segunda-feira, 9 de novembro de 2009

O Popular
08/11/2009

A eleição na OAB

A eleição da OAB não deveria ser feita nos moldes de uma eleição convencional, com o aparato de propaganda e, sobretudo, com o correspondente desperdício de recursos. Os advogados goianos estão sendo convocados para participar de um processo eleitoral de âmbito mais restrito, apenas de uma categoria profissional, com vistas a eleger os membros da diretoria da Ordem dos Advogados, do seu conselho seccional, do conselho federal, assim como dos dirigentes da caixa de assistência dos advogados, para o próximo biênio.

Jônathas Silva

Trata-se, portanto, de uma eleição para a escolha dos futuros dirigentes de uma instituição que presta serviço público não estatal. Logo, não é uma autarquia especial, como alguns pretenderam na década de 70, para justificar juridicamente a vinculação da OAB à administração pública. Felizmente, graças à luta dos advogados em defesa da sua instituição, não o conseguiram.

Apesar da natureza jurídica e da independência da OAB, o seu processo eleitoral está lamentavelmente assumindo o contorno de uma eleição política de molde convencional, com outdoors e, até mesmo, uma superestrutura de comitês e um sem-número de cabos eleitorais. A propaganda, que deveria estar direcionada apenas aos advogados inscritos na OAB, pode ser vista em toda a cidade. Mais parece uma disputa antropofágica e plutocrática pelo poder, como se a respeitada história da instituição se confundisse com o precário currículo de certos candidatos.

É oportuno lembrar que, no plano federal, a instituição já foi presidida, entre outros, por um Eduardo Seabra Fagundes e por um Raymundo Faoro e, no plano estadual, por advogados como Colemar Natal e Silva, Cleomar de Barros Loyola, Rômulo Gonçalves, Jorge Jungmann e Olavo Berquó, os quais, para se eleger não gastaram rios de dinheiro. Naquela época, prevalecia a cultura de que a OAB era realmente um ente moral inominado, a exigir dos seus dirigentes uma conduta pautada pela frugalidade, sem ostentação e gastos excessivos, como é dever de todos aqueles que exercem um múnus público. As campanhas, então, dirigiam-se àqueles que de fato estavam envolvidos, os advogados, sem extrapolar.

Além do seu compromisso histórico, a OAB desempenha uma função política, que não se confunde com a política partidária, mas que se vincula ao sentido helênico do vocábulo política. Essa sua função pode ser conferida em diversos momentos da vida nacional, quando atua em defesa da Constituição, da ordem jurídica, dos direitos humanos, da justiça social, da boa aplicação das leis, da rápida administração da justiça e do aperfeiçoamento da cultura e das instituições jurídicas. No exercício desses fins de natureza político-institucional, é indiscutível o papel que a instituição desempenha.

E, por fim, exerce com exclusividade a polícia administrativa da advocacia, substituindo o Estado, ao selecionar os que pretendem exercê-la, mediante o Exame de Ordem, controla e fiscaliza a atividade profissional e pune as infrações disciplinares.

Por tudo isso, a eleição na OAB tem de ser substancialmente diferente das demais eleições. Os eleitos não podem ter fichas sujas, não podem abusar do poder econômico e tampouco fazer propaganda enganosa. Ao contrário, a estatura moral e a credibilidade da OAB exigem um processo eleitoral transparente, com prestação de contas de cada candidato, relacionando nominalmente os que contribuíram, o total do que foi gasto na campanha, sob pena de os eleitos não possuírem legitimidade para dirigir uma instituição que, não raro, representa a sociedade civil.

Para romper esse paradigma de uma cultura perversa sobre a eleição na OAB, é oportuno relembrar o que escreveu Levy Carneiro sobre a importância da instituição recém-fundada: “A OAB surge como uma obra de todos nós [...]É um órgão de seleção, de disciplina, de cultura, de aperfeiçoamento moral. Não nos proporciona regalias ou favores. Cria-nos um regime de árduos deveres. Sujeita a julgamento e a punição os nossos deslizes de ordem moral. Submete-nos a um Código de Ética Profissional. Agrava fortemente as penalidades dos crimes contra a boa fé, que cometemos. Reprime nossos erros profissionais. Solidariza-nos em desvelos de assistência mútua”. Tendo em vista essa belíssima história da sua trajetória institucional, é indispensável que os candidatos lembrem que a noção de poder na OAB está em uma linha de serviço para todos os advogados e para cidadania em geral.

Jônathas Silva é advogado e professor da Faculdade de Direito da UFG

O Popular

SUCESSÃO 2010

Oposição padece de “excesso de vaidade”, diz Dilma
Pré-candidata do PT ao planalto, ministra-chefe da casa civil participou ontem de encontro de prefeitos e vice-prefeitos do partido, em Guarulhos

São Paulo – A pré-candidata à Presidência da República, ministra Dilma Rousseff, disse ontem que as críticas ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva partem de uma oposição que padece de “excesso de vaidade e de completa falta de rumo, incapaz de formular um projeto para o País, um programa de transformações”.

Numa referência indireta ao artigo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) – publicado em vários jornais no domingo passado, inclusive no POPULAR – no qual ele afirmou que o atual governo caminha para o “autoritarismo popular”, a pré-candidata afirmou: “Nós somos de fato os grandes democratas desse País. Nós ouvimos sempre os prefeitos, fizemos alianças políticas e, mais que tudo, ouvimos todos os setores da população.”

As afirmações de Dilma foram feitas no encontro nacional de prefeitos e vice-prefeitos do PT, aberto ontem no município de Guarulhos, na região metropolitana de São Paulo. Ao encerrar seu discurso, ela conclamou a plateia a ir para as ruas na campanha de 2010 com o propósito de deixar bem claras as diferenças entre o governo Lula e o de seu antecessor. “O que vai estar em jogo é o confronto entre dois programas, entre dois Brasis, o Brasil de 2002 e o de 2009”, afirmou.

Um pouco antes, a pré-candidata havia detalhado para os prefeitos e vice-prefeitos as principais diferenças entre os dois governos. Na opinião dela, faltou ao governo anterior capacidade de gestão e disposição para promover transformações que beneficiassem a maioria da população. “O que eles souberam fazer foi dilapidar o patrimônio público”, afirmou, referindo-se ao programa de privatizações conduzida por Fernando Henrique.

“A realidade do governo Lula destruiu o dogma de que a distribuição de renda é incompatível com o desenvolvimento econômico”, prosseguiu. “Também caiu o dogma de que o salário mínimo com reajuste real era incompatível com o crescimento econômico, pois geraria inflação”, completou a ministra.

Identidade

Líderes do PT, presentes no encontro, também rebateram as críticas do ex-presidente. Sobre o “autoritarismo popular” que Fernando Henrique disse existir no governo Lula, o presidente do partido, deputado Ricardo Berzoini (SP), afirmou que “autoridade é diferente de autoritarismo. O que acontece é que o povo se identificou com o jeito de governar do Lula”. Ele repetiu argumento do PT de que a oposição teme a comparação entre os governos de Lula e de FHC.

O senador Aloizio Mercadante (PT-SP) adotou um tom mais provocativo ao se referir à oposição, sugerindo que os adversários se acalmem. “Se eles estão nervosos, vão ficar ainda mais. Recomendo que tomem maracugina”, disse. (Agência Estado)

O Popular

SUCESSÃO 2010

Iris defende prioridade para Meirelles
Prefeito admite candidatura em reunião do PMDB em Iporá, mas diz que aguardará decisão de presidente do BC

Carlos Eduardo Reche

Na contramão dos apelos de lideranças e militantes do PMDB, o prefeito Iris Rezende afirmou ontem em Iporá (216 quilômetros de Goiânia) que só disputará o governo estadual no ano que vem se o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, decidir não concorrer ao cargo. Mas Iris admitiu que, não havendo candidato competitivo para a disputa, deixa a Prefeitura em março do ano que vem para concorrer ao Palácio das Esmeraldas.

Iris garantiu que Meirelles anunciará até o final deste ano qual cargo pretende disputar nas eleições. O presidente do BC está em viagem ao exterior e não participou do encontro peemedebista, realizado no centro de Iporá.

Último a discursar no encontro, Iris ouviu antes série de apelos em prol de sua candidatura ao governo. Na entrada prédio em que foi realizado o encontro, uma faixa, sem identificação, afirmava: “Os goianos querem Meirelles na Presidência da República”.

“Eu disse ao presidente (Luiz Inácio Lula da Silva): ‘olhe, eu só serei candidato a governador se não tiver um nome à altura, com possibilidade de vencer”, afirmou Iris. “Se tiver, vou terminar meu mandato de mais de três anos ainda na Prefeitura”, disse o prefeito à plateia.

O prefeito afirmou, no entanto, que “não fugirá” da disputa caso não haja outro nome no PMDB disposto a concorrer. “Uma coisa eu vou dizer para vocês. Mesmo com esses três anos (pela frente) em Goiânia, se não tiver (candidato), seja o Henrique, seja outro nome que se disponha a enfrentar, eu vou enfrentar a candidatura ao governo de Goiás, não tenham dúvida disso”, disse o prefeito.

Iris voltou a defender que o partido antecipe a escolha do candidato para que PMDB tenha tempo de construir as alianças e defina o plano de governo para o Palácio das Esmeraldas. O prefeito afirmou que, em conversas reservadas com Meirelles, obteve a garantia de que o presidente do BC anunciará o cargo que disputará até o fim deste ano.

“Um pedido eu fiz a ele. Eu disse ‘olhe, você tem até o final do ano para tomar uma decisão, porque o PMDB tem de se preocupar com alianças, com plano de governo, o PMDB tem responsabilidades muito grandes com o povo”, disse Iris, para em seguida garantir: “Então, posso adiantar para vocês que, em relação à pessoa dele, até o final do ano vamos ter uma posição, sem subterfúgios, sem nada”.

PSDB

Com o discurso voltado para a escolha do candidato do PMDB, Iris foi mais econômico nas críticas ao PSDB do senador Marconi Perillo do que nos encontros anteriores. O prefeito fez menção aos governos tucanos ao falar da relação com o governador Alcides Rodrigues (PP).

Os ataques à gestões do tucano (1999-2006) e ao governo Alcides ficaram por conta dos deputados e lideranças do partido. A maioria disse que a campanha dever promover profundo contraponto entre as realizações dos dois partidos à frente do Estado.

O presidente estadual do PMDB, Adib Elias, desferiu alguns dos principais ataques contra os tucanos. Disse que, “em qualquer parte” que se vá ao Estado, “não se vê obras” realizadas pelas administrações tucano-pepistas.

Crítico contumaz do governo Alcides na Assembleia Legislativa, Thiago Peixoto, um dos seis deputados estaduais presentes no encontro, disse que o “Estado está quebrado” como resultado da “farra promovida pelo PSDB”. Segundo o deputado peemedebista, “os goianos vivem hoje a ressaca da festa irresponsável” herdada por Alcides.

“Temos de passar Goiás a limpo”

O prefeito Iris Rezende voltou a defender ontem, no encontro do PMDB em Iporá, uma postura menos agressiva de seu partido em relação ao governador Alcides Rodrigues (PP) na Assembleia Legislativa. O peemedebista, no entanto, disse que o pepista não revelou o “verdadeiro quadro” em que recebeu o Estado do antecessor.

“Ele pegou um Estado arrebentado”, disse o prefeito, citando a crise da Celg, que acumula dívida de quase R$ 6 bilhões, e problemas na Saneago. O prefeito afirmou que, apesar da crise, Alcides tem atuado para colocar as contas do governo em dia.

Apesar disso, o prefeito disse que é preciso “passar o Estado a limpo” e que Alcides não revelou a verdadeira situação do Estado. “Ele (Alcides) não tem mostrado o quadro verdadeiro que recebeu o governo. Ele é sensível, muito diplomata, não tem falado, que os anos primeiros é que foi o período responsável para quebrar a Celg”, disse Iris, em referência à gestão de Marconi Perillo (PSDB, 1999-2006).

Segundo o partido, cerca de 700 pessoas participaram do encontro em Iporá, entre elas seis dos dez deputados estaduais, quatro dos cinco deputados federais, além de 15 prefeitos, 12-ex-prefeitos, vereadores e militantes do partido na região. O município recebeu o quinto encontro do partido em 2009.

FRASES

“Eu disse ao presidente do Banco Central: ‘olhe, se você pensa em ser candidato a governador, você só terá uma oportunidade, que é se filiando ao PMDB’.”

Iris Rezende prefeito de Goiânia

“Eu disse ao presidente (Lula) que só serei candidato a governador se não tiver um nome com possibilidade de vencer.”

Idem

Iris já mostrou o que fez pelo Estado e sinaliza agora para o que ainda pode fazer.”

Iris Araújo deputada federal

“Nossos adversários estão nervosinhos, alardenado as realizações em Goiânia, como o Oscar Niemeyer, onde inauguraram biblioteca que não tinha livros.”

Thiago Peixoto deputado estadual

“Em outras eleições, o problema do PMDB era o próprio PMDB. É preciso resolver as picuinhas do partido.”

Wagner Guimarães deputado estadual


O Popular

FHC X LULA

Para analistas, crítica de FHC procede, mas há exagero sobre “autoritarismo”
Especialistas ouvidos pelo popular apontam a cooptação dos movimentos sociais como o ponto mais grave das declarações de ex-presidente em artigo

Núbia Lôbo

Em meio às dificuldades que o PSDB enfrenta para definir o discurso eleitoral que vai apresentar à população na eleição presidencial de 2010, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) levantou o debate nos meios político e acadêmico e endureceu as críticas ao governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Em artigo publicado no último domingo no POPULAR, FHC levantou a tese de que o Brasil vive um “autoritarismo popular” e relacionou o que chama de “decisões esdrúxulas” do presidente petista, com foco na cooptação de movimentos sindicais e sociais pelo governo federal como um caminho perigoso para o que ele chama de “subperonismo lulista”.

A análise de Fernando Henrique – criticada por líderes petistas durante a semana – provocou reações diversas entre os analistas políticos consultados pelo POPULAR. A começar da definição de que Lula implantou o autoritarismo popular em sua gestão. Quem concorda com FHC cita logo de cara o escândalo do mensalão, quando o governo petista teria invadido as prerrogativas do Poder Legislativo comprando deputados federais para que estes votassem de acordo com os interesses do Executivo.

“Como o Fernando Henrique e os governos anteriores operavam? Dava-se cargos (no Executivo) em troca de apoio (dos parlamentares) nas votações. Era sabido que um partido pedia a diretoria de um banco ou de uma estatal não por zelo à causa pública. Mas o José Dirceu (PT) achou mais fácil pegar o dinheiro e comprar os caras. Essa é uma sistemática diferente e acho que representa uma diferença qualitativa muito grande”, afirma Fausto Miziara, doutor em Sociologia pela UnB e professor da UFG.

Outras ações de Lula, como a indicação de José Antônio Toffoli, ex-advogado Geral da União, para uma vaga no Supremo Tribunal Federal (STF), são lembradas como demonstração de que o petista faz “o que quer” na administração do País. “Ele não tem o saber jurídico necessário ao cargo: não tem pós-graduação, não tem experiência como advogado, nunca escreveu nada, foi reprovado duas vezes em um concurso para juiz. Mas Lula indicou o Toffoli quase como um gesto imperial”, afirma Miziara.

Controle

Mas autoritarismo pressupõe que o governante esteja fora do controle da sociedade, o que para alguns analistas está longe de acontecer com Lula. “O governo é sensível àquilo que a imprensa divulga, à opinião pública, o Congresso tem abertura para que as entidades apresentem seu projetos, o governo está submetido ao controle tanto do Legislativo como do STF. Vejo um certo exagero em dizer que vivemos numa época de autoritarismo”, analisa Leonardo Barreto, doutor em Filosofia Política e professor da Universidade de Brasília (UnB).

Alguns políticos e acadêmicos defendem ainda que Lula usa de sua popularidade para minar a oposição ao governo e colocar a opinião pública contra as instituições fiscalizadoras. Esta linha analítica passa pelas críticas que o petista faz ao Tribunal de Contas da União (TCU), através da mídia e de seus discursos em eventos públicos, para justificar as obras paralisadas do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) em razão de supostas irregularidades nas licitações ou ainda de superfaturamento que técnicos encontram nos processos.

“O governo tem todo direito de criticar quem quer que seja, inclusive o TCU. Qual o problema? O que o governo não pode fazer – e nem fez – é interferir ou desrespeitar o TCU. Autoritarismo seria o contrário: não permitir que houvesse crítica ou observação entre os poderes. O presidente do STF (Gilmar Mendes) critica frequentemente medidas do Legislativo e do próximo Executivo sem que isso seja considerado autoritário”, analisa Kjeld Jakobsen, mestre em Ciência Política pela USP e presidente do Observatório Brasileiro de Mídia (OBM).

“A América Latina como um todo segue o caminho do neopopulismo e o Lula é o caso mais brando, porque as instituições no Brasil são mais sólidas. (Lula) faz críticas à democracia representativa, pressupõe que elas são falhas e fala direto às massas. O congresso é um mero empecilho”, contrapõe Miziara.

Subperonismo

A cooptação dos movimentos sindicais e sociais pelo governo é um dos pontos citados por FHC para sustentar a tese do autoritarismo popular e de que o Brasil caminha para o subperonismo. Neste ponto, duas análises são fundamentais: o uso dos recursos públicos que são repassados sem a devida fiscalização de gastos a entidades como Central Única dos Trabalhadores (CUT), Força Sindical, UNE (União Nacional dos Estudantes), MST (Movimento dos Sem Terra), entre outras, e ainda a consequente falta de mobilização da sociedade organizada que está cooptada pelo atual governo.

O mais grave, segundo analistas, está na falta de equilíbrio da gestão dos fundos de pensões dos servidores públicos de grandes estatais – Furnas (Real Grandeza), Petrobrás (Petros) e outros – nos quais bilhões de reais são geridos atualmente de acordo com o bel prazer do petismo – ou do “lulismo”, que se sobrepõe ao petismo. Isso porque o PT está no controle dos sindicatos, que fiscalizam o destino dado à contribuição dos empregados, e agora também comanda a contribuição do patronato, que é o próprio governo.

“Esse é um ponto ruim deste governo porque os movimentos sociais já estavam ligados ao PT antes dele chegar ao governo e não mantiveram suas independências. Eles perderam vitalidade e hoje contribuem para a alta popularidade do Lula. A máquina incha, coloca pessoas (desses movimentos) que muitas vezes não têm capacidade para o exercício dos cargos e o cidadão que paga por isso tudo, inclusive mais um salário para alguém que sabe fazer o serviço”, avalia Barreto.

A relação entre a cooptação dos movimentos sociais e a alta popularidade do presidente Lula está na falta de mobilização popular para levantar e discutir os problemas do Brasil, como era feito nos governos anteriores. E mais: além de dizerem “amém” a todas as decisões e ações do governo, essas categorias privilegiadas com recursos e cargos públicos se colocam na linha de frente quando o assunto é defender Lula.

“A UNE, no dia em que foi instalada a CPI da Petrobras, fez uma mobilização contra qualquer tipo de investigação. A primeira questão é qual o motivo que leva a UNE a se mobilizar por questões da Petrobras, sendo que há diversos temas na área da Educação que não receberam o mesmo tratamento. E, segundo, porque se faz uma mobilização contra o direito de investigar (fiscalizar) o governo?”, pondera Barreto.

FHC terminou sua análise dizendo que o Brasil não pode eleger a candidata do PT em 2010, Dilma Rousseff, porque se daria o continuísmo ao autoritarismo popular e, entre outras ações, à abertura do governo para sindicalistas e movimentos sociais, que podem tomar conta do poder no País.

“FHC é capcioso porque ele sabe muito bem que o PRI, Perón e Getúlio (Vargas, ex-presidente do Brasil) chegaram ao governo no bojo de processos revolucionários com fortes tendências autoritárias, o que torna a comparação com Lula descabida”, diz Roberto Musse, professor de Ciências Políticas da USP.

E ele acrescenta: “Lido do avesso, no entanto, o artigo corrobora os analistas políticos que acusam a oposição de não ter um discurso e um projeto alternativo para o País. Parece que só restou ao PSDB o argumento de que não devemos eleger Dilma Roussef para evitar o continuísmo”.

Oposição

Além de dar um rumo ao discurso eleitoral do PSDB para 2010, FHC endurece as críticas ao presidente Lula como forma de chamar os tucanos para o embate, segundo a análise acadêmica. Para os analistas, há o medo de brigar com o capital político popular do presidente e/ou a oposição ainda não aprendeu a fazer o seu papel de emparedar o governo.

“As oposições efetivamente se sentem acuadas com o líder carismático e que tem altos índices de aprovação. No caso do mensalão, quando o Duda Mendonça disse em depoimento que recebeu dinheiro no exterior para fazer a campanha do Lula, isso é crime e deveria ter sido pedido o impeachment, mas as oposições se acovardaram”, avalia Fausto Miziara.

“O Lula é um líder carismático, tem uma parcela da sociedade que apoia o presidente independente das coisas que ele faça e não julga os seus atos. Mas não acredito que essa seja a parcela mais significativa da população, até porque já houve recuo na sua popularidade quando os efeitos da crise se agravaram”, lembra Barreto.

Sobre a oposição, ele acrescenta: “O artigo de FHC pode ser visto como defesa do próprio legado, mas também pode ser um pouco do momento do partido. Não existem lideranças que saibam criticar. O Serra está calado, o Aécio diz que vai fazer “mais e melhor”, mas este é o discurso derrotado de Geraldo Alckmin (derrotado por Lula em 2006).

FHC X LULA

“O eleitor perdoa Lula porque oposição não põe o dedo”

Núbia Lôbo

As críticas do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) têm como foco central chamar os tucanos para o exercício da oposição, afirma o historiador Marco Antônio Villa.

O especialista diz que a popularidade de Lula não é motivo para acuar os tucanos, já que não existe capital político eterno e que o presidente agora caminha “em campo minado”, com a ameaça de desgaste de sua imagem e discurso.

Por outro Villa aponta que o presidente petista inaugurou uma linguagem mais clara de contato com a população que não poderá ser ignorada pelo sucessor, quem quer que ele seja.

Acerca da abertura do governo aos movimentos sindicais e sociais, o professor da Universidade Federal de São Carlos (UFSC) sugere que a oposição se prepare para enfrentá-los se ganharem as eleições de 2010 para o Palácio do Planalto. “Serão os mais radicais opositores, podem ocupar ministérios e fazer greve geral”, afirma Villa. Confira abaixo os principais trechos da entrevista.

O que faz FHC vir à tona com duras críticas ao governo de Lula?

O PSDB não conseguiu até agora ser uma oposição no sentido clássico de um regime democrático. No momento em que foi necessário ser uma oposição mais dura, como no caso do mensalão, o partido ficou perdido e jogou a alternativa errada. “Vamos levar o presidente Lula sangrando até 2006 e ganharemos facilmente a eleição presidencial”, foi o que fizeram. Mas aconteceu totalmente o contrário. Em resumo, acho que é uma espécie de alerta da necessidade do PSDB assumir o figurino de oposição. Isso explica em parte a popularidade do presidente. Ele é popular por várias razões: programas sociais, situação econômica e também porque não há o contraponto, isto é, oposição a ele.

Além da dificuldade de fazer oposição, existe também o receio de brigar com o capital popular de Lula?

Em 2005 (ano do mensalão), fazer oposição colocaria em risco as instituições. Naquele momento, para os tucanos, poderiam ter levado o presidente às cordas. A impressão é de que o PSDB sempre está à procura de uma explicação para não ser oposição. Era a crise institucional e agora é o capital político do Lula. Tem de entender a conjuntura econômica e mostrar que a situação que o Brasil teve na crise mundial é fruto de uma conjuntura internacional extremamente favorável. O Brasil teve taxas de crescimento baixas para a potencialidade do País. Poderia ir por aí, pela crise ética, mas a oposição não conseguiu fazer nada. Ficou como barata tonta.

E porque o PSDB não usa essas “decisões esdrúxulas” de Lula, para usar uma expressão do FHC, em uma oposição mais eficiente ao governo?

A oposição está para atrapalhar o governo e apresentar qual seria a melhor forma de governar. Quando vejo uma atuação da oposição contrária a isso, eu fico olhando e não entendo. É preciso ter um partido com uma inserção maior na sociedade e não que funcione apenas a cada dois anos. Precisa ter panfletagem nos bairros, nas cidades, ter militantes, o vereador da pequena cidade em sintonia com o discurso. Recebo aqui 300 mil e-mails de defesa ao governo e isso é legítimo. Quando o PT fazia discurso, sabia-se o que o PT tentava. No PSDB, há enorme dificuldade disso.

Não seria um discurso burocrático dos tucanos que acabou substituído pela linguagem popular do Lula?

Essa questão da linguagem é central. Se a oposição ganhar as eleições de 2010, o presidente terá de adotar nova linguagem. O Lula inaugurou um novo contato com o povo. Não pode ser mais um contato de gabinete, terá de ser como o Lula faz nas cerimônias públicas, precisa ter uma linguagem clara e acessível, não precisa ser chula, como acontece em alguns momentos com Lula. Tem de ser um presidente que entenda o que as pessoas estão falando. Isso com o Lula foi um divisor de águas. Se alguém achar que vai governar fazendo discurso com citações de nota de rodapé, digo que estamos em outro mundo.

A população realmente vem perdoando os erros do presidente?

Vem perdoando porque a oposição não põe o dedo. Essa excessiva exposição do presidente tem um lado positivo, mas chega um certo momento que isso vai cansar. O presidente mais fala do que administra. Se ele acha que leva sua candidata (Dilma Rousseff, ministra da Casa Civil) a tira colo, ele falando em nome dela, ela vai parecer uma marionete. Lula está chegando em um terreno minado e tem de tomar muito cuidado ao caminhar. Pode vir o desgaste da figura presidencial, das metáforas, da aceitação desse discurso e do seu projeto para sua candidata, que fala e faz aquilo que o presidente manda.

Essa abertura do governo aos sindicatos e movimentos sociais é tão grave a ponto de chegar no peronismo?

Nós nunca tivemos algo parecido ao peronismo ou com a estrutura do peronismo. No Brasil, a CUT ou a Força Sindical nunca se aproximaram ao poder financeiro e de mobilização visto na Argentina. Mas o presidente Lula foi questionado no sentido de cooptar as centrais sindicais ao aparelho do Estado. Isso voltou não juridicamente, mas financeiramente, através de concessões de recursos fabulosos, generosos. Hoje em Brasilia tem a nova Central Sindical, que aluga manifestantes. Paga R$ 50 por manifestante. Não há nenhuma greve, nada, que confronte a política do governo.

E onde isso pode chegar?

Em 2011, a oposição pode ter muita dificuldade para governar porque os cooptados de hoje serão os mais radicais adversários de amanhã. Dia primeiro de janeiro de 2011, caso vença a oposição, o presidente pode ter os ministérios ocupados, greve geral.

O senhor diz que as armas ideológicas estão definidas para 2010, mas os jogadores no PSDB estão em conflito. O senhor acredita que a oposição sai ilesa desse processo, com divergências dentro do PSDB se refletindo agora no DEM?

Acho que tudo indica que o candidato vai ser (o governador de São Paulo, José) Serra, com um vice provavelmente de Minas Gerais – não o Aécio. Pode ser que o vice seja até o ex-presidente Itamar Franco, que seria um vice eleitoralmente muito bom, do PPS.

Mas o DEM briga pela vaga de vice na chapa do PSDB.

O partido já recebeu a prefeitura de São Paulo e deve levantar as mãos aos céus e rezar todos os dias para Serra, porque não fosse isso, não teriam a prefeitura. É legítima também a candidatura do Aécio. Para usar metáforas de Lula, onde as divididas vão ser muito duras e ninguém pode tirar o pé, tem de ser o governador José Serra (o candidato).

De fato existe o autoritarismo popular que defende FHC?

Desde que a oposição cumpra seu papel e mostre a importância das liberdades, acho que não. O regime militar bateu na tecla, durante 20 anos, de que ser contra o governo é ser contra o Brasil. E o presidente Lula reforça isso no seu discurso várias vezes. Não sei se quem está falando é o presidente Lula ou o presidente Emílio Médici (1969-1974). Um presidente que por sinal o Lula admirava quando era operário em São Bernardo. Por outro lado, temos muitos problemas nos nossos poderes, o Judiciário é o mais desastroso. Mas o Estado democrático funciona.


O Popular

Memorandum - Hélio Rocha

Pane no aeroporto é culpa federal

A ministra Dilma Rousseff sofismou, pronunciando uma inverdade, ao lançar sobre a administração estadual passada a responsabilidade pelo deplorável atraso das obras do novo terminal do Aeroporto Santa Genoveva, quando a culpa é federal. Ela afirmou no programa Bom Dia, Ministro, que o governo goiano dimensionou mal o projeto do novo terminal. O dimensionamento não é de responsabilidade da Infraero?

Na verdade, não apenas o Santa Genoveva enfrenta este pane das obras. São, ao total, 16 aeroportos com obras em atraso, inclusive de cidades que vão ser sedes da Copa do Mundo de 2014, como o Tom Jobim (Galeão), no Rio, o Governador Franco Montoro, de Guarulhos, em São Paulo, e o Luiz Eduardo Magalhães, de Salvador, na Bahia. Este, como alguns outros, de vital importância também para a economia do turismo.

Na edição de 12 de julho passado o jornal Correio Braziliense destacou matéria sobre este atraso, assim como de outras obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), com base em relatório da própria Infraero. Havia previsão de investimentos nos aeroportos da ordem de R$ 3,695 bilhões, com a estimativa de que R$ 2,8 bilhões seriam aplicados ainda no governo Lula, mas tal previsão foi reduzida para R$ 814 milhões.

Também é verdade que intervenções do Tribunal de Contas da União (TCU) estão atrasando algumas das obras, mas isto se deve a irregularidades em licitações que o governo mesmo teria de prevenir e evitar.

Mestre dos mestres

Vejo em um canal de assinatura na televisão algumas cenas de O Encouraçado Potemkin, do russo Sergei Eisenstein, e percebo que não é por acaso que os cineastas de gerações que se seguiram à dele o admiram tanto e nele se inspiram tanto.

Quando este mestre dos mestres do cinema morreu, em fevereiro de 1948, o então jovem diplomata Vinícius de Moraes servia em Los Angeles. Vinícius compôs um poema para louvar o cineasta.

Trechos: “Camarada Eisenstein, muito obrigado/ Pelos dilemas, e pela montagem/ De Canal de Fergana, irrealizado/ E outras afirmações? Tudo fostes a imagem/ Em movimento Agora, unificado/À tua própria imagem, muito mais/ De ti, sobre o futuro projetado/Nos há de restituir. Boa viagem/ O cinema é infinito/ Não se mede/ Não tem passado nem futuro. Cada/Imagem só existe interligada/À que antecedeu e à que sucede/ Cinema é Odessa, imóvel na manhã/À espera do massacre:/é Navski; é Ivan/ O Terrível; és tu, mestre, maior/ Entre os maiores, grande destinado; Muito bem, Eisenstein, muito obrigado.”

O desafio olímpico

Não bastará ao Brasil demonstrar capacidade para a realização das Olimpíadas de 2016. É preciso que também faça bonito como competidor.

Consagrado nessa modalidade mundialmente tão popular, que é o futebol, o Brasil precisa agora capacitar-se para buscar as medalhas que lhe faltam nos outros esportes. Este objetivo só será alcançado a partir de um trabalho fortalecendo as bases, o que significa dizer, investindo nos jovens atletas.

Considerada a dimensão populacional e o fato de que, apesar de tantos problemas no plano social e de uma péssima distribuição de renda, a economia brasileira se inclui entre as maiores, é ainda muito pobre o perfil esportivo olímpico do País.

Existem belas exceções, como dos atletas do vôlei, como de desempenhos individuais à custa de muito esforço próprio, mas é grande ainda a diferença que separa o Brasil das potências olímpicas.

Essas potências investem substancialmente nos jovens, que encontram no ambiente estudantil, nas escolas de ensino de segundo grau e na universidade, todo o incentivo e os necessários equipamentos para se tornarem bons atletas e os melhores medalhistas olímpicos.



O Popular

Giro

Jarbas Rodrigues Jr.

Tempo no horário político serve de termômetro para alianças

O horário eleitoral na TV e rádio ajuda a explicar o jogo delicado para a formação de alianças em Goiás para 2010. Para a campanha ao governo estadual, serão dois blocos de 50 minutos cada para governador, vice e deputado estadual nas terças, quartas e sábados. Uma aliança entre PMDB e PT, incluindo PSC e PC do B, teria 14 minutos e 10 segundos. Uma chapa do PSDB com PTB e PPS teria tempo de 6 minutos e 55 segundos. Uma terceira chapa com PP, DEM, PR, PSB e PDT teria 14 minutos e 20 segundos. Portanto, uma terceria via interessaria mais ao prefeito Iris Rezende (PMDB) que ao senador Marconi Perillo (PSDB). Se o DEM fechar com o PSDB em Goiás, esta aliança teria 11 minutos e 45 segundos no horário político. Se incluir PP, passaria para 16 minutos, superior ao tempo de PMDB-PT. Quem defende uma ampla, mas difícil aliança lulista em torno de Henrique Meirelles (PMDB) garante que teria 28 minutos em cada bloco do horário político. Esta simulação não leva em conta os segundos de partidos pequenos.

Entrevista/Mauro MIranda, do PMDB irista

Há clima para antecipar no PMDB definições de candidaturas para 2010?

Existe perfeito entendimento entre o prefeito Iris Rezende e Henrique Meirelles (BC), que devem continuar conversando muito. O prefeito sugeriu dezembro, mas é algo que pode ficar para janeiro, fevereiro ou até março também. Não existe imposição de Iris ao partido. O fator principal, na minha opinião, é continuar esta boa sintonia entre Iris e Meirelles.

Promete trabalhar

Integrantes da CPI da Celg na Assembleia prometem continuar os trabalhos até durante o recesso parlamentar. A conferir.

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