Destaques
ELEIÇÕES 2010
Horário eleitoral será apertado
Caso se confirme quatro candidaturas ao governo de Goiás, diferença de tempo para propaganda em rádio e TV entre cada coligação será mínimo
SARAH MOHN
Em tempo de indefinição de candidaturas, políticos que almejam conquistar cargo eletivo, principalmente se tratando de vagas majoritárias, depositam todas as fichas no período em que a legislação eleitoral permite a realização de campanhas em rádio e televisão para recuperar a temporada “perdida”. Os principais postulantes focarão a meta de conquistar eleitores nos dois blocos de 50 minutos diários, durante os 45 dias anteriores ao pleito. A internet, apesar de já ser indiretamente utilizada por políticos em pré-campanha, ainda não atinge substancialmente o eleitorado brasileiro.
Pensando no tempo que não tem sido utilizado para pré-campanha, dadas as limitações por falta de nomes definidos, profissionais de marketing já estudam a melhor maneira de utilizar o espaço abrangente que rádio e televisão proporcionam para alcançar desde o eleitor politizado ao mais desatento. É nesse contexto que o Jornal Opção decidiu analisar como deve ser dividido o horário eleitoral em 2010 e qual a melhor maneira de cada coligação aproveitar o tempo que dispor.
Se as eleições fossem hoje, o cenário das costuras políticas em Goiás indicaria quatro candidaturas ao governo: a tucana (PSDB-PTB-PPS-PTC-PMN), a peemedebista (PMDB-PT-PSC-PDT-PCdoB-PRB), a governista (PP-DEM-PR-PSB-PTN-PTdoB) e a de esquerda (PSol-PSTU-PCB). Das quatro candidaturas a governador, dois nomes confirmam pré-candidatura: o senador Marconi Perillo (PSDB) e o diretor executivo do Sindicato dos Urbanitários do Estado de Goiás (Stiueg) Washington Fraga (PSol).
A reportagem entrou em contato com as 19 legendas que elegeram representantes na Câmara Federal na eleição de 2006 para confirmar a inclinação que devem seguir em 2010. Muitas sugeriram com quais partidos devem caminhar, mas sempre ressaltando que ainda é cedo para decisões definitivas. Todavia, PV e PHS declararam estar fora, por enquanto, de qualquer uma das quatro prováveis chapas que devem concorrer ao Palácio das Esmeraldas.
Paulo Sousa, presidente do PV em Goiás, explica que a decisão partirá do diretório nacional. Segundo ele, como o partido quer lançar a senadora Marina Silva à presidência da República, os diretórios estaduais se sentem na obrigação de lançar candidatos ao governo. “Como vamos caminhar, então, é uma decisão que fica para março ou abril”, diz Paulo. Já Eduardo Machado, presidente do PHS, diz que o partido só vai se definir depois que todos os candidatos ao governo forem confirmados.
Candidatos a governador, senador e deputado estadual terão as segundas, quartas e sextas para propaganda. Já postulantes à vaga de presidente da República e de deputado federal poderão usar as terças, quintas e os sábados. Nos dias destinados aos governadoriáveis, cada bloco de 50 minutos será divido entre candidato ao Senado (15 minutos), deputado estadual (17 minutos) e governador (18 minutos).
Dos 18 minutos garantidos à campanha de governador, 2/3 do tempo (12 minutos por bloco) são equivalentes ao tamanho das bancadas eleitas em 2006 (veja tabela). O restante, 1/3 do tempo (6 minutos), é dividido igualitariamente entre todos os candidatos a governador. Contando que sejam quatro as candidaturas, cada governadoriável terão garantidos a seu dispor 1 minuto e 30 segundos.
A chapa peemedebista (PMDB-PT-PSC-PDT-PCdoB-PRB) terá, se a projeção se confirmar, o maior tempo. O somatório de deputados federais das legendas alcança a cifra de 219 parlamentares, que correspondem a 43% do total de vagas na Câmara (513). Terá direito a 6 minutos e 39 segundos do tempo total (18 minutos). Com o segundo maior tempo ficaria a coligação governista (PP-DEM-PR-PSB-PTN-PTdoB), que contabiliza 159 deputados, 31% do total. A chapa do governador Alcides Rodrigues (PP) teria direito a 5 minutos e 13 segundos. Já a chapa tucana (PSDB-PTB-PPS-PTC-PMN) possui 117 deputados federais, que correspondem a 23% do total de parlamentares da Casa. Ficaria com 4 minutos e 15 segundos. Por fim, PSol-PSTU-PCB, que possuem 3 deputados federais eleitos em 2006, ou 0.6%, teria direito a 1 minuto e 34 segundos.
Alternativas de marketing
Para Hamilton Carneiro, proprietário da Stylus Consultoria e Propaganda, que há mais de 20 anos cuida das campanhas de Iris Rezende (PMDB), o diferencial será resumir o conteúdo para aproveitar bem o tempo curto. Citando o pensamento de um comunicólogo francês que define propaganda como “a glória da síntese”, Carneiro lembra que será necessário pensar a propaganda gratuita como os publicitários convencionais pensam as propagandas comerciais.
“Na publicidade convencional de televisão, em 15 segundos se consegue oferecer o produto, falar quanto custa, em quantas vezes é possível dividir o preço para comprá-lo e quem está vendendo. Nessa campanha, cada segundo a mais fará a diferença”, analisa, lembrando que na primeira campanha para a prefeitura de Goiânia em que Iris saiu vitorioso, 2004, o tempo disponível em rádio e TV também era pequeno.
Léo Pereira, da Agência Verbo Cerrado, pontua que a diferença de tempo entre cada coligação será mínima e que, portanto, a dificuldade de adaptar o conteúdo ao tempo será praticamente a mesma enfrentada por todas as legendas. “O que se diz em cinco minutos, se diz em seis e em sete”. Pereira acredita que o maior prejudicado quanto ao tempo de propaganda gratuita será a coligação do PSol. “Vai ser difícil defender uma tese em 1 minuto e 30 segundos. Para o PSol será um tempo deficitário”. Ele analisa que a melhor estratégia terá de conseguir dar voz ao eleitor, aos candidatos, aos projetos deles, ao debate e à discussão de posicionamentos. “Tudo dentro do pequeno tempo.”
Renato Monteiro, da Cantagalo, sugere uma alternativa que pode fazer muita diferença, especialmente para coligações que terão menos tempo disponível no horário gratuito: o foco nas pílulas comerciais. Segundo Renato, os partidos têm direito a até 1 minuto em cada inserção que é veiculada ao longo do dia. No entanto, as agências, especialmente em Goiás, costumam utilizar pílulas de no máximo 30 segundos para evitar confronto direto com as emissoras de TV, que costumam pressionar candidatos para que as inserções não atrapalhem a grade de programação. “Por isso, as pílulas ficam padronizadas em 30 segundos e nem sempre esse formato é bom, pois em 1 minuto é possível fazer uma excelente propaganda”, avalia.
O publicitário recomenda ainda o amparo em pesquisas para definição de estratégias de marketing. “Costumo dizer que publicitário não tem estilo, quem tem estilo é o produto, no caso os candidatos”. Ele avalia que o melhor aproveitamento de tempo será alcançado se a agência responsável pela campanha souber utilizar o espaço com atrativo, persuasão e impacto para vender as propostas. “Um conteúdo bem definido, com bom programa de governo, somado ao marketing, que é um bom conceito de como vender isso, será o ideal”.
Jornal Opção
MARCUS VINÍCIUS QUEIROZ
“Estrategicamente todos os candidatos estão iguais”
Especialista em marketing político analisa o panorama pré-eleitoral em Goiás e no País e diz que os nomes em evidência não estão discutindo um projeto para fazer o Estado avançar
“Falta debate para discutir rumos para o nosso Estado.” A crítica aos partidos e pré-candidatos é de um dos mais experientes especialistas em marketing político que atuam em Goiás, Marcus Vinícius Queiroz. Segundo o publicitário, que em vez de marqueteiro se intitula ´terapeuta da comunicação´, mais uma vez os eleitores goianos vão assistir um debate de sedução individual, personalista, centrado nas figuras de Iris Rezende (PMDB) e Marconi Perillo (PSDB). “Não há tempo para construir um debate consistente de qualquer proposta. Os candidatos, muitas vezes, vão para uma campanha achando que o marketing político vai resolver. Isso já não dá mais”, afirma.
Marcus Vinícius fala também da política do Tocantins, e do panorama político nacional, avaliando as possibilidades de Dilma Rousseff — “Ela está surpreendendo” — alavancada pelo presidente Lula, embora anote que transferência de voto é fator muito complicado no Brasil. Afirma que o tucano José Serra é o candidato mais preparado: “Serra é habilidoso, e tem algo que poucos políticos têm, que é noção nua e crua da realidade. Chega à beira da maldade em se tratando de estratégia.”
O publicitário também discorre sobre a eleição de Barack Obama nos Estados Unidos, processo ao qual ele acompanhou de perto, participando de um curso na Universidade de Washington. Em seu currículo, entre outras campanhas, inclusive no exterior, Marcus Vinícius Queiroz fez, em 2004, a vitoriosa de Pedro Sahium para a Prefeitura de Anápolis, e em 2006, no Tocantins, a de Marcelo Miranda, que derrotou o mito político Siqueira Campos.
Danin Júnior — Experiente profissional de marketing, como o sr. avalia a pré-campanha em Goiás?
Fica difícil avaliar perfil de candidato e partidos. Falando enquanto eleitor e cidadão vejo que a política em Goiás está em um processo muito lento em relação à maturidade política do eleitor. Não acredito que as pessoas ficam esperando convenção para saber quem é o candidato. Não acredito em partido sem proposta definida para o debate eleitoral e que isso seja pelo menos percebido pela população. Sou muito crítico nesse sentido, sem direcionar para ninguém. Falta debate para discutir rumo para o nosso Estado. Não é preciso ter candidato definido para se ter uma plataforma de propostas. Seria a oportunidade, neste período de pré-campanha, de fazer a diferença. A gente sabe que Goiás hoje tem grandes oportunidades e potencialidades, a economia e a cultura amadureceram bastante.
Danin Júnior — Estrategicamente quem está levando vantagem?
Estrategicamente estão todos iguais. Mais uma vez vamos assistir um debate de sedução individual, personalismo. Estamos em janeiro, os candidatos começam a se definir em março, as convenções são em junho e a eleição em outubro. Não há tempo para construir um debate consistente de qualquer proposta. Os candidatos muitas vezes vão para uma campanha achando que o marketing político vai resolver. Isso já não dá mais. Vai sair na frente quem apresentar uma proposta diferenciada e consistente. Quando Serra decidiu ser governador de São Paulo ele mostrou o que queria fazer como governador e trouxe algumas coisas no currículo dele, das passagens pelo ministério e prefeitura. Nos últimos anos não assistimos nada nesse sentido para Goiás. Na última eleição, por exemplo, que acompanhei a distância por estar fazendo campanha no Tocantins, se deu em nível de personalidade A e B, não havia uma proposta consistente para Goiás.
Danin Júnior — Subjacente a campanha de 2006 em Goiás tinha essa questão de A contra B, mas foi a continuidade e descontinuidade de um projeto. Tanto é que o vencedor até 6, 7 meses era desconhecido da população. Não era uma persona que justificaria o embate personalista, era uma ideia de continuidade e venceu porque essa tese foi comprada pela maioria.
Lembro que no debate em 2006 em Goiás havia uma indefinição grande, percebível pela população, podia ter até o tema da continuidade, mas em nenhum momento o governador abraçou seu vice com antecipação de verdade e disse esse é o meu candidato e vai dar continuidade ao que estou fazendo. Alcides foi grande vitorioso pelo seu mérito e persistência de encarar e pelo aspecto de desajuste do PMDB naquele momento. Também não concordo com a tese de que Alcides era desconhecido. Ele foi muito disciplinado em protagonizar o tempo todo como governador do Estado, mas ele tinha relacionamento com todas as bases eleitorais, com prefeitos, deputados, vereadores, um pessoal que é muito importante quando se chega a um processo eleitoral. Lembro que em 1998 os líderes de base promoveram uma grande alavancagem de Marconi. Em um processo eleitoral, quando se perde eleição se perde sozinho, quando se ganha tem protagonista de todos os lados. Então é fácil identificar os perdedores, geralmente são aqueles que assumem as rédeas do processo e muitas vezes são sacrificados injustamente. Tem muito marqueteiro que não assume as derrotas, por isso aboli essa titulação da minha vida (o entrevistado prefere ser chamado de terapeuta da comunicação). Não existe o discurso que quase ganhei uma eleição. Prefiro dizer quase perdi.
Euler de França Belém — Quem é o candidato de oposição em Goiás?
Oposição a quem? O candidato de oposição em Goiás, se não conseguir juntar a famosa e gloriosa e renomada e ruída base aliada, o candidato de oposição é Marconi. Ele será o candidato de oposição a Lula e ao PP, porque não há um candidato de oposição ao prefeito de Goiânia. Em toda negociação há pontos de conveniência, há muitas tentativas, mas poucas são sustentáveis. Há pouco tempo o PP jurou de pé junto que Meirelles se filiaria ao partido, e dava isso como garantido, havia uma negociação política que não teve sustentação. Henrique Meirelles, um cidadão do mundo, um técnico bem avaliado, tem pretensões políticas, mas não tem experiência política, o que não o desabona. Mas ele poderia fazer parte de um grupo que esteja pensando em um grande salto para Goiás. O PMDB aqui tem que tratar com muito carinho e eficiência o processo de Meirelles, porque pode não ser o melhor candidato neste momento, mas acrescenta muito em um discurso para qualquer proposta de desenvolvimento do Estado. Fala-se de uma candidatura alternativa, pode até surgir, mas na cabeça da população vai ter que ter um esforço muito grande dessa nova alternativa para superar o índice de conhecimento que Iris e Marconi têm no eleitorado.
Euler de França Belém — Iris disse que se Meirelles quiser ser candidato ele terá esse espaço.
O amadurecimento de Iris em uma nova realidade política no Estado tem surpreendido muita gente. Ele foi o primeiro líder assumido nos últimos 30 anos, depois de Mauro Borges. Marconi nasceu do PMDB Jovem, Iris criou Maguito. Essa estrutura política foi da liderança de Iris. Ele hoje tinha todo o direito de ser mais personalista. E à frente da prefeitura ele demonstrou mais que preparo e disposição de recuperar o prestígio político, mas um novo entendimento de tratamento político ao processo. E tem tratado com muita estratégia esta questão de ser candidato ou não. Em nenhum momento impôs o nome dele ao partido. E o PMDB enfim entendeu que tem que posicionar quem é o candidato. Felizmente, o PMDB tem dois potenciais candidatos. Um mais conhecido e experiente, e outro que é um fenômeno novo, com um currículo invejável.
Euler de França Belém — No Tocantins o quadro parece ainda mais indefinido. Qual sua avaliação?
Na verdade estou muito distante do Tocantins. Tive a oportunidade de fazer uma campanha de eleição com o governador Marcelo Miranda contra Siqueira Campos e tivemos uma vitória muito significativa para cada um de nós que participou da campanha, profissionalmente falando. E principalmente para o então governador, que desafiou o ícone da política local. Também perdi uma eleição municipal com a Nilmar Ruiz, quando deu para ter uma experiência e fazer uma avaliação política do Estado. O Tocantins está num processo transitório cultural e político. Até então o processo político era liderado por uma única visão. Não tinha uma democracia de participação política. Os políticos que se criaram nessa cultura e depois se libertaram disso, logicamente ficaram perdidos no processo. Alguns entenderam que se Marcelo deu conta de vencer Siqueira, também poderiam ter projetos independentes, e esqueceram que estão vivendo um processo de transição. As lideranças no Tocantins não estão amadurecidas. Qualquer pesquisa que se faça hoje dá Siqueira, por exemplo, com um índice de intenção de voto muito grande. O índice de conhecimento e gratidão é alto entre o povo tocantinense. Ele teve papel importante no desenvolvimento do Estado, isso ninguém pode negar. Deveria haver bom senso no processo, porque pode haver um fator Iris no Tocantins. Siqueira pode aproveitar esse momento de deficiência dessas novas lideranças e voltar ao poder. Ele vai entender e fazer uma releitura do processo dele, e vai ser uma grande oportunidade por ser uma pessoa muito habilidosa, competente e muito bem relacionada. Marcelo Miranda, mesmo tendo sido cassado, tem aprovação muito grande de sua administração. A população não o crucifica. O novo governador sempre foi muito habilidoso politicamente, muito persistente e disciplinado, mas no processo que o Tocantins vive, ele não pode se isolar. Tem que entender que o PMDB é uma força muito importante no Tocantins, e ele já perdeu grande aliado que é o DEM.
“Filme sobre Lula é ufanismo de Brasil novo”
Euler de França Belém — O filme “Lula, o filho do Brasil” é uma peça publicitária?
É ufanismo de um Brasil novo, mas não influenciará a candidatura do PT. Até porque o filme é muito fraco. Mostra de forma muito emotiva a vida de Lula e acerta nesse ponto, mas não retrata claramente a realidade política do país. Para quem não tem nenhum vínculo com ditadura, com sindicalismo, isso não emociona. Emociona a história dele, de um menino que saiu do nada, passou por várias etapas e chegou à Presidência da República. O filme termina na posse dele em 2003 e ponto. Não fala do avanço que houve no país, porque se mostrasse isso poderia ser uma grande peça publicitária de campanha.
Danin Júnior — Mas não seria uma peça complementar?
Se Lula fosse o candidato seria. Mas não é uma peça publicitária para transferir qualquer sentimento para um candidato indicado por Lula.
Inã Zoé — Mas de alguma forma não ajuda na influência dele na candidatura da ministra Dilma Rousseff?
Isso é achismo. Transferência de voto é muito complicado, principalmente no Brasil, com realidades e necessidades muito mais emergentes que só o lado emocional. Eu me emocionei durante o filme, mas acredito que ele é fraco. Me despertou emoção por que como estudante vivi coisas mostradas ali, e soube reconhecer a trajetória de Lula. Mas com a Dilma é diferente se ela for a candidata. Uma coisa é o cara criar uma grande paixão por Lula, outra é dar um cheque em branco para o presidente em função da ministra. Ela ainda terá que se fortalecer como candidata.
Euler de França Belém — Mas ela já não está fortalecida?
Imagina uma máquina trabalhando para a Dilma como está trabalhando o governo federal. Em todas as inaugurações, ou pseudoinaugurações, e lançamentos ela está ao lado do presidente. O discurso dela hoje é igual ao de Lula, até as frases, está muito bem orientada. Mas ela tem que se fortalecer como candidata, porque ainda há dúvidas se ela será mesmo candidata. Ela não voltou das férias porque pegou gripe suína, mas por que estava fazendo quimioterapia, tratando um câncer. Tem uma séria de fatores que precisam ser analisados.
Euler de França Belém — Como o sr. percebe a Dilma?
Vem surpreendendo como pré-candidata. Até pouco tempo era a porta-voz de um ministério complicado. Ela tinha perfil totalmente diferente do presidente da República e de alguns possíveis candidatos, não tinha jogo de cintura. Ela tinha desgaste dentro da própria equipe do presidente. Mas vem conseguindo superar algumas coisas. Para pedir voto e fazer composições a simpatia, o sorriso, é fator principal. Esse discurso de gerente, de técnico, é muito bom na teoria, mas no convencimento da população é outra coisa. Chegar ao índice de pesquisa que ela chegou, com toda essa exposição, não garante nada. Até porque o índice de rejeição não diminuiu muito. Numa pesquisa se deve analisar o potencial de crescimento do candidato. E muitas vezes o cara só traz o placar.
Euler de França Belém — Mas as últimas pesquisas indicam que o potencial de crescimento dela é para ir aos 36%.
Se for a 36% ela não ganha a eleição. Para ganhar tem que ter mais de 40% de intenção de voto para Lula fazer o resto. Em nenhum momento Serra baixou nos 35%, mesmo não falando que é candidato, não falando que é oposição, sem graça, com cara de vampiro e sem ninguém gostar dele.
Danin Júnior — Quais são as possibilidades de Serra?
Serra é o candidato mais preparado hoje. Um cara que se elegeu governador de São Paulo com aquela cara carrancuda, com toda falta de empatia e com um discurso extremamente responsável. Ele não é de maquiar nada, em alguns debates que assisti do Serra, todas as vezes que as pessoas tentam falar em números ele fala ´cuidado com os números, eles enganam demais´. Serra é habilidoso, e tem algo que poucos políticos têm, que é noção nua e crua da realidade. Chega à beira da maldade em se tratando de estratégia. Quando Roseana Sarney (PMDB) começou a subir e apareceram aqueles milhões (2002), inviabilizando uma candidatura que na época estava contaminando alguns segmentos, foi pura estratégia. Ele tem muito trânsito no País. Foi muito habilidoso quando ministro e nos bastidores com Fernando Henrique Cardoso. Ele é muito preparado, mas não sei se o partido dele dará a sustentação que ele precisa. Vai ser um debate muito interessante se for realmente Dilma e Serra, contrariando o que estão fazendo de previsão, que vai ser uma comparação de administração entre Lula e Fernando Henrique. Acredito que o debate vai ser muito mais rico que isso. Serra tem muito o que apresentar e tem conhecimento do país que pouquíssimos economistas têm, que pouquíssimos políticos têm. Ele não precisa de marqueteiro do lado dele soprando o que tem que falar ou não, é muito preparado nesse sentido. Ele só precisa de gente que defina os momentos para ele.
Euler de França Belém — O sr. diz que o político tem que fazer o marketing mais cedo. Serra não vai começar tarde demais?
Esse é o grande equívoco de Serra. Ele deve estar vivendo uma crise de ser ou não ser. Ele sabe que dentro do partido não é unanimidade, pode ser engolido. Com as alianças ele não é a cereja do bolo que todo mundo gostaria. Ele é o cara que por conveniência as pessoas têm que se juntar. E ao mesmo tempo sabe que será um debate extremamente complicado. Um dos fatores é a reeleição dele garantida, mas acredito que ele já não suporta mais ser governador de São Paulo pelas dimensões dos problemas do Estado, e pelo pouco recurso para fazer o que realmente tem que ser feito, partindo do ponto vista de um administrador como ele, extremamente perfeccionista. Se olhar tem muita coisa boa no currículo dele. Serra fez na saúde o que muitos não fizeram nos últimos 50 anos. Se isso vai chegar à população da forma que tem que ser colocada não sei.
Danin Júnior — Dilma e Serra não têm a mesma dificuldade na questão do perfil técnico?
O PT vai sofrer crise para administrar isso. O problema é que o partido vem de uma administração completamente passional. De um líder que conquistou tudo que poderia ter conquistado pela emoção e pela paixão. Em nenhum momento se faz uma avaliação de Lula pegando quais foram os programas, qual o desempenho. Ele pegou um boom e qualquer técnico desmonta isso. Até fruto que dá em árvore tem que ter nascido de uma semente. Se o cara soube podar a árvore para dar bons frutos é competência dele, mas a economia está passando por um processo e não uma ação. Os fatores que hoje beneficiam o País no cenário internacional são um processo, não uma ação. É só olhar para trás. No início da campanha de Lula, em 2006, todo mundo achava que ele era cachorro morto porque não tinha nada a apresentar. O que o levantou foram o discurso e a péssima estratégia de Alckmin, que mexeu onde não deveria, que é o sentimento da população. Outro dia ouvi uma análise na qual não havia pensado. Alguém disse que sempre escutamos que o Brasil é o país do futuro e das oportunidades, mas nós que crescemos ouvindo isso nunca tivemos a perspectiva do que é essa oportunidade, porque sempre está na mão de todos. Lula foi o cara que trouxe para o cidadão brasileiro a perspectiva da oportunidade e transformou em realidade. O cidadão começou a comer melhor, ter poder competitivo no mercado, e a oportunidade foi incluída nele. Como Lula saiu do zero, o discurso encaixou perfeitamente dentro da realidade de todo mundo. Até quem achava que o País ia ser um desastre economicamente sob comando dele aderiu. Para medir essa adesão, olhe os créditos no filme do Lula: “Esse filme não teve nenhum financiamento público, mas queremos agradecer aos financiadores Odebrecht...”, todas as empreiteiras que têm interesse no governo. Ou seja, falando de forma inteligente de captar, o filme do Lula mostra isso.
Euler de França Belém — Dilma não foi escolhida para disputar contra o Serra justamente por ter perfil parecido?
Tudo bem, mas a Dilma não tem o conhecimento que o Serra tem. E ela vai carregar um fantasma muito grande por que ela não é Lula. Uma coisa é o presidente apresentar a Dilma, na hora que ela tiver que fazer um discurso sozinha será a Dilma, não o Lula.
Inã Zoé — Ela não teria que desvincular a imagem dela do presidente?
Ela não quer. O PT apostou todas as suas fichas nisso, nessa transferência do Lula para ela. Essa é a tática, mas o partido está usando o tempo de forma interessante, de ter planejado a estratégia da Dilma com bastante antecedência, posto ela em exposição até para ver o que acontece. Mas vai acontecer na medida de tornar real? Essa é a grande interrogação. Serra é muito habilidoso, o grande defeito dele é que não se deixa assessorar. E o partido tem uma grande vontade de voltar ao poder.
Euler de França Belém — Dilma já eliminou a imagem radical?
Depende para qual segmento. Para os empresários, a classe política, os jornalistas, os formadores de opinião, não. Porque, a gente sente, inclusive na imprensa, um tratamento muito reservado em tudo. A mídia nacional, a não ser os veículos que são mais ou menos órgãos oficiais do governo, não tem tratamento de liderança a Dilma. Nem a trata como candidata independente, uma pessoa que tem relação com o País e que domina os temas. O eleitor não tinha essa imagem da Dilma e está recebendo isso como um produto na cabeça dele.
Euler de França Belém — Como o sr. avalia a participação dela na Conferência do Clima em Copenhague?
Foi muito tímida. Para a população isso não representa nada, é um tema distante da nossa rotina, do nosso dia a dia.
Danin Júnior — Nos filmes recentes do PT Dilma aparece dizendo ´o presidente Lula nos indicou o caminho´. O sr. disse que ficar preso aos parâmetros dos que os governos anteriores fizeram ou deixaram de fazer é um debate pobre. Um dos problemas do Serra é não saber se deve bater em Lula. O que pode causar mais dano a Lula?
Se estivesse com o Serra eu manteria essa estratégia. Nas atuais circunstâncias, se antecipar o debate ele será triturado pela máquina. Tudo é multiplicado por 100 e, logicamente, a verdade vai ficar com quem falar mais. Para que antecipar um debate eleitoral sendo que o candidato não é Lula? Serra não vai se expor, até porque viu esse filme de forma tenebrosa, quando da indecisão do PSDB sobre o candidato para enfrentar Lula no processo de reeleição. Quem ressuscitou Lula foi a indecisão do PSDB e a péssima estratégia de Geraldo Alckmin, que mexeu numa relação de ídolo e fã, fazendo Lula virar vítima. Serra aprendeu que não tem adversário ainda. Dilma é uma possível candidata, ninguém oficializou a candidatura dela. E se Lula derrapar como Arruda? Máquina administrativa não tem controle. Torcemos para que isso não aconteça, para não manchar a imagem de um país que está vivendo momento ímpar, mas em jogo político não se pode antecipar o debate eleitoral, principalmente numa situação como essa. Lula está certo em antecipar porque tem que fazer uma candidata do nada.
Euler de França Belém — O sr. disse que o Alckmin errou partindo para cima de Lula. Serra também pode fazer isso?
Pelas características do Serra. Alckmin fez igual menino brigão que ofende a mãe do outro. Serra atira na testa, é um tiro só. Ele não é de debate para confronto, de criar desgaste. Ele é muito pragmático, se não tem nada contra o adversário, mostra o que tem a seu favor, sempre demonstrou isso em todas as campanhas. Se o candidato tem alguma coisa já mostra isso para a população.
Euler de França Belém — Nas campanhas em que foi candidato ficava a impressão de que Serra era um dos piores.
O problema do Serra, volto a falar, ele não se deixa assessorar. Ele tem informação demais, mas o tempo quase sempre é curto. Se quer ser presidente da República não vai repetir, assim como não repetiu quando quis ser governador de São Paulo. Ele fez uma campanha atendendo as necessidades do eleitor e do momento político. Mesmo que depois faça a campanha dentro do que ele acredita. Quem tem a ganhar nos debates da campanha eleitoral será o eleitor e o País.
Danin Júnior — Em novembro o PSDB fez encontro nacional em Goiânia. Acompanhei de perto a organização e a impressão era que Aécio e não Serra era o candidato. Com uma semana de antecedência já havia chegado aqui a equipe de comunicação do Aécio. Serra só confirmou a chegada dele na véspera, foi preciso mandar um avião para buscá-lo, e ele foi extremamente antipático com a imprensa, principalmente com a paulista.
Isso é a sinalização do que estamos falando aqui. Serra pressionado para antecipar uma pré-candidatura. Ele não antecipou, é estratégia dele. Aécio avançou e teve que recuar, ficou pisando em ovos. Adiantou uma pré-candidatura, forçando a barra, e mesmo sem falar que era candidato toda a estrutura dele foi à frente. Ele recuou em pronunciamento nacional, não só nos bastidores. Tornou público que não seria mais candidato. Aécio anunciou uma pré-candidatura ao Senado e sabe que o partido vai pressioná-lo para ser vice de Serra. Ele pode até ter feito isso para criar uma estratégia, para amanhã o partido pedir ´pelo amor de Deus, só ganhamos com você´, e ele vir com toda atenção que merece. Só que o partido tem trabalhado de forma coerente, respeitando o tempo do Serra, sem pressioná-lo. O próximo encontro do PSDB vai ser em Belo Horizonte, mesmo com o anúncio do Aécio, e logicamente os tempos estão encurtando. Em março teremos definição, porque quem for candidato tem que se desincompatibilizar. Serra está jogando um xadrez que o Alckmin não jogou, Aécio não jogou. Passeando por São Paulo você encontra nos bastidores Fernando Henrique, José Serra e Aloysio Nunes nos restaurantes mais escondidos. Há um grupo muito coeso no partido que entende a realidade. Esse grupo já vem administrando o Brasil. Assistindo a TV Cultura vi uma reprise com o Sérgio Motta (morto em 1998, ministro de FHC) e achei que estava ficando doido. Por quê? Na época do processo de reeleição de FHC, discutindo reformular o processo de reeleição, eu e Barbosa Neto (PSB) estávamos numa audiência com Sérgio Motta e ouvi coisas que nunca havia ouvido. Motta tinha relação muito íntima com Fernando Henrique, do tipo que imagino José Dirceu tem com Lula. Essas pessoas não caíram de paraquedas, todos foram projetos muito bem pensados e planejados. Acredito que o grupo do Fernando Henrique hoje, depois da experiência com Alckmin e a reeleição de Lula, tenha um projeto bem planejado para poder disputar uma campanha como essa, assim como Lula, que definiu João Santana como marqueteiro da Dilma assim que decidiu que queria experimentá-la. Não vai haver surpresas, são feitas pesquisas quinzenalmente para acompanhar os movimentos da Dilma. José Dirceu aposta que na Semana Santa a Dilma empata com Serra. Tem um grupo pensando por trás de Dilma e um grupo pensando por trás de Serra. E a gente vai vendo que Serra tem razão, porque de repente desmorona o DEM. Imagine se ele tivesse cedido ao DEM? Como ia reconstruir o discurso agora? Vejo Serra como um jogador extremamente profissional.
Euler de França Belém — A colocação de Ciro Gomes em São Paulo foi uma tentativa de ameaça a Serra?
Não acredito. O que Lula fez a gente vê muito em Goiás. É algo meio provinciano, meio interiorano de jogar uma candidatura para tentar confundir possíveis aliados e uma parcela do eleitor. Acredito que Lula fez foi fritar o Ciro, porque ele perdeu a oportunidade de ser candidato onde já tem base eleitoral, é massacrado pela imprensa e lideranças políticas paulistas. Se no Tocantins não aceitam paraquedista de última hora, como o (técnico de futebol) Wanderlei Luxemburgo, imagina em São Paulo. São Paulo, nesse sentido, é tão bairrista como qualquer Estado. Na avaliação das lideranças paulistas, Ciro já foi longe demais. Agora vai trazer o Ciro para ser candidato a alguma coisa no Estado, ser alternativa à Presidência da República, desconsiderando tantas lideranças políticas de São Paulo? Não sei qual é o interesse de Lula, se é o mesmo que está fazendo com Henrique Meirelles e com Michel Temer. Tinha uma composição para que o PMDB indicasse o vice da Dilma, logicamente o Michel adiantou e falou que era ele. Quando isso começou a ficar forte dentro do PMDB, Lula disse que queria uma lista tríplice, incluindo também Meirelles.
Euler de França Belém — Por que Lula quer Meirelles e não quer Temer?
Não acredito que Lula queira Meirelles. Lula é um extremamente inteligente, habilidoso. Quando subestimavam Lula no seu primeiro mandato eu dizia vocês esquecem que ele nasceu dentro de sindicato, negociava com empresários, defendeu as grandes negociações do proletariado no Brasil, o cara é muito bem articulado. O problema de Lula é com o que ele viu no processo do mensalão, quando é que ele imaginava que a casa ia ruir no primeiro mandato daquela forma, no esquema do Marcos Valério? Com as lideranças fortes do PT. Onde foram parar José Dirceu, (Antonio) Palocci, (Luiz) Gushiken, companheiro de primeira hora dele? Então, logicamente, foi vacinado.
O PMDB que apresentou Temer é o partido do Calheiros, que dentro da sua fragilidade da última crise do Senado, quando era o presidente, para não ser crucificado, fez chantagem velada dentro do partido, todo mundo sabe disso. Logo em seguida vem Sarney, do mesmo grupo que apoia a indicação do Temer. Como foi o escândalo recente no Senado com o Sarney? Teve ameaça velada para a casa não cair. Vem o esquema do Arruda, se é verdade ou não, não estamos discutindo isso. Lula, muito habilidoso, falou: “Espera aí, vou trazer, antecipando o debate eleitoral, ressuscitar para a oposição o caso Renan e Sarney?”. A saída dele foi estratégica, o Meirelles representa o que há de melhor no país para o desenvolvimento econômico e financeiro. Para ele não está na hora de definir quem é vice, vai empurrar com a barriga mais um pouco. Se for para ter vice é preciso discutir as qualidades políticas e técnicas. Particularmente acredito que seria uma grande estratégia de marketing eleitoral o Meirelles ser candidato a vice da Dilma, e a fortaleceria em um discurso de continuidade do avanço do País. Quer queira, quer não, o País é respeitado financeiramente em qualquer parte do mundo.
Euler de França Belém — Mas o PMDB é um partido que tem donos, caciques. Será que eles aceitam Meirelles?
Não julgo assim. Num bolo desse tamanho vai depender de como se reparte. Em política não tem aceita ou não aceita, tem composições. Não acredito em posições radicais no processo político. É uma questão de conversar. O PMDB vai entender que se não for Meirelles não vai ser outro que ele quer, e para não ser outro que ele quer, vamos com Meirelles, ou com outro nome.
Euler de França Belém — Apesar de todas as acusações, o PMDB é o fiel da balança. Dilma e Serra o querem. Serra, inclusive, está com Orestes Quércia em São Paulo.
Serra já fez essa grande estratégia na campanha dele de governador, de trazer Quércia na época do Kassab, e que deixou todo mundo atônito. O PSDB nasceu porque lideranças como Mário Covas e Franco Monto não admitiam a prática do PMDB antigo, do PMDB do Quércia. Ele entendeu que o mais importante nesse momento é ter sustentação e base eleitoral. Um projeto maior. Assim como Lula em determinado momento entendeu isso. Quem imaginava que o PT fosse fazer as alianças que fez? Voltando ao que é o marketing político, por isso é importante investir um pouco mais em ver cases, aprender histórias que acontecem fora do nosso cenário, para se entender que quem quiser participar do marketing político, tem que saber um pouco do processo. Não dá mais só para fazer pílulas, falar que uma produtora vai cuidar de rádio e TV. Não existe isso. Ou se entende o processo para ter familiaridade e entender, inclusive, das alianças, para dar peso a uma campanha. Se fosse, por exemplo, a Dilma com o caso do Meirelles, faria um discurso de desenvolvimento e sustentabilidade do País muito interessante. Assim como Serra vem tentando fazer, inviabilizar a aliança PMDB e PT, porque sabe que será uma grande parada a enfrentar, mesmo que tenha o PMDB de São Paulo. Nacionalmente o PMDB está com o Lula. Em todos os Estados Lula tem aliados no PMDB. Assim como na campanha para governo os grandes caciques das bases são os prefeitos, numa campanha para presidente, os grandes caciques são os governadores. Se o governador está bem avaliado ele é um cabo importantíssimo no processo, e Lula entendeu isso com bastante antecipação.
“Duda Mendonça foi importante no marketing político no País”
Euler de França Belém — João Santana, do ponto de vista do marketing, tem sido mais bem-sucedido que Duda Mendonça. Seria por ser menos estrela?
O povo gosta muito de criticar Duda. Não sou de defender ninguém, mas acredito que tem momentos. Duda foi muito importante no marketing político no País porque praticamente inaugurou isso, com muitos acertos e muitos equívocos. Até porque não havia esse volume de profissionais ou de instrumentos e ferramentas que se tem hoje. Quando ele abraçou isso no País ele foi muito mais intuitivo e empírico do que científico, mas rapidamente também trouxe inovações, porque se existem a força e importância dos institutos de pesquisa, isso se deve a Duda Mendonça, que começou a tirar os ´achômetros´ políticos de seus cabos eleitorais e coordenadores. Ele trouxe grandes benefícios, mas no Brasil há uma cultura ultrapassada de idolatrar acertos e crucificar erros. Duda, como todo profissional, acerta e erra. Não acredito que um profissional de marketing defina uma eleição. Ele é instrumento dentro de um processo eleitoral, sozinho não ganha eleição. Ficam atrás dos estrategistas do Obama, isso é uma bobagem. Tem um momento eleitoral que às vezes todas as ferramentas ajudam, mas não foi uma ferramenta A, B, C ou D. Não tem salvador da pátria nesse processo, é um trabalho de equipe.
Euler de França Belém — E esse pessoal do Obama não entende nada de Brasil.
A questão não é essa. Transferência de tecnologia, ideia, de qualquer informação é muito importante. Se fosse tocar uma campanha presidencial não descartaria assessoria de quem vivenciou a mudança na forma de fazer campanha nos EUA. Pode trazer algumas informações de um veículo muito novo, por exemplo. A internet é um veículo muito usado, mas não foi compreendida, de como se podem criar as diferenças nela. Se o pessoal já experimentou isso lá e deu certo, a experiência é válida.
Euler de França Belém — Como o sr. vê as redes sociais na internet?
Todo processo de democratização da comunicação é bem-vindo, porque abre espaço de debate, diálogo e questionamento. Não se tem muito acesso as lideranças políticas, e candidatos para poder fazer um debate com eles. O debate eleitoral acontece geralmente entre os políticos. Há pessoas que ouvem discurso de um candidato, mas ao ter contato breve com ele ou sua assessoria no Twitter se decepciona. Na prática às vezes a teoria não funciona. Não adianta ter uma rede ampla se o debate não é qualificado.
Euler de França Belém — Que conselho o sr. daria para a Marina Silva como imagem política?
Recentemente encontrei-a em Brasília e disse que não iria lhe dar um conselho e sim um presente. Disse para Marina ler o livro de Jacques Séguéla, o "Vertigem das Urnas", do qual faço a apresentação de capa. Séguéla tem currículo extenso e visão muito interessante do processo eleitoral, de forma mais técnica, no enfoque do comportamento pessoal dos candidatos. A importância de estar um pouco mais sintonizado. Falei que como ela representa a esperança para um segmento da população, gostaria de contribuir com esse presente. Ela tem um discurso que poderia ser uma nova plataforma desse cenário definido entre Serra e a candidata de Lula.
Ela também traz um discurso que poderia ser novidade, apesar de não ter penetração popular. Está faltando quem tem sensibilidade humana nesse processo, e ela, que veio dos seringais, que tem vivência de militante do PT, participou de todo processo de construção da candidatura de Lula, acredito que tenha uma visão mais interessante do País. Uma candidata que poderia, se bem assessorada, fazer o que a Heloisa Helena, Enéias e Ciro não conseguiram fazer, de trazer uma nova proposta para esse debate que vai estar muito polarizado.
“Obama envolveu as pessoas na campanha”
Euler de França Belém — O sr. esteve recentemente em Washington (EUA). Como foi essa experiência e hoje, qual o grande debate do marketing político?
Essa relação já acontece há quase seis anos. Vou todo semestre porque a Universidade de Washington é a única que promove um curso de pós-graduação e módulos de marketing político no idioma espanhol. Ela faz isso por que há uma procura muito grande de países que falam espanhol, liderados por México e Espanha. Com isso ela passou a ter uma influência muito grande nas decisões políticas de língua espanhola. Os grandes professores e acadêmicos da universidade logicamente têm uma relação muito intensa com a política americana e viram a janela de poder levar o debate e troca de experiências a esses países. Isso chamou a atenção dos países da América do Sul e nestes seis anos noto a presença do Peru, Equador, Bolívia, Argentina, e muito pouco do Brasil. No final de 2006 e início de 2007 teve um módulo que, pela primeira vez, contou com a participação de um brasileiro, João Santana, que foi apresentar o case da campanha de Lula.
É algo muito interessante, eles vão agora fazer um grande debate sobre todos os processos da eleição presidencial do Barack Obama e mais o desempenho administrativo dele. E vão transferir esse seminário específico para Cancun, a pedido dos participantes do México. Quando falo participantes são pessoas que têm envolvimento na classe política, são líderes do PRI (Partido Revolucionário Institucional, do México) e de outros partidos. São alguns deputados que frequentam a universidade e que procuram sempre estar em sintonia com os debates. Lá se debate muitos cases políticos: eleições da Espanha, do Equador, da Argentina e mais todas as particularidades das eleições americanas. Em novembro de 2008 fui convidado, com um grupo que participa desse seminário, para acompanhar o processo eleitoral dos EUA. Fomos com cinco dias de antecedência e os estrategistas dos dois lados, do Partido Republicano e dos Democratas, fizeram a apresentação e a defesa de suas campanhas. No dia da votação saímos para acompanhar a rotina da eleição. Acompanhamos o processo de apuração eleitoral, como observadores internacionais, avaliando onde cada candidato acertou e errou. E a partir do momento que se consolidou a eleição do Obama, quais eram as expectativas de vários líderes. A universidade tem relacionamento forte com as lideranças e políticos americanos, e os convida para os debates. Muitas vezes você se depara com pessoas que têm referência mundial do processo e que está ali discutindo com a gente.
Euler de França Belém — Como o sr. avalia o presidente Obama hoje, do ponto de vista do marketing?
É preciso dividir duas coisas. Existe a campanha presidencial nos EUA antes do debate entre republicanos e democratas, e o que foi feito naquela eleição. Nunca se investiu tanto em marketing político. Por mais que estejamos falando de uma potência econômica, o marketing político dos EUA era muito racional, muito dentro da esfera do debate político e pouco levado para a sociedade, da forma como a gente vê no Brasil e outros países da América do Sul. Pela primeira vez conseguiu envolver as pessoas, e esse mérito foi da campanha do Obama. Ele planejou a campanha com bastante antecedência, por ser um senador desconhecido. Numa primária da convenção da campanha anterior Obama fez um discurso, pouca gente do Democrata o conhecia e se surpreendeu com a visão e a oratória dele. Ele, muito habilidoso, e sempre um grande estrategista, começou a campanha a partir daquele momento. Enquanto o Al Gore estava fazendo campanha efetivamente para a Presidência da República, Obama vislumbrava ser o próximo candidato do partido. Houve um trabalho de base muito grande do Obama. Ele percebeu a carência e a não participação efetiva da população e de alguns segmentos importantes, como estudantes, jovens, negros, imigrantes. Ele começou a estabelecer uma comunicação com esses segmentos, inovadora no perfil dos EUA como ação política.
Inã Zoé — Fale um pouco da questão da arrecadação na internet que Obama promoveu.
Foi um boom de arrecadação na internet. Começou a cadastrar e a fazer corpo a corpo via computador com antecedência, defendendo as teses da participação da população no processo eleitoral. Principalmente de alguns segmentos que nunca participaram, como os artistas. Aí veio o boom da arrecadação. Nos EUA tem uma coisa, e vi isso na universidade, no primeiro seminário que fiz, em 1994, 1995. Me chamou muita atenção, e quase desisto da carreira de marketing político, foi que uma especialista em desenvolver estratégia para arrecadação de dinheiro, professora de Harvard, defendendo que todo político, assim como faz com sua estratégia de marketing, tinha que ter uma estratégia de arrecadação de fundos. E essa estratégia passa por apresentar propostas, suas teses, como se faz para conseguir o voto do eleitor, só que junto à classe empresarial ou líderes de segmento. É algo muito profissional essa coisa de arrecadar dinheiro nos EUA. Lá não há horário eleitoral gratuito e os desembolsos são muito grandes. Nos três anos de preparação para a candidatura, pelo cadastramento feito, começou a ter acesso na rede muito grande e ele defendeu a participação do eleitor não só com o voto, mas com ideia, debate, investir com o mínimo de esforço para depois poder cobrar. Quando isso veio à tona como estratégia de marketing disseram que o cara reinventou a roda. Na verdade foi um trabalho que cresceu paulatinamente.
Danin Júnior — A internet teria o poder de romper com a lógica da arrecadação ou a campanha de Obama também manteve vínculo com outros investidores?
Quando se começa a fazer marketing político, aprende-se que para conversar com o candidato tem de dizer que não se faz campanha em prosa, mas em poesia. Administra-se em prosa, porque o processo da sedução junto a quem financia é o mesmo que o da sedução ao eleitor, com algumas diferenças. Quais são as conveniências? Todo mundo falou do lado da poesia da campanha do Obama. Só com o lado da poesia, e eu não falo como revolucionário, mas ele usou bem a ferramenta que hoje domina o mundo. Em nenhum momento ele deixou de lado os grandes financiadores de campanha nos EUA. Quando a Hillary Clinton começou a questionar o crescimento do Obama, e o Partido Democrata quis saber quem tem fundo captado para bancar a campanha, constatou-se que em um final de semana Obama captou cinco vezes mais que a Hillary. E ela tinha profissionais que, em função do Bill Clinton, eram acostumados e com trânsito de poder. Obama foi buscar novos segmentos com profissionais de financiamento de campanha. Por exemplo, o segmento bélico americano, que faz um lobby muito grande no Congresso, é um grande financiador de campanha. Ele participou do processo e, logicamente, investiu dos dois lados, tanto no Partido Republicano quanto no Democrata. Por que esse investimento no segmento automotivo logo após a posse do Obama? A sinalização de falência da indústria automotiva nos EUA já estava anunciada, e ele foi um grande parceiro porque mesmo com a falência, o setor investiu pesado, pois sabia que Obama poderia dar um novo oxigênio. Discutiu-se muito a campanha de Obama, mas há um case muito interessante, que foi a eleição recente à Prefeitura de Nova York. O prefeito reeleito Michael Bloomberg tem uma característica muito interessante. Primeiro que ele é milionário, detém o sistema de comunicação nos EUA, em vários segmentos. E ele fez algo que deveria servir de exemplo para prefeitos no Brasil. Foi para o processo de reeleição com discurso de candidato independente. Como é empresário muito bem-sucedido, tem relacionamento forte com o segmento empresarial. Ele fez uma vaquinha, correu o chapéu e arrecadou 100 milhões de dólares para a campanha e se reelegeu. Foi o marketing mais agressivo que vi na história das últimas eleições. Ele fez um compromisso público de que o salário dele seria o salário mínimo do nova-iorquino. E aboliu toda a mordomia de seu status de prefeito. Ele anda de metrô e de ônibus porque quer ter contato no corpo a corpo com o cidadão. Com isso passa a imagem de Robin Hood, de que não se aproveita do poder.
Ninguém conta que ele tem essa estrutura paralela de empresários amigos que tocam as obras de Nova York nem que existe uma estrutura tão viciada quanto se tem no Brasil.
Euler de França Belém — Qual a grande qualidade dessa proposta?
Os nossos dirigentes deveriam ter esse contato com o cidadão comum por que se vê um distanciamento muito grande depois que o político se assume o poder. Uma ação dessa, por mais populista e eleitoreira que seja, para o cidadão que anda de transporte coletivo em Nova York, ao ver seu prefeito andando também, dá credibilidade para ele poder fazer um discurso. Claro que o prefeito ganha um parceiro. Se trouxermos para nossa esfera, como fica o discurso com a realidade de quem usa, é completamente diferente. Uma frase hoje meio démodé dizia de políticos que não têm o cheiro das ruas, que só saem em época de eleição para o corpo a corpo. Os políticos têm que entender que o povo evoluiu e fazer uma aproximação com a realidade de seus governados. Na época de campanha o candidato faz um discurso de transporte coletivo, de saúde pública, sendo que nunca pisou lá no Hugo (Hospital de Urgência de Goiânia), nunca foi atendido pelo SUS (Sistema Único de Saúde), não sabe o que é um sitpass. Esse distanciamento de quem pleiteia um cargo com a realidade de quem vota deveria ser encurtada.
Euler de França Belém — Como está o Obama agora, como está o marketing de quem assumiu o poder?
A poesia do Obama é boa, a prosa nem tanto. Com a tentativa de atentado no voou da Delta no Natal, o pavor do americano volta a níveis parecidos com os de 11 de setembro, é um trauma que o país carrega. E isso vai estourando em um curto período de administração do Obama, em que ele não apresentou resultados, frustrou expectativas. Não tem como mudar uma política, principalmente como a norte-americana.
Euler de França Belém — Eleitoralmente Obama se comportou como populista?
Não. Ele se comportou como deveria se comportar um candidato.
Danin Júnior — Ele foi vendido com uma esperança muito grande: ´Nós podemos mudar´. O marketing não errou a dose?
O marketing político não errou. Algumas questões às vezes não são colocadas claramente. Por exemplo, afirmar que o marketing político pecou em não dizer em quanto tempo nós mudamos. Ninguém tem fórmula de tempo se apresentar uma proposta de mudança concreta e real, porque os EUA não podiam continuar da forma como vinha sendo administrada pelo Partido Republicano. A população tinha uma ansiedade de mudança. Obama se apresentou junto com a Hillary, tida no início como quem teria mais poder de transformação dessa vontade, pela experiência que tinha como primeira-dama e senadora, pelo papel ao lado de Bill Clinton, um ícone muito forte no país e que tem muita credibilidade. Obama superou tudo isso. Ele apresentou um discurso e uma forma de colocar suas ideia que ia ao encontro de todos os segmentos sociais. Mas a campanha disse que ia mudar isso em um, dois, três ou quatro anos ou que apenas lançaria a semente da mudança? Não tem como em um país daquele tamanho fazer mágica, com todos os conflitos, situações e liderança que os EUA têm no mundo.
Danin Júnior — O sr. está dizendo que a sensação por lá é de anticlímax?
É a sensação de quem acreditou que as coisas iriam mudar da noite para o dia. Toda proposta gera uma expectativa, que geralmente está dentro da conveniência de cada um. Os imigrantes, por exemplo, acreditavam em uma nova lei e votaram nele. Começou a haver uma decepção. Obama, porém, está fazendo um processo revolucionário nos EUA que é a votação do sistema de saúde... Eu fui ver o filme "Lula, o filho do Brasil". A administração de Lula teve avanços inquestionáveis, além da liderança dele, só que na saúde não vemos nenhum avanço. Lula apostou muito na administração do José Gomes Temporão no Ministério da Saúde, mas não se avançou, tivemos epidemia de dengue, gripe suína e uma série de coisas. Pelo que se vê no filme, a Saúde era para ser a menina dos olhos de Lula. Sua primeira mulher perdeu o primeiro filho em um parto por negligência médica no sistema público de saúde. Com tratamento correto ela não teria perdido o filho nem morrido. Lula vivenciou isso na pele. Por isso que a classe política deveria estar mais sintonizada com a realidade a que se propõe administrar. Lula tinha condições de fazer um discurso para o cidadão que depende da saúde pública, dizendo ´minha vida foi interrompida, tive uma tragédia por causa do péssimo sistema de saúde pública do meu país´. Obama adiantou isso e falar de saúde pública nos EUA é a coisa mais complicada do mundo. Lá eles não admitem isso, lá isso cheira a comunismo.
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