domingo, 12 de setembro de 2010

Ciência política




Política & Justiça


Presidente tem peso zero nas eleições estaduais

O horário eleitoral gratuito influencia – e muito – a opinião do eleitor, mas é uma ferramenta mal usada, por falta de foco e de compreensão do ponto de vista do eleitor. Quem avalia é o sociólogo Alberto Carlos Almeida, autor de livros como A cabeça do brasileiro, A cabeça do eleitor e Por que Lula? “A exposição é maior e atinge mais gente. Então ele, de fato, é responsável por muitas mudanças de voto”, assinala, em entrevista ao jornal Folha de Londrina. 

Para o especialista em pesquisas e assessoramento de campanhas, os marqueteiros erram ao apostar no prestígio de personalidades, como o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, para alavancar a popularidade de candidatos. “Tem peso zero”, garante. A seguir, a entrevista: 

Diário da Manhã -Qual é a importância do horário eleitoral gratuito no cenário atual? 

Alberto Carlos Almeida -Todos os elementos de comunicação são importantes. Debates, horário eleitoral gratuito e a campanha de rua são importantes. Agora, o horário eleitoral gratuito é mais importante, porque a exposição é maior e atinge mais gente. Então ele, de fato, é responsável por muitas mudanças de voto que vão acontecer agora. 

DM - O horário eleitoral pode tornar popular um político desconhecido? 

ACL - Não. Eu tenho isso mapeado. Você não aumenta o nível de conhecimento durante a campanha. Eu achava que aumentava, mas é errado. 

DM - O sr. pode explicar melhor?
ACL - O nível de conhecimento que tem no início da campanha será o mesmo no fim. O nível de conhecimento aumenta no decorrer da vida política, depois de 1 ano, 2 anos, depois de várias eleições, depois que se é eleito e se mostra atuante. É um processo, não um evento isolado. E a campanha é um evento isolado, parte de um processo mais longo, de construir imagem de um candidato. O candidato pouco conhecido pode até ganhar a eleição, mas em circunstâncias extremadas.

DM - Então, de modo geral, o horário eleitoral serve para avançar entre eleitores que já conhecem o candidato? 

ACL - Sim, ou entre quem quer continuidade, ou ainda entre quem quer mudança. 

DM - Qual é o peso de grandes figuras nacionais nas eleições estaduais? 

ACL - Tem peso zero. O Franklin Delano Roosevelt, presidente dos Estados Unidos, várias  vezes, dizia: “Quando apoio um candidato sabe quantos votos transfiro? Um voto, o meu.” Quis dizer que prestígio você não transfere. Se Lula tiver peso, não consegue eleger um candidato desconhecido e não consegue eleger um governador muito mal avaliado ou o candidato desse governador. Em algum Estado, Lula vai apoiar um candidato muito bem avaliado e ele vai vencer. Vencerá porque está muito bem avaliado, mas todo mundo vai dizer que foi o Lula.

DM - Então é equivocada a estratégia de jogar tudo no apoio de Lula? 

ACL - É uma estratégia baseada em uma crença mágica. 

DM - O que funciona no horário eleitoral gratuito? 

ACL - O horário eleitoral gratuito é mal usado no Brasil, porque os candidatos querem falar de tudo. Existe uma formulinha equivocada: um programa sobre saúde, um sobre educação, um sobre emprego. Isso é um equívoco gigante. O eleitorado dá peso aos problemas e, quanto mais uma campanha tiver foco, quanto mais próxima e monotemática for, mais efetiva é. O horário eleitoral gratuito não é usado assim no Brasil.

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