quinta-feira, 10 de junho de 2010

Como chegar?






ARTIGO

DA REDAÇÃO






Washington Novaes


Um mundo lento ou apressado?

Com o início pelo menos informal - para não dizer fora da lei - da campanha eleitoral, o leitor atento certamente terá percebido que lhe trazem de volta os mesmos temas, seja na campanha pela Presidência ou na estadual. Com as mesmas ênfases - propostas de solução que pouco ou nada inovam, para velhos problemas que frequentam o noticiário há décadas. Talvez seja interessante, por isso, revisitar o passado e tentar chegar a algumas conclusões.

No primeiro artigo em que ocupou este espaço, há 14 anos, o autor destas linhas tratava da questão do crescimento físico, do inchaço das cidades - e dos problemas que isso significava para o cidadão e para seu bolso, de onde saem recursos para financiar "soluções". Chegou a lembrar o óbvio: nenhum organismo pode crescer indefinidamente, se vivemos em um universo finito, em que os recursos se esgotam. E pedia um plano diretor que definisse esses limites. O que mudou? No artigo seguinte, a questão era a da concentração da renda no mundo e no Brasil e suas consequências, partindo das estatísticas do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, que apontavam mais de 80% da renda total do mundo concentrados nos países ricos, onde viviam menos de 20% da população. E o mundo todo sofrendo com a especulação financeira gerada por essa renda, que movimentava 1,5 trilhão de dólares no mundo - por dia. No Brasil não era muito diferente, comparados os segmentos mais ricos da população com os mais carentes. No quadro de hoje, de uma crise gerada pela especulação global que gira US$ 592 trilhões, as diferenças serão apenas de volumes financeiros. Da mesma forma, internamente, não escapamos à trágica concentração da renda, que continua a nos colocar entre os países mais desiguais, perto dos paupérrimos africanos.

Adiante. O projeto da Hidrovia Araguaia-Tocantins era o tema seguinte - tal como foi pela enésima vez há poucas semanas. Já naquele momento lembrava-se que era preciso aprender a ler o espaço, para não cometer erros graves. Citava-se o geógrafo francês da Universidade de Paris, Yves Lacoste, segundo quem "a geografia também põe em relevo o drama (...) O século XIX nos ensinou a ler as palavras; trata-se agora de aprender a ler o espaço". Pois agora trata-se exatamente de ler a geografia, a geomorfologia, a dinâmica dos recursos hídricos, o contexto da biodiversidade - para não repetir o erro em que o governo federal insiste ainda hoje. E os candidatos repetem.

Tal como Lacoste, o sociólogo Jean Baudrillard ensinava, em mais um artigo, a geografia urbana moderna, onde a cidade não se concentra mais em torno da igreja, da escola e da praça - e sim dos bancos, dos supermercados, das instituições do poder. Quem não entende essa lição não consegue compreender a dinâmica e não consegue construir uma lógica que atenda aos interesses sociais, e não apenas financeiros. Como também não entende - diz o artigo posterior - quem não vê na sociedade o crescimento de organizações civis (ONGs e outras), não consegue enxergar onde estão muitas das utopias humanas (às vezes, entre índios; muitas vezes, na voz de pessoas muito humildes).

Os níveis inimagináveis da miséria no Brasil e a necessidade de qualificar as pessoas para o mercado de trabalho levavam o então juiz da 1ª Vara da Infância e Juventude do Rio de Janeiro, Siro Darlan, a propor - citava um artigo - a criação de um programa governamental que destinasse um salário mínimo mensal a famílias que mantivessem seus filhos na escola - quando ainda hoje se discute nas campanhas se o Bolsa Família se originou no governo federal anterior, se no atual. E os jornais dizem que boa parte das famílias beneficiadas pelo programa em vigor temem colocar o filho na escola e perder a renda do seu trabalho- ou a própria bolsa.

Talvez essas comparações de épocas levem o eventual leitor a perder o ânimo - nada muda? Vale a pena então, lembrar o que conta Ignacy Sachs - um dos maiores pensadores do "desenvolvimento com inclusão social" -, que há poucos meses fez uma palestra brilhante na UFG: seu mestre na Polônia, o economista Michal Kalecki, lhe ensinava, no começo da vida, que uma ideia leva o tempo de uma nova geração (20 anos) para ganhar terreno e consolidar-se.

A realidade brasileira parece convalidar a visão do mestre polonês. Mas há diferenciais a considerar, como o que já em 1968 colocou sobre a mesa o cardeal belga Suenens (também já citado aqui): hoje, a velocidade da informação faz com que a diferença entre uma pessoa de 40 anos e uma de 20 não seja de duas décadas, e sim de dois séculos.

Nesse caso, tem-se de concluir que é preciso correr, para não ser atropelado. Mas não é o que o panorama eleitoral sugere - pelo menos neste momento.


Washington Novaes é jornalista

Nenhum comentário:

Postar um comentário