segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Centro Cultural: Birra!

 
 
 
ARTIGO
 
Obra inacabada
 
Henrique Duarte

Jamais se explicou a interrupção das obras de finalização do Centro Cultural Oscar Niemeyer. A inauguração (março/2006) de quase 100% do complexo, ao término da gestão Marconi Perillo, não deixava dúvida quanto ao imediato acabamento. Não se tratava de empreendimento eleitoreiro, iniciado no apagar das luzes. Foram frustrantes as esperanças. A própria eleição de Alcides Rodrigues - com apoio do governador que se afastava para se candidatar ao Senado, deixando no cargo o vice de dois mandatos consecutivos - reforçava o pensamento dominante da intelectualidade quanto aos arremates e operacionalização da imponente arquitetura.
 
Estava claro, para a compreensão geral e dos segmentos culturais e artísticos, que não haveria nenhum entrave à conclusão. Quase tudo tinha sido executado, restando frações e adequações técnicas. Mas à lógica se interpôs o drama que costuma rondar criador e cria, e que é capaz de destruir relação política cordial. E, acima disso, dilacerar o patrimônio público como se ele fosse culpado por desavenças não sanadas ou contornadas. Maquiavel diria que no mundo da política a cria normalmente se volta contra o criador. Depois de coroado, o rei não divide a coroa.
 
Dizia-se que a inauguração teria sido um ato apressado. Ou de desprestígio ao vice que entraria para a titularidade sem ter à mão algo que pudesse logo entregar à população e, assim, marcar o início da gestão. Quem sai é que precisa marcar ponto, deixar rastros de realizações. Quem entra tem sempre a seu favor quatro anos de mandato, tempo para plantar e colher.
 
Resulta que o Centro Cultural Oscar Niemeyer representa hoje, véspera de eleições, prato cheio para se atacar o atual governo, que não considerou como devia a utilidade de uma obra de envergadura. Deixou-a ao abandono, fazendo pouco do dinheiro público ali empregado. Menosprezando, também, a intelectualidade por inteiro, um mundo nem tão virtual como parece, mas operativo, participante, onde se incluem pintores, escultores, poetas, escritores, jornalistas, folcloristas, cineastas, dramaturgos. Enfim, um mundo tão real, tão visível, que está ainda a esperar a conclusão e o imediato funcionamento desse espaço.
 
O feitiço, ou birra, virou contra o feiticeiro ou contra os birrentos, em razão da impropriedade de se deixar ao relento um enorme e qualificado segmento da sociedade. Sobretudo, se consideradas as críticas pela não conclusão.
 
Montou-se um dossiê contra, como que a justificar o injustificável. Uma das razões batia no tema prosaico de incorreções levantadas pelos órgãos fiscalizadores. Nas reuniões com o setor cultural, o senador reitera a decisão de entregar o Centro Cultural prontinho. Na primeira semana de administração, caso seja eleito, ressalta, vai sanar os problemas jurídicos, chamar as construtoras, fazer as planilhas para os arremates, aprovar tudo dentro da lei, licitar o que resta se for preciso. Assim, ressalva, estará dando uma satisfação e agindo com todo o respeito na condução de um bem público que não se mede pelo valor material, mas pela importância extrínseca que o cerca.
 
Tivemos já casos escabrosos de projetos jogados ao chão, apesar do valor social e econômico. Até uma grande hidrelétrica, com construtora licitada e canteiro da obra implantado, com financiamento externo arranjado, foi paralisada sem uma justificativa plausível. O Estado, por dois anos, pagou as despesas mensais altíssimas pelo canteiro instalado e rompimento contratual até a assunção por Furnas.
 
Hoje, diante de nova eleição para governador, pode-se avaliar melhor o significado eleitoral decorrente da paralisação imotivada de um complexo cultural praticamente concluído, tanto é que chegou a ser inaugurado. O cidadão não aprova mais esse tipo de comportamento político, pois entende que parar obra iniciada, qualquer que seja o estágio da construção, redunda em prejuízo ao Erário. Só é justificável quando a obra é nitidamente eleitoreira, mas sem garantia de continuidade por falta de previsão orçamentária.

 
 
Henrique Duarte é jornalista

Nenhum comentário:

Postar um comentário