segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Governo Alcides: triste fim!





Política & Justiça

“Terrorismo é a marca do governo”
Líder do PSDB na Assembleia rebate declarações de Alcides Rodrigues e diz que pepista escorrega nas incoerências

Alexandre Bittencourt

O líder do PSDB na Assembleia Legislativa, deputado estadual Daniel Goulart, classifica como ato de “terrorismo” a entrevista concedida pelo governador Alcides Rodrigues (PP) ao jornal O Popular, na qual, em tom catastrófico, diz que os parlamentares perderam a última chance de salvar a Celg. Em resposta, Goulart afirma não acreditar que a Companhia seja “um paciente terminal que teve os aparelhos desligados”, como tenta fazer crer Alcides, e culpa o chefe do poder Executivo de propagandear um estado de terra arrasada com o objetivo de criar um clima para eleger um “salvador da pátria” nas eleições deste ano. Confira a entrevista concedida ontem, na Redação do Diário da Manhã.


Diário da Manhã - Ao se referir ao senador Marconi Perillo (PSDB), o governador Alcides Rodrigues (PP) disse: “o mentor de tudo que aconteceu vai ficar na história como uma pessoa que, além de quebrar o Estado, quebrou também a Celg”. Qual sua opinião sobre isso?

Daniel Goulart - Vejo tudo com muita indignação. Alcides vai entrar para história como sujeito que traiu o grupamento político a que pertencia e que nele depositou o seu voto de confiança. Será descrito pelos historiadores como o sujeito que não cumpriu nenhuma de suas promessas de campanha, como estender o Eixo Anhanguera até Trindade e Senador Canedo, transformar todas as escolas de Goiás em escolas de tempo integral e pavimentar 100% das ruas urbanizadas do Estado. Alcides também prometeu ampliar os programas sociais, mas, em vez disso, suspendeu o Renda Cidadã durante tempo prolongado, extinguiu o Salário Escola e reduziu o valor do Bolsa Universitária.

DM - Alcides argumenta que não cumpriu promessas que havia feito em função do “imperativo financeiro”. Ele tem razão?

Daniel - É mentira. O governador deixou de cumprir o que prometeu por duas razões: em primeiro lugar, incompetência, pura e simples. Em segundo, pesou o seu projeto político. Já no decorrer de 2007, Alcides foi convencido pelo ex-secretário da Fazenda Jorcelino Braga a denunciar um estado de terra arrasada e criar clima para o surgimento de um salvador da pátria nas eleições de 2010. Este salvador da pátria seria o próprio Braga. Para que o plano desse certo e todos acreditassem que o Estado estava quebrado, ele inventou esse história de déficit de R$ 100 milhões e jogou na lata de lixo a plataforma de propostas que apresentou ao povo goiano durante as eleições de 2006. Engraçado é que a mudança de comportamento ocorreu de uma hora para outra. Em meados de 2007, o governador deu uma entrevista ao Programa Paulo Beringhs e disse que estava tudo uma maravilha. Logo depois, começou a dizer ‘olha, não vou cumprir isso aí porque o Marconi entregou o Estado quebrado’. São dois Alcides, com discursos completamente diferentes. Ninguém entendia aquilo.

DM - O eleitor confia hoje na versão contada pelo governador e por Jorcelino Braga?

Daniel - As pesquisas de intenção de voto para o governo do Estado provam que não. Quem tentou desconstruir a imagem de Marconi e depois isolá-lo politicamente vai experimentar do próprio veneno, porque a sociedade não acredita nas mentiras ditas a respeito do ex-governador. Mentira tem perna curta. O próprio Alcides se encarregou de desmentir todas que ele contou nesses últimos tempos. O déficit de R$ 100 milhões, por exemplo. Como é possível um governo que, supostamente, enfrentou tantas dificuldades, anunciar investimento de R$ 2 bilhões em infraestrutura, dos quais R$ 1 bilhão pela Saneago? Não tem lógica. Se você tem um salário de R$ 1 mil e despesas de R$ 1,1 mil, você não vai conseguir comprar carro novo, reformar a sua casa e construir área de lazer. Alcides tentou construir a imagem de um sujeito equilibrado, ético, mas escorregou nas próprias bravatas, na incoerência.

DM - E deixou de cumprir promessas que nada tinham a ver com o fluxo de caixa do governo, como a divisão igualitária dos cargos de primeiro e segundo escalões entre homens e mulheres.

Daniel - Exato. Mais uma prova de que o governador não abandonou a sua plataforma eleitoral em função de eventuais dificuldades financeiras do governo, mas porque nunca teve compromisso com ninguém. Nem com o seu grupamento político, nem com a sociedade.

DM - O que ocorreu para que o governo perdesse créditos com a sociedade?

Daniel - O plano de forjar um estado de terra arrasada sofreu o primeiro grande impacto com a denúncia que a imprensa divulgou contra a Aniela Ganzaroli, filha do ex-secretário da Fazenda. Aquelas imagens eram muito fortes e foram exibidas para todo o Brasil. A filha do secretário dizendo que o pai cuidava dos porcos, em referência a nós, deputados, e depois embolsando o dinheiro. Em seguida, a Assembleia instalou a CPI do Endividamento e a CPI da Celg. A primeira nos revelou que o déficit de R$ 100 milhões era uma falácia e que é, na verdade, o governo Alcides quem criou. A segunda apontou os erros cometidos pelas administrações anteriores e que resultaram na dívida da estatal. Forneceu, inclusive, subsídios para o substitutivo do deputado Daniel Messac (PSDB) que aprovamos na última quarta-feira.


DM - Que subsídios são esses?

Daniel - A CPI mostrou que o governador Alcides traçou uma estratégia errada para a Celg. Usou o dinheiro que havia em caixa para quitar débitos com bancos de terceira linha, enquanto a prioridade deveria ser pagar os encargos setoriais com a Eletrobras. Se estes encargos tivessem sido pagos, a Celg não teria ficado este tempo todo impedida de reajustar a tarifa e R$ 1 bilhão a mais teria entrado no caixa da empresa. O problema é que Alcides achou que, se aproximando do presidente Lula e fazendo o que ele pedia, conseguiria conquistar de volta o direito da estatal de reajustar a tarifa. E isso não aconteceu.

DM - O governador diz que esta foi a última chance de salvar a Celg e a comparou a um paciente que teve os aparelhos desligados.

Daniel - Nota-se que o governador gosta de usar termos da época em que exercia a medicina. Não acho que a Celg seja um paciente terminal, mas vejo um sincero desejo do governo de fazer eutanásia na estatal. A todo instante, nas entrevistas, o governador tenta colocar a sociedade contra a Assembleia Legislativa. Foi assim nas cinco vezes em que o Executivo mandou projetos relativos à empresa para nossa apreciação. No jornal O Popular do dia 18 de março, ele disse: ‘a Celg precisa ser socorrida. É igual um paciente que, se não tomar o remédio na hora certa, na dosagem certa, pode vir a falecer’. Agora faz isso de novo. A marca desta administração é o terrorismo, a chantagem, que só empobrece o debate político.

DM - Fontes do governo contam que técnicos da Eletrobras visitaram Goiânia na quarta-feira e manifestaram descontentamento com as mudanças propostas pela Assembleia Legislativa no projeto original do empréstimo de R$ 3,7 bilhões. Qual sua opinião sobre isso?

Daniel - Na terça-feira, me encontrei com um destes técnicos por acaso, o senhor Jack Stênio. Eu o havia conhecido em uma audiência pública realizada em abril a respeito daquela antiga proposta de venda de 41,08% das ações e gestão compartilhada da Celg. Nos encontramos por acaso em um restaurante. Ele me contou que estava em Goiânia à disposição da Assembleia, para tirar quaisquer dúvidas que os deputados tivessem a respeito do projeto. Contei a ele que iríamos apresentar uma emenda substitutiva para evitar que o dinheiro fosse para o ralo e atendesse interesses políticos eleitorais dos aliados de Alcides. E eu disse também: a Eletrobras pode ficar tranquila. Vamos propor que a prioridade seja usar o dinheiro para pagar os encargos setoriais com a estatal federal. Na quarta-feira, ele abriu os jornais e viu que havíamos apresentado a emenda. Eu o encontrei no hotel, já com as malas na mão, pronto para ir embora. Perguntei por que ele não ficava para acompanhar a votação, que iria acontecer naquele dia à noite, e ele respondeu: ‘não posso ir à Assembleia e me manifestar contra o governo, mas também não posso chegar lá e dizer que a Eletrobras não quer o dinheiro. Claro que nós queremos o dinheiro’. Por isso eu acho que este é mais um ato de terrorismo de Alcides.

DM - Em poucas palavras, como o senhor classifica o comportamento político do governador?

Daniel - Completamente equivocado. É um traidor. Dentro de todo grupamento político existe um código de ética que precisa ser respeitado. Um ato de traição desse nível é imperdoável, e os historiadores hão de registrar esse momento como a maior traição da história política do Estado.

DM - Se Marconi ganhar a eleição, qual será o futuro de Alcides e Braga?

Daniel - Serão isolados politicamente. Se nós ganharmos as eleições, nós não vamos perseguir ninguém. Não existe conosco essa história de caça às bruxas. Não vamos olhar para o retrovisor. Não é o estilo do Marconi. Eles serão simplesmente esquecidos. Nada de perseguição. A própria sociedade vai se encarregar de isolá-los. Há muitos líderes do PP que pregam a reciclagem do partido depois do período eleitoral. Já vi declarações, por exemplo, de Alexandre Costa, Roberto Balestra e prefeitos do partido. Quem tentou isolar será isolado. E terão de explicar também por que estão promovendo algumas ações para inviabilizar o próximo governo.

DM - Como assim?

Daniel - Aprovamos na Assembleia, na última semana, empréstimo de R$ 80 milhões do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) para o Estado. E tem uma série de concursos e reajustes em planos de cargos e salários que provocarão um impacto muito grande na folha salarial, e que deixaram para fazer só no final do mandato.

DM - Atribuem ao senhor e a Marconi a articulação que resultou na mudança do projeto da Celg. É verdade?

Daniel - Marconi não teve a menor participação neste processo. Eu tive, mas garanto a você que não foi difícil convencer os deputados a votar a favor do substitutivo de Daniel Messac (PSDB). Os deputados perceberam que se o governo recebesse um aporte extra de R$ 750 milhões no caixa, por conta da dívida da Celg com o Estado, de imediato ele iria atrás dos prefeitos que apoiam cada um deles. Daí, o Palácio os convenceria a trabalhar pela eleição do Evandro Magal (PP), Laudeni Lemes (PP), Ney Nogueira (PP)... Sentiram-se todos ameaçados. Por isso eles votaram contra o projeto original do governo. Não foi preciso muito esforço para convencê-los.

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