terça-feira, 19 de janeiro de 2010

18 de janeiro de 2010 - DM

Diário da Manhã

Eis a verdade: Maguito apoiou as privatizações de FHC

Em função das novas revelações da CPI da Celg, indicando que a privatização de Cachoeira Dourada teve importância decisiva para levar a empresa a uma situação de insolvência, o prefeito Maguito Vilela voltou a se agarrar à sua velha e esfarrapada desculpa: a de que vendeu a usina porque foi chantageado e pressionado pelo governo Fernando Henrique.

Que o próprio Maguito seja o autor dessa desculpa, é algo que nunca se viu antes na política brasileira. Ou seja, um político importante confessar que fraquejou em suas obrigações e não resistiu à pressão para que fizesse algo ruim pelo Estado que governava. Que jurou, ao tomar posse, defender o Estado e depois descumpriu o juramento. Que não foi digno do cargo a ele entregue pelo povo goiano, enfim.

Isso é inédito na história do Brasil. Nenhum político até hoje foi capaz de admitir algo de tão ruim a si mesmo. E o mais grave é que se trata de uma mentira deslavada. Maguito nunca foi obrigado a fazer nada que não quisesse fazer, da própria vontade, como governador de Goiás. Na época do seu governo, todos os Estados brasileiros assinaram acordos de renegociação das suas respectivas dívidas e a maioria não vendeu o seu patrimônio elétrico.

Maguito vendeu porque precisava de dinheiro para tapar o rombo que recebeu do seu antecessor, Iris Rezende. Tanto que um levantamento do Tribunal de Contas do Estado mostrou que parte expressiva do dinheiro de Cachoeira Dourada foi gasto para pagar salários e para cobrir despesas de manutenção do governo. Pagaram-se aluguéis de delegacias de polícia, compraram-se verduras para hospitais e escolas, quitaram-se diárias e mais milhares de itens comezinhos do dia a dia da administração pública. Cerca de US$ 1 bilhão foi jogado pelo ralo.

Em um dos maiores crimes contra o patrimônio público estadual, o dinheiro de Cachoeira Dourada foi torrado sem trazer de volta para o Estado uma ínfima parcela do que significava a usina para o nosso desenvolvimento econômico. Mas, segundo Maguito, foi o presidente Fernando Henrique que mandou e a ele não restava alternativa senão obedecer, traindo o Estado de Goiás e o seu povo.

Como mitômano é quem vive de mentiras e camaleônico é quem muda de posição, apresento a seguir a prova de que Maguito se enquadra nas duas categorias: em 6 de março de 1998, ano da reeleição de FHC, Maguito escreveu um artigo de uma página no Diário da Manhã declarando apoio ao presidente e apoiando entusiasticamente a sua política de privatizações.

O artigo foi publicado com grande destaque na página 3 do DM, sob o título, em letras garrafais, “Por que apoio Fernando Henrique”. Nem os elogios rasgados que Maguito faz hoje ao presidente Lula se comparam aos generosos adjetivos que o então governador dedica nesse artigo a FHC. Alguns: estadista, predestinado, autêntico, honesto, idealista, honrado, corajoso e mais tantos que chega a dar enjôo no estômago de tanta louvação pueril e palavras vazias de aplauso.

Sobre as privatizações, Maguito diz categoricamente que, “ao se deflagrar o processo de privatizações, quando este mal se esboçava em todas as economias do mundo, Fernando Henrique Cardoso demonstrou estar, mais uma vez, em sintonia com as mudanças preconizadas pelos povos que conquistarão o terceiro milênio”. Mas hoje, desmemoriado, sem saber que escreveu esse artigo, o ex-governador passou a achar que as privatizações de FHC quebraram o Brasil. Ele se esquece que, por analogia, deve-se concluir também que a sua privatização da Celg também quebrou Goiás.

No artigo, talvez apenas para confirmar a ojeriza que o PMDB sempre teve em relação ao funcionalismo público, Maguito dá um jeito de enfiar no texto uma menção negativa à categoria, ao sugerir a FHC providências quanto “ao funcionalismo público, cujo excedente de servidores ociosos consome a maior parte da arrecadação de impostos numa nação onde faltam recursos para a saúde, para a educação, para a segurança e para a realização de obras que dão retorno através do desenvolvimento. Sobretudo, para nos libertar do atrasado conceito paternalista de que o Estado deve ser o maior patrão e empregador de uma minoria privilegiada em detrimento da maioria nacional”.

Esse é Maguito, para quem certamente as palavras que saem sem controle da sua boca não têm nenhum valor. Mas ele, no seu artigo, vai mais longe ainda e se diz disposto a enfrentar o seu partido, o PMDB, no apoio a Fernando Henrique: “Por isso, por uma questão de fidelidade à minha consciência, tomei a decisão de apoiar a reeleição de FHC. Independentemente da posição que vier a adotar o PMDB”, escreveu, anunciando, portanto, que ficaria contra o PMDB se o partido não perfilasse no apoio à reeleição do presidente, por “fidelidade à minha consciência”.

Seis meses depois da publicação desse artigo no Diário da Manhã (saiu também no Correio Braziliense), Iris Rezende foi derrotado por Marconi Perillo, Fernando Henrique foi reeleito presidente e Maguito ganhou uma vaga no Senado, à qual prometeu renunciar por considerar oito anos um mandato longo demais. Claro que eram mais palavras ao vento, pois passados quatro anos, não quis cumprir o prometido, sob a alegação estapafúrdia e ridícula de que havia recebido e-mails pedindo que continuasse.

O mitômano e o camaleônico Maguito é insuplantável, em Goiás, como um político que muda de posição tal e qual folha de bananeira. Ninguém, como ele, fala tanta bobagem, mostra tamanho despreparo para a vida pública e não se cansa de ser boquirroto (lembram-se de quando disse que “PSDB e PT são iguais em tudo, até na corrupção”?).

Agora, massacrando a ética, jogando com a falta de memória do povo, ignorando os fatos históricos e pisoteando a coerência, Maguito quer se livrar da pecha de ter destruído a Celg ao promover a danosa privatização de Cachoeira Dourada. Não tem jeito. Ele, Maguito, já garantiu o seu lugar na história por ser o coveiro da Celg e do futuro do Estado de Golias.

Leonardo Vilela é deputado federal e presidente do PSDB de Goiás

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