sábado, 11 de setembro de 2010

Celg: um história contada!



 
Opinião

O livro da Celg: uma falência mais que anunciada 

Salatiel Soares Correia 

Este livro que ora disponibilizo ao mercado nacional não foi escrito hoje. Foram necessárias quase duas décadas de trabalho e analise do que ia acontecendo no processo de decadência daquela que um dia foi uma esperança para o desenvolvimento econômico-social de Goiás: a Companhia Energética de Goiás. Essa concessionária foi de suma importância para a consolidação da capital federal em terras goianas. O sentimento de admiração e respeito da sociedade de um modo geral foi lentamente mudando para chegarmos a esse lamentável estado de decadência, em um processo de mais de quase três anos , em que o sonho e o orgulho de um povo passou a ser motivo de tristeza e vergonha. A condição de servidor da Celg, que era antes motivo de orgulho, foi-se tornando um peso não só para muitos funcionários sérios – pois, como em todo lugar, existem os não sérios –, mas para toda uma sociedade que reconhecia nessa companhia o reflexo da luta de homens de real grandeza, como Pedro Ludovico e Oton Nascimento. Nas duas últimas décadas, criou-se uma “apartheid” entre a sociedade, que desconhecia o que de fato ocorria da catraca para dentro da companhia, e sua administração. Mas era lógico: havia muito a se esconder, não só da sociedade mas também das instituições que exercem o controle em nome do desenvolvimento. 

Viveu-se um apartheid como aquele narrado pelo grande escritor peruano Mario Vargas Lhosa, em sua obra Batismo de Fogo. Nesta, existiam também dois mundos distintos: a cidade de Lima e o do Colégio Militar Leôncio Prado, onde os cadetes expressavam sua rebeldia fumando, colocando nas provas, bebendo e até – pasmem – assassinando colegas. Tudo isso somente viria ao conhecimento dos superiores com o assassinato de um cadete. Tentaram – e conseguiram – abafar os fatos, pois estava em jogo uma instituição sagrada: o Exército peruano. Situação semelhante é narrada em Montanha Mágica, do escritor Alemão Thomas Manh. Nesse primor de romance, no cume de uma montanha, pessoas doentes viviam num sanatório para tuberculosos: um mundo completamente diverso do da cidade suíça de Davos, que circunda a montanha. 

Digo isso porque essa foi a realidade da Companhia Energética de Goiás a partir dos anos 80 do século passado. Em Celg: Uma Falência mais que Anunciada procuro disponibilizar para a sociedade – através de inúmeros artigos datados, publicados aqui mesmo no DM, e agora disponíveis na forma de livro – o registro histórico desse período, para que a sociedade goiana possa entender a gravíssima crise por que hoje passa a Celg. Tive também o objetivo de contribuir, na condição de cidadão, para que a sociedade tome suas próprias decisões nas eleições que se avizinham. Quanto a isso, não tenho dúvidas: as pessoas passam, mas a história fica. 

Registrar esses fatos ao longo do tempo não me foi particularmente fácil. Trouxe-me muito mais ônus do que bônus. Entre eles – não só para mim, mas também para alguns colegas meus –, o de ser moralmente assediado continuamente no trabalho e a tortura que isso representa. Quanto a mim, custou-me muita saúde, mexeu muito com o emocional. Só não chega às raias do desespero aquele que tem fé e acredita no processo histórico como o mais sábio dos juízes. Aos que se dedicarem à leitura, vai aqui um aviso: quem gosta de números basta ir aos anexos para constatar toda essa irrealidade que faliu a Celg e, lógico, fez inúmeras fortunas do dia para a noite.  Os anexos também comparam o desempenho da companhia com suas congêneres em nível nacional e aponta os resultados, em números, da CPI da Celg. 

Em um capítulo, abordo aspectos inerentes à política goiana, que faz, ao longo do tempo, que o estado seja um “ator secundário” no processo de desenvolvimento. Assuntos inerentes ao setor de energia são abordados no terceiro capítulo. No quarto capítulo analiso assuntos variados para, enfim, na conclusão, fechar o trabalho procurando resgatar o todo do processo.
Se me causa tristeza testemunhar que a crise da empresa cerceou o sonho de muita gente boa e séria, também me sinto confortado pela sensação do dever cumprido. Quem me acompanha nesta coluna, por mais de vinte anos, sabe que entre os meus muitos pecados não há o da omissão. Esse livro é, antes de mais nada, um acerto de contas comigo mesmo, por meio do relato daquilo que presenciei e vivi, e que exponho à sociedade: a crise da Celg. Nada melhor do que o tempo para colocar as coisas no seu devido tamanho e, nestas quase três décadas, foi grande a agonia não só minha, mas da maioria dos funcionários, que – nesse sentido, faça-se justiça separando-se alho de bugalhos – serviram à Celg e não se serviram dela. 


Salatiel Soares Correia é engenheiro, bacharel em Administração de Empresas e mestre em Energia

Nenhum comentário:

Postar um comentário