de saúde, ficando o resto para a rede pública. Aí é que mora o perigo. Literalmente. Em Goiânia, uma dona de casa de 29 anos, que teve o quadril e um braço fraturados num acidente de moto, levada inicialmente ao Hospital de Urgências de Goiânia (Hugo), passou dez horas de dor, enquanto em desespero peregrinava de um hospital para outro.

Segundo um pesquisador da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp), os hospitais privados estão trocando o SUS pelos planos de saúde justamente por causa dos valores pagos pelo governo. Numa extração de próstata, por exemplo, o hospital recebe 480 reais se o paciente é do SUS. Se o paciente tem plano de saúde, a remuneração sobe para R$ 1.835,00.

O Ministério da Saúde, entretanto, não vê a redução de leitos como algo totalmente negativo. Para o secretário nacional de Atenção à Saúde, Alberto Beltram, a tendência é de que os hospitais passem a fazer os procedimentos de maior complexidade e de que os mais simples sejam resolvidos nos ambulatórios, sem hospitalização.

Tudo bem que a tendência seja essa, mas será que não fizeram estatísticas sobre o índice de óbitos enquanto o paciente procura vagas nos hospitais? Em Pernambuco, quatro hospitais privados especializados em cirurgias ortopédicas deixaram de atender pelo SUS este ano. Com 400 leitos a menos, os hospitais públicos ficaram abarrotados.

Isso deve ser normal também em outros Estados. Nesta capital, os hospitais públicos vivem superlotados com pacientes vindos do interior. Às vezes, são as prefeituras que se limitam a transferir o problema com a remoção do enfermo.

O secretário municipal da Saúde de Goiânia, Paulo Rassi, considera que a demanda sempre crescente alia-se ao total abandono do poder público estadual, que deixa os municípios do interior à própria sorte.

Altamir Vieira é jornalista

O Popular

Judas, imprensa e poder

Carlos Alberto Di Franco

Em entrevista à Folha de S.Paulo, Lula afirmou que o papel da imprensa não é o de fiscalizar, e sim de informar. “Não acho que o papel da imprensa é fiscalizar. É informar. Para ser fiscal, tem o Tribunal de Contas da União, a Corregedoria Geral da República, tem um monte de coisas. A imprensa tem de ser o grande órgão informador da opinião pública”, disse Lula.

O presidente da República questiona um dos pilares da democracia: o papel fiscalizador da imprensa. E como Lula não é tonto, o falso disjuntivo (informação versus fiscalização) tem uma finalidade precisa: limitar o papel fiscalizador dos jornais e desacreditá-los. Na verdade, caro leitor, Lula manifesta crescente desconforto com aquilo que é rotineiro em qualquer democracia: o necessário contrapoder exercido pela imprensa.

Afinal, qual é a perversidade que deve ser debitada na conta dessa imprensa tão questionada pelo presidente da República? A denúncia de recorrentes atos de corrupção que cresceram como cogumelos à sombra da leniência presidencial? A veiculação de reportagens mostrando um presidente que dá olímpicas bananas à legislação eleitoral? Os jornais, por exemplo, sem uso de adjetivos e com textos sólidos, mostraram o que aconteceu recentemente às margens do São Francisco: uma fantástica operação de marketing montada pelo presidente da República e por sua candidata num explícito confronto à legislação eleitoral. Ou será que a azia de Lula é provocada pelo desnudamento de suas aparentes contradições? Recentemente, Lula criticou o criminoso vandalismo do MST, mas seu governo continua irrigando o caixa da entidade e seu partido, o PT, quer o MST na elaboração do programa de Dilma.

Eu, e outros colegas da imprensa, estávamos, em 2006, na Costa Rica. Lá, participamos de um seminário promovido pela Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP). O encontro foi aberto por Oscar Arias, presidente da República e Prêmio Nobel da Paz em 1987. Impressionou-me a qualidade intelectual e a entranha democrática do presidente Arias. Suas palavras foram um panegírico à liberdade de imprensa: “Junto com eleições periódicas e com a separação dos poderes, a liberdade de imprensa é o instrumento mais poderoso para realizar, efetivamente, uma das grandes conquistas da civilização ocidental: a ideia de que o poder político, se pretende ser legítimo, deve estar submetido a limites, e que o poder absoluto, como intuía Lord Acton, não é senão uma forma absoluta de corrupção. Quanto mais livre for a imprensa, mais limitado estará o exercício do poder e maior será a probabilidade de que nossas liberdades individuais permaneçam a salvo”, sublinhou o presidente.

O discurso de Arias tem a força da coerência. Na Costa Rica a democracia é sólida e operativa. Dois ex-presidentes, julgados e condenados por crime de corrupção, estão na cadeia. Guerra à impunidade e educação de qualidade fizeram daquele pequeno país um belo modelo de democracia possível. Trata-se do único binômio capaz de transformar uma sociedade. Crescimento econômico é importante. Mas sem ética, sem normas e sem lei, a história não acaba bem. No Brasil, não obstante os bons indicadores da economia, poderemos trombar com as consequências funestas de um populismo que encolheu a oposição, estimulou o cinismo, encurralou algumas togas e tenta algemar as redações.

O presidente da República, esgrimindo sua retórica direta, deu outro recado carregado de pragmatismo aético. Segundo Lula, nenhum dos vencedores das eleições de 2010 poderá fazer um governo “fora da realidade política”. “Se Jesus Cristo viesse para cá e Judas tivesse a votação num partido qualquer, Jesus teria de chamar Judas para fazer coalisão.” Lula não fez nada para mudar esse quadro. Ao contrário, seu estilo de governança fortaleceu o que de pior existe na vida pública brasileira. O oportunismo de Lula foi a arma de defesa de José Sarney. Mas o realismo presidencial, talvez num ato falho, levou Lula a reconhecer que seus aliados têm os traços de um Judas tupiniquim.

O Brasil depende, e muito, da qualidade ética da sua imprensa e de sua indispensável força fiscalizadora.

Carlos Alberto Di Franco, diretor do Master em Jornalismo, professor de Ética e doutor em Comunicação pela Universidade de Navarra, é diretor da Di Franco - Consultoria em Estratégia de Mídia Difranco@iics.org.br

O Popular

Amostra do debate de 2010

“Falta liga no discurso tucano com a nova realidade política do Estado, fruto da combinação da recuperação da imagem de Iris com o arranhão na de Marconi.”

Um pequeno curto circuito ocorreu novamente entre PSDB e PMDB na semana passada, o que levou o prefeito Iris Rezende e o senador Marconi Perillo a trocarem algumas acusações indiretas. Esses atritos, que existem desde o primeiro embate entre tucanos e peemedebistas, em 1998, vão ficar mais intensos na medida em que as eleições forem se aproximando, pois, a menos que ocorra um imprevisto, a disputa será novamente entre os dois rivais atuais da política goiana, como atestou a pesquisa Serpes/ O POPULAR, divulgada na edição do dia 19 de outubro.

O PSDB está atuando em duas frentes. Ora consome parte do tempo de suas lideranças no embate com o PP do governador Alcides Rodrigues, o que inclui defender a imagem dos dois governos tucanos em Goiás – e em especial, a de Marconi, maior capital político do grupo –, ora no enfrentamento direto com os peemedebistas.

Na semana passada, a luta com os pepistas arrefeceu depois que ela chegou a uma intensidade tal que o próximo passo, tanto de um lado como do outro, seria o rompimento. Como esse passo não interessa a nenhuma das duas partes, por vários motivos os quais não cabe agora avaliar, houve uma distensão, abrindo espaço para os tucanos atuarem na outra arena, a do enfrentamento com o PMDB.

O troca-troca de cutucões entre os dois principais líderes partidários apresenta um aperitivo do que deverá ocorrer no debate eleitoral de 2010. Aparentemente, será mais do mesmo, isto é, uma repetição dos argumentos de ambos os lados nas últimas três campanhas que o eleitor goiano já conhece de cor.

PSDB e PMDB sabem, contudo, que vão precisar sofisticar sua argumentação, não apenas para chamar a atenção do eleitor, que poderá se mostrar cansado do mesmo discurso de anos seguidos, como porque a decisão de uma eleição leva em conta as circunstâncias de cada momento, fatos conjecturais e até emocionais.

Numa disputa tão acirrada como promete ser a de 2010, esses fatores devem ser levados em conta, pois poderão fazer a diferença na hora da decisão final. Assim a pergunta que ambos os partidos deveriam estar se fazendo é: com que discurso eu vou para a eleição?

Em 1982, em sua primeira disputa para governador, Iris Rezende apresentou-se como representante na luta contra a ditadura militar, respaldado ainda pela memória que os goianos guardavam de sua administração “revolucionária”, segundo suas palavras, na Prefeitura de Goiânia (1966—1969).

Na segunda disputa, em 1990, o Estado passava por grave crise política e administrativa, no final do mandato do governador Henrique Santillo, possibilitando a Iris se candidatar para tirar o Estado da paralisia em que se encontrava. Em 1998, Iris fez sua primeira campanha como candidato situacionista e perdeu. Apegou-se ao histórico do PMDB em suas duas administrações e no governo de Maguito Vilela, mas não convenceu o eleitor de optar pela continuidade.

O histórico eleitoral de Marconi também revela variações no discurso político-eleitoral. Ele se apresentou como o tempo novo da política goiana e, apesar de boa parte de seus aliados serem tradicionais na política estadual, convenceu o eleitor de que era novo em relação aos 16 anos de governos peemedebistas. Em 2002, ele já não era mais mudança, mas continuidade e o eleitorado decidiu prorrogar por mais quatro anos seu mandato. Em 2006, a mesma idéia de continuidade prevaleceu, elegendo Alcides para governador e Marconi para senador com aproximadamente 2 milhões de votos.

Nesses 12 anos que separam o primeiro embate entre Marconi e Iris do pleito de 2010, alguns fatos políticos mudaram substancialmente a relação dos partidos com a sociedade e, consequentemente, a visão do eleitorado sobre as lideranças partidárias. Entre eles, destaque para as duas eleições de Iris para prefeito de Goiânia (2004 e 2008) e o governo de Alcides.

À frente da Prefeitura, Iris teve a oportunidade de recompor sua imagem, desconstruída nas eleições de 1998 e de 2002. Já o governo Alcides conseguiu o que nem o mais antimarconista dos peemedebistas alcançou, arranhar a imagem de Marconi de bom administrador e de político com responsabilidade com os gastos públicos.

A disputa de 2010 acontecerá neste contexto, portanto, será bem diferente dos embates anteriores. Iris já deu mostras de que continuará defendendo o mesmo discurso de disputas passadas, o de que o PMDB é o partido que mais investe em infraestrutura no Estado. Confia que essa idéia terá liga com as expectativas do eleitor, que ele identifica como carente de obras, e, também, que se beneficiará da comparação que agora será possível fazer entre o que os peemedebistas e os tucanos fizeram em seus governos.

No embate diário, como o que ocorreu na semana passada, o PSDB mantém-se firme no discurso de que representa a visão de um Estado moderno, que busca o futuro por meio de ações de promoção do desenvolvimento econômico e de investimento em programas sociais, que os tucanos consideram o legado dos governos marconistas, contra a visão tradicionalista que atribuiu aos adversários peemedebistas. Falta aqui uma liga no discurso tucano com a nova realidade política do Estado, fruto da combinação da recuperação da imagem de Iris com o arranhão na imagem de Marconi.

O PMDB já fez sua aposta, e, pelo que mostra a pesquisa, parece que esse discurso irista pega em Goiânia e em seu entorno. Resta saber se ele se estenderá a todo Estado. Já os tucanos ainda tateiam em busca de um discurso adequado. A idéia de uma gestão modernizadora pode ser atraente para o segmento formador de opinião pública, mas é pouco convincente para a massa de eleitores. O embate interno com o PP roubou tempo e energia do PSDB para pensar no futuro.

O Popular

Giro

Carlos Eduardo Reche

Reforma na política salarial dá ainda mais poderes à Fazenda


A proposta de reforma na política salarial apresentada na quarta-feira pelo governo estadual à Assembleia Legislativa infla ainda mais os poderes da Secretaria da Fazenda na gestão de Alcides Rodrigues (PP). No novo modelo de gestão que prevê a padronização das políticas salariais, a Fazenda passaria, segundo a proposta, a “coordenar junto às demais pastas, autarquias e fundações, o planejamento e a autorização da concessão de férias e licença-prêmio para o servidores”, a “avaliar a criação e alteração de cargos e carreiras” e a “elaborar e administrar o Processo de Certificação Ocupacional”. Na prática, a Fazenda, comandada por Jorcelino Braga, já centraliza as providências em torno da folha, mas a proposta de lei complementar – que está em fase de debate e ainda não foi apresentada formalmente – reforça e amplia os poderes da pasta. O texto diz ainda que todas as unidades administrativas responsáveis pela folha ficam sujeitas ao poder de veto da Secretaria.

PERGUNTA PARA: Raquel Teixeira, deputada tucana

O PSDB vê ameaça numa candidatura apoiada pelo governo Alcides?

Não existe espaço para uma candidatura de terceira via, nem político nem ideológico. A posição do governador de ter um candidato próprio apoiado pelo PP é clara, mas esse nome entrará na disputa mais para tentar atrapalhar a chapa do PSDB e beneficiar o PMDB do que para apresentar projeto alternativo. O fato é que o PP está cada vez mais isolado.

Dois alvos

Sem citar Iris Rezende (PMDB) ou Alcides Rodrigues (PP), Marconi Perillo (PSDB) criticou ontem no Twitter a reforma na política salarial e a atuação do peemedebista no setor.

Flecha

“Servidor público tem de ser tratado com respeito e ter o seu trabalho reconhecido com salários justos”, disse o senador tucano.

Cisão

Tucanos apostam que mais da metade dos prefeitos do PP apoiará Marconi. O resto, dizem, correrá para as asas do PMDB.

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